Se analisarmos historicamente o processo de formação das IES, Instituições de Ensino Superior do país, perceberemos que foram construídas para o atendimento de uma elite que no país se formava, pensando no Brasil Imperial. Com o passar dos anos, constatamos que é esta mesma elite que ainda é a grande detentora dos saberes, devido ao fato de comandar e dominar grande parte dos meios educacionais e governamentais que o país possui. Contudo, após a Escola Nova por intermédio do Manifesto dos Pioneiros, 1932, e as lutas da classe trabalhadora para a implementação da Universidade Pública, Laica e Gratuita, essa elite passou a “tentar” desfazer a gratuidade do ensino, levando em consideração que a educação agora chega à uma classe social que, no passado, era apenas a mão de obra de toda uma sociedade.
Essa tentativa de tentar desfazer a gratuidade se relaciona às questões do conhecimento, segundo Freire (1996, p.98), a educação “[...] é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto seu desmascaramento”. Devido a esse fato é tão importante para a elite que seja a única que tenha efetivamente o acesso à educação, para que possa comandar, sem ser questionada, toda a sociedade. Contudo, tem-se por prerrogativa que o Estado esbarrou na escassez de recursos/verbas para a educação pública, uma vez que ele havia vinculado seu montante financeiro à acumulação de capitais. Diante disso, somos levados a compreender o real motivo que o governo começa a pender para a privatização do ensino superior em todo o país.
Saindo um pouquinho deste contexto amplo – Brasil – para um contexto específico – região Oeste do Paraná –, analisamos que, por volta da década de 1970, a princípio os jovens da região começavam a buscar uma escolarização além do Ensino Médio, movimento provocado pela criação de diversos municípios na região, que acarretaram o aumento da população e da urbanização. Como apenas a região central do estado fornecia tal especificidade os jovens migravam para outras cidades no intuito de buscar novas formações, com isso, grande parte dos lucros do Oeste iam para outras regiões.
Vivia-se no período ditatorial e o Ensino Superior no Oeste se iniciava, as primeiras faculdades já começavam a serem fundadas nas perspectivas do ensino na região. Neste contexto, temos a criação da Faculdade de Filosofia e Letras de Cascavel, a qual surge com o intuito de atender os filhos destas novas instâncias que estavam se localizando na região. E, com a crescente leva de imigrantes que aqui chegavam todos os dias, as faculdades abrigavam também a população que, com medo de perder seus respectivos afazeres remunerados, começaram a estudar para se qualificarem para o mercado de trabalho. Assim sendo, percebemos, desde a fundação da Unioeste, a sua influência no desenvolvimento tanto do Ensino Superior quanto da própria região Oeste do estado.
Com toda esta leva de pessoas se instalando no Oeste e a necessidade de estudos aumentando, iniciou-se o processo de estadualização da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, uma universidade pública para aqueles que não tinham – e até para os que tinham – condições de pagar. Segundo Balbinotti & Kuiava (2007, p. 111), o processo de estadualização “[...] provocava incômodo nos governos do Estado em suas diferentes épocas até ser conseguido o objetivo que era o reconhecimento da universidade no ano de 1994”. O que nos leva a analisar todos os trâmites políticos frente às questões de estadualização da Unioeste, ao fato de que “[...] da mesma maneira como a região Oeste pressionava o governo, a região central também fazia porque não era interessante para eles que uma universidade fosse reconhecida no interior” (BALBINOTTI & KUIAVA, 2007, P. 117). Esses enfrentamentos da região central têm a ver com o crescimento econômico e cultural que os jovens do interior levavam para as suas cidades, assim sendo, com a criação de uma Universidade no Oeste, o progresso nas outras regiões urbanas do estado perderia um pouco a sua força e os jovens começariam a estudar em suas cidades ou mesmo nas cidades mais próximas.
Com o parecer 137 de agosto de 1994, a Unioeste passa a ter o estado como seu mantenedor e passa a ser composta por quatro faculdades da região oeste: a FECIVEL de Cascavel, a FACIMAR de Marechal Cândido Rondon, a FACISA de Foz do Iguaçu e a FACITOL de Toledo. No entanto, ainda faltava o processo de reconhecimento como Universidade, tão árduo quanto o processo de estadualização. Entre os encargos legais, as lutas de servidores, alunos e a população no geral, tal ato foi concedido e a Unioeste torna-se Universidade em 1991/1992. Dentre os diversos documentos enviados ao governo para a concessão da autarquia de Universidade, destacamos um documento do GABINETE DA DIREÇÃO DA FUNIOESTE (1998, p.03) que expressa à seguinte conotação:
Mesmo que o Estado pague a conta da Universidade ela não é um instrumento do Governo a serviço do próprio Governo. A Universidade é uma instituição social, ou seja, uma criação social que necessita de estrutura própria para garantir o cumprimento de suas funções básicas.
Outro fator de grande valia, pensando nos processos contemporâneos de Universidade, é o entendimento de que a Universidade tem por base o tripé educacional, ensino, pesquisa e extensão, assim, analisa-se as influências da Universidade para com a localidade na qual a mesma se encontra instalada. Analisa-se em um primeiro momento, a extensão, sendo a responsável por levar à sociedade os frutos dos trabalhos que são desenvolvidos dentro da academia. Constata-se também que a extensão é responsável por uma troca de experiências entre os discentes e a sociedade, considerando os assuntos teóricos que na prática dão certo. Segundo Davenport e Prusak (2003, p. 06), este conhecimento é entendido como uma “[...] mistura fluída de experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e informações”.
Levando em consideração que a extensão é um dos componentes inerentes ao processo de mudança social e de difusão cultural, pensando na aplicação de projetos sociais que levam os estudos das Universidades para os meios sociais em forma de projetos, analisamos que conforme aborda Castro (2004, p. 02):
Dentre as três funções da Universidade, ensino, pesquisa e extensão, a última é a mais nova e a que carece de maiores investigações. A maioria dos trabalhos realizados enfoca o processo de construção histórica da extensão e sua inserção dentro da Universidade como uma terceira função. Porém, poucos são aqueles que investigam a prática dos projetos, seu dia a dia, sua influência no processo de formação dos discentes e sua contribuição para a consolidação de um campo de conhecimento específico e das conseqüências dessas práticas acadêmicas.
Assim sendo, conforme a ressalva Castro, é de extrema importância os cuidados para com a elaboração destes projetos extencionistas, ao fato de que os mesmos são responsáveis por levar o nome da Universidade à população, além, é claro, dos dados teóricos tanto discutidos em nossa sociedade. O que nos leva mais uma vez ao debate da importância que o Ensino Superior, com destaque para a Unioeste, teve e ainda tem na formação do município de Cascavel e como a universidade movimenta muitos setores da sociedade cascavelense, além dos meios econômicos e culturais.
REFERÊNCIAS
BALBINOTTI, V. L.; KUIAVA, J. UNIOESTE: da estadualização ao reconhecimento. Educere Et Educere. Vol. 2, nº 3, 2007. P. 111-122.
CASTRO, L. M. C. A avaliação da extensão universitária na UERJ: resultados e desafios. In. Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. Belo Horizonte – 12 a 15 de setembro de 2004.
DAVENPORT, T. H. PRUSAK, L. Conhecimento empresarial: como as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
FECIVEL – GABINETE DA DIREÇÃO. Posicionamentos e Questionamentos de Professores, Estudantes e Funcionários da FECIVEL sobre a proposta do Governo do Paraná de Instituir Conselho Diretor nas Universidades e nas Faculdades Estaduais. Cascavel, 1988.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 27 ed. Rio de Janeiro: 1996.
Comissão Organizadora
Érico Ribas Machado
Comissão Científica