AS PRODUÇÕES SOBRE A ESCOLA AGRÍCOLA NO BRASIL E A SITUAÇÃO DOS JOVENS NESSA INSTITUIÇÃO
Carla Daniele Campos Holetz – UEPG
carladholez@gmail.com
Patrícia Correia de Paula Marcoccia – UEPG
pa.tyleo12@gmail.com
Eixo: Tópicos Especiais em Educação
OBJETIVO
Esse estudo tem por objetivo apresentar as produções sobre a Escola Agrícola no Brasil e a situação dos jovens que estudam nessas instituições.
ASPECTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa é de caráter exploratório e descritivo, sendo que as produções foram selecionadas a partir do Banco Digital de Teses e Dissertações da Capes. O descritor utilizado para a busca foi Escola Agrícola e Jovem.
Foram encontrados um total de 123.767 resultados para o descritor inserido. Entretanto, refinamos estes resultados e selecionamos apenas teses e dissertações, que somaram 25.484 e 84.703, respectivamente. Não aplicamos filtro para recorte temporal, utilizando os resultados acessados em outubro de 2018.
Apesar do número bastante expressivo, poucos trabalhos apresentaram uma possível aderência com a intenção de pesquisa. Devido à grande abrangência de áreas de conhecimento que o tema abarca, totalizando 18 para a Grande Área do Conhecimento, optamos em selecionar apenas as produções que se referiam às Ciências Humanas, refinando dentre as 67 áreas, apenas o que se reportava à Educação, Ensino Profissionalizante e Ensino-Aprendizagem. Esse movimento reduziu para 29.067 teses e dissertações acerca do descritor inserido. No que concerne à Área de Avaliação, optamos pela Educação devido à aderência com nosso campo de estudos. Os filtros aplicados também priorizaram a Educação, tanto no refinamento por Área de Concentração quanto pelo nome do Programa, apresentando 6192 títulos de teses e dissertações.
Após examinarmos os títulos, embora fosse um número expressivo, consideramos que apenas 36 deles poderiam ter algum tipo de similaridade com o objeto de estudo. Procedendo então a leitura dos resumos, elencamos 13 para análise mais apurada, de maneira a levantar informações sobre a situação da Escola Agrícola no Brasil e o jovem que estuda nessa instituição.
Analisamos então 13 trabalhos, sendo 5 teses e 8 dissertações, afim de levantarmos os dados que buscarão compreender, entre as produções acadêmicas realizadas sobre as Escolas Agrícolas no Brasil, de que forma elas abordam o jovem que está inserido nelas.
RESULTADOS
Apesar de não se empregar recorte temporal, observamos que os trabalhos selecionados estão inseridos em um determinado período, compreendidos entre 2014 e 2018. Esse dado sinalizou que são trabalhos recentes sobre a temática em questão, o que aponta uma lacuna no que se refere às produções sobre o jovem nas escolas agrícolas no período anterior a 2014.
Gráfico 1: Produções sobre Escola Agrícola por região do Brasil (2014-2018)
Fonte: Organizado pelas autoras (2019)
A tabulação dos resultados indicou que as produções encontram-se concentradas em apenas três regiões do Brasil, sendo 3 no Centro-Oeste, 4 no Sul e 6 na região Sudeste. Verificamos que as produções que tem mais aderência com nossa intenção de pesquisa encontra-se, em sua maioria, na região Sul do país, no Grupo 2, conforme indica o Gráfico 1.
Quanto às palavras-chave escolhidas para a realização da pesquisa, verificamos que nos 13 trabalhos selecionados, apenas um apresentou a palavra Jovem no título. Após as categorizações dos dados, dividimos as produções em dois grupos, já que 8 delas se encaminham pela constituição histórica e trajetória dos estabelecimentos de ensino e 5 tratam de questões mais voltadas à formação educativa dos jovens.
Gráfico 2: Categorização das Produções do Grupo 1
Fonte: Organizado pelas autoras (2019)
No Grupo 1, observamos que as pesquisas de Souza (2014), Caixeta (2014), Alves (2014), Leão (2015), Marchiori (2015), Vieira (2016), Almeida (2017) e Vilas Boas (2018) apresentam similaridades entre si quando tratam dos processos de criação, constituição e trajetória institucional, demarcando de forma dialética os percursos históricos entre os referidos estabelecimentos de ensino agrícola e a região onde se originam e desenvolvem. Discorrem ainda sobre o ideário de modernização agrícola, o cunho assistencialista na criação das instituições, bem como as práticas educativas que as permeiam. Autores como Leão (2015), Alves (2014), Vieira (2016) apontaram a escassez de produção sobre a educação rural, mais especificamente sobre escola agrícola.
Gráfico 3: Categorização das Produções do Grupo 2
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Fonte: Organizado pelas autoras (2019)
Um segundo grupo de produções apresentou mais aderência com nossa intenção de pesquisa no que se refere à formação do jovem relativa ao ensino e trabalho, bem como à dinâmica do trabalho pedagógico desenvolvido nas instituições de ensino. Essa discussão acerca da juventude da escola agrícola foi trazida por Cruz (2014), Correia (2016), Costa (2016), Detogni (2017) e Schmitt (2017), sendo suas categorias apresentadas no Gráfico 3. Constatamos nessas produções que a pedagogia da alternância, método de ensino em que o estudante alterna sua vivência escolar e sua experiência no campo como forma de troca de conhecimentos, enquanto uma formação integral que alia educação e trabalho, predomina na dinâmica dos processos educativos. Verificamos que esse tipo de formação tem agregado possibilidades emancipatórias ao jovem do campo quando partilha conhecimentos e proporciona melhorias em seu modo de produzir a vida, já que valoriza e otimiza o modo de produção da agricultura familiar em detrimento do agronegócio.
CONCLUSÕES
A análise e categorização dos dados levantados possibilitou-nos realizar algumas considerações, segmentando as produções acadêmicas selecionadas em dois grupos distintos. Verificamos que o Grupo 1, com 8 trabalhos, apresenta categorias recorrentes no que se refere à relação entre a trajetória histórica das instituições escolares agrícolas e o desenvolvimento social, econômico e político de sua região, história da educação agrícola regional e nacional, vinculados com o ideário de modernização do campo e com o caráter assistencialista em sua criação, bem como com as práticas educativas que nelas se dão, mas não enfatizam questões referentes ao jovem.
Nas produções do Grupo 2, observamos que a pedagogia da alternância tem se configurado como prática pedagógica que busca possibilidades emancipadoras quando valoriza a agroecologia e a agricultura familiar em detrimento do agronegócio, modo de produção agropecuária dominante no Brasil, proporcionando uma formação integral na formação do jovem, apesar das condições limitadoras. Entretanto, as produções apontam que não se confirma um real aproveitamento dessas práticas por todos os estudantes, seja pelo fato de nem todos morarem no campo ou por não possuírem propriedades para efetivá-las, mas que apesar disso, consideram que a formação integral e seus princípios educativos são relevantes ao futuro trabalhador.
O pequeno número de produções encontradas voltadas ao jovem do campo e o fato delas estarem presentes mais no Sul do país, denotam que eles não têm se configurado como objeto de pesquisa e que precisam ser mais prestigiados enquanto importante segmento que compõe o país.
REFERÊNCIAS
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Comissão Organizadora
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