AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DO ESTADO DO PARANÁ NA MODALIDADE DE SEMANAS PEDAGÓGICAS (2007-2014)
JUSTUS, Michélle Barreto - UEPG - pedagogamichelle@yahoo.com.br
Eixo 2: Política Educacional e Gestão
Grupo de Pesquisa: Grupo de Estudos e Pesquisas em Política Educacional e Avaliação
A política de formação de professores, devido à sua complexidade e importância no contexto atual das políticas educacionais revela a necessidade de constantes reflexões, estudos e pesquisas. Partindo desse pressuposto, este resumo visa apresentar uma pesquisa feita com pedagogos da rede estadual de ensino do estado do Paraná, sobre a avaliação que os mesmos fizeram sobre a formação continuada no período de 2007 a 2010 (Governo Roberto Requião) e 2011 a 2014 (Governo Beto Richa). Dar voz aos sujeitos que as vivenciaram nos permitiu conhecer a concretude das políticas educacionais dos referidos anos e se mostrou um instrumento relevante na compreensão da realidade escolar.
No estado do Paraná, entre os anos de 2007 a 2014, a política de formação continuada de professores era constituída de vários programas e projetos, tais como o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE); e os projetos Formação em Ação, Hora Atividade Interativa, Grupo de Estudo, Escola Interativa, Educação a Distância; Grupo de Trabalho em Rede (GTR), Plataforma Freire e Grupo de Estudo em Rede (GER); e as Semanas Pedagógicas realizadas nas escolas públicas estaduais.
Na modalidade de Semanas Pedagógicas, o programa de formação continuada tinha como objetivo a participação de todos os sujeitos do cotidiano escolar, envolvendo a direção, a equipe pedagógica e os professores, e em alguns momentos, os funcionários.
Os estudos propostos para as Semanas Pedagógicas geralmente versavam sobre temas relacionados à gestão escolar, às práticas pedagógicas, ao trabalho docente e ao processo de ensino e aprendizagem. A proposta da Secretaria de Estado de Educação (SEED-PR) baseava-se na discussão desses temas, visando a construção de práticas coletivas de todos os sujeitos que participavam da comunidade escolar.
O objeto de estudo da pesquisa se inseriu nos estudos sobre avaliação de políticas e programas educacionais, uma vez que analisou o programa de formação continuada de professores, na modalidade de Semanas Pedagógicas 2007-2014, a partir da avaliação dos pedagogos.
A avaliação de políticas e programas educacionais tem dois objetivos: “autoconhecimento e de formulação de subsídios para a tomada de decisão institucional, com a finalidade de promover o aprimoramento da política implementada e a concretização dos objetivos da sociedade ou grupo social a que se destina. (BELLONI, 2001, p. 45 – grifo da autora).
O referencial teórico da pesquisa de Mestrado foi construído com base nas leituras de autores de referência quanto aos pressupostos epistemológicos de avaliação educacional e avaliação de políticas e programas, como Belloni (2001) e Ferreira e Tenório (2010), dentre outros.
O campo de pesquisa foi o interior das escolas públicas estaduais de Ponta Grossa, e os sujeitos participantes foram professores pedagogos que atuam na rede estadual há pelo menos 07 anos, os quais foram selecionados por meio de amostragem proporcional ao porte das escolas.
Aspectos metodológicos
A pesquisa foi realizada numa abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso avaliativo, e os procedimentos escolhidos foram análise documental e questionário, composto por questões abertas e fechadas.
As questões fechadas foram tabuladas, categorizadas e analisadas, considerando 6 dimensões: 1. Relevância dos temas propostos; 2. Adequação dos materiais disponibilizados; 3. Orientações metodológicas da SEED para a realização das atividades; 4. Desenvolvimento das atividades propostas no interior da escola; 5. Contribuições dos estudos para o trabalho docente; e 6. Contribuições dos estudos para o trabalho pedagógico.
Os critérios e as orientações para avaliação das dimensões definidas nas questões fechadas foram : conceito 5 (excelente), demonstrando que a Semana Pedagógica referida apresentava, de modo geral, características excelentes (ou seja, era bem avaliada); conceito 4 (muito bom), significando que as características eram boas e as deficiências pouco significativas para a avaliação como um todo; conceito 3 (bom) significava que as características eram boas, mas havia deficiências que precisavam ser corrigidas; conceito 2 (razoável) atribuía uma avaliação na qual existiam boas características, no entanto as negatividades se sobressaíam; conceito 1 ( insatisfatório) significa que as características eram negativas (ou seja, era mal avaliada na visão do sujeito); e conceito D(desconheço) significava que o respondente desconhecia a dimensão proposta na avaliação.
Resultados
É importante salientar que, no decorrer da pesquisa e dos dados coletados, ficou evidente as significativas diferenças entre os dois períodos considerados no estudo. Nesse sentido, Ferreira e Tenório (2010, p. 82) contribuem, afirmando que os programas desenvolvidos revelam os fatores que condicionam a implantação e os resultados das políticas públicas, pois
[...] aspectos como o ambiente político no qual os programas se desenvolvem, as forças políticas que se contrapõem ou fazem alianças para apoiar ou resistir ao programa, o ideário econômico-financeiro que preside a determinação sobre a alocação dos gastos públicos, as concepções sobre a maior ou a menor necessidade de democratização do Estado, a visão sobre os princípios de eficiência, efetividade e eficácia das ações governamentais na área social, entre outros, precisam se integrar ao modelo avaliativo a ser definido.
Foi possível observar que na dimensão “relevância dos temas”, os conceitos 5 e 4 têm maior frequência no período de 2007-2010 (Governo Requião) do que de 2011-2014 (Governo Beto Richa), o que nos permitiu afirmar que o primeiro período propiciou a discussão de temas mais relevantes no interior da escola, classificados como temas excelentes ou muito bons.
Na dimensão “adequação dos materiais”, observou-se que a avaliação feita pelos pedagogos foi mais frequente nos conceitos 4 e 3 (muito bom e bom, respectivamente) para o Governo Requião, indicando que os materiais encaminhados ou disponibilizados pela SEED às escolas foram avaliados como muito bons ou bons.
Quanto a dimensão “relevância dos temas propostos”, o conceito 3 (bom) foi atribuído aos dois períodos analisados na mesma proporção.
Quanto à adequação dos materiais disponibilizados, as Semanas Pedagógicas realizadas entre 2011-2014 foi avaliada em maior proporção com o conceito 3. As orientações metodológicas, as contribuições ao trabalho docente e da escola foi atribuído o conceito 3 em maior proporção ao período 2007-2010.
Se analisarmos os conceitos 5, 4 e 3, considerando que estes conferem às Semanas Pedagógicas uma melhor avaliação, podemos afirmar que os trabalhos realizados no período 2007-2010 (Governo Requião) foram melhor avaliados, visto que foram avaliadas nos conceitos que refletem uma análise positiva (excelente, muito bom e bom); no contraponto dessa avaliação, os conceitos 2 e 1, que conferem às Semanas Pedagógicas o status de razoável ou insatisfatório prevaleceram nas marcações referentes ao período 2011-2014 (Governo Beto Richa). Isso nos permite afirmar que as Semanas Pedagógicas do período 2007-2010 foram mais efetivas e tiveram melhor avaliação por parte dos pedagogos.
Conclusões
As semanas pedagógicas realizadas no período 2007-2010 foram melhor avaliadas pelos pedagogos do que no período 2011-2014. O que se observou é que, embora tenham sido analisados dois períodos diferentes, governados por grupos partidários distintos entre si, ambos estão ligados à lógica capitalista, cada um à sua maneira. As práticas desenvolvidas comprovam a fragilidade na elaboração das políticas de formação continuada de professores e seu respectivo desenvolvimento de ações no interior da escola.
Este estudo revelou, a partir do olhar dos pedagogos, que os momentos de formação continuada (na modalidade de Semanas Pedagógicas) perecem em algumas questões: o desenvolvimento pessoal e profissional do professor ainda é um ponto frágil; a valorização de seus saberes e experiências e o respeito à sua realidade precisam ser repensados; as particularidades de cada escola devem ser levadas em conta; é preciso investir num “novo” olhar sobre a escola, enxergando-a como espaço de interação entre o formar e o trabalhar visto que, na maioria das práticas de formação continuada, não se destacam ações que contemplassem discussões e a reflexões aprofundadas sobre a própria prática e a realidade do professor.
As fragilidades observadas neste estudo indicam a necessidade de se alcançar atividades formativas mais significativos para os sujeitos da escola, necessitando de algumas reformulações no que diz respeito à formação continuada de professores nas escolas públicas estaduais paranaenses.
Referências
BELLONI, Isaura. Metodologia da avaliação em políticas públicas: uma experiência em educação profissional. São Paulo: Cortez, 2001. (Coleção Questões da nossa época, v. 75).
FERREIRA, Rosilda Arruda; TENÓRIO, Robinson Moreira. A construção de indicadores de qualidade no campo da avaliação educacional: um enfoque epistemológico. Revista Lusófona de Educação, Bahia, v. 15, p. 71-97. 2010.
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