A proposição deste texto, trata de uma pesquisa qualitativa realizada com estudantes do Curso de Pedagogia de uma universidade privada no centro oeste do estado do Paraná, suas concepções de criança e infância. O interesse pelo tema da pesquisa emerge em um contexto de formação inicial de professores. O objetivo é investigar quais são as concepções apresentadas pelos estudantes sobre, criança e infância, no âmbito do curso de Pedagogia. Por meio de uma Situação Problematizadora da disciplina de Fundamentos e Metodologias da Educação Infantil com 30 acadêmicas, foram respondidas questões que visam registrar os conceitos iniciais apresentados pelos estudantes de pedagogia.
Inicialmente, a partir da situação problema, nas primeiras semanas de aula da disciplina, os estudantes desconheciam o termo infâncias, respondiam a existência de uma infância única, voltada para o aspecto de idade cronológica, conceituando como: tempo de se preparar para o futuro, momento de brincar, momento sem responsabilidade. As considerações a respeito, do conceito de criança estavam direcionadas a um “ser” inocente, sem maldade, ingênua, que não possui preocupações, que necessita de ajuda para resolver problemas.
Consideramos que tais concepções têm relação e influenciam a qualidade da Educação Infantil, com base nos estudos e leituras o grupo foi instigado a pensar a infância, como categoria social. Como referencial para a infância utilizamos as referências dos estudos de Áries (1981), Corsaro (1997), Fernandes (2004), Müller (2007), Sarmento (1997, 2003 e 2008), Sirota (2001) Thomás (2011).
A busca pela noção de culturas da infância foi necessária na formação inicial de professores, como instrumento para o entendimento de quem é a criança, principal sujeito da Educação Infantil e, assegurar seu espaço de socialização e de convivência, cuidado e educação e produção de culturas. Para isso é ainda necessário que sejam contempladas também suas principais necessidades, seus modos de socialização, seus interesses, suas interpretações, formas de criações, de falar, de pensar e de sentir.
Entende-se que o conceito de infância requer investigar a criança por seus próprios meios de estar e ser no mundo. O pensamento de Áries (1981) colabora para isso quando o mesmo defende o surgimento da infância como consequência da mudança do comportamento adulto. Oposto a isso, Corsaro (2011) idealiza as crianças como responsáveis por suas infâncias e, assim, afetam e são afetadas pelo meio social em que vivem. Esse aspecto indica que a sociologia da infância admite que “as crianças são agentes ativos que constroem suas próprias culturas e contribuem para a produção do mundo adulto” (Corsaro, 2011, p. 5).
Durante as aulas, foi abordado a sociologia da infância, pois é dela que surge a categoria social, infância. De acordo com Sarmento (2008) “a sociologia da infância tem vindo a erigir-se como uma das áreas que privilegia como objeto de estudo um grupo geracional – o infantil – enquanto categoria social”. Pertencer a categoria social faz com que a criança seja vista e ouvida pela sociedade, no entanto é essencial que possamos pesquisar a infância para que possamos interferir nas relações da infância com o mundo.
As condições sociais têm em seus indicadores o fato de que as desigualdades sociais são de fato os fatores de risco para as crianças, o que a sociedade da evolução produz não pode deixar de lado nenhuma criança (Sarmento, 2008, p. 5). Esses aspectos requerem dedicação e esforços para o estudo da criança.
O olhar da sociologia da infância contribuiu para as relações dos estudantes de Pedagogia visto que:
[...] a SI não pode ser indiferente às consequências éticas e políticas do seu labor teórico. Na verdade, é na continua vigilância sobre essas consequências que uma sociologia crítica se pode comprometer com um conhecimento orientado para a emancipação social. É aqui que a renovação potenciada no campo de estudos da SI pela plena assunção de um paradigma crítico pode encontrar as condições para fecundar a reflexividade social sobre a infância com um conhecimento que não seja excludente, mas antes enunciador de renovadas possibilidades de vida para verdadeiramente todas as crianças. (SARMENTO, 2008, p. 14).
A perspectiva da infância na emancipação social alimenta a necessidade de práticas docentes que possam apresentar as culturas das infâncias, e considera todas as crianças como sujeitos sociais e esses sujeitos cidadãos de direitos conforme prevê as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil no texto do artigo 4º,
As propostas pedagógicas da Educação Infantil deverão considerar que a criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. (BRASIL, 2009, p.1- grifo nosso).
Esse aspecto legal da Educação Infantil trata-se de um fundamento importante para nosso olhar a infância, o destaque no texto da diretriz é a evidência de que a criança necessita ser ator de suas experiências com o mundo, sujeito de seu cotidiano, e aqui registro a ideia proposta por Sarmento (2008, p. 7) ao parafrasear Simone de Beauvoir, “pode-se dizer que, assim como “não se nasce mulher” também não se nasce criança, aprende-se a sê-lo!
Aprender a ser criança requer espaços e tempos que sejam pensados e vivenciados na busca por uma cultura infantil de acordo com Corsaro (2011, p. 95) a cultura infantil pode ser definida "como um conjunto estável de atividades ou rotinas, artefatos, valores ou preocupações que crianças produzem e compartilham em interação com pares".
Essa definição nos faz refletir sobre a proposta de docência investigativa que tem como princípio elementar a participação das crianças, na forma de mediar as culturas infantis e escolares, com a escuta atenta as crianças que vão pertencer as turmas de Educação Infantil da pré-escola.
Neste entre outros aspectos escutar, a proposta de estudo a respeito dos conceitos de infância e criança oportunizou registrar e problematizar os elementos da cultura infantil em interação com os espaços e tempos escolares possibilitará a compreensão das crianças em suas experiências infantis. A Educação Infantil é um espaço privilegiado para viver a infância como “sujeito histórico e de direitos” e que possibilita ao professor refletir sua prática de maneira que venha qualificar suas ações e interações pedagógicas.
É essencial que o professor ao assumir a Educação Infantil como prática docente conheça a infância como categoria conforme prevê a sociologia da infância, e que sua prática pedagógica possa garantir a pesquisa junto às crianças, que são espaços para compreensão das relações entre adultos e crianças.
Ao concluir a disciplina, retomamos a questão a respeito do conceito de infância e criança, quando foram novamente escrever a respeito dos conceitos foi possível observar e avaliar que os estudantes, ampliaram seus conceitos e puderam pesquisar, estudar e refletir a respeito da infância como categoria social. Dentre as repostas, temos grandes conquistas em relação aos conceitos abordados, veja o exemplo da acadêmica A1: Conceitos iniciais – “Criança: entendo por criança que é um ser inocente onde não existe maldade nem rancor com o próximo. Infância: é a fase do desenvolvimento da criança onde é relacionado as brincadeiras e ensinamentos preparando-as para o futuro”. Estes conceitos apontados por A1 representam suas ideias iniciais na disciplina de Fundamentos e Metodologias da Educação Infantil. No final do semestre: A1: Conceitos finais – “Criança: a criança é um ser humano, histórico e social que está inserida na sociedade e determinada por uma certa cultura. Infância: momento de brincar, conhecer e desenvolver seus aspectos cognitivos, estudar ter apoio da família para crescer saudável. Período de descobrir seus estímulos intelectuais”. As respostas para os conceitos que norteiam este trabalho, obtiveram um novo olha, diante do percurso vivenciado nas aulas da disciplina de Fundamentos e Metodologias da Educação Infantil, o que demonstra a necessidade de estudos e pesquisas a respeito dos conceitos presentes na formação inicial de professores.
Para isso é ainda necessário que sejam contempladas também suas principais necessidades, seus modos de socialização, seus interesses, suas interpretações, formas de criações, de falar, de pensar e de sentir.
Comissão Organizadora
Érico Ribas Machado
Comissão Científica