RELAÇÕES DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES: UMA ANÁLISE DE DISSERTAÇÕES

  • Autor
  • Tuany Cristina Carvalho
  • Co-autores
  • Bettina Heerdt
  • Resumo
  •  

    Introdução

    A investigação tem como objetivo apresentar uma análise de dissertações defendidas entre os anos 2015 a 2017 referentes às relações de gênero na Educação Infantil, vinculada à formação contínua dos professores. Além disso, busca problematizar a forma com que as relações de gênero se estabelecem nessa etapa da educação e as possíveis influências na organização das práticas pedagógicas.

    Gênero pode ser compreendido a partir da natureza das relações que as pessoas estabelecem, pois nestas modelam formas de comportamento e representações em que constroem suas identidades (LOURO, 1997). A autora enfatiza a necessidade de problematizar e discutir a temática gênero, daí emerge a primordialidade de se tratar dela na formação docente, afinal é preciso que haja clareza a respeito do conceito e também, sobre a importância de oportunizar às crianças atividades e brincadeiras sem que haja generificação dessas (lógica binária) feita por adultos.

    Destacamos que este trabalho é parte de uma pesquisa mais ampla que se encontra em desenvolvimento, referente à dissertação de mestrado que será apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PPGE/UEPG).

     

    Aspectos metodológicos

     Esta pesquisa é de cunho qualitativo. Foi realizado um levantamento no Banco de Teses e Dissertações da Fundação CAPES (bancodeteses.capes.gov.br), utilizando para busca os seguintes termos: gênero; formação contínua; educação infantil. Foram encontrados 326.843 (trezentos e vinte e seis mil, oitocentos e quarenta e três) resultados, para peculiarizar o levantamento, utilizamos os seguintes refinamentos de pesquisa: a) Tipos de trabalho: Teses e Dissertações; b) Anos 2015, 2016 e 2017; c) Grande área conhecimento: Ciências Humanas; d) Área conhecimento: Educação; e) Área avaliação: Educação; f) Área concentração: Educação; g) Nome programa: Educação.

    Encontramos o total de 6.296 (seis mil, duzentos e noventa e seis) resultados, utilizamos ainda outro refinamento de busca a partir das teclas Ctrl+F, em que novamente o termo gênero foi inserido, e assim, ressaltados em cada página do website os trabalhos que possuíam em seu título o descritor pesquisado. Realizamos uma análise a partir dos resumos dos trabalhos encontrados e selecionamos os que faziam menção às relações de gênero e formação contínua de professores, também foram observados nos resumos dos trabalhos os que estavam voltados ao âmbito da Educação Infantil.

    Diante dos aspectos mencionados, oito trabalhos respeitavam os critérios de pesquisa elencados anteriormente, porém dois destes, não puderam ser utilizados nesta análise por não disponibilizarem seus resumos e palavras-chaves, bem como, outros três foram eximidos por conterem em seus resumos as palavras gênero e sexualidade postas como expressão unificada, tendo em vista que a pesquisa em desenvolvimento é voltada apenas às relações de gênero. Portanto, serão apresentados aqui três trabalhos que foram produzidos pelos autores Caminero (2016), Barros (2017) e Santos (2016).  Serão analisados nestas pesquisas: a universidade onde o trabalho foi produzido, o objetivo geral, a metodologia utilizada e os principais resultados.

     

    Resultados

    O primeiro trabalho intitulado como “A infância e as questões de gênero em instituições de educação infantil”, corresponde a uma dissertação de Caminero (2016), realizada na Universidade Comunitária da Região de Chapecó, em Santa Catarina e abrangeu professoras da Educação Infantil e uma turma de crianças do maternal (segmento creche).

    O objetivo desta pesquisa foi compreender a relação entre infância e questões de gênero em instituições de Educação Infantil no município de Chapecó (SC). A metodologia deste trabalho é qualitativa e teve como procedimentos metodológicos na coleta de dados: a) entrevistas semiestruturadas; b) observação participante. Enquanto resultados de seus estudos, Caminero (2016) enfatizou que por meio da observação realizada averiguou que as crianças transgridem as normas e padrões de gênero considerados adequados a meninas e meninos, conforme normas adultocêntricas impostas.

    Além disso, as participantes demonstraram que não tiveram acesso às discussões de gênero, seja em sua formação inicial ou continuada, e apresentaram dificuldades em refletir a respeito da temática. Em relação às questões da infância, as profissionais demonstraram estar pautadas em abordagens relacionadas à psicologia do desenvolvimento e que perspectivas recentemente construídas, como a Sociologia da Infância, possibilitam incluir as discussões de gênero (CAMINERO, 2016).

    O segundo trabalho intitulado como “Concepções sobre gênero e direitos humanos no contexto de uma escola de Educação Infantil (Torres – RS)” de autoria de Barros (2017), realizado na Universidade do Extremo Sul Catarinense. Entretanto, seus dados foram coletados no Rio Grande do Sul, abrangendo professores e equipe diretiva de uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI).

    O objetivo do trabalho foi analisar que concepções sobre direitos humanos e gênero se manifestam nas narrativas de docentes e da equipe diretiva de uma escola municipal de Educação Infantil. A pesquisa tem caráter qualitativo e adotou os seguintes instrumentos para coleta de dados: a) entrevistas semiestruturadas; b) análise de narrativas. Os sujeitos da pesquisa foram quatro professores de Educação Infantil que atuavam nos segmentos creche e pré-escola, sendo um professor, três professoras, uma diretora e uma orientadora educacional.

    O autor revela que foi possível perceber que as concepções dos participantes sobre direitos humanos abarcaram múltiplos aspectos e sentidos, mas concordam ao atribuírem um significado a direitos humanos e fazerem uma contextualização em torno de normas jurídicas. Já as narrativas dos mesmos apresentaram diferentes concepções sobre gênero, pois, ora assinalaram os aspectos biológicos conforme estudos de Louro (1997), ora atrelaram às relações sociais e assim remeteram-se ao conceito de gênero em seu aspecto relacional conforme apontado por Scott (1995). Barros (2017) considera ainda, que para alguns a terminologia sexo é considerada como sinônimo de gênero e enfatiza a necessidade de haver formações acadêmico-profissionais que abarquem gênero, visando reflexões críticas aos envolvidos no processo educativo.

    O terceiro trabalho intitulado “Narrativas de professoras de Educação Infantil sobre gênero em uma escola de Ananindeua: discursos e seus efeitos em práticas pedagógicas”, com autoria de Santos (2016), realizado na Universidade do Estado do Pará. A coleta de dados se deu especificamente na cidade de Ananindeua, município da Região Metropolitana de Belém.

    O objetivo da pesquisa foi compreender como as concepções refletem o contexto sócio-histórico em que se inserem e analisar os efeitos dos discursos em suas práticas pedagógicas, a pesquisa é qualitativa e teve os seguintes procedimentos para coleta de dados: a) observações; b) diário de campo; c) entrevistas narrativas e questionários; d) análise dos dados embasada no conceito de interdiscursividade da Análise do Discurso Francesa (SANTOS, 2016). A pesquisa ocorreu em uma Unidade Municipal de Educação Infantil e contou com oito partícipes que responderam ao questionário, integrante de uma das etapas da pesquisa e posteriormente, duas professoras participaram da entrevista.

    Em relação aos resultados obtidos a autora enfatiza que revelaram um contexto complexo em que circulam discursos de ordem médica e religiosa, os quais acabam influenciando a prática docente. Para mais, as concepções dos participantes seguem uma perspectiva binária e essencialista, nas quais o sexo biológico, gênero e sexualidade estão atrelados e definidos biologicamente, em contrapartida, repercutem discursos de pró-igualdade social entre homens e mulheres (SANTOS, 2016). Um aspecto observado pela autora é as professoras realizam ações pedagógicas de formas distintas entre si, em que normalizam e desconstroem discursos de desigualdades, principalmente quando as crianças estão em contato com brinquedos generificados como de “meninas” ou de “meninos”.

    As autoras Caminero (2016) e Santos (2016) versam em suas produções as concepções dos docentes de gênero, incluindo registros fotográficos dos espaços físicos das instituições, já o autor Matos (2017) retrata a compreensão que docentes e equipe gestora de uma instituição de Educação Infantil possuem a respeito de gênero e direitos humanos.  Ainda no que se refere aos aspectos em comum encontrados durante as análises das dissertações, observamos que as compreensões a respeito de gênero revelam um caráter binário e como fator biologicamente determinado, vinculando-o muitas vezes à sexualidade.  Além disso, vê-se que na Educação Infantil se disseminam discursos de desigualdades sociais entre mulheres e homens e que, por vezes acabam reafirmando uma lógica adultocêntrica da organização espacial do ambiente e nas brincadeiras e brinquedos, definindo-os como “de meninas” ou “de meninos”.

     

    Conclusões

    Analisando os trabalhos mencionados, verificamos que os três abordam as relações de gênero no contexto da Educação Infantil e revelam a percepção que os docentes atuantes nessa etapa da educação possuem a respeito de gênero. Verificamos que a maioria dos professores desta etapa da Educação Básica não apresenta entendimento das questões de gênero e ainda, em sua formação inicial ou contínua não vivenciaram discussões ou estudos sobre a temática.

     A partir desse levantamento depreende-se que é necessário ampliar o esforço investigativo para eventos e revistas científicas, assim podemos compreender o estado das pesquisas que envolvem Educação Infantil, formação contínua e as questões de gênero.   

     

  • Palavras-chave
  • Gênero; Formação Contínua; Educação Infantil
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Educação, cultura e diversidade
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