EDUCAÇÃO, CULTURA E RELIGIÃO NA SOCIEDADE DO ESPETÁCULO
William Robson Cazavechia – UEM (cazavechia.william@hotmail.com)
Cezar de Alencar Arnaut de Toledo – UEM (caatoledo@uem.br)
História e historiografia da Educação
CNPQ
A presente proposta de pesquisa visa a interpretação da obra do intelectual francês Guy Debord (1931-1994), especificamente, seu trabalho de maior repercussão, La société du spectacle (1967). Tem por objetivo explicitar sua concepção de educação em suas relações com a cultura e a religião na hegemônica sociedade do espetáculo. Evidenciar as relações entre essas esferas demonstrará a construção das condições históricas da educação na contemporaneidade. O aporte teórico para a análise se constitui a partir do método do materialismo histórico e seu procedimento se fará por meio da técnica de pesquisa bibliográfica. Para tanto, pressupõe traçar as condições de produção e as relações de reprodução no momento histórico em que o capital assumiu imagens como sua forma-mercadoria. Recentemente passamos assistir a vida e aos acontecimentos que a ela são atribuídos como imanentes e naturais. Indiscutivelmente se natural ou necessário, existir e viver, assistir e aparecer, consumir e aprender, passaram a se confundir no cotidiano de uma vida já privatizada, que quando exposta, sua versão pública será um produto da mediação das mídias, os mass media. Talvez, uma pragma anti-reflexivo. Como disse Eco (2017) a “aparição na telinha é o único substituto da transcendência”. Embaralhadas em suas conotações, a representação destes gestos do humano se tornaram o senso comum de uma forma de sobrevivência urbana. Nos encontramos sob o domínio tecnológico da vida. Um número exponencial de satélites compõe a rede intangível de transmissão e distribuição de mercadorias culturais. Switches, espalhadas pelo mundo todo, conectam banco de dados e oferecem a matéria prima para a projeção virtual da realidade. Mediante o processo de produção e exposição de imagens e retratos das experiências humanas, uma série de simulacros, que vão do amor entre dois na cidade ao mais interesseiro tribunal de justiça no Estado, vem substituindo a realidade. Separado da vida concreta, estranha a ela, e mesmo assim a determinando e delimitando seu sentido, esse espectro espetacular ronda e salvaguarda a totalidade da vida humana sem a ela fazer a menor menção de sua própria realidade. O alimentamos com nossos gestos simples do dia a dia, com nossa atividade política, com nossos ritos religiosos, com nosso trabalho e, por incrível que pareça, principalmente com nosso lazer. Mas, como chegamos a isso? Uma problemática ampla como o contemporâneo que poderia ser, como ele, investigado de várias maneiras. A presente pesquisa considerou a educação como o caminho para investigação afinal a conjuntura social de um momento histórico pressupõe o fenômeno educativo, sobretudo quando esse é entendido em suas relações com outras esferas da vida humana. E, por ser uma condição histórica, a realidade do momento que vivemos se manifesta por meio de sua historicidade e em suas contradições. Por isso, afim de problematizar a educação a partir desta questão mais ampla, sobre as origens da produção espetacular da vida, a presente pesquisa se delineou e traçou sua investigação pelo caminho específico da História da Educação. A mudança na natureza da produção capitalista, que em meados do século XX atingiu sua expressão hegemônica nos Estados Unidos da América do Norte, requereu novas formas de organização e direcionamento cultural. Nesse contexto, os meios de comunicação passaram a ser mediadores do processo educacional. Na sociedade do espetáculo, a educação não se restringe à mediação dos meios para sua realização. Nela a espetacularização do fenômeno educativo envolve a totalidade das relações sociais. A problemática sobre essa condição histórica da educação na produção espetacular da vida em nossos dias compreende, juntamente com os mass media, a educação em suas ralações ampliadas com os âmbitos distintos da cultura e da religião. Eles se complementam e se relacionam de forma profunda na realização e materialização da vida social determinada pela produção flexível do Capital. Para tanto, tendo sempre em vista a historicidade da relação entre estes âmbitos, considerados a partir das múltiplas determinações que constroem a realidade, o projeto de pesquisa tomou como seu objeto a obra do intelectual Guy Debord (1931 –1993), especificamente sua obra La société du spectacle (1967). A partir da análise desse objeto estamos verificando a continuidade e ampliação do processo formativo humano para a realidade espetacular da economia conforme as demandas dessa nova disposição da produção capitalista. A educação, cultura e religião são âmbitos da vida humana pelos quais o humano se realiza. A educação está relaciona e pertence profundamente a esses dois outros âmbitos, assim como a eles é premente a educação, pois, afinal, viver é aprender, já diz o antigo adágio. A educação, entendida em sentido mais ampliado, é um fenômeno das relações sociais. Da cultura, se diz a própria construção do ser humano por si mesmo. Enquanto da religião, a representação ideológica e a consumação dos valores morais dos grupos dominantes que no decorrer da história necessitaram de justificativas para seu exercício de poder. Cada um destes âmbitos exerceu maior ou menor influência, ou, recebeu atenção mais ou menos enfática para explicação da realidade, ou ainda, repercutiu com maior ou menor importância estratégica conforme os diferentes contextos históricos nos quais foram analisados. De acordo com Cury, "do antagonismo entre as classes, uma delas emerge como dominante e tenta a direção sobre o conjunto da sociedade, através do consenso” (CURY, 2000). Aqui a educação é mediação de uma hegemonia em curso. Por mais que avancemos nos números que marcam a passagem do tempo e no desenvolvimento produzido por esse dito progresso da ordem tecnológica, ainda assim, a educação, em sua relação com e no interior destes âmbitos, continua a garantir a mediação da hegemonia do espetáculo em curso. No contexto de análise aqui proposto, meados do século XX, a questão norteadora da pesquisa pode ser formulada de duas maneiras: como, na história da educação, se relacionou educação, cultura e religião quando o capital requereu os mass media como mediadores do processo de formação humana para a consolidação da hegemônica sociedade do espetáculo? Ou, de forma mais concisa: como a educação, em suas relações com a cultura e religião, tornou-se espetacular na hegemônica sociedade capitalita? Embora se diga avançada, a sociedade capitalista pressupõe processos de acumulação primitivos. O arcaico se faz presente (MARX; DEBORD; AGAMBEN; JAMESON). A distribuição de mercadorias avançou com a indústria de comunicação, mas, ainda assim, a educação, a cultura e a religião continuam se definindo como processos de reprodução da ideologia do espetáculo que omite a contradição social presente na acumulação capitalista. A vida foi inundada pela acumulação de espetáculos, o tempo histórico eternizado numa autonomização cultural da produção dessas mercadorias-imagens e a religião se tornou a própria ritualização da vida cotidiana no processo de produção e reprodução dessa visão de mundo espetacular. O espetáculo, por ser uma relação social entre as pessoas mediadas por imagens, é também educação, e como tal, ainda não foi investigado. A proposta para análise da obra de Guy Debord é pertinente porque pretende explicitar como se delinearam as relações entre educação, cultura e religião na sociedade na qual tudo que era vivido diretamente se tornou uma representação (DEBORD, 1997). A questão norteadora da pesquisa diz respeito a educação na sociedade do espetáculo em suas relações com os âmbitos distintivos da reprodução e produção da vida humana, cultura e religião, quando o capital requereu novas maneiras de direcionamento e organização da sociedade. Os processos educacionais estão para além das instituições formalmente reconhecidos e voltadas para esse fim, a pesquisa se justifica, primeiramente, pela continuidade do esclarecimento do tema na área de história da educação. Esses processos de formação humana são históricos e historicamente determinados e tiveram continuidade. Contribui para elucidar a condição histórica de nosso momento atual e oferecerá fundamentação teórica para a interpretação da realidade de aspectos relevantes do fenômeno educativo em nossos dias. O recorte da pesquisa e a formulação do problema se mantiveram delimitados pela abordagem da área de história da educação. O interesse, cada vez maior sobre o pensamento do autor francês em território brasileiro, se deve a contribuição significativa que seus postulados teóricos ofereceram para a explicação da realidade da produção capitalista em sua época e para a sociedade do atual capitalismo financeiro. Publicações sobre sua obra e pensamento aumentaram no âmbito acadêmico e na imprensa. Diversos ramos do conhecimento como filosofia, comunicação, jornalismo e educação recorreram ao seu pensamento a fim de elucidar com maior acuidade a realidade que vivemos. Revistas de circulação nacional recorreram aos seus conceitos para explicar alguns dos acontecimentos recentes da política, da cultura e da religião na sociedade brasileira. Por isso, por ser um trabalho relevante sobre a espetacularização da educação, a proposta de pesquisa na área de história da educação se justifica. A presente pesquisa tem por objetivo geral analisar a obra do intelectual francês Guy Debord (1931-1993), especificamente seu livro La société du spectacle (1967), a partir das categorias da totalidade, contradição, intelectuais, mediação e hegemonia do método do materialismo histórico, de modo que fique explícito a sua concepção de educação, em sua relação íntima com a cultura e a religião, na sociedade do espetáculo. Os objetivos específicos consistem em evidenciar a evolução intelectual de Guy Debord considerando sua biografia relacionada com a produção de suas obras e as propostas interpretativas; Elucidar a questão da educação como relação social no momento histórico em que o espetáculo se define como uma relação entre as pessoas; traçar as condições de produção e as relações de reprodução no momento histórico em que o capital assumiu a imagem como sua forma-mercadoria; e, por fim, demonstrar o que significa a espetacularização da educação, em suas relações com a cultura e a religião, na sociedade do espetáculo. O aporte teórico para a análise se constitui a partir do método do materialismo histórico e seu procedimento se faz mediante a técnica de pesquisa bibliográfica. Para tanto, pressupõe as condições de produção e as relações de reprodução no momento histórico em que o capital tomou imagens como sua forma-mercadoria (DEBORD, 1994). Uma visão dialética do homem, de história e sociedade implica a concepção da realidade como efetivo espaço da luta de classes (MARX, 1998; 2011; GRAMSCI, 2000, 2004). Na educação ela se faz presente e a articula com a totalidade. A educação deve ser definida pela concretização de sua proposta. O método constrói a realidade por suas categorias de análise. A realidade deve ser considerada no movimento da vida real e por isso as categorias também são históricas (CURY, 2000). A categoria da contradição é a base da metodologia dialética por ser o momento conceitual explicativo mais amplo. Nela está refletido o movimento originário do real. Negar esse movimento contraditório é falsear a realidade, torna-la a-histórica. Totalidade significa que os processos não são tornados particulares na estrutura social, reduzidos a níveis autônomos, sem as relações internas eles. A educação, se assim considerada, seria um universo separado. A categoria da mediação permite verificar a interação entre os processos e situar o homem como operador da natureza e criador das ideias que representam a natureza. Os produtos da cultura se tornam os elementos de mediação nas relações estabelecidas entre os homens e com o mundo. A educação, que organiza, transmite e direciona, medeia as ações na prática social. A reprodução se apresenta pelo fato de que toda sociedade tende à auto conservação. Reproduz as condições de manutenção de suas relações básicas e a educação serve de mediação ao reproduzir ideias e valores ajudam a reprodução do capital. A hegemonia traz a possibilidade de análise e a indicação de uma estratégia política. As outras também, mas nela a obtenção de um consenso se faz para a reprodução das relações de produção. A educação, a cultura e religião são estratégicas e imprescindíveis.
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