III Seminário Interinstitucional de Pesquisa em Educação da Região Sul 25 anos do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEPG Avaliação, Internacionalização e a Ética nas Pesquisas em Educação no Brasil |
GÊNERO BIOGRÁFICO, GÊNERO FEMININO E A ESCRITA DA HISTÓRIA INTELECTUAL
Karina Regalio Campagnoli – UEPG
Eixo: História e historiografia da Educação
Grupo de estudo: História, intelectuais e educação no Brasil e no contexto internacional
Resumo
Este trabalho tem o propósito de apresentar elementos que proporcionem uma reflexão sobre a trajetória das mulheres no meio social, especialmente no campo educacional, dividindo-se em três tópicos: História Intelectual, Gênero Biográfico e Gênero Feminino. Cada item procura mostrar a ampliação gradual do percurso e desenvolvimento das mulheres nos mais variados cenários sociais, demonstrando os processos de lutas ao longo dos anos e as vitórias alcançadas. Por meio do gênero biográfico pode-se compreender a realidade de um tempo específico, com seus costumes, práticas e naturalizações, chegando ao desenvolvimento intelectual das mulheres. A partir das contribuições da história intelectual, a trajetória dos indivíduos comuns ganha notoriedade, retratando a vida de nobres e de personagens comuns. Constata-se que na pesquisa sobre a história de vida das mulheres, muitos modos de investigação podem ser utilizados, complementando-se uns aos outros, contribuindo assim, para uma riqueza maior de dados para análise e crítica.
Palavras-chave: História Intelectual, Gênero Biográfico, Gênero Feminino.
Introdução
O objetivo deste texto é apresentar subsídios que favoreçam a reflexão sobre a trajetória das mulheres no campo da Educação. Para tanto, são apresentados aspectos da História Intelectual, do Gênero Biográfico e do Gênero Feminino, os quais são compreendidos como essenciais para o entendimento sobre o percurso percorrido pelas mulheres nos diversos contextos históricos.
Sobre a História Intelectual, destacam-se algumas de suas vertentes, elucidando seu caráter multi e interdisciplinar. Sobre o Gênero Biográfico, assinala-se que ele pode ser considerado como uma das primeiras formas de registro da história, desqualificado por muito tempo, porém, recuperando sua relevância a partir da década de 1980.
O tópico que trata do Gênero Feminino retrata as ações das mulheres, marcadas por disputas sociais e políticas, processos de exclusão e reivindicação de direitos, procurando demonstrar a evolução feminina no campo da educação e nos demais contextos da sociedade, fornecendo uma nova forma de olhar para essas questões.
História Intelectual
A História Intelectual, após ter sofrido duros embates e enfrentar preconceitos nas últimas décadas, constitui-se atualmente como ramo da historiografia que caracteriza-se pela riqueza de oportunidades de pesquisa no meio acadêmico.
Segundo Helenice da Silva (2003, p. 16), “[...] a História Intelectual oscila, por um lado, entre uma Sociologia, uma História e até mesmo uma biografia dos intelectuais, e por outro, entre uma análise das obras e das ideias como, por exemplo, uma possível versão da história da filosofia”.
Névio de Campos (2015, p. 96) explica que a história intelectual tem em seu escopo a ação e as ideias dos intelectuais, elucidando que a criação da ideia de intelectual surgiu “no final do século XIX”, a partir da repercussão do Caso Dreyfus. O autor ressalta que o maior desafio do “historiador das ideias” situa-se no modo de conceber a interação do “pensamento com o mundo social”. De forma que “não há uma única regra que possa ser utilizada para interpretar, pois em cada época há formas distintas dessas relações, assim como em épocas semelhantes as relações divergem de uma sociedade a outra” (CAMPOS, 2015, p.109).
Com isso, percebe-se a amplitude de pesquisas que podem ser desenvolvidas com a compreensão da História Intelectual como campo amplo de investigação acadêmica.
Gênero biográfico
A biografia ou o gênero biográfico é considerada uma das primeiras formas de registro da história. No entanto, esse tipo de pesquisa foi criticado e menosprezado por muito tempo e, somente nos últimos anos tem conquistado novamente o interesse dos pesquisadores na forma de biografia histórica, baseada num contexto de valorização do ser humano como um todo (DEL PRIORE, 2007).
Como forma de reação aos modelos historiográficos que se apresentavam, principalmente os que defendiam a concepção positivista, é que surgiu a Escola de Anais (ou Escola de Annales), na França, no ano de 1929. Esse grupo de historiadores combateu a história política tradicional, embasada na trajetória de figuras ilustres e propuseram a parceria com as ciências humanas com vistas ao desenvolvimento de uma “história-total, preocupada com todos os aspectos do fazer humano” (SCHMIDT, 1996, p. 169).
Ao longo do tempo, o gênero biográfico foi sofrendo várias remodelações, desenvolvendo-se e adquirindo novamente relevância no meio acadêmico, configurando-se atualmente como objeto de investigação ativo e estimulante para muitos pesquisadores que objetivam descobrir não só as características pessoais de figuras ilustres, mas também do cotidiano e dos hábitos de indivíduos de vida comum.
Gênero feminino
A presença das mulheres no meio acadêmico, tanto como temática, como ocupantes do papel de pesquisadoras, suscitou um aumento nas possibilidades de reflexão, análise e crítica acerca da trajetória histórica dessas mulheres ao longo do tempo. No entanto, a trajetória das mulheres na sociedade em seus diversos contextos ainda hoje é marcada por discriminações, preconceitos e banalizações (DAUPHIN et al, 2000).
Segundo Maria Beatriz Nizza Silva (1987, p. 76), a História da Mulher ainda é tratada como integrante da temática feminista ou como especificidade ou curiosidade sem relevância acadêmica.
No Brasil, há pouquíssimos relatos históricos realizados diretamente por mulheres, devido ao alto índice de analfabetismo feminino, assim como à ausência de imprensa desde o período colonial até o início do século XIX (SILVA, 1987).
Dessa forma, desde o século XIX e, mais especificamente após a 2ª Guerra Mundial, as mulheres têm tido mais acesso à escolarização e ao mercado de trabalho em todas as áreas e essa “renovação na história das mulheres trouxe a categoria de gênero como uma nova forma de olhar para a história, fazendo parte da perspectiva feminista questionadora do paradigma vigente” (GALLI, 2013).
Talvez como um dos primeiros exemplos de tentativa de emancipação feminina no Brasil, pode-se citar a fundação da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul (ALFRS), no dia 12 de abril de 1943, pela escritora Lydia Moschetti, juntamente com mais seis escritoras do estado do Rio Grande do Sul. Um dos objetivos que levaram à criação dessa instituição repousa no fato dessas mulheres estarem lutando por “direitos” e posições de destaque no meio literário, uma vez que esses eram dificultados pelos acadêmicos do gênero masculino (PETRÓ, 2012).
Dessa forma, percebe-se que a historiografia da mulher percorreu um longo caminho até a contemporaneidade, passando por diversas concepções de entendimento, influenciadas pelos contextos históricos e culturais nos quais emergiam, assim como, pelos costumes e hábitos da sociedade de cada período.
Considerações Finais
A História Intelectual debruça-se em estudos que tratam da produção teórica e ação no campo político e cultural de personagens e grupos de pessoas. Neste texto, indicou-se que a biografia intelectual é uma das possibilidades de escrita da História Intelectual, pois permite investigar trajetórias de grupos de pessoas ou alguma trajetória específica.
Nessa perspectiva, o gênero biográfico possibilita a análise e a reflexão de muitos contextos históricos, demonstrando a realidade de uma época específica, com seus costumes e práticas até chegar ao desenvolvimento intelectual das mulheres.
Sendo assim, constata-se que nesse tipo de pesquisa sobre a história da vida das mulheres, muitos modos e metodologias de investigação podem ser utilizados concomitantemente, cada qual com suas particularidades.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, N. de. História Intelectual e História Cultural: um recorte em Roger Chartier. Revista Eletrônica Documento Monumento, v. 16, n. 1, p. 93-122, dez. 2015.
DAUPHIN, C. et al. A história das mulheres. Cultura e poder das mulheres: ensaio de historiografia. Gênero. Revista do Núcleo Transdisciplinar de Estudos de Gênero, Niterói, v. 2, n. 1, p.7-30, 2000.
DEL PRIORI, M. Biografia: quando o indivíduo encontra a história. Topoi, v.1 0, n. 19, p. 7-16, jul./dez. 2009.
GALLI, L. S. A teoria feminista na historiografia: um estudo sobre a produção das historiadoras na revista Cadernos Pagu (1993-2012). 2013. 69 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.
PETRÓ, C. A. A criação da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul: projeto e campo de possibilidades na Porto Alegre da década de 1940. 2012. 74 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.
SCHMIDT, B. B. O gênero biográfico no campo do conhecimento histórico: trajetória, tendências e impasses atuais e uma proposta de investigação. Anos 90, Porto Alegre, n. 6, p. 165-192, dez. 1996.
SILVA, M. B. N. A história da mulher no Brasil: tendências e perspectivas. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 27, p. 75-91, 1987.
SILVA, H. R. A História Intelectual em questão. In: LOPES, Marcos Antônio (Org.). Grandes nomes da História Intelectual. São Paulo: Contexto, 2003, p. 15-25.
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