O presente trabalho é parte resultante da pesquisa em andamento de doutorado. Partimos da questão norteadora: quais são as instituições de ensino superior pública do estado do Paraná que oferecem os cursos de Licenciatura em Pedagogia e será que estes comtemplam o ensino de Arte- artes visuais na formação desses profissionais? Na tentativa de resolver esse problema temos por objetivo mapear as instituições públicas que oferecem o curso de Licenciatura em Pedagogia no estado do Paraná e a situação do ensino de Arte- artes visuais nesses cursos. Para essa pesquisa adotamos a abordagem qualitativa, essa abordagem visa assinalar as causas, as relações e as contradições do fenômeno estudado (TRIVIÑOS, 2009). Apoiado no estudo de caso em que se distingue vários tipos de estudo de caso, mas que adotamos o tipo de estudo multicasos. Triviños (2009, p.136) esclarece que o estudo multicasos incide em “estudar dois ou mais sujeitos, organizações [...] sem necessidade de perseguir objetivos de natureza comparativa”. Trabalhamos com o posicionamento da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, com o método da dialética, que tem permanentemente a tensão entre o pensamento que é abstrato, universal e a realidade, que é contraditório, antagônica (ADORNO, 2010). Para a coleta de dados utilizamos o site www.e-mec e a análise de documentos em específico dos Projetos Pedagógicos Curriculares dos cursos de licenciatura em Pedagogia do Paraná. O interesse por esse estudo urge da necessidade inicial de conhecer as instituições públicas que oferecem o curso de licenciatura em Pedagogia no estado paranaense e como esta sendo ofertado o ensino de artes visuais para esse profissional. Por isso ao pensar a Arte- artes visuais, vamos além da compreensão da mesma como um entretenimento; um simples desenho ou rabiscos. Consideramos sua importância inigualável a formação de uma consciência autocrítica, de autorreflexão por parte dos sujeitos. A indústria cultural transforma a Arte em diversão, não interessa a qualidade nem o conteúdo que está expresso, o que prevalece é possuir a obra como um troféu apenas. O impacto da desvalorização pode ser medido pelo fetichismo da mercadoria, onde reina o valor de troca sobre o valor de uso (ADORNO, 2013). A obra de arte tomada como “[...] entretenimento preenche os vazios do silêncio que se instalam entre as pessoas deformadas pelo medo, pelo cansaço e pela docilidade de escravos sem exigências” (ADORNO, 2013, p.166) seguindo a Arte como conhecimento que recupera a capacidade de autorreflexão, que dialoga com indivíduos e não membros amórficos. O processo de semiformação é conhecido por “semicultura” (ADORNO, 1996), sendo a “[...] difusão de uma produção simbólica onde predomina a dimensão instrumental voltada para a adaptação e o conformismo, subjugando a dimensão emancipatória que se encontra ‘travada’, porém não desaparecida” (ZUIN, PUCCI; OLIVEIRA, 2008, p. 58). A semiformação é o solo no qual o capitalismo encontrou terreno úmido para germinar a individualidade, a conformação, a repressão e opressão dos mais fracos, o controle dos meios de produção, manter as hierarquias, garantindo uma semiformação necessária para a manutenção do capital e uma acomodação a realidade. A indústria cultural “[...] impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente” (ADORNO; HORKHEIMER, 1991, p. 10), acrescentamos que a mesma impede também a autorreflexão e consequentemente anula a subjetividade ao se colocar como ideologia dominante, identidades são criadas e manipuladas para manter a ordem do sistema. Tal manipulação é tão sutil e passa despercebida entre as pessoas que ouvem, veem, experimentam, seguem e consomem segundo padrões e modelos apresentados nos mais diferentes meios de comunicação e espaços de vivencias. Nesse meio a emancipação é deixada de lado, mas pode ser revertida, pois não se encontra aniquilada. O curso de Pedagogia é o momento da formação cultural desse docente buscando superar a semiformação. Foi levando pela pesquisa junto o site do e-mec que no Brasil existe 2752 cursos presenciais de licenciatura em Pedagogia. A região Sul tem ao todo 392 cursos de Pedagogia e é composta pelos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O Paraná tem cerca de 183 cursos distribuídos pelo ensino presencial e a distância, em diversas instituições formadas por Faculdades, Centros Universitários, Institutos Federais, Universidades e Escolas do Governo, em regime privado e gratuito.
Foram encontradas 10 instituições: 7 estaduais e 3 federais: UEPG, UENP, UNESPAR, UNICENTRO, UNIOESTE, UEM, UEL, UFPR, UFFS e IFPR. Ao consultar os Projetos Pedagógicos de Curso de cada uma, encontramos o que dizem sobre o ensino de arte. UEPG apresenta a disciplina de Ludicidade, corporeidade e arte de 68 h- PPC/2011; UENP possui Fundamentos Teórico- metodológicos em Artes e Educação Física, com 144 h- PPC/2012; UNESPAR tem a disciplina de Princípios Teórico- Metodológicos do Ensino da Arte com 72 h- PPC/2014; UNIOESTE com a disciplina Fundamentos Teórico Metodológicos de Arte e Movimento de 68 h- PPC/2016; UEM oferece Arte na Escola de 68 h- PPC/2016; UEL não possui disciplina relacionada com o ensino da Arte; UFPR proporciona a disciplina de Metodologia do Ensino de Artes com 30 h- PPC/ 2018; UFFS exibe Fundamentos Teórico Metodológicos do Ensino da Arte na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental de 60 h- PPC/2018; UNICENTRO tem a disciplina de Teoria e Metodologia do Ensino da Arte com 68 h- PPC/2009 e o IFPR expõe a disciplina Fundamentos Teórico- Metodológico de Artes com 80 h- PPC/2017. As disciplinas contemplam os seguintes temas: Concepção de arte. Processo histórico da arte na história da humanidade. Linguagem da arte como produto cultural e histórico. Significado da arte nas séries Iniciais do ensino fundamental, dimensão estética e dimensão artística. Elementos básicos da linguagem da Dança. Elementos básicos da linguagem da Música. Elementos básicos da linguagem do Teatro. Produções/manifestações artísticas e seus elementos contextualizadores. Propostas metodológicas para o ensino da arte. Linguagens simbólicas e a expressão gráfica da criança; códigos da linguagem visual; elementos básicos da linguagem das Artes Visuais (UENP); Conceito de arte e de criação artística. A arte como expressão cultural e suas implicações na forma integral do indivíduo. A cultura como instrumento de leitura, compreensão da sociedade e construção da cidadania. A formação cultural do professor e o trabalho pedagógico. As novas tecnologias e a arte. Projetos interdisciplinares de ensino-aprendizagem. Análise das atividades artísticas que contribuem para o desenvolvimento das potencialidades do indivíduo (UNICENTRO); Linguagem plástica: elementos formais, descrição, representação e organização das formas do desenho. Linguagens artísticas na construção do conhecimento. Linguagem musical: fundamentos, composição, relação música/ movimento. Linguagem teatral: construção da representação, elementos básicos e situações de teatro. Linguagem corporal a dança como meio de expressão e comunicação humana. A relação da arte com a filosofia, a história e a sociedade (UNESPAR); Conceito de arte e cultura. Estética e filosofia da arte. Funções sociais da arte. Legislação da arte-educação. Formas de apreciação artística. Legitimação de uma obra de arte. Reflexão crítica sobre a relação histórico-social das linguagens artísticas (artes visuais, artes cênicas, dança e música) com a sociedade. Estratégias de pesquisa e construção do saber em arte-educação (UFFS); Música e artes cênicas para a formação do pedagogo na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental (UEM); História do ensino da arte; concepções histórico-metodológicas; relevância do ensino de artes na escola; diferentes áreas do ensino arte; ensino da Arte e inserção social e cultural. Sensibilidade/ gosto artístico/ expressão/ criatividade (UFPR); Perspectivas do ensino da Arte em relação a formação do pedagogo. A teoria e estética da arte, seus fundamentos, e as linguagens da arte (artes visuais, teatro, música, cinema e dança) como conhecimento e prática na educação básica (IFPR); O papel da arte, da ludicidade e dos jogos na escola e no processo de constituição dos sujeitos. Fundamentos, conteúdos básicos e metodologia do trabalho com a musicalização, artes visuais, dança, teatro e jogos. Estudo das relações entre corpo e educação. A expressão corporal como dimensão da linguagem na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Resgate histórico das brincadeiras e músicas infantis e suas relações na constituição da infância (UEPG); Fundamentos e métodos da arte e do movimento na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. A imaginação e a criação na idade infantil. Apreciação estética, produção artística, construção da arte como conhecimento cultural e social. Materialização Cotidiana: linguagens plásticas, corporais, musicais, literárias e cênicas. A Linguagem corporal: movimento, percepção, criatividade, expressão, imaginação e improvisação; O Movimento: identidade, autonomia, pluralidade. Articulação de trabalho em grupo: a recreação, a brincadeira, a arte e aos jogos. Manutenção e mudança nas práticas de socialização: o desenvolvimento da motricidade e artístico. Adaptações curriculares para o ensino dos alunos da educação especial/inclusiva (UNIOESTE). Em geral observamos que uma instituição não oferece a arte na formação do pedagogo, mesmo este profissional sendo o responsável pelo ensino de arte para crianças da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. As demais instituições têm disciplinas que contemplam os conhecimentos gerais da arte, das diversas linguagens. Outras apresentam as artes visuais, seus elementos, fundamentos, a criatividade, a sensibilidade que permitem aos pedagogos sair da semiformação e almejar uma formação cultural que evite o retorno a barbárie.
Comissão Organizadora
Érico Ribas Machado
Comissão Científica