ARTICULAÇÃO ENTRE A UNIVERSIDADE E ESCOLA: O QUE DIZEM AS PESQUISAS NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS (2007/2017)

  • Autor
  • Melissa Rodrigues da Silva
  • Co-autores
  • Susana Soares Tozetto
  • Resumo
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    ARTICULAÇÃO ENTRE A UNIVERSIDADE E ESCOLA: O QUE DIZEM AS PESQUISAS NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS (2007/2017)

     

    Melissa R. da Silva – UEPG

    melissarsp@hotmail.com

    Susana S. Tozetto – UEPG

    tozettosusana@hotmail.com

    GEPTRADO

    Eixo: Formação de Professores

     

     

    RESUMO

     

    Este resumo é recorte de uma pesquisa de doutorado em andamento que tem como objetivo analisar a articulação entre universidade e escola por meio do estágio curricular supervisionado como um processo formativo docente contínuo. De cunho qualitativo, está sendo desenvolvida com base na análise social, prescrita por Bourdieu (1994, 2001) como praxiologia, que supera a trama da fenomenologia e do objetivismo e se identifica como um método que busca compreender o mundo social através das práticas estruturadas.

    O objeto da tese é a articulação entre a universidade e a escola e o processo formativo docente no curso de Licenciatura em Pedagogia a partir do estágio curricular supervisionado como decurso contínuo entre a Educação Básica e a Superior. Aqui apresentamos o cenário da articulação entre a universidade e a escola, por meio da revisão da produção acadêmica, que segundo Mazzotti (2002, p. 26), “tem por objetivo iluminar o caminho a ser trilhado pelo pesquisador”, e auxiliar na “contextualização do problema dentro da área de estudo e a análise do referencial teórico”. O movimento da pesquisa e a compreensão do objeto de análise da tese se faz também na busca e apreciação dos trabalhos já publicados sobre a temática. Essa fase é a revisão da produção acadêmica, é a etapa da pesquisa que “permitiria a um novo pesquisador demonstrar seu conhecimento das nuances metodológicas, além de sua habilidade para realizar uma revisão da literatura como parte importante de saber fazer pesquisa.” (YIN, 2016, p. 55).

    Ao aproximar o objeto da tese à produção acadêmica já existente, na coleta de teses e dissertações consultamos a Plataforma Sucupira e constatamos 103 Programas de Pós Graduação em Educação (PPGEs) no Brasil que fizeram parte da revisão da produção acadêmica. Em três programas não conseguimos acesso no período da busca[1], dessa maneira a investigação perfez um total de 100 PPGEs. Para a busca das pesquisas, selecionamos os seguintes descritores: articulação; parceria, interação, interlocução, aproximação, relação, escola, universidade, Educação Superior, Educação Básica e estágio supervisionado[2].

    Na coleta selecionamos oito trabalhos (teses e dissertações) para análise, que apresentaram em seus títulos “universidade e escola”; “Ensino Superior, Educação Superior, Educação Básica, ensino básico”, com enfoque na formação docente. Justifica-se a escolha, já que a tese será pautada na disciplina de estágio curricular supervisionado que se efetiva na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ambos os campos de atuação dos licenciados em Pedagogia.  Ao sintetizar a produção e identificar as pesquisas nos PPGEs que tratavam da articulação entre a escola e a universidade, identificamos abordagens teóricas diversas, lacunas, interlocuções e outras características relevantes à construção de novos conhecimentos em relação ao objeto da tese.

     A conjuntura da articulação entre universidade e escola (2007/2017)

    Uma das hipóteses que buscamos nas teses e dissertações que compuseram a revisão da produção acadêmica é de que a articulação universidade e escola seja um rumo de via dupla. Ou seja, que a ações a serem analisadas não aconteçam apenas de maneira verticalizada, em que a universidade determina o que a escola tem que fazer, mas sim que a escola e seus agentes sejam ouvidos e sintam-se partícipes do planejamento, organização e efetivação das propostas, projetos, programas, pesquisas e do estágio curricular supervisionado.

    Ao respeitar as DCNs (BRASIL, 2015) como um documento preeminente para a organização e efetivação da articulação entre a universidade e escola, há que se reforçarem os limites e possibilidades, já que a articulação é posta legalmente, porém não é problematizada.  A vista disso a articulação entre escola e universidade se mostra enjeitada nas pesquisas em educação. A afirmação apresenta-se na revisão da produção acadêmica que revela que as pesquisas vêm a tempo anunciando sobre a necessidade de aproximar a escola e a universidade mediante processo formativo docente, a que se sobrepor às premissas de que é a universidade que define o que deve ser feito na escola, haja vista o que denunciam as pesquisas (teses e dissertações) realizadas nos últimos dez anos, que marcam a articulação acontecendo de maneira momentânea e verticalizada.

    Freitas (2008), Leirias (2017), Carvalho (2010) e Reis (2010) defendem no que concerne a articulação da escola com a universidade por meio da formação continuada. Martins (2008) dissertou sobre um projeto de parceria colaborativa entre escola e universidade por meio do estágio no curso de Letras, assim como Nascimento (2014) que dissertou sobre o estágio como preeminente do diálogo entre os dois campos formativos. Wielewicki, (2010), transitou por doze cursos de Licenciatura e trouxe o estágio enquanto prática de ensino. Sublinhamos que esse trabalho é a pesquisa que mais se aproximou do que propomos para a tese que defendemos, visto que a universidade, a escola, a articulação e o estágio oportuna à ação para que a articulação aconteça. O que diferencia é que o pesquisador pauta doze cursos de Licenciatura em uma universidade federal, e na constituição da pesquisa de campo da tese que defendemos transitamos em três cursos de Licenciatura em Pedagogia em três universidades estaduais. Mas a constituição de ambas se ajusta, por que as teses visam explorar as concepções dos professores sobre a articulação entre universidade e escola. Oliveira (2015) se diferenciou no que tange ao campo de pesquisa escolhido, porque analisou um programa de Iniciação Científica Junior, que iniciou na universidade e se efetivou no Ensino Médio, com apoio de professores da universidade e da escola como supervisores do programa.

    Identificamos que a universidade subsidia a aproximação com a escola por meio de programas, projetos e cursos de extensão e também dos estágios. Porém, a escola apenas a recebe sem contextualização ou discussão sobre a especificidade do campo formativo e dos agentes sociais[3] que nela atuam. Dessa maneira é necessário que as ações sejam unificadas e que atinjam os docentes das escolas e das universidades.

    A revisão da produção acadêmica também identificou que a escola convida e/ou aceita a universidade para planejar ações na maioria das vezes nos momentos em que as políticas públicas de governo ou de estado demandam, por meio de parcerias e de programas pré-determinados, geralmente com incentivo financeiro. Igualmente, com menor frequência a aproximação da universidade com a escola é promovida por grupo de estudos ou pesquisas que organizam e efetivam estudos de caso ou programas de formação continuada. Essas ações por hora se aproximam e outrora se distanciam, configurando-se meramente como uma proximidade momentânea, dificultando a articulação de modo que seja reconhecida como um processo formativo contínuo.

     

    Considerações sobre a revisão da produção acadêmica

     

    A revisão da produção acadêmica foi fundamental para aprofundar as questões teórico-metodológicas pertinentes ao objeto de estudo, contudo a análise confere ao pesquisador um novo significado referente às pesquisas já elaboradas concernentes à temática em questão. Os achados deste caminho apontam a escassez de pesquisas à temática de estudo, bem como uma falta de conhecimento sobre o que de fato é a articulação entre a universidade e a escola. Tal afirmativa ficou nítida na análise.

    Com efeito, notamos que a articulação acontece de maneira verticalizada, com projetos e/ou programas com tempo determinado. Ou seja, se há financiamento acontece a articulação, caso contrário isso se dilui nas demandas da academia, deixando de lado o papel social, político e pedagógico da Educação Superior em relação à Educação Básica, seja para o acadêmico ou para o professor, o que torna essas ações momentâneas, com data de início e fim. 

    Os prazos pré-definidos muitas vezes engessam as práticas, uma vez que a continuidade das ações promovidas pela universidade são os determinantes do que a escola tem que fazer e o como fazer já vem pronto, e à escola cabe o papel apenas de executora das demandas. Das pesquisas analisadas apenas uma descreve que a problematização e os objetivos foram oriundos da escola.

    Vários são os conceitos recorrentes nas pesquisas analisadas, que definem de que maneira a escola e a universidade se encontram e ou se aproximam, seja na parceria, na relação, e na integração. E isso se difere da proposição da tese que defendemos, que é o conceito de articulação, este, proveniente do que está posto nas DCNs (BRASIL, 2015), que traz a articulação como um elo que dialoga com a Educação Básica e a Educação Superior.

    Argumentamos que a partir da revisão da produção acadêmica que os documentos sinalizam, instituem e determinam a articulação, mas esta não se efetiva de maneira institucional, na qual a universidade deve assumir realmente o tripé da pesquisa, do ensino e da extensão como determinante da função da universidade.

    Finalizamos, afirmando que as lacunas reveladas pela revisão da produção acadêmica determinam que a pesquisa, o ensino e a extensão, que deve mover a universidade, seja reconhecido como mobilizador das ações da formação docente, bem como das ações que poderão se efetivar de maneira articulada com a escola e que favorecerão e mobilizarão mudanças institucionais a partir do envolvimento dos agentes sociais que fazem parte desse contexto educacional.

    REFERENCIAS

    BOURDIEU, P. Esboço de uma Teoria da Prática. In: ORTIZ, Renato (Org.). A sociologia de Pierre Bourdieu. São Paulo: Editora Ática, 1994, n. 39, p. 46-86.

     

    BOURDIEU, P. Escritos de Educação. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

     

    BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Resolução CNE/CP n. 02/2015, de 1º de Julho de 2015.

    CARVALHO, P. H. S. de. A formação continuada de professores da Educação Básica púbica e a função da universidade: limites e possibilidades da ação da UFPR Setor Litoral. Curitiba: UFPR, 2010. Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Curitiba, 2010.

    FREITAS, Z. L. Um projeto de Interação Universidade-Escola como espaço formativo para a docência do professor. Bauru: UNESP, 2008. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação para Ciência da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho”, Bauru, 2008.

    LEIRIAS,C. M. Desenvolvimento profissional docente na interlocução universidade e escola de educação básica. Porto Alegre PUC, 2017. Programa de Pós-Graduação em Educação. Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2017.

    MARTINS, E. D. Leitura literária e formação de professors: um estudo sobre parceria entre universidade e escola básica. Vitória: UFES, 2008. Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2008.

    MAZZOTTI, A. J. A “revisão da bibliografia” em teses e dissertações: meus tipos inesquecíveis – o retorno. In: BIANCHETI, L.; MACHADO, A. M. N. A bússola do escrever: desafios e estratégias na orientação de teses e dissertações. São Paulo: Cortez, 2002, p. 25 - 44.

    NASCIMENTO, A. M. do. O estágio curricular supervisionado no curso de pedagogia: diálogo entre universidade e escola à luz de Paulo Freire. Fortaleza: UECE, 2014. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação. Centro de Educação da Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, 2014.

    OLIVEIRA, A. A Iniciação Científica Júnior (ICJ): aproximações da educação superior com a educação básica. Florianópolis, UFSC, 2015. Tese (Doutorado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2015.

    REIS, M. de F. G. A pesquisa em parceria universidade e escola: uma cartografia de possibilidades. São Leopoldo: UNISINOS, 2010. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2010.

    WIELEWICKI, H. de G. Prática de Ensino e Formação de Professores: um estudo de caso sobre a relação universidade-escola em cursos de licenciatura. Porto Alegre: UFRGS, 2010. 244 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.

     

    YIN, R. K. Pesquisa qualitativa do início ao fim. Tradução: Daniel Bueno. Porto Alegre: Penso 2016.


    [1] Busca realizada em dezembro de 2017 e janeiro de 2018.

    [2] O descritor “estágio supervisionado” foi considerado apenas nas pesquisas que tratassem do curso de Pedagogia.

    [3] Bourdieu (2001) usa o conceito de agente social e não o de sujeito, pois entende sujeito como ser estático que não tem participação no campo social a que pertence. Como já anunciamos anteriormente os professores na tese serão reconhecidos como agentes sociais. Esses que “não são apenas autômatos regulados como relógios, segundo leis mecânicas que lhes escapam”. (BOURDIEU, 2001, p. 21). Mas, agem e lutam dentro de um campo de interesse e têm condições de promover uma análise dinâmica dentro do campo que se constituem.

     

  • Palavras-chave
  • articulação, universidade, escola, estágio
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