CARTAS SOBRE A CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA: O QUE DIZEM AS NARRATIVAS DAS EDUCADORAS E ALUNAS?

  • Autor
  • Ingrit Yasmin Oliveira da Silva Batista
  • Co-autores
  • Ercilia Maria Angeli Teixeira de Paula
  • Resumo
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    Este artigo apresentará uma pesquisa realizada com docentes e discentes do Ensino Fundamental de uma cidade do interior do Paraná. Foram solicitadas as produções de cartas com a temáticas relacionadas às formas de trabalho nas escolas e no currículo sobre as questões étnico-raciais.

     

    O estudo incluiu quatro docentes e quatro discentes do 4° Ano do Ensino Fundamental de quatro diferentes escolas da rede pública situadas no município de Campo Mourão – PR. O objetivo era verificar quais as representações nas práticas pedagógicas e nos currículos sobre a Cultura Afro-Brasileira e Africana na escola por meio das narrativas escritas em cartas de docentes e discentes. 

     

    A pesquisa se caracterizou como qualitativa e os procedimentos metodológicos e instrumentos utilizados se constituíram na produção das cartas. Os fundamentos teóricos estiveram voltados aos estudos culturais de Arroyo (2000) e Santomé (1995), os quais ressaltam a importância de um currículo planejado para que não haja posturas de silenciamento das culturas negadas no ambiente escolar.

     

    O tema das cartas visava averiguar o trabalho com a Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo escolar bem como a maneira com a qual as docentes desenvolviam suas práticas em prol da efetivação da Lei 10.639/03, que se justifica pela necessidade de abolir as desigualdades sociais e históricas que afetam a população negra. Já em relação aos discentes, a proposta era verificar se essa lei estaria sendo cumprida nas escolas. Foram estabelecidas reflexões junto às docentes e discentes mediante a seguinte questão norteadora: Como os(as) negros(as) foram retratados no currículo das escolas nas quais você estudou e na sociedade atual?  A escrita à mão tem perdido espaço para computadores, tablets e celulares, devido à atual facilidade em digitar e poder observar as correções gramaticais e ortográficas da língua. Todavia, essa forma de escrita está em desuso na sociedade contemporânea.

     

     

     

    A escrita é uma maneira de expressão através de símbolos. Através do ato de escrever é possível desenvolver distintas competências e habilidades, além de possuir grande representatividade como um meio de comunicar-se, inevitavelmente na era digital e virtual o qual vivemos atualmente (PORTAL, 2012, p.16).

     

     

     

    As cartas informais são narrativas que revelam subjetividades, percepções e valores sobre o mundo e a sociedade. As escritas de cartas deveriam ser mais estimuladas, tanto nas escolas quanto na produção de pesquisas. Pelas cartas, as pessoas narram suas vidas, memórias e histórias.

     

    Para a coleta de dados, as participantes foram informadas sobre os procedimentos éticos da pesquisa. Foram esclarecidos os objetivos do trabalho e entregues os consentimentos informados às docentes e discentes participantes a fim de que estivessem cientes da veracidade e da ética da pesquisa para que a autorizassem. As participantes docentes assinaram o consentimento informado para participação neste trabalho e os(as) responsáveis legais das menores as representaram no ato de assinatura.

     

    O intuito foi verificar se as práticas pedagógicas das docentes possuiriam semelhanças ou diferenças bem como qual seria a maneira com a qual os (as) alunos (as) negras seriam retratadas por se tratarem de escolas localizadas próximas umas às outras. As docentes e/ou a discentes deveriam ser negras, a partir disso, foi solicitado que as docentes descrevessem sobre sua prática pedagógica vinculada à Cultura Afro-Brasileira e Africana, já às discentes, foi solicitado que escrevessem quais as imagens que possuíam acerca dos(as) professores(as) e como estes narravam a forma como eram retratadas no currículo escolar.

     

    Com a implantação da Lei 10.639/03, tornou-se obrigatório o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo escolar (BRASIL, 2003). Dessa maneira, existe a necessidade de ações didáticas nas diferentes etapas de aprendizagem e modalidades de ensino, que devem ser realizadas durante todo o ano letivo e não de maneira fragmentada, a fim de valorizar a história e cultura das pessoas em suas variadas diferenças.

     

    As das análises das narrativas das cartas permitiu verificar um diálogo das participantes da pesquisa sobre como compreendem o papel do(a) professor(a) e das instituições na inserção do currículo sobre a Cultura Afro-Brasileira e Africana. Optou-se pelo critério de escolher nomes fictícios a partir de letras sequenciais do alfabeto para preservar a identidade das docentes e discentes participantes da pesquisa.

     

    Todas as docentes entrevistadas são professoras concursadas pelo município de Campo Mourão – PR e atuam em turmas do 4° Ano do Ensino Fundamental. Sua faixa etária abrange entre 26 a 48 anos de idade; são graduadas em Pedagogia e possuem Pós-graduação em nível Lato Sensu em áreas da educação. As discentes participantes estudam no 4º ano do Ensino Fundamental e estão em uma faixa etária de 9 a 10 anos de idade e estudam em escolas públicas municipais.

     

    Os escritos das docentes revelaram que para pessoas negras ainda é difícil dialogar sobre aquilo que as inquieta e incomoda. As discentes relataram a respeito da sua imagem sobre os(as) docentes(as) e demonstraram admirá-los(las). Além disso, abordam sobre a necessidade de um olhar atento para tal classe, que não é valorizada como deveria.

     

     Para atender aos objetivos da pesquisa foram analisadas quatro cartas de docentes e quatro cartas de discentes, sendo escolhidas uma de docente e uma de discente de quatro diferentes escolas. As escolas selecionadas representaram instituições públicas que ofertam Educação Infantil e Ensino Fundamental. A maioria dos alunos dessas escolas faz parte de famílias de classe média baixa e possuem a cor parda, seguida de brancos e negros, o que leva a repensar sobre a cor da população residente no sul do país, em sua maioria, brancos e pardos.

     

    Já as docentes escreveram em suas cartas que procuram desenvolver e trabalhar de acordo com o planejamento anual da secretaria da educação e abordam o tema sempre que possível por meio de conteúdos que fomentam a valorização dos seres humanos. Além disso, ressaltaram que ao trabalharem com a temática sobre a Cultura Afro-Brasileira na escola, alunos(as) relataram experiências negativas em suas vidas, nas quais sofreram preconceito, contexto no qual tentam amenizar situações de preconceito por meio de diálogo com os(as) discentes atrelado a atividades em grupo, filmes e contação de histórias.

     

    As discentes mencionaram já terem sofrido com atitudes preconceituosas bem como que a imagem da sociedade sobre as pessoas negras deve se modificar para que estas sejam respeitadas. Elas relataram ainda que veem os(as) docentes como aqueles(as) que se dedicam A ensinar, porém não são valorizados(as) na sociedade. Diante disso, possuem uma imagem de admiração, demonstrando terem sido tratadas com respeito no âmbito escolar durante o período de escolarização.

     

    O trabalho com as cartas pedagógicas leva à constatação de que os(as) docentes precisam promover reflexões, questionamentos e discussões junto aos(as) discentes com o intuito de superarem as desigualdades que geram preconceitos. A análise das cartas revela que as docentes demonstraram em seus escritos uma preocupação sobre a questão do preconceito racial sofrido por meninas e meninos negros (as) nas escolas brasileiras. Além disso, ficou evidente a preocupação das discentes com a falta de valorização da formação docente.

     

    Trabalhar com as questões étnico-raciais em escolas localizadas no interior do Paraná ajuda a problematizar o discurso da não existência da população negra no Estado, embora a predominância de alunos(as) e professores(as) das escolas selecionadas fossem da cor parda.

     

    Esta pesquisa promoveu momentos que propiciaram às participantes perceber diferentes narrativas sobre a população negra e repensarem sobre suas histórias de vida. É importante elucidar ainda que as Culturas Afro-Brasileira e Africana devem ser trabalhadas durante todo o ano letivo e não apenas de maneira fragmentada em datas comemorativas.

     

    Espera-se finalmente que a utilização de cartas como recurso metodológico possa ser introduzida em todos os diferentes contextos a fim de propiciar aos alunos e às alunas possibilidades de acesso a outras representações e conhecimento de suas raízes e pluralidades culturais, bem como oferecer às pessoas a vivência em uma sociedade menos preconceituosa e que reconheça e valorize as conquistas da população negra.

     

     

     

    Referências

     

    ARROYO, Miguel. Os saberes dos docentes disputam lugar nos currículos. Petrópolis: Vozes, 2000.

     

     

     

    BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jan. 2003.

     

     

     

    PORTAL, Leda Lisia Franciosi; ZANCAN, Silvana; AMARAL, Lisandra; FLORENTINO, José; SPAGNOLO, Carla; NETTO, Carla. Cartas: um instrumento desvelador que faz a diferença no processo educacional. Revista Educação por Escrito – PUCRS, v.3, n.1, jul. 2012.

     

     

     

    SANTOMÉ, Jurjo Torres. As culturas negadas e silenciadas no currículo. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Alienígenas na sala de aula. Petrópolis: Vozes, 1995.

     

     

     

     

     

  • Palavras-chave
  • Cartas; Cultura Afro-Brasileira e Africana; Narrativas; Educadoras.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
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