SOCIEDADE E EDUCAÇÃO: UMA RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA MÚTUA

  • Autor
  • Diéle Lúcia Alexandrino de Oliveira
  • Co-autores
  • Vanessa Scherer Ferreira
  • Resumo
  •  

                SOCIEDADE E EDUCAÇÃO: UMA RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA MÚTUA

    OLIVEIRA, Diéle Lúcia Alexandrino de[1]

    FERREIRA, Vanessa Scherer[2]

    Eixo temático: História e historiografia da Educação

     

     

    RESUMO

    Este trabalho foi elaborado na perspectiva de conhecer e entender as influências que a sociedade tem sobre a educação, buscando analisar aspectos da relação sociedade e educação, apresentando importantes contribuições de Gramsci sobre algumas transformações que ocorreram na sociedade e o papel da escola no desenvolvimento destas, retrata também a influência que o Estado detentor das normas educacionais tem sobre essa importante ferramenta de ensino, tentando levar em consideração os inúmeros interesses: políticos, sociais e econômicos, quando o assunto é a educação.

     

    Palavras chave: Educação, Sociedade, Trabalho, Escola, Luta de classes.

     

    INTRODUÇÃO

     

                A relação entre sociedade e educação vem se corroborando desde o início da civilização, pois uma está atrelada a outra, mesmo que cada sociedade defina de acordo com seus métodos e práticas qual é o tipo de educação desejada.

                A educação é uma importante ferramenta utilizada pelos adultos para educar as crianças, através da aprendizagem das tarefas cotidianas, por meio da convivência e observação dos membros mais velhos em um determinado grupo social, esse tipo de educação é considerado informal, porém com o sistema capitalista e a complexa divisão do trabalho esse tipo de educação não é considerado suficiente, surge então a necessidade da educação formal onde o acesso a normas, procedimentos, técnicas, cultura e conhecimento científico deveria ser padronizado, e essas instruções transmitidas por meio de um profissional especializado, enfim o atendimento escolar.

                A Educação, portanto, fica relacionada com o tipo de cidadão que a sociedade deseja ter, pois o Estado é o agente influenciador na educação dos indivíduos, tanto nas escolas públicas quanto nas de iniciativa privada, ele é o agente regulamentador das normas gerais para as instituições de ensino.

                O objetivo desse trabalho é refletir sobre a importância da educação para a sociedade, elencando contribuições imprescindíveis que Gramsci descreveu em suas obras, pois mesmo com o passar dos anos essas reflexões abordadas são de extrema relevância numa sociedade que sofre constantes transformações e mudanças, numa constante busca por um sistema educacional que atenda a todos de forma igualitária sem provocar diferenciação.

                                               

    1.      EDUCAÇÃO, FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO DOS INDIVÍDUOS

     

    Com a Revolução Industrial houve a simplificação do trabalho e a diminuição dos empregados por conta das novas máquinas, mulheres e crianças que antes eram incorporadas a produção foram dispensadas e ficaram desempregadas, sendo assim o Estado passa a ser responsável por manter essas crianças fora das ruas através da educação. A escola então deixa de ser exclusiva da burguesia e passa a atender uma demanda maior.

                Portanto a partir do momento em que o Estado assume a responsabilidade pela garantia e manutenção da educação formal, os indivíduos são educados de acordo aos interesses do Estado, com o constante desenvolvimento da sociedade e da educação, esses interesses acabaram sendo cada vez mais camuflados, gerando uma falsa sensação de que a educação pode transformar a sociedade dentro do sistema capitalista. Porém, para Gramsci, somente com a reforma do sistema político e econômico a escola poderá sofrer mudanças significativas, pois ela é instrumento integral do sistema capitalista.

    Para que de fato ocorra uma revolução Gramsci propõe que todo grupo social deve criar seus próprios intelectuais, indivíduos capazes de atuar no campo econômico, social e político, com a capacidade de organizar a sociedade, de forma geral e em todas as necessidades de serviços que essa sociedade possua, com a intenção de favorecer o crescimento e expansão da própria classe.

    Os indivíduos ao nascer são educados pela mesma sociedade, mas como ela é composta de papeis sociais, intencionalmente ou não todos os processos educacionais são direcionados na esperança de preparar os jovens para exercer determinadas funções, sendo assim para Gramsci (2004):

    Seria possível dizer que todos os homens são intelectuais, mas nem todos os homens têm na sociedade a função de intelectuais (assim, o fato de que alguém possa, em determinado momento, fritar dois ovos ou costurar um rasgão no paletó não significa que todos sejam cozinheiros ou alfaiates). Formam-se assim, historicamente, categorias especializadas para o exercício da função intelectual; formam-se em conexão com todos os grupos sociais, mas sobretudo em conexão com os grupos sociais mais importantes, e sofrem elaborações mais amplas e complexas em ligação com o grupo social dominante (GRAMSCI, 2004, p.18).

     

    De acordo com Gramsci, a escola é o principal instrumento na elaboração dos intelectuais em diversos níveis, quanto mais especializações e hierarquia existir, maior e mais complexa será a cultura e a civilização de um Estado. Porém, o fato de existir diferenciação entre a escola pública e privada faz com que essa instituição seja palco evidente da luta de classes, formando indivíduos com foco em duas funções: qualificação de mão de obra para manter a estrutura social e formação de indivíduos para manterem o controle político, pois esses indivíduos determinaram o futuro da sociedade.

    A escola pública enquanto responsabilidade do Estado faz malabarismos com os poucos recursos que possui, na tentativa de manter uma educação com o mínimo de qualidade possível, já as escolas particulares nos mais diversos níveis, anseia a formação de gerentes promissores, diplomatas e até presidentes, com os melhores profissionais e recursos inimagináveis que a classe dominante provida de capital pode comprar.

     Como uma forma de unificar a escola, buscando uma hegemonia entre os indivíduos, Gramsci propõe uma organização escolar “única”, que deve começar pelo primeiro grau elementar, caracterizado pelo ensino básico, composto por cálculos, leitura, escrita, ciências, história, e também noções de “direitos e deveres” numa tentativa de “disciplinar” e “nivelar” os indivíduos, na intenção de obter certo conformismo, o primeiro grau elementar deveria ter duração de três a quatro anos. Em seguida com duração de seis anos, a escola criadora, destinada aos jovens com idade aproximada de dezesseis anos, para o autor nessa idade os jovens atingem a “autonomia moral”, bem como a “autonomia intelectual”, neste contexto a escola criadora deveria desenvolver a autonomia de todos os sujeitos, num sentido humanista, destinada a promover em cada indivíduo uma cultura geral ainda indiferenciada, bem como manter um equilíbrio entre as atividades manuais e intelectuais, propiciando uma educação para a vida, essa escola deveria ser toda pública sem distinção de classes, o que poderia ocorrer somente com a superação da estrutura capitalista.

                O papel do professor seria o de proporcionar ao aluno condições de desenvolvimento intelectual e científico, tornando-o um membro ativo, com condições de inovar e auxiliar no desenvolvimento da sociedade independente da sua função exercida.  Mas como isso não é possível o mínimo que se pode esperar na realidade é que:

    Um professor medíocre pode conseguir que os alunos se tornem mais instruídos, mas não conseguirá que sejam mais cultos; ele
    desenvolverá, com escrúpulo e consciência burocrática, a parte mecânica
    da escola, e o aluno, se for um cérebro ativo, organizará por sua
    conta, e com a ajuda de seu ambiente social, a “ bagagem” acumulada (GRAMSCI, 2004, p.45
    ).

     

                    As escolas na atualidade, cercada de novas normas e condutas que atendem aos mais diversos interesses políticos, práticos e imediatos, está ficando cada vez mais distante de ser crítica e construtiva, sendo parte importante na luta de classes sua democracia está se esvaindo aos poucos, e a perpetuação das diferenças sociais está sendo constante, a diferenciação entre a preparação da mão de obra qualificada e a construção de sujeitos capazes de governar está cada dia mais visível, porem a reforma no sistema educacional só é possível mediante uma revolução no sistema capitalista no qual a sociedade está inserida.

     

    Considerações finais

                A educação é a maior contribuição de uma sociedade para o desenvolvimento do indivíduo, porém ela depende de outros fatores como: políticas públicas, distribuição de verbas adequadas, valorização dos profissionais, valorização da cultura, entre outros, para que esse desenvolvimento seja cada vez mais eficaz.

                Somente com a superação da sociedade atual que está amplamente voltada aos bens de consumo, e a valorização da natureza humana e histórica, poderemos ser atuantes na construção de uma educação igualitária baseada em princípios democráticos, que atenda a todos os indivíduos sem nenhuma distinção, buscando uma sociedade mais justa e humana.

                Há ainda, muito a ser feito em benefício da educação, mesmo estando inseridos nesse sistema capitalista, onde a escola é constante palco de manipulação do Estado, esvaindo-se com atitudes políticas que são de interesses próprios de nossos representantes, que retiram verbas destinadas ao ensino para aplicar em outros setores que possivelmente lhes darão uma maior garantia de permanência no poder.

     

    Referencias

    LOMBARDI, José Claudinei; MAGALHÃES, Lívia Diana Rocha; SANTOS, Wilson da Silva (Org.). Gramsci no limiar do século XXI. Campinas, SP: Librum Editora, 2013.

    MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia Alemã. Volume I,3ª. Ed. Tradução de Conceição Jardim e Eduardo Lúcio Nogueira. São Paulo, SP : Martins Fontes, 1976.

    GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.


    [1] Pedagoga e Mestranda em Educação pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Campus Cascavel – PR, e-mail: diele.605@gmail.com.

    [2] Pedagoga e Mestranda em Educação pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Campus de Cascavel – PR, integrante do Grupo de Pesquisa em Formação de Professores – GPEFOR, e-mail: vanessa.scherer@live.com.

     

  • Palavras-chave
  • Educação, Sociedade, Trabalho, Escola, Luta de classes.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
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