SER PROFESSORA DE BEBÊS: UMA RELAÇÃO DE CUMPLICIDADE E DE INTERAÇÕES

  • Autor
  • Maria Odete Vieira Tenreiro
  • Co-autores
  • Michele Vandoski dos Santos , Jéssica Morais Ferreira
  • Resumo
  • SER PROFESSORA DE BEBÊS: UMA RELAÇÃO DE CUMPLICIDADE E DE INTERAÇÕES

     

    Jéssica Morais Ferreira – ESA

    jessicamoraisferreira@hotmail.com

    Michele Vandoski dos Santos – CSCJ

    michelesantos_fd@hotmail.com

    Maria Odete Vieira Tenreiro – UEPG

    motenreiro@yahoo.com.br

     

    Eixo 3- Formação de Professores

    GEPEEDI

    Introdução

     

    A forma de ver a criança sofreu várias interpretações ao longo da história. Isso fez com que o conceito de infância também fosse se alterando com o passar do tempo, bem como a preocupação em olhar para crianças de modo a respeitar sua singularidade.

    O presente resumo faz parte de uma pesquisa mais ampla que discute a formação de professores e suas práticas pedagógicas com os bebês.  Neste texto, procuramos revelar o que é ser professora de bebês, pois é a fase da vida em que a criança começa a descobrir e interagir com o mundo que está a sua volta.

    Como suporte para os procedimentos da pesquisa, optamos por utilizar a abordagem qualitativa observando os estudos de Chizzotti (2006), Bogdan e Biklen (1994). Para a coleta de dados, realizamos entrevistas semiestruturadas que foram gravadas e transcritas posteriormente. Os sujeitos foram cinco professoras e cinco auxiliares que atuam com as crianças de 0 a 18 meses, em duas instituições municipais de ensino. 

     

    Contextualizando o tema

     

    Por muito tempo, o papel de apresentar o bebê ao mundo e ensiná-lo a fazer parte dele, acontecia exclusivamente no âmbito familiar, mas o que vemos nos dias atuais é que essa tarefa passou também a ser desempenhada e compartilhada em outros ambientes e por outras pessoas, sendo um desses ambientes a creche e entre as pessoas que participam desse processo aparecem, de modo particular, às professoras (Barbosa, 2010).

    É possível afirmar que o papel que os adultos exercem na vida dos bebês é importantíssimo e fundamental para que de fato essa criança se sinta pertencente ao mundo que a rodeia.

    Quando nascem, os bebês necessitam de um longo período de atenção e cuidado para sobreviver. Um dos grandes compromissos dos adultos, que já habitam este mundo, é o de oferecer acolhimento para esses novos integrantes da sociedade (BARBOSA, 2010, p. 2).

     

    Sendo assim, cabem as professoras de crianças de 0 a 18 meses terem uma postura atenta as ações que os bebês desenvolvem, para que assim, consigam exercer uma prática docente significativa e acarretada de intencionalidade pedagógica. Dagnoni (2012) em seus escritos traz que a professora, ao conversar, cantarolar, gesticular, tocar e deixar ser tocado, já estará ajudando a criança no seu processo de construção como indivíduo pertencente a uma sociedade.

    Nesse sentido, o trabalho com bebês deve ser desenvolvido por profissionais capacitados, qualificados e acima de tudo que consigam ver a criança pequena como um ser que é capaz de se comunicar, interagir, brincar e aprender.  Segundo Barbosa (2010),

    [...]os bebês aprendem observando, tocando, experimentando, narrando, perguntando, e construindo ações e sentidos sobre a natureza e a sociedade, recriando, desse modo, a cultura (p. 3).

    Desta forma, fica evidente que a professora de bebês precisa ter clareza e intencionalidade em quais objetivos deseja alcançar. Esse profissional deve fazer de seus desafios e dos desafios lançados as crianças durante sua ação pedagógica, degraus para que o desenvolvimento das crianças aconteça e assim consigam construir seus saberes. Tenreiro (2015, p. 110), destaca que, “os desafios propostos aguçam a vontade da criança, tornando a aprendizagem mais significativa. Sem dúvida que, aguçar o interesse da criança é papel fundamental do professor”. Para que isso aconteça é necessário que o professor se mostre cotidianamente comprometido com os interesses e necessidades de suas crianças, “faz-se necessário uma profissional qualificada que possibilite um trabalho de qualidade, por meio de atividades pedagógicas planejadas e direcionadas, a fim de estimular o seu desenvolvimento integral e pleno (Carvalho, 2015, p. 22).

     

    A pesquisa: o que revelaram os sujeitos?

    A questão indagada aos sujeitos foi: “Para você, o que significa ser professora de bebês?”

    Quatro professoras atribuíram suas respostas ao sentido de ser uma profissão desafiadora, porém, satisfatória. Elas revelaram em seus depoimentos:

    É muita responsabilidade e um grande privilégio, porque a gente tem a oportunidade de acompanhar tudo, desde o começo, os primeiros passos... quando eles saem da família, nós somos os primeiros estranhos que eles encontram (Prof. Lila).

     

    É um desafio prazeroso (Prof. Karina).

     

    É difícil, porque é bem desafiadora, as crianças não falam, e você tem que adivinhar o que eles estão sentindo, você tem que saber se o choro é de dor, de fome ou de manha. Ao mesmo tempo que é bem difícil, é bem prazeroso e bem significativo [...] todo dia é uma descoberta, [...] é uma fase muito desafiadora, mas também muito gratificante. (Prof. Je).

     

    Eu tenho certeza que não é para qualquer um, tem que ter o perfil mesmo, porque muitas coisas eles não sabem dizer pra gente. A confiança você tem que adquirir no dia-a-dia, você tem que conquistar, nem sempre é fácil [...] Cada criança traz um desafio diferente, [...] tem que ter muito jeito, muito amor, muita paciência, muita atenção nos detalhes [...] (Prof. F.M.).

     

    As professoras são unânimes em dizer que é uma profissão “desafiadora” e ainda destacam que “não é para qualquer um, tem que ter o perfil mesmo”. Considerando isso, nota-se a importância que a professora possua um olhar atento às necessidades e manifestações que as crianças têm, conscientizando-se que a fase da infância é sem dúvidas um dos principais momentos da vida das crianças, e que suas ações dentro da sala de aula para com elas podem marcá-las positiva ou negativamente para sempre. Desta forma, o papel do professor é primordial para o trabalho com as crianças.

    De acordo com Goldschmied e Jackson (2006);

    Todos os educadores que trabalham com o cuidado de crianças precisam entender a importância educacional de seu trabalho, para que as experiências das crianças pequenas, das quais eles cuidam, sejam não somente satisfatórias em si mesmas, mas promovam qualidades como curiosidade, criatividade, concentração e persistência em face das dificuldades, o que será útil a elas nos anos seguintes na escola (p. 27).

     

    Considerando essa fase inicial do desenvolvimento da criança, vale dizer que para que a aprendizagem ocorra de forma positiva para a criança, o cuidar deve estar simultaneamente ligada a ela, ou seja, educar e cuidar caminham juntos. Dagnoni (2012), nos coloca:

    É preciso esclarecer que para um atendimento educacional a bebês, as práticas de cuidado e educação são interdependentes, ou seja, precisam estar atreladas constantemente para que se efetue uma prática pedagógica que considere a criança em sua totalidade uma vez que com fome, sede, frio ou com as fraldas sujas dificulta o aprendizado (p. 4).

     

    Tratando-se disso, duas professoras trazem suas falas ressaltando a importância do cuidar educando, bem como essa troca favorece tanto quem ensina e cuida, quanto quem aprende sendo cuidado.

    Além da prática docente, da prática pedagógica que é desenvolvida em sala, o elo é maior que tudo [...] Então, para ser professora de bebês tem que existir o cuidar e o educar, para que a vinda deles ao Cmei seja válida. Porque se for só o cuidar, aí não precisa se ter professoras, é apenas contratar babás (Prof. Karine).

     

    É descobrir coisas novas junto com eles, é conviver com pessoas tão dependentes e ao mesmo tempo tão capazes de aprender o novo (Prof. Aline).

     

    Por meio dos relatos, é possível refletir também sobre a importância de existir entre os bebês e suas professoras uma relação de cumplicidade, interações, acolhimento, amor, carinho, paciência, estímulo, entre tantas outras coisas que se mostram fundamentais para o desenvolvimento das crianças. Afinal, ser professoras de bebês não é algo fácil.

     

    Considerações finais

     

    Levando em consideração os dados foi possível perceber que quando se trata de falar sobre a profissão docente no berçário as professoras atribuem dois fatores adjacentes a esse trabalho, ser desafiador e prazeroso. Neste sentido, cabe a importância da professora saber qual o sentido do seu trabalho, entendendo que o cuidar e educar são interdependentes nesse processo, tendo compromisso com desenvolvimento integral dos bebês.  

    Vale considerar que ao mesmo tempo em que a professora exerce sua função de formar os pequenos, simultaneamente está sendo formada por eles, à medida que tem a oportunidade de repensar e refletir sobre sua prática, se constituindo professora.

    REFERÊNCIAS

    BARBOSA, M. C. Especificidades da ação pedagógica com os bebês. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais, Belo Horizonte, p.1-17, 2010.

    BOGDAN, C. R.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria dos métodos. Porto – Portugal: Porto editora, 1994.

    CARVALHO, L. C. Práticas Pedagógicas no berçário: Algumas reflexões. 2015. 47 f. TCC (Graduação) - Curso de Pedagogia, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2015.

    CHIZZOTTI, A. Pesquisa Qualitativa em Ciências Humanas e Sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

    DAGNONI, A. P. R. Quais as fontes de saberes das professoras de bebês?. 2012. 16 p. Disponível em: <http://www.anped.org.br/sites/default/files/gt07-1910_int.pdf>. Acesso em: 10 de ago 2017.

    GOLDSCHMIED, E.; JACKSON, S. Educação de 0 a 3 anos: o atendimento em creche. Porto Alegre: Artmed, 2006.

    TENREIRO, M. O. V. O papel da Educação Infantil na formação da criança. In. MELO, C. (Org.). A formação continuada de professores de Educação Infantil: distintas abordagens. São Luís: Edufma, 2015, p. 105-121.

     

  • Palavras-chave
  • formação de professores, educação infantil, bebês
  • Modalidade
  • Comunicação oral
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