A docência na Educação Profissional e Tecnológica– formação e conhecimentos docentes

  • Autor
  • Thaiane de Góis Domingues
  • Resumo
  • A docência na Educação Profissional e Tecnológica– formação e conhecimentos docentes

     

    Thaiane de Góis Domingues – UEPG - thaicampos@hotmail,com

    Eixo 3 – Formação de Professores

    GEPTRADO – PPGE - UEPG

     

     

    A Educação Profissional e Tecnológica (EPT) historicamente em nosso país apresentou à frente de laboratórios e salas de aula professores que dominavam uma técnica laboral, muitas vezes oriunda de sua atuação em oficinas e empresas. À medida que a sociedade se modernizou ampliou-se o repertório de ensino, incluindo em seu currículo processos mais complexos e pautados na automatização industrial. Embora o currículo da Educação Profissional e Tecnológica tenha se modificado, analisando-se os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2017) sobre o perfil do docente da Educação Profissional e Tecnológica no Brasil identifica-se que tais características históricas, do profissional de área, ainda encontram reminiscências.

    Atualmente a EPT conta com 59,57% dos professores com licenciaturas em sua formação, 32,62% com cursos de bacharelado ou formação superior nas áreas de tecnologia e 7,81 não possuem formação superior (INEP, 2017). Compreendendo que os licenciados não receberam em sua formação o conhecimento acerca do processo industrial e por sua vez os bacharéis e tecnólogos não apropriaram o conhecimento acerca da docência, a pesquisa é norteada pelo seguinte questionamento: De que forma os bacharéis e licenciados que atuam na Educação Profissional e Tecnológica têm constituído os conhecimentos docentes?

    Compreendendo que a EPT passou por mudanças, preconizando uma formação flexível e ampla de mão de obra qualificada, os processos educativos, em especial da instituição pesquisada, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Paraná (Senai - PR), se adequaram a um ensino pautado na resolução de problemas e na polivalência profissional, sob a alegação de dar condições a indústria nacional de competitividade em um cenário de globalização. Para tal, seu método migrou da Série Metódica Ocupacional que se tratava de “um conjunto de instrumentos pedagógicos que organizavam tarefas e operações dos processos de ensino e de aprendizagem de uma determinada ocupação (SENAI, 2014, p.54) para a Metodologia Senai de Educação Profissional implantada em 2012 onde “a mudança pedagógica para formar esse aluno polivalente envolveu os chamados quatro saberes da educação”. (SENAI, 2014, p.62).

    Assim sendo, o antigo instrutor de um modelo pragmático passa a ter atribuições ainda mais complexas, frente as exigências que a EPT assume perante a sociedade bem como aos modelos preconizados pela e para a indústria. Para a sua atuação em sala de aula não conta ora com uma formação inicial, ora com a formação continuada que lhe proporcione os conhecimentos necessários para a docência nesta modalidade. Utiliza-se nessa pesquisa o conceito de conhecimento como algo que se compreende e que se ensina (SHULMAN, 2004), que por sua vez se estabelece em uma base de conhecimentos que se trata de “uma agregação codificada ou codificável de conhecimentos, habilidades, compreensão e tecnologias, de ética e disposição, de responsabilidade coletiva – bem como um meio para representa-lo e comunica-lo” (SHULMAN, 2004, p.87).

    Segundo o autor tal base de conhecimentos perpassa os seguintes saberes:

     

    Conhecimento do conteúdo;

    Conhecimento pedagógico geral, em especial referência aos princípios e estratégias mais abrangentes de gerenciamento e organização de sala de aula, que transcendem a matéria;

    Conhecimento do currículo, particularmente de materiais e programas que servem como “ferramentas de ofício” para professores;

    Conhecimento pedagógico do conteúdo, esse amálgama especial de conteúdo e pedagogia que é um território exclusivo dos professores, seu meio especial de entendimento profissional;

    Conhecimento dos alunos e suas características;

    Conhecimento de contextos educacionais, do funcionamento do grupo ou de sala de aula, da gestão e financiamento dos sistemas educacionais, das características das comunidades e suas culturas; e

    Conhecimento dos fins, propósitos e valores da educação e da sua base histórica e filosófica. (SHULMAN, 2004, p.127).

     

    Ou seja, o conhecimento não se trata somente do saber de um processo produtivo, do domínio técnico de uma área industrial, extrapola a transmissão do conteúdo e envolve uma base de conhecimentos que se inter-relacionam. Acerca disso Gauthier (2013, p. 20) aponta:

     

    pensar que ensinar consiste apenas em transmitir um conteúdo a um grupo de alunos é reduzir uma atividade tão complexa quanto o ensino em uma única dimensão, aquela que é mais evidente, mas é sobretudo negar-se a refletir de forma mais profunda sobre a natureza desse ofício e dos outros saberes que lhe são necessários.  

     

    Ao contrário de tais reflexões sobre a complexidade e amplitude da docência, a legislação educacional que norteia a docência na EPT, através da Lei 13.415 de 16 de fevereiro de 2017 (BRASIL, 2017), considera que para o exercício da docência na EPT basta se possuir o notório saber. Tal lei vai de encontro às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Básica via Parecer CNE/CP 2/2015, homologado pelo MEC em 24/06/2015 (BRASIL, 2015), que por sua vez exigem “cursos de formação pedagógica para graduados não licenciados, de caráter emergencial e provisório”. Ainda que uma formação aligeirada e remediativa não seja o caminho mais apropriado para a apropriação de conhecimentos necessários à docência, as Diretrizes citadas observam com mais atenção a necessidade de saberes específicos ao professor em relação a legislação norteadora no Ensino Médio, a Lei 13415/2017 (BRASIL, 2017).  

    Em meio aos tensionamentos apresentados e na busca de compreender os conhecimentos necessários ao professor da EPT a pesquisa tem como objetivos: analisar a constituição dos conhecimentos docentes de bacharéis e licenciados que atuam na Educação Profissional e Tecnológica; desvelar o processo de associação da formação inicial e continuada, prática pedagógica e dos conhecimentos docentes entre bacharéis e licenciados que atuam na Educação Profissional e Tecnológica.

    A pesquisa seguiu a linha metodológica qualitativa, pela necessidade que apresenta de compreensão da realidade do professor da EPT. O campo de pesquisa foi composto por seis instituições de ensino de EPT, do Senai - PR,  selecionadas entre as demais por conter em seu corpo docente próprio professores com formação em licenciatura ou bacharelado atuantes na mesma área. Nestas seis instituições chegou-se, sob o critério já apontado a trinta e dois sujeitos da pesquisa sendo nove professores com formação em licenciatura e vinte e três professores com bacharelado. A percepção que o professor tem entre sua formação, suas práticas e constituição de seu conhecimento foram analisadas pela pesquisadora por meio de questionários individuais aplicados pela plataforma Google Formulários.

    Os dados foram estudados respaldando-se em Bardin (2011), buscando a análise do conteúdo explicitado pelos sujeitos de pesquisa, assim como o que ficou subentendido em suas respostas estabelecendo-se relações nos dados levantados. Levantou-se duas categorias, a de formação, inserção e trabalho docente e a categoria de conhecimento docente e prática pedagógica. Através de sua análise evidenciou-se, até o momento, que os professores da EPT do Senai – PR com formação bacharelesca ou tecnológica privilegiam o conhecimento do conteúdo específico , do conteúdo escolar e do aluno e suas características. O processo de desenvolvimento de tais conhecimentos refletem sua prática profissional anterior que é adaptada à docência, sem perpassar o conhecimento pedagógico geral. Os conhecimentos dos materiais, programas, currículo foram superficialmente abordados pelos professores não demonstrando serem parte de sua vivência escolar e até mesmo anteparo para sua prática pedagógica. A formação continuada que poderia ser um caminho no desenvolvimento pedagógico se dá por meio de cursos de áreas específicas, aprofundando o conhecimento do conteúdo destes professores. Os licenciados, por sua vez, veem com mais equidade os conhecimentos docentes, apontando a necessidade de conhecimentos do conteúdo escolar e do conteúdo específico alcançados através de formação continuada correlata aos cursos em que atuam.

    Conclui-se desta forma, com base nas análises realizadas até o momento na pesquisa, que a Educação Profissional e Tecnológica no Senai – PR conta com professores que atuam baseados nos conhecimentos dos conteúdos, privilegiando uma prática pedagógica pragmática. Desta forma os conhecimentos acerca da educação que embasariam uma formação integral e de um indivíduo crítico não estão sendo privilegiados nos conteúdos de domínio do professor, logo, não se ensina o que não se sabe.

     

    REFERÊNCIAS

     

    BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo, Edições 70, 2011.

     

    BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP nº 2/2015, de 09 de junho de 2015.

     

    _______. Lei 13.415, de 16 de fevereiro de 2017.  Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 fev. 2017.

     

    _______. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Sinopses Estatísticas da Educação Básica, 2017. Disponível em: < http://portal.inep.gov.br/web/guest/sinopses-estatisticas-da-educacao-basica>. Acesso em 17abri2019.

     

    GAUTHIER, C. et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. Tradutor Francisco Pereira de Lima. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 2013.

     

    SACRISTÁN, J.G; GÓMEZ, A.I.P. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artmed, 1998.

     

    SENAI. Senai 70 anos: 70 anos de educação, tecnologia e inovação. Curitiba: Senai, 2014.

     

    SHULMAN, L.S. The wisdom of practice: Essays on Higher Education. San Francisco: JosseyBass, 2004.

     

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