CONCEPÇÕES SOBRE FRACASSO ESCOLAR: O QUE APONTAM AS PESQUISAS ENTRE 2010 E 2017

  • Autor
  • Layze Cristinne Cordeiro
  • Co-autores
  • Lucimara Cristina de Paula
  • Resumo
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    CONCEPÇÕES SOBRE FRACASSO ESCOLAR: O QUE APONTAM AS PESQUISAS ENTRE 2010 E 2017

     

    Layze Cristinne Cordeiro – UEPG cordeirolayze@gmail.com

    Profa. Dra. Lucimara Cristina de Paula – UEPG lucrispaula@gmail.com

    Eixo: Aprendizagem, desenvolvimento humano e práticas escolares

    Grupo de pesquisa GEPEDUC

    Agência de financiamento: CAPES

     

    INTRODUÇÃO

    Este estudo faz parte de uma dissertação de mestrado ainda em andamento sob o título Pesquisas sobre alfabetização nos anos iniciais do Ensino Fundamental (2010 -2017): o que propõem para a superação do fracasso escolar”, e desta forma, buscamos compreender como os autores problematizam o fracasso escolar em pesquisas desenvolvidas nos anos de 2010 a 2017, a fim de identificar se apontam propostas para minimizar este problema no meio educacional. Desta forma, realizamos um comparativo entre as concepções defendidas sobre o fracasso escolar nas décadas passadas e as mais atuais, analisando as concepções sobre o fracasso, por meio dos conceitos de denúncia e anúncio. (FREIRE, 2002). Verificamos nas pesquisas as críticas vinculadas ao fracasso escolar (denúncia) e o que indicam para sua superação (anúncio), buscando as aproximações e os distanciamentos entre as concepções dos autores.

     

    METODOLOGIA

                O estudo decorre de pesquisa exploratória, de caráter bibliográfico, sobre trabalhos acadêmicos realizados a respeito do fracasso escolar, publicados de 2010 a 2017. A base de dados consultada foi a Scienti?c Electronic Library Online (SciELO) e a busca foi realizada a partir do descritor “fracasso escolar”.

                Inicialmente foram localizadas 146 pesquisas sem usar filtros para a busca. Após a aplicação do filtro pré-estabelecido (área regional Brasil; recorte temporal de 2010 a 2017; idioma português; Grandes áreas temáticas Ciências Humanas e da Saúde; subáreas temáticas “Educação e pesquisa educacional”, “Psicologia educacional” e “Psicologia multidisciplinar”, e tipo de literatura utilizado: artigos), restaram 100 artigos.   Constatamos que 54 artigos não contribuíam diretamente para os objetivos deste trabalho, pois os artigos que interessam a essa pesquisa são aqueles que tratam do fracasso escolar referente aos anos iniciais do ensino fundamental, ou seja, de crianças que deixam essa etapa da escolarização sem serem alfabetizadas.

                Dos 46 trabalhos restantes, 10 foram selecionados por apresentarem as concepções dos autores, bem como discussões e resultados relevantes para este estudo.  Os artigos foram lidos e analisados quanto a sua temática principal, questão-problema, objetivos e resultados, a partir de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório e descritivo (GIL, 2008), orientada por meio de procedimentos da pesquisa documental e da pesquisa bibliográfica (SALVADOR, 1986; LIMA E MIOTO, 2007; GIL, 2008;). 

      Com base nos estudos de Salvador (1986) estabelecemos uma sequência de leituras que se configuram em técnicas para levantamento de informações: leitura de reconhecimento do material, leitura exploratória, leitura seletiva, leitura reflexiva ou crítica e leitura interpretativa. Durante as leituras crítica e interpretativa nos orientamos pela teoria freiriana, verificando como os autores analisam o fracasso escolar na perspectiva do par dialético da denúncia e anúncio (FREIRE, 2002), compreendendo o que defendem e o que criticam em suas considerações, assim como identificando o que propõem como alternativas para transformar a realidade.

     

    RESULTADOS E DISCUSSÕES

                No minidicionário Soares Amora (2001), a expressão “fracasso” é explicada como baque; ruína; desastre; malogro; insucesso. Nessa direção, o fracasso escolar, seria o mau êxito na escola, caracterizado na compreensão de muitos autores como sendo a reprovação e a evasão escolar.

             Por meio de nossos estudos, consideramos o fracasso escolar em seu sentido mais amplo, transpondo a ideia de reprovação e/ou evasão, enfatizando o baixo índice de aprendizagem e a má qualidade da educação. Analisamos como a produção do fracasso é compreendida na rotina escolar e apontamos as diferentes concepções defendidas ou criticadas pelos autores das pesquisas.

             Utilizamos o par dialético da denúncia e anúncio, fundamentado na teoria de Paulo Freire (2002), ao analisarmos criticamente os objetivos definidos nas pesquisas e os resultados alcançados. Dessa forma, entendemos que a história de homens e mulheres não é pré-definida, a qual pode ser alterada pela ação problematizadora das pessoas.

     

    Nesta pedagogia, a denúncia e o anúncio não se configuram como palavras vazias, mas como compromisso histórico, pelo desvelamento de uma sociedade de classe exploradora, mediante crescente conhecimento científico de como ela se estrutura e funciona, e pelo sonho de uma nova sociedade, que demanda uma teoria da ação transformadora desta sociedade. (PAULA, 2011, p. 93).

     

                Portanto, partimos das denúncias feitas em pesquisas que se dedicaram a compreender o fracasso escolar, mas de modo a encontrar possíveis caminhos para mudar a realidade da educação, engajados na luta por um futuro melhor, onde todos tenham o seu direito de aprender garantido.

                Dos 10 artigos selecionados, entre os anos de 2010 a 2017, constatamos que somente três pesquisas investigaram o fracasso nas séries iniciais do ensino fundamental, duas se detiveram nos anos finais e cinco abordaram esta temática de forma mais ampla, relacionando-a a outros temas da área educacional: trabalho docente, educação inclusiva, progressão continuada, classe de aceleração, rendimento escolar, alfabetização, políticas educacionais, ensino e aprendizagem. Destacamos que os artigos analisados foram provenientes de estudos produzidos por estudantes e docentes universitários, ligados aos cursos de Pedagogia, Psicologia e Educação Física ou a programas de Pós-Graduação em Educação.

                Ao realizar um comparativo das concepções dos autores, verificamos algumas aproximações. Dentre elas, destacamos o fato de alguns criticarem o mito da culpabilização das famílias na educação dos filhos como sendo os responsáveis pelo fracasso dos educandos (Zago, 2011; Viégas, 2015; Pezzi e Marin, 2017; Pozzobon, Mahendra e Marin, 2017) ou a crença de que este fracasso decorre de problemas individuais específicos desses alunos por pertencerem a classes populares.

                Também salientamos que as concepções dos autores se aproximam quando estes afirmam que o fracasso é gerado tanto por fatores extra como intra-escolares e são produzidos social e politicamente. (Zago, 2011; Viégas, 2015; Navarro et al, 2016; Paulilo, 2017; Pezzi  e Marin, 2017; Pozzobon, Mahendra e Marin, 2017; Rodrigues e Chechia, 2017).

                Constatamos que em posições ou apontamentos mais específicos, os autores analisados se distanciam das concepções verificadas em pesquisas de décadas anteriores. A promoção de alunos para as séries seguintes sem terem aprendido os conteúdos culturalmente sistematizados pela sociedade é criticada no bojo da Progressão Continuada, a qual não garante por si só que os alunos obtenham sucesso na aprendizagem (Viégas, 2015), enquanto que para alguns pesquisadores essa forma de promoção automática poderia ser uma solução para o problema (Dória, 1918; Antunha, Lombardi; & Bueno, 1961). Alguns pesquisadores apontaram caminhos práticos para minimizar o fracasso escolar, enquanto outros indicaram reflexões feitas pelo entendimento crítico do problema. Enquanto certos pesquisadores se detêm mais na análise dos fatores intra-escolares (Navarro et. al, 2016, Pozzobon, Mahendra e Marin, 2017; Rodrigues e Chechia, 2017), focando a instituição escolar como responsável por desencadear este fracasso, outros se debruçam em criticar com maior ênfase os fatores extra-escolares (Madalóz et. al, 2012; Viégas, 2015; Paulilo, 2017).

     Na década atual, que iniciou em 2010, há repetições dos problemas apontados por pesquisas anteriores: preocupação econômica na construção de políticas educacionais; olhar preconceituoso em relação aos professores, alunos e familiares; autoritarismo na implantação de políticas de governo; funcionamento escolar, calcado em tarefas mecânicas e pouco interessantes; culpabilização dos alunos e famílias pelas dificuldades de escolarização (VIÉGAS, 2015, p. 160). Ou seja, repetem-se discursos que criticam a visão patologizante do fracasso, mas poucas pesquisas trazem de fato caminhos para a superação do problema, anunciando formas de intervir nas escolas com os educandos que não conseguem aprender.

     

     

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

     

    Por meio da análise dos artigos selecionados nesta pesquisa bibliográfica, evidenciamos que os autores em geral destacaram o fracasso escolar como fenômeno multifacetado, que é desencadeado por questões sociais e políticas, compreendido sob diferentes concepções: baixo rendimento do aluno, aquisição insuficiente dos conhecimentos e habilidades, defasagem na relação idade-série, reprovação, repetência, interrupção escolar sem a obtenção de um certificado, entre outras designações.

    Das 10 pesquisas analisadas, 5 delas se detêm apenas na denúncia do problema , pois analisam o fracasso baseadas em concepções críticas, denunciando as crenças estabelecidas nos meios escolares ou divulgadas  nos meios acadêmicos, que somente culpabilizam a família, os professores e os alunos. E as outras 5 trouxeram ideias, propostas de intervenção e práticas como  formas de superar o fracasso. Porém, apenas 2 artigos apresentaram resultados evidenciados após intervenção, com caminhos que na prática deram certo e contribuíram para o aprendizado dos educandos.

    Com base no que a teoria freiriana propõe, é importante refletir sobre o fracasso escolar, buscando entendê-lo de forma dialética: não só denunciando o problema, as suas causas, os possíveis elementos causadores, mas trazendo também o anúncio sob a forma de caminhos ou alternativas para minimizá-lo.

     

    REFERÊNCIAS

    AMORA, A. S. Minidicionário Soares Amora da língua portuguesa. 10ª ed. São Paulo. Saraiva, 2001.

     

    ANTUNHA, E. L. G., LOMBARDI, U., BUENO, H. P. Promoção automática. São Paulo: Serviço de Expansão Cultural (SEC), 1961.

     

    GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

     

    FREIRE, P. Ação Cultural para a Liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

     

    LIMA, T. C. S., MIOTTO, R. C. T. Procedimentos metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Revista Katál. Florianópolis, v.10, n.esp., p. 37 – 45, 2007.

     

    MADALÓZ, R. J., SCALABRIN, I. S., JAPPE, M. O fracasso escolar sob o olhar docente: alguns apontamentos. IX ANPEd Sul, Seminário de Pesquisa em Educação na região Sul, 2012.

     

    NAVARRO, L., GERVAI, S., NAKAYAMA, A., PRADO, A. A dificuldade de aprendizagem e o fracasso escolar. Journal of Research in Special Educational Needs. v. 16. n. s1. 2016, p. 46–50.

     

    PATTO, M. H. S. A Produção do Fracasso Escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.

     

    PAULA, L. C. de. Contribuições da práxis histórica de Paulo Freire às pesquisas e propostas sobre educação contínua de educadores (as). 2011. 455 f. Tese (Doutorado em Educação), Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. 2011.

     

    PAULILO, A. L. A compreensão histórica do fracasso escolar no Brasil. Cadernos de Pesquisa. v.47 n.166. out./dez. 2017, p. 1252-1267.

     

    PEZZI, F. A. S., MARIN, A. H. “Seguindo em frente!”: O fracasso escolar e as classes de aceleração. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo. v. 20. n. 2, Maio/Agosto de 2016, p. 219-227.

     

    _______________________. Fracasso Escolar na Educação Básica: Revisão Sistemática da Literatura. Trends in Psychology / Temas em Psicologia. v. 25, n. 1, Março 2017, p. 1-15.

     

    POZZOBON, M. MAHENDRA, F. MARIN, A. H. Renomeando o fracasso escolar. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo. v. 21. n. 3. Setembro/Dezembro de 2017, p. 387-396.

     

    PRIOSTE, C. Fracasso escolar e dificuldades na alfabetização: relato de experiência de atendimento psicológico e novas intervenções. RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, v. 11, n. esp. 4, 2016, p. 2430-2447. E-ISSN: 1982-5587 doi: http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v11.n.esp4.9201.

     

    RODRIGUES, A., CHECHIA, V. A. O fracasso escolar e suas implicações no processo de ensino e de aprendizagem. Psicologia - Saberes & Práticas. n.1, v.1. 2017, p. 29-36.

     

    SALVADOR, A. D. Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica: elaboração de trabalhos científicos. 11. ed. Porto Alegre: Sulina, 1986, p. 239.

     

    SAMPAIO DÓRIA, A. Contra o analphabetismo. Anuário do Ensino do Estado de São Paulo. São Paulo: Diretoria da Instrução Pública, 1918.

     

    VIÉGAS, L. de S. Progressão Continuada e Patologização da Educação: um debate necessário. Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional. São Paulo. v. 19. n.1, Janeiro/Abril de 2015, p. 153-161.

     

    ZAGO, N. Fracasso e sucesso escolar no contexto das relações família e escola: questionamentos e tendências em Sociologia da Educação. Sociologia da Educação Revista Luso-Brasileira. ano 2, n.3, março 2011.

  • Palavras-chave
  • Fracasso escolar. Alfabetização. Pesquisas.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Aprendizagem, desenvolvimento humano e práticas escolares
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