Álvaro Pais: Um estudo sobre a formação humana na obra nEstado e Pranto da Igreja
1Silvana Malavasi
Universidade Estadual do Paraná
silvanamalavasi@hotmail.com
2 Terezinha de Oliveira
Universidade Estadual de Maringá
teleoliv@.gmail.com
Eixo: História e historiografia da Educação
Resumo: O objetivo deste trabalho é estudar na obra Estado e Pranto da Igreja de Álvaro Pais (1280-1352) como o autor apresentou um projeto de formação dos homens no reino português do século XIV, sob o governo de D. Fernando I (1345-1371). O autor foi bispo de Silves (1334-1352)e se tornou um dos maiores intelectuais neste reinado. Homem da Igreja,desempenhou importantes funções na Cúria Romana, sempre atuando como defensor do Papado. Assim, ao analisar sua obra, pretendemos explicitar a importância desse intelectual junto ao governante e, particularmente, a sua obra como um exemplo de espelho de príncipe, no qual o fio principal é instruir o governante a bem gerir as coisas do reino e de seus súditos. Destacamos, ainda, que para desenvolver nossas reflexões pretendemos seguir os caminhos da história social, especialmente a partir dos conceitos de ‘longa duração’ e ‘totalidade histórica’ apresentadas por Bloch (2011) e Braudel.
Palavras-chave: Formação humana. Comportamento. Conhecimento. Intelectual.
Ao propor este estudo sobre a obra Estado e Pranto da Igreja, de Álvaro Pais (1280-1352), salientamos que o autor ficou conhecido por ter desempenhado um papel polêmico entre os poderes papal e imperial. Sabe-se, segundo Souza (1999), que foi um homem simples e humilde e que o contato com a espiritualidade franciscana influenciou sua vida. Existe uma polêmica sobre a sua descendência se esta era galega ou espanhola. Alguns autores defendem que o autor é galego por ser filho ilegítimo, outros defendem que é espanhol. Souza (2008) afirma que o autor é galego.
Consideramos que a formação de Pais em direito canônico e civil, na Universidade de Bolonha, foi fundamental para a sua participação ativa na regulamentação das leis internas da igreja católica deste período, bem como, contribuiu para o governo da organização cristã e seus membros no reino português.
Álvaro Pais foi um intelectual da Igreja que se voltou para as questões ética e política do seu tempo. Ensinava os intelectuais do reino que queriam participar ativamente das relações públicas o conhecimento de bem e de virtude, segundo os valores cristãos evidentemente. Esses dois aspectos eram essenciais para a formação do homem, segundo o autor. Como aristotélico primava pelas ideias de virtudes cardeais, prudência, justiça, fortaleza e a temperança, sendo estas, a base de todas as outras virtudes humanas que regulamentam nossos atos. Aristotélico no sentido de estudar a teoria clássica sobre o raciocínio humano e da aprendizagem harmonizando a fé com o pensamento racional.
Acreditamos que estudar a obra de Álvaro Pais e seus ensinamentos significa entender a natureza social, religiosa e econômica preconizada pelo autor no século XIV. Dessa forma, faremos reflexões sobre o comportamento humano e elucubrar sobre esses princípios teóricos para a formação dos indivíduos da sociedade atual. Marc Bloc (2011, p.61) escrevia: “A incompreensão do passado nasce afinal da ignorância do presente”. Precisamos compreender o passado para não cometermos os mesmos erros no presente.
Ademais, tivemos o interesse porque por meio de seus escritos podemos apreender conceitos humanistas, éticos e solidários. Características que acreditamos serem necessários transmitir para sociedade atual. Dessa forma, entendemos que o autor proposto nos ajuda a desenvolver nossas ideias, sobre as quais, são os princípios necessários para a formação humana do século XXI. Por isso temos indícios de que analisar a obra de Álvaro Pais e relacioná-la com a Educação pode contribuir para melhor formação do ser humano em nosso tempo.
O ponto principal está relacionado à reflexão acerca da história, à formação do homem do seu período. Fato que consideramos de suma importância é a proposta do autor acerca da liberdade da pessoa, escrito em sua obra, aqui proposta, que o indivíduo, sendo livre, desenvolve sua autonomia intelectual, sabendo fazer melhores escolhas, pode contribuir de maneira positiva para aprimorar a sociedade em que vive.
De acordo com Barbosa (1982), Álvaro Pais um renomado franciscano do século XIV, desempenhou funções na Cúria Romana e se assumiu como pensador político. Refletiu na sua obra todo conjunto de problemas que personalizava a sociedade na qual viveu.
Fez seus primeiros estudos na corte de Sancho IV (1253-1295), de Castela. Passou muitos anos na Itália, tornou-se professor universitário e aproximou-se dos Frades Menores, os quais interpretavam e defendiam as palavras de São Francisco, no que se referia à pobreza. Em apoiar o Papa com essas medidas causou uma divisão irreversível na ordem franciscana regidas em relação à vida dos frades menores, acerca de viverem ou não como pobres. Devido a isso, atendeu ao pedido do Papa e afastou-se dessa ordem religiosa em suas manifestações públicas, porém, continuou a meditar dentro delas.
Em 1333 foi nomeado Bispo de Silves, retornando à Península Ibérica, onde se envolveu em vários conflitos com a monarquia portuguesa, sob o reinado de Fernando I(1345-1371). Por ter se declarado a favor as atitudes do Papa João XXII, sofreu muitos dissabores. Segundo Souza (1999), essa situação era mais que um conflito político entre o imperador e o Papa, evidenciava o caos social. Sobre a polêmica vale ressaltar que foi perseguido pelo imperador e fugiu para Sevilla, na Espanha, exercendo seu ofício na diocese desta cidade até sua morte.
Álvaro Pais deixou uma proposta de padrão de comportamento moral para diversos segmentos da sociedade tanto para clérigos como para leigos. Propôs uma divisão social, demonstrando uma novidade para época. De acordo com Souza (1999, p.13)
Álvaro propõe uma divisão social hierárquica tanto para o clero quanto para os laicos, o que demonstra novidade de seu pensamento que se corporifica com maior intensidade ao tratar dos leigos, assim os divide em 3 grandes blocos que organizamos da seguinte forma: primeiro, o dos Altos dignitários do poder secular e a Alta Nobreza; em segundo, os dos “plebeus” composto pelos intelectuais, pelos juristas e pelos burocratas; e, um terceiro, o dos débeis, composto pelo populacho urbano e rural. (SOUZA, 1999, p.13)
A nosso ver, o intelectual conseguiu, por meio de seu escrito, refletir sobre os problemas que personalizava a sociedade em sua época e procurou dar soluções, fazer a mediação entre a Igreja e o Estado. Segundo Barbosa (1988), Pais é uma tentativa de resposta aos problemas políticos que personalizava a sociedade. Buscava no texto sagrado, interpretar e encontrar as soluções desses problemas. Usando dos seus conhecimentos éticos, antropológicos, a sua teoria política, as suas teses sobre meditação sacerdotal, conseguiu ser um homem de fé em Cristo e estabelecendo a dialética da unidade e multiplicidade.
Ao estudá-lo, teremos um olhar sobre a história, sobre os diversos segmentos da sociedade, principalmente no reino português. Relatando em suas obras a motivação de estabelecer bases teóricas relacionadas com a unidade da Igreja, defendendo-a das proliferações de heresias, quer nas pressões realizadas pelo império ou dentro da própria Igreja pelos membros corruptos, distante do ideal de pobreza evangélica.
Assim, pretendemos abordar a obra de Álvaro Pais na perspectiva da história social, especialmente a partir dos conceitos de ‘longa duração’ e ‘totalidade histórica’ apresentadas por Bloch (2001) e Braudel. Entender a formação humana, compreendendo a proposta de ética para o monarca, como indivíduo público, o qual tinha a responsabilidade de propagar a guerra e a paz entre os homens. A partir desse levantamento, faremos reflexões entre a formação do governante, como líder de um povo, com a formação humana para o século XXI.
Referências
Fonte
PAIS, Álvaro. Estado e pranto da Igreja. Ed. bilíngüe, trad. Miguel Pinto de Meneses.
Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científico- Junta Nacional de InvestigaçãoCientífica e Tecnológica, 1988-1998.8 v.
Estudos
BARBOSA,João Morais. Introdução In: PAIS, Álvaro. Estado e Pranto da Igreja. Ed. Bilíngue, trad. Miguel Pinto Meneses. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científico-Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica,1988-1998. V-I.
Marc Bloch. Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
CARVALHO, Mario Santiago. Estudos sobre Álvaro Pais e outros franciscanos (séculos XIII-XV). Imprensa Nacional- Casa da Moeda.1999.
Cf. Miguel Pinto de MENESES In: Introdução ao volume V do Estado e Pranto da Igreja.Status Lisboa, Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, 1995, p.8.
SOUZA, Armênia Maria de. A sociedade medieval no Estado e pranto da
Igreja de Álvaro Pais, Bispo de Silves (1270-1349). 243 f. Dissertação (Mestrado),
Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia. Universidade Federal
de Goiás, Goiânia, 1999.
Comissão Organizadora
Érico Ribas Machado
Comissão Científica