BOM PROFESSOR: A INFLUÊNCIA DA AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM

  • Autor
  • Viviane Aparecida Bagio
  • Resumo
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    BOM PROFESSOR: A INFLUÊNCIA DA AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM

    Viviane Aparecida Bagio – UEPG

    vivibagio@gmail.com

    Área temática: Aprendizagem, desenvolvimento humano e práticas escolares

    Palavras-chave: Processo de ensino-aprendizagem, bom professor, afetividade.

    Introdução

    O processo de ensino, envolve de modo direto, professor, aluno e conhecimento e, além desses as situações didáticas mobilizadas pelo primeiro para mediar e ajudar na construção de conhecimentos pelo segundo. Entretanto, de modo geral, no que diz respeito à influência de um bom (ou mal) professor, muitas vezes, esse possui algum aspecto relacionado ao ambiente ou ao clima em que a aprendizagem ocorre(u).

    A dimensão humana, a qual torna-se esvaziada em mesas de restaurantes com pessoas comunicando-se por grupos de mensagens, festas de família em que o celular torna-se o centro das atenções, deve estar presente no processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, ela deve ser não apenas elemento para que ele ocorra, em uma perspectiva mediadora e de uma Didática Crítica, mas para o desenvolvimento de atitudes, vínculos afetivos e sociais e para além disso, de um sujeito capaz de comunicar-se oralmente, compreender o pensamento do outro e, tornar-se um cidadão humanizado.

    Assim, objetiva-se compreender como os estudos realizados com futuros professores, apresentam seus posicionamentos no que se refere à dimensão humana e a afetividade, como uma das características de um bom professor e, para além disso, uma influência na aprendizagem.

    O estudo é de abordagem qualitativa e natureza bibliográfica. A partir do descritor “bom professor” foi realizada, em 2018, uma coleta de produções disponibilizadas em portais acadêmicos. Como critérios para a escolha dos materiais foram selecionadas produções que objetivassem compreender o bom professor. Além disso, os sujeitos (integral ou parcialmente) os licenciandos das diferentes áreas do conhecimento.

    Desconsiderando-se as duplicatas e materiais diversos oriundos da pesquisa (resenha, resumo, citações e artigos de eventos) e que foi possível o acesso, inicialmente, foram encontrados 3122 trabalhos. Utilizando-se dos critérios acima mencionados, a análise foi relativa a 37 estudos, publicados entre os anos de 2003 e 2018.

    A seguir, apresentamos uma reflexão teórica sobre o processo de ensino-aprendizagem, o bom professor e a afetividade, para posteriormente discutir os dados da pesquisa.

     

    A intencionalidade do bom professor em um processo humano de ensino-aprendizagem

     

    Cunha (2016), compreende que a docência é uma profissão, cujo processo formativo tem início formal, no ingresso nos cursos de licenciatura e é um processo de desenvolvimento que permeia toda a carreia, seja por meio da auto-formação, da formação continuada e outros momentos formativos.

    Entretanto, Tardif e Raymond (2000) destacam que antes da formação docente, o aluno, no ambiente escolar, tem contato com essa profissão, durante pelo menos doze anos. Nesse tempo, o sujeito tem contato com distintas práticas, compreensões sobre a docência, produzindo “uma bagagem de conhecimentos anteriores, de crenças, de representações e de certezas sobre a prática docente”. (TARDIF; RAYMOND, 2000, p.217).

    Assim, já no ambiente escolar, há uma percepção sobre quem seria o bom professor, um conceito temporal, histórico, social e, portanto, relativo a um dado espaço-tempo. Destarte, na perspectiva da didática crítica, é o profissional que considera o ensino enquanto atividade intencional e multidimensional e, que utiliza das dimensões humana, técnica e política para tornar o aluno, co-protagonista do processo de ensino-aprendizagem. (VEIGA, 2012; FARIAS et al., 2011).

    Tal sistemática nos distancia de um processo de educação bancária e direciona-se à uma vertente interacionista da educação. Assim, conforme Mesquita (2018, p. 444), superamos a ideia de uma “escola queria nos fazer acreditar que as coisas são assim mesmo: determinadas, prontas e acabadas; e, que o bom aluno é aquele que permanece sentado enfileirado, calado, sem iniciativa. Mas, em meu coração havia um desejo inverso àquela forma de aprender”.

    Nesse sentido, defende-se, no atual momento da educação, uma aprendizagem diferente da passiva e mecanizada. Tal processo, segundo Perrenoud (2004) deve ser oriundo de situações mobilizadoras e que não são ameaçadoras, e que valorizem o conhecimento experiencial. E, para que isso aconteça, torna-se imprescindível a dimensão humana.

    Em seu estudo, Rangel (1994)apresenta algumas representações sobre o bom professor, o qual, articula o “nós” coletivo, com uso de habilidades de interação e relações humanas. Conforme o relato de um aluno da pesquisa (RANGEL, 1994, p.25), o bom professor, “Ele sabe cobrar, sabe exigir, exigir a disciplina e o cumprimento das tarefas e, ao mesmo tempo, ele sabe compreender... está sempre “ali” [...]. Quando o aluno precisa dele, [...] sabe que pode confiar nele”.

    Para Leite (2018), um professor inesquecível é aquele que consegue estabelecer um vínculo afetivo positivo entre ele, os alunos e o conhecimento, na proposição de situações didáticas mediadoras da construção de conhecimento. Assim, é o profissional que demonstra a paixão pelo seu fazer, conhece profundamente sua área de ensino e ainda, compromete-se com os alunos, a partir das práticas pedagógicas desenvolvidas.

    Para o autor, compreender o ensino como um processo que além de dimensões cognitivas e políticas, considera tais relações humanas, caminha em direção à “construção de uma escola democrática e inclusiva, disponibilizando a todos uma Educação de qualidade e, como consequência, condições para o exercício consciente da cidadania”.

     

    Afetividade: elemento indispensável para incentivar a aprendizagem

     

    A dimensão interpessoal, no que se refere à afetividade, relações humanas ou mais especificamente, a relação professor-aluno, foi uma categoria presente em 29 dos 37 trabalhos analisados. Tal dado, evidencia que em aproximadamente, 80% dos estudos, os licenciados reconhecem marcas em seu processo de escolarização e de formação docente, as quais ratificam o exposto por Leite (2018). Apresentaremos a seguir, alguns excertos dos trabalhos analisados que vão ao encontro com as discussões anteriores.

    São predominantes discursos e categorias que expressam essa dimensão, todas fundamentadas em práticas que valorizem o diálogo, “pois é dialogando, que o sujeito entenderá a importância de suas atitudes” (RODE, 2010, p. 92).

    Tal perspectiva vai ao encontro do expresso por Rodrigues (2017), no que diz respeito ao sujeito que realiza a humana docência e possui afeto pelo seu trabalho, mas também, percebe-se um sujeito aprendente e agente político. Para ela, a humana docência possui “pilares indiscutíveis: o diálogo, a interação, a relação. A depender de nossas compreensões pedagógicas e educacionais, essas relações e diálogos podem contribuir ou não para a formação humana dos educandos”. (RODRIGUES, 2017, p. 145)

    Na mesma ótica, Negri et al. (2014) e Kollas et al. (2012) posicionam-se a respeito da necessidade da constituição de um corpo de saberes relacionados à afetividade, o diálogo e a motivação para que a prática e constituição profissional docente supere um ensino tradicional e, direcione-se à uma perspectiva emancipatória e ativa, o que destaca o co-protagonismo de professor e alunos no processo de ensino-aprendizagem, conforme Veiga (2012).

     

    Considerações finais

     

    Se esse estudo fosse em um espaço-tempo anterior à 1984, um bom professor seria aquele que possuísse conhecimentos e, possivelmente, rígido. Porém, em uma sociedade do século XXI, já não cabe conceber um bom professor como aquele que possui apenas domínios relativos ao conhecimento ou didático-pedagógico, mas que preocupe-se com a aprendizagem sob a ótica de uma formação emancipatória. Assim, a afetividade, torna-se elemento essencial à formação e ação docente, pois ela pode contribuir não só em um clima e ambiente para que a aprendizagem se realiza, mas também, para motivar, desafiar, despertar o interesse e a sistemática de que juntos ensinamos e juntos aprendemos.

     

    Referências

     

    CUNHA, M. I. Aprendizagem da docência em espaços institucionais: é possível fazer avançar o campo da formação de professores? In: PRYJMA, M. F.; OLIVEIRA, O. S. dos (orgs.). Desenvolvimento profissional docente em discussão. Curitiba: Ed. UTFPR, 2016. p. 63-77.

    FARIAS, I. M. S et al. Didática e docência: aprendendo a profissão. Brasília: Liber Livro, 2011.

    KOLLAS, F. et al. Saberes necessários ao bom professor: dizeres de licenciandos e estudantes de Educação Básica. Educação, Santa Maria, v.38, n.3, p.645-658, set./dez. 2013.

    LEITE, S. A. da S. . Apresentação. In: LEITE, S. A. da S. (org.). Afetividade: as marcas do professor inesquecível. Campinas: Mercado de Letras, 2018. p. 17-25.

    MESQUITA, D. L. de. Um permanente encontro com Paulo Freire. In: GADOTTI, M.; CARNOY, M. (orgs.). Reinventado Freire: a práxis do Instituto Paulo Freire. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2018. p. 443-447.

    NEGRI, H. F. O. et al. Representação social e Formação de Professores de Ciências. UNOPAR Cient., Ciênc. Human. Educ., Londrina, v. 16, n. 1, p. 29-33, Jan. 2015.

    PERRENOUD, P. Os ciclos de aprendizagem: um caminho para combater o fracasso escolar. Porto Alegre: Artmed, 2004.

    RANGEL, M. Representações e reflexões sobre o “bom professor”. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

    RODE, E. D. Os "bons professores" das licenciaturas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul/Dourados: uma reflexão sobre suas práticas pedagógicas. 121 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, 2012.

    RODRIGUES, T. A. As crenças de discentes do curso de Pedagogia da FACED/UFC sobre o bom professor e a formação inicial. 281 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2017.

    VEIGA, I. P. A. (org.). Lições de Didática. Campinas: Papirus, 2012.

  • Palavras-chave
  • Processo de ensino-aprendizagem, Bom professor, Afetividade.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Aprendizagem, desenvolvimento humano e práticas escolares
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