UMA ANÁLISE DAS RELAÇÕES SOCIAIS A PARTIR DAS RELAÇÕES FAMILIARES NA OBRA O FILHO MALDITO, DE HONORÉ DE BALZAC

  • Autor
  • Viviane da Silva Batista
  • Co-autores
  • Conceição Solange Bution Perin , Rafael Henrique Santin
  • Resumo
  •  

    UMA ANÁLISE DAS RELAÇÕES SOCIAIS A PARTIR DAS RELAÇÕES FAMILIARES NA OBRA O FILHO MALDITO, DE HONORÉ DE BALZAC

               Viviane da Silva Batista

    Universidade Estadual do Paraná - UEM

    vivi.sbatist@gmail.com

     

    Conceição Solange Bution Perin

    Universidade Estadual do Paraná – UEM

    solperin01@gmail.com

    Rafael Henrique Santin

    Universidade Estadual do Paraná – UEM

    rafael.h.santin@gmail.com

     

    Eixo 1: História e historiografia da Educação

    Grupo de Estudos:  GTSEAM

     

    Resumo: O Filho Maldito (1959), de Honoré Balzac (1799-1850), expressa transformações histórico-sociais relativas ao momento de transição da sociedade medieval para a moderna e nos permite uma discussão que parte das relações familiares para questões mais abrangentes, de natureza política, social, cultural, moral e educacional. Assim, nosso objetivo é, a partir da novela balzaquiana, promover reflexões que nos ajudem a compreender a nossa realidade considerando essas questões. Baseado na perspectiva de longa duração, este estudo fomenta considerações que nos remetem à reflexão do nosso próprio contexto e nossas próprias relações sociais.


    Palavras-chave: O Filho Maldito; Relações Sociais; História da Educação.

     

    Ao escrever A Comédia Humana (1831), Honoré Balzac (1799-1850) tratou dos vícios e virtudes sociais e os avivou por meio de suas personagens, o fez de um modo tão dinâmico que os escritos nos permitem uma intertextualidade quase que natural. O Filho Maldito (1959), parte dessa obra, expressa transformações histórico-sociais relativas ao momento de transição da sociedade medieval para a moderna e nos permite uma discussão que parte das relações familiares para questões mais abrangentes, de natureza política, social, cultural, moral e educacional. Assim, nosso objetivo é analisar esta novela e promover reflexões que nos ajudem a compreender melhor a nossa realidade.

    O Filho Maldito representa a transição do medievo para a modernidade e ilustra por meio das problemáticas familiares os conflitos entre o antigo modelo social e o novo: nobreza X burguesia. Se de um lado a nobreza buscava meios de continuar no poder, por outro a burguesia tentava posicionar-se socialmente e firmar-se no poder.

     A narrativa relata a história de dois irmãos, Estevão e Maximiliano. Estevão nasceu de sete meses, e sua fragilidade causou a recusa do pai, sendo então criado apenas pela mãe, Joana – bela jovem educada conforme os princípios da nobreza. Apaixonada pelo primo Jorge de Chaverny, casou-se aos dezenove anos com Hérouville – bem mais velho e, descrito por Bazac, como rústico, feio, desalinhado e que embora fosse um conde e lutasse a favor de Henrique III, intencionava depor o rei.  Maximiliano, o caçula, era o oposto de Estevão, herdou a coragem e as habilidades de guerreiro do pai, assim como a ganância e a ignorância.

    A trama evidencia uma família desestruturada e composta por sujeitos que convivem, mas distanciam-se uns dos outros justamente pela notória disparidade da formação, do interesse e da natureza de cada um. Embora as personagens sejam únicas, não é intenção de Balzac analisá-las isoladamente, porque as transformações ocorrem no âmbito da coletividade enquanto espaço comum aos vários personagens sociais.

    Ao final, vislumbramos “[...] o confronto das duas forças próprias do homem, o sentimento – no caso o amor – e o poder do dinheiro”, deixando transparecer que o “[...] capitalismo não é a sociedade ideal, mas também não propõe um homem ideal, pelo contrário, demonstra, por meio de Estevão, sua impossibilidade” (MONTOVANI, 2005, p. 97).

    Ambientada no contexto do século XVI, a narrativa tem como pano de fundo uma período histórico marcado por antagonismos políticos nobres e burgueses e compreendido como o início da Idade Moderna, conhecido como Renascimento, um movimento culturaleconômico e político de origem italiana que se estende pela Europa dos séculos XIV, XV e XVI. As transformações advindas da decadência do feudalismo, das raízes do capitalismo e da ascensão comercial, bem como da Reforma Protestante e do aumento da participação do Estado na economia afetaram a vida privada e projetaram-se no coletivo, por isso, precisam ser compreendidas em sua totalidade.

    Em nossa interpretação, Balzac transpõe essas transformações na caracterização de suas personagens. Vejamos a figura de Estevão, por exemplo, embora limitado pelas condições físicas, representa o típico perfil da aristocracia, pois tem em si toda a instrução e virtudes. A ele se assemelha Joana, figura aristocrática que perpetua seus valores no filho. Ambos são despretensiosos em relação aos bens materiais, simbolizam o apreço pelo ensino, pela educação, pela sensibilidade, pelo amor. No outro extremo, temos Hérouville e Maximiliano, pai e filho, personificações da ambição e da busca por poder.

    Hérouville representa assim os padrões sociais vigentes na sociedade francesa monárquica do século XVI, enquanto Joana pode ser entendida como os ventos de mudanças que sopravam na sociedade. Estevão e Maximiliano representam as formas diferentes de enxergar a mesma sociedade, de compreender os diferentes movimentos presentes no mesmo espaço social, ideias opostas dentro de uma mesma unidade social.

    Percebemos no O Filho Maldito que os valores sociais, morais e intelectuais conduzem a formação humana e que a ideia de unidade precisa ser considerada, conforme postulado por Montaigne (2002, p. 247) na obra Ensaios: “Quero que as boas maneiras externas, e a conduta social, e o desembaraço de sua pessoa sejam moldados juntamente com sua alma. O que se instrui não é uma alma, não é um corpo: é um homem; não se deve separá-lo em dois.” Assim, ao descrever Maximiliano como sujeito dotado de corpo, mas desprovido alma e Estevão dotado de alma, mas desprovido de corpo, Balzac nos leva a concluir que, enquanto modelos de comportamento social, ambos estavam incompletos, dado que a bravura sem a justiça se converterá em tirania e o conhecimento sem a atitude e o posicionamento acabará por se perder.

    O comportamento de Estevão e Maximiliano nos remete a Emílio ou da Educação (1762), de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Ética a Nicômaco, Aristóteles (1973) e A Abolição do Homem de Clive Staples Lewis (1898-1963), dado que Estevão foi criado em contato com a natureza, com os valores morais, intelectivos e distante das relações que pudessem ‘contaminar’ seu espírito, mas com Maximiliano não ocorreu o mesmo. Esse nos lembra o embate entre vícios e virtudes, bem como a metáfora dos “homens sem peito” de Lewis, dado que a educação que deveria ser a base para o conhecimento e liberdade tem propagado um certo relativismo em detrimento aos valores construídos e mantidos pela humanidade, distanciando o homem do conjunto de valores fundamentais à manutenção da civilidade.

    As virtudes moral e intelectual não nos são inatas, mas podemos aprendê-las e desenvolvê-las em prol da coletividade, se “[...] não fosse assim não haveria a necessidade de mestres, e todos os homens nasceriam bons ou maus em seus ofícios. Isso, pois, é o que também ocorre com as virtudes: pelos atos que praticamos em nossas relações com os homens nos tornamos justos ou injustos [...]. (ARISTÓTELES, Ética..., L. II, c. 1, § 1103a/1103b apud VIANA e OLIVEIRA, 2003, p. 7- 8).

    Retomamos então a ideia de que os homens não nascem bons ou maus, mas, sim, dotamos de um potencial para aprender, sendo assim, a educação tem papel primordial na formação humana, não só a educação intelectiva, científica e acadêmica, mas também e fundamentalmente, a educação ética, familiar, social, cultural e moral. Uma educação bem fundamentada dará ao sujeito condições de reconhecer e discernir entre o bem e o mal, o justo do injusto e a escolher agir pelo bem comum.

    Logo, por trabalhar “[...] com duas visões do homem como elemento social: uma “utópica” ou ideal, porém, levada ao exagero poético e místico. A outra, a “real”, apresentada cruamente sem pudores, pronta a ser interpretada pelo leitor” (MONTEVANI, 2005, p. 96), O Filho Maldito nos remete a reflexões e indagações acerca do nosso próprio tempo, a inversão de valores e o papel desempenhado pelas instituições sociais nos levam a formar Estevãos e Maximilianos, - ambos incompletos, no entanto, mais estes que aqueles - ou como diria Lewis, “homens sem peito”.

    Nosso modelo educacional corresponde aos interesses do mercado de trabalho, não pressupõe a formação da consciência histórica, ética, política e social, e assim nos nega uma visão totalitária de mundo. Ao passo que isso ocorre, as ações humanas divergem do comportamento capaz de sustentar a civilidade. Estevão e Maximiliano são personagens que conservariam a linhagem e assumiriam o governo e as batalhas, logo, isso nos mostra o quanto a educação é importante, é ela que, em maior ou menor grau, dita os rumos da civilização por meio dos papeis de liderança.

    Balzac está tecendo uma crítica às questões sociais e políticas de sua época e nos mostrando como a educação e as transformações sociais influenciam no comportamento humano e vice-versa. É por discutir temáticas humanas que esse autor nos leva a conhecer nosso passado e (re) pensar nosso presente.

     

     

    REFERÊNCIAS

     

    ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

     

    BALZAC, Honoré. O filho maldito. In: A comédia humana. Rio de Janeiro Globo, 1959.

     

    LEWIS, C. S. A abolição do homem. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

     

    MANTOVANI, Marcos Roberto. Balzac e a Representação de mudanças na Educação e nas relações familiares. 126 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Maringá, 2005.

     

    ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio: ou da educação. Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968.

     

    VIANA, Ana Paula dos Santos. OLIVEIRA, Terezinha. Um Estudo do Conceito de Felicidade na História Da Educação. In: XII JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS, 2013. 14 p. Disponível em: <http://www.ppe.uem.br/jeam/anais/2013/pdf/55.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2018.

     

  • Palavras-chave
  • O Filho Maldito, Relações Sociais, História da Educação.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • História    e    historiografia    da    Educação        
Voltar Download
  • História    e    historiografia    da    Educação        
  • Política    Educacional    e    Gestão    
  • Formação    de    professores 
  • Educação    Especial    
  • Ensino de Ciências e Matemática
  • Educação e Arte
  • Educação, cultura e diversidade
  • Educação e Tecnologia
  • Aprendizagem, desenvolvimento humano e práticas escolares
  • Tópicos Especiais em Educação

Comissão Organizadora

Érico Ribas Machado

Comissão Científica