ARTES CÊNICAS EM AMBIENTES DE TRATAMENTO DE SAÚDE: UMA REVISÃO DE LITERATURA DE AÇÕES DRAMÁTICAS QUE INSPIRAM, ALEGRAM E CURAM!

  • Autor
  • Weslley dos Santos Borges
  • Resumo
  •  

    A prática do jogo teatral como ferramenta para o desenvolvimento do ser humano não pode ser tratada como um fenômeno neutro, ou isolada das questões econômicas, políticas e educacionais, mas sim incorporadas ao contexto social em que seus participantes estão inseridos a fim de proporcionar momentos de reflexão e possíveis mudanças em seu modo de pensar e agir. Partindo desse pressuposto faz-se necessário que o jogo teatral enquanto modalidade educativa precise estar inserido em diversos âmbitos que comungue desse ideal, como escolas, centros de convivência, institutos sociais, penitenciárias, asilos, centros de assistência social, espaços sociais de bairros, e porque não em ambientes de tratamento de saúde?

                O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão de literatura sobre a produção acadêmica que discute a inserção das ações cênicas em hospitais e ambientes que têm por intuito a promoção da saúde. Os objetivos específicos são: buscar, por meio destes trabalhos elencados, debater e compreender quais são as características e as linguagens que são mais utilizadas nesses espaços e os resultados que essas ações proporcionam para os enfermos. Outro aspecto importante ocorre pela investigação de grupos ou projetos que tenham o objetivo de levar aos enfermos as práticas dos jogos teatrais, transformando-os assim em protagonistas de suas próprias ações e histórias.

                Para obter tal resultado foi realizada uma revisão de literatura acerca das ações dramáticas em ambientes hospitalares, sendo o nosso público alvo as crianças e adolescentes. Para isso, buscou-se em bases de dados digitais trabalhos publicados nos últimos 10 anos com os buscadores “teatro; jogo teatral; clown; palhaço; hospital; saúde; criança”, com diversas combinações. Foram selecionados trabalhos cujo público alvo de atuação fosse as crianças e adolescentes e destes foram pinçados aqueles cujos resultados estivessem atrelados a análise dos impactos globais, ou seja, não apenas ligados aos pacientes, mas também aos seus familiares e à equipe de atenção à saúde.

    Nessa perspectiva foram encontrados 2 trabalhos entre os anos de 2009 a 2019 que tem por objetivo humanizar o ambiente hospitalar por meio dos jogos dramáticos, que mesmo inseridos em um espaço precário de criatividade, priorizam e garantem o direito de brincar para as crianças e adolescentes em tratamento de saúde.

    Freitas (2010) em seu trabalho analisa uma ação realizada no hospital da Lagoa/ RJ. As atividades foram desenvolvidas por professores e ex- alunos do curso de Licenciatura em Teatro que integram o projeto de pesquisa e extensão “Hospital como Universo Cênico”. A experiência resultou na criação de uma companhia teatral denominada Bandejas Contadoras de Histórias e concluíram que o referido projeto instiga a linguagem lúdico-pedagógica em um ambiente restrito apenas à enfermaria.

    Neste viés Costa; França e Soffra (2013) apresentam em seus estudos possibilidades de inserir o jogo dramático em ambientes hospitalares com crianças de 04 a 08 anos. Seu artigo expôs que essas práticas contribuíram para um melhor desenvolvimento intelectual, psíquico, emocional e social, além de contribuir de forma positiva para o processo de cura dos enfermos.

                Para Paula (2008) espaços que objetivam o trabalho lúdico com crianças e adolescentes nos ambientes hospitalares, como é o caso da brinquedoteca, debatido pela autora, contribui em diversos fatores no processo de cura, melhoria na autoestima, alegria e na vontade de viver.

                A arte é uma área aliada para essa ruptura e proporciona muito mais do que prazer de experimentar a construção de novas possibilidades criativas, auxilia também no desenvolvimento social, cognitivo e motor. A criança se desconecta do estado de tratamento da sua doença e dá liberdade para o seu desejo de brincar e interagir com o espaço e com as pessoas que estão se relacionando com ela.

                Sobre a linguagem Clownesca inserida em ambientes hospitalares entre os anos de 2009 a 2019 formam encontrados 11 trabalhos que se utilizaram da figura cômica do palhaço para levar alegria para crianças e adolescentes por meio da linguagem criativa e lúdica. Em sua maioria, essas ações foram desenvolvidas por professores e professoras, alunos e alunas e equipes que trabalham na saúde, como a área da medicina, enfermagem, fonoaudiologia, fisioterapia e biomedicina. As pesquisas apresentaram grandes resultados na evolução clínica dos enfermos que se deliciaram com as apresentações e brincadeiras desenvolvidas em seus leitos, além de proporcionar uma formação mais humanizada para os estudantes que participaram dos projetos com essa finalidade.

    Desta maneira Utsunomiya, Ferreira, Oliveira, Arai e Basile (2012) apresentam uma pesquisa extraída do projeto de extensão MadAlegria, da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) que recebe alunos e alunas de diversos cursos da saúde. A extensão tem como objetivo formar palhaços e contadores de histórias para desenvolverem ações culturais no Hospital das Clínicas e no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Além da melhoria no quadro clínico dos enfermos os alunos e alunas participantes do projeto apresentaram em seus relatórios que as ações desempenham grande importância na conscientização de um atendimento mais humanitário para os novos profissionais que estarão atuando diretamente nesse processo de doença e cura.

    De modo semelhante, Teixeira e Farago (2016) analisa a utilização do Clown pela óptica do profissional pedagogo e, nos indica que a presença do palhaço na instituição hospitalar é capaz de auxiliar no processo de desenvolvimento integral e pleno. Ou seja, quando se pensa em novas formas de cuidados de saúde que sejam mais humanas não apenas impacta-se o período de internação, mas toda a vida desses pequenos.

    Lima; Azevedo; Nascimento e Rocha (2009) em seu trabalho ressaltam a importância da assistência na terapia de crianças hospitalizadas a fim de além dos cuidados no quadro patológico, voltar a atenção para o âmbito afetivo, emocional, social e cultural desses pequenos enfermos. Em seu trabalho observou que a partir das atividades houve uma melhoria não só no humor das crianças que estavam enfermas, mas também descontraíram os familiares e acompanhantes que estavam presentes nos leitos juntos com os internados.  Resultado parecido encontraram Oliveira; Okubo; Ribeiro e Martins (2016) ao avaliarem a opinião da equipe de enfermagem de um hospital no qual um grupo de Clown fazia intervenções. Para os autores, os enfermeiros e enfermeiras relataram que houve alívio da carga emocional do trabalho e das crianças, que além disso passavam a se sentirem mais seguras. Pode-se, portanto, inferir que a dramaticidade dentro deste contexto, também auxilia na melhora da qualidade de trabalho e, por consequência, da qualidade de vida dos profissionais dessas instituições.

    Percebe-se ainda, que a linguagem teatral mais utilizada em ambientes hospitalares com crianças no Brasil tem sido a lúdica, em especial, a Clownesca, mesmo que para isso seja necessária preparação prévia e entendimento teórico, como nos apontou Mitchell (2012), ao avaliar como o ator pode ser inserido nos locais clínicos.

    Por fim, após a análise de diversos autores, em diversas instituições e de diversas áreas, percebe-se que há uma espécie de unanimidade no que se refere aos benefícios da introdução do jogo dramático nos ambientes de cuidados em saúde. Esses benefícios vão desde a melhoria do espaço físico até a melhoria na humanização do atendimento, passando por melhor satisfação dos trabalhadores, dos familiares e por ganho de interações entre as mais diversas redes de atenção inseridas neste contexto. Além disso, percebe-se que os objetivos propostos pelo presente trabalho foram cumpridos de modo integral. Vale a ressalva de que nem todos os textos do trabalho original foram elencados e discutidos aqui devido ao recorte atual.

     

  • Palavras-chave
  • Educação; Teatro; Hospital
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Educação e Arte
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