A APLICABILIDADE DA AUDIODESCRIÇÃO NO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA VISUAL

  • Autor
  • Mara Cristina Fortuna da Silva
  • Resumo
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    A  APLICABILIDADE DA AUDIODESCRIÇÃO NO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO DE  ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA VISUAL

     

     

     

    Ao atuar como docente no Atendimento Educacional Especializado em Salas de Recursos Multifuncionais e na docência em nível superior, no qual estavam inclusos estudantes com deficiência visual, cegos ou baixa visão, tomei conhecimento as angústias destes, em relação às aulas com vídeos ou imagens durante seu processo acadêmico.

     

                Diante desses contextos em que de certa forma vivenciei e tomei conhecimento, passei a me questionar: O uso de audiodescrição de imagens estáticas e/ou em movimento está sendo aplicável como complementação ao processo de escolarização dos estudantes com deficiência visual, cegos ou baixa visão? Como os docentes dos anos iniciais, particularmente nos primeiros e segundos anos do ensino fundamental, se utilizam das imagens estáticas e dinâmicas presentes nos livros didáticos aos estudantes com deficiência visual? De que forma a  audiodescrição de imagens  estáticas e/ou em movimento podem  contribuir com  a escolarização desses estudantes?

     

    Assim, diante desses questionamentos, é relevante discutirmos sobre a aplicabilidade da audiodescrição de imagens estáticas ou em movimento, podem contribuir com o  processo de escolarização dos estudantes com deficiência visual. Pois, diversas metodologias estão sendo utilizadas nas salas de aula, e entre elas o uso de materiais tecnológicos, imagens, fotos, mapas, gráficos, entre outros, e vídeos, os quais é imprescindível que sejam descritos aos alunos com deficiência visual.   

     

    A partir de 2009, o MEC passou a ofertar livros didáticos no formato Mec-Dayse para alunos com deficiência visual das escolas regulares. Esses livros permite ao estudante navegar pelos textos, selecionar um texto ou parte dele, recuar, avançar parágrafos, fazer anotações, exportá-los para impressão em Braille, ampliar caracteres, em situações de baixa visão, entre outras situações. Um detalhe bem importante nos livros nesse formato é a audiodescrição das imagens.

     

                Para discutir a aplicabilidade da audiodescrição e sua possível contribuição com o processo de escolarização dos estudantes com deficiência visual, pretende-se consultar pesquisadores como Amiralian (1997), Bruno (1993, 1997), Caiado (2003), Santos (2007), Bruno (1993, 1997, 2009), Motta (2016) entre outros autores.  Este estudo está fundamentado na perspectiva da Teoria Histórico Cultural de Vygotsky (1984, 1997, 2003, 2011) considerando pontos como: a formação de conceitos, mediação, e desenvolvimento e aprendizagem das crianças com deficiência.

     

    Assim, destacamos nessa discussão, os estudantes com deficiência visual, que embora possua algumas limitações e dificuldades em vários aspectos, constroem imagens e representações mentais com o mundo que o cerca, para contribuir com o  desenvolvimento de suas funções psicológicas superiores.

     

                Embora não percebamos, a apropriação dos conhecimentos produzidos historicamente pelo homem acontece por caminhos indiretos desenvolvendo o seu modo histórico, social e cultural (VYGOTSKY, 1984). Bruno (2009) sinaliza que Vygotsky (1984) procura explicar o processo de desenvolvimento e a formação social da mente,  baseando-se nestes contextos que envolvem o histórico, cultural e também o contexto institucional. Para Vygotsky (1989) a essência cognitiva condicionada ao cego é essencialmente a mesma que a educação das crianças que não são cegas. O que vai diferenciar, é que a criança lerá com os dedos, enquanto a vidente lerá com os olhos. Também os instrumentos para a escrita serão diferentes, mas, ambos desenvolverão seu processo de ensino aprendizagem. Neste sentido, a criança com deficiência não é menos desenvolvida as crianças sem deficiência, “é uma criança desenvolvida de uma forma diferente” (VYGOTSKY, 1989, p.03).

     

                A linguagem possibilita ao cego desenvolver suas funções cognitivas, participar da vida social, educacional, cultural e histórico, mesmo ele continuando ser cego. Nesse viés é necessário  que a educação social vença a deficiência, sendo o cego apenas cego  (VYGOTSKY, 1989). Para o autor:  [...] é importante aprender a ler e não simplesmente ver as letras  [...] o importante é o significado e não o signo” (VYGOTSKY, 1989, p.63).            De acordo com a perspectiva de Vygotsky (1989), o cego tendo a possibilidade de utilizar a visão de outra pessoa é dar um “saudável salto”, pois a outra pessoa atua como um instrumento que “amplia imensamente sua experiência e o entrelaçam estreitamente no tecido geral do Mundo” (VYGOSTKY, 1989, p.63).

     

                O espaço, a locomoção  e recepção de informações visuais, podem ser as únicas limitações da pessoa com deficiência visual, mas o desenvolver-se juntamente com os demais,  a comunicação com as pessoas videntes, são ações que contribuem com o desenvolvimento de suas  funções cognitivas.  Assim, o ser humano, ao longo do seu desenvolvimento, vai se utilizando de representações intelectuais de objetos e imagens do mundo real, propiciando a este, a capacidade abstrair o maior número de informações ficando livre do tempo e espaço em que se encontra.

     

                Na escola, muitos são os signos utilizados no processo ensino aprendizagem dos estudantes, como  o uso de materiais lúdicos, imagens, vídeos, entre outros. Para o estudante com deficiência visual, a adaptação desses materiais para seu processo de ensino aprendizagem é imprescindível, como também a linguagem falada de como são os materiais.  Através da linguagem os estudantes são capazes de apropriar-se dos significados, construindo conceitos e abstraindo e ampliando seu conhecimento. Para isso, torna imprescindível uma formação docente que leve em consideração a diversidade humana e também as peculiaridades de cada estudante.

     

                Motta (2016) sinaliza que  as atividades escolares que envolvem imagens podem dificultar  a criação de sistemas de significação aos  estudantes com deficiência visual. Isso ocorre pela ausência de uma observação direta das imagens como “[...] ações, objetos, do movimento do corpo, das expressões fisionômicas e gestuais, que tanto auxiliam a compreensão” destes estudantes (MOTTA, 2016, p. 40). De acordo com Motta (2016), assim como a linguagem, as imagens representam grande importância no processo de ensino-aprendizagem.  A autora salienta que, como a criança com deficiência fica impossibilitada de ver a imagem por ser cega ou ter baixa visão. No entanto, os docentes podem transmitir informações  descritivas  das imagens, através do uso de uma ferramenta de mediação  denominada “audiodescrição”, a qual considera esta um recurso de acessibilidade, o qual amplia o entendimento das pessoas com deficiência visual, transformando o visual em verbal, contribuindo com estes, o acesso a inclusão cultural, social e escolar  (MOTTA, 2016, p.15-16).

     

                Nessa perspectiva concluímos que a técnica da audiodescrição na escola, sejam em imagens estáticas ou  dinâmicas, podem leva ao estudantes com deficiência visual, a se aproximar da aprendizagem dos estudantes videntes. O estudante vidente observa a imagem, e consegue automaticamente definir o que está ocorrendo nela, do que ela se trata, e se apropriar desse conhecimento para formar novos conceitos. O estudante com deficiência visual, já não pode sozinho apropriar-se de conhecimento através de imagens, devido sua falta de visão, se não houver a disponibilidade de professor ou um colega que audiodescreva o significado destas, em forma de palavras. Assim, ausência da audiodescrição de imagens pode dificultar ou diminuir o desenvolvimento escolar do estudante com deficiência visual.

     

     

     

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

     

    AMIRALIAN, Maria Lucia Toledo de Moraes. Compreendendo o cego: Uma visão psicanalítica da cegueira por meio de desenhos-histórias. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.

     

     

     

    BRUNO, Marilda Moraes Garcia. Deficiência visual: Reflexões sobre a Prática Pedagógica. São Paulo: Laramara, 1997.

     

     

     

    ______. O desenvolvimento Integral do Portador de Deficiência Visual da Intervenção Precoce a Interação Escolar. São Paulo. Newswork. 1993.

     

     

     

    ______. Avaliação Educacional de Estudantes com Baixa Visão e Múltipla Deficiência  na Educação Infantil. Dourados (MS): Editora da UFGD, 2009.

     

     

     

    CAIADO, Katia Regina Moreno. Estudantes Deficiente Visual na Escola: Lembranças e Depoimentos. Campinas/SP: Autores Associados, 2003.

     

     

     

    MOTTA, Lívia Maria Vilela de Mello Motta. AUDIODESCRIÇÃO NA ESCOLA: Abrindo Caminhos para a Leitura de mundo. Campinas, SP: Pontes Editora, 2016.

     

     

     

    SANTOS, Miralva Jesus dos.  A escolarização do Aluno com Deficiência Visual e sua Experiência Educacional.  Dissertação (Mestrado). Universidade Federal da Bahia – UFBA – Faculdade de Educação. Biblioteca Anísio Teixeira: 2007.

     

     

     

    VYGOTSKY, Levy S. A Função Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

     

     

     

    ________. Psicologia Pedagógica. Porto Alegra: Artemed, 2003.

     

     

     

    ________. A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educação da criança anormal. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 861-870, dez. 2011. Disponível em: http://www.scielo.brscielo.phppid=S1517-9797022011000400012&script=sci_arttext.Acesso em: 01 fev. 2013.

     

     

     

    ________. Obras escogidas: fundamentos de defectología. Tomo V . Trad.  Ma. Del Carmen Ponce Fernández. Habana: Editorial Pueblo y Educación. 1997.

     

     

     

     

     

     

     

  • Palavras-chave
  • Estudantes com deficiência - Audiodescrição
  • Modalidade
  • Comunicação oral
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