O CONCEITO DE PROFESSOR PARA O INTELECTUAL CATÓLICO EVERARDO BACKHEUSER
Bianca Neves Prachum
Bolsista da CAPES
Oriomar Skalinski Junior
UEPG
Eixo: História e Historiografia da Educação
Grupo de pesquisa: História, Intelectuais e Educação no Brasil e no Uruguai
A presente pesquisa tem por objetivo discutir o conceito de professor para o intelectual católico Everardo Backheuser, a partir da leitura de 4 livros escritos para a formação de professores. Os livros usados como fontes primárias são: Aritmética na Escola Nova (1933), Técnica da Pedagogia Moderna (1934), Ensaio de Biotipologia Educacional (1941), e O Professor (1946). De forma complementar, pretende-se apresentar a trajetória de Everardo Backheuser apontar algumas de suas contribuições no campo educacional, para compreender suas ações e a relevância de suas produções. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental, na qual analisa-se o conteúdo referente a temática estabelecida, qual seja, o conceito de professor.
Everardo Backheuser nasceu maio de 1879 em Niterói, no Rio de Janeiro. Estudou o ensino primário na escola fundada pela sua irmã Evelina, situada na chácara onde moravam. Os estudos secundários foram cursados no Colégio Pedro II, entre os anos de 1890 e 1896, na cidade do Rio de Janeiro. Em 1896 colou grau de bacharel em ciências naturais, em seguida diplomou-se como engenheiro geógrafo e engenheiro civil, também concluiu curso em ciências físicas e em matemática. Ainda, fez seu doutorado em ciências físicas e naturais. (BACKHEUSER, 1994; SANTOS, 1989).
Aos 14 anos de idade começou a ministrar aulas particulares de aritmética para alunos do Liceu Popular e da Escola Normal de Niterói. Aos 17 anos, junto a mais 4 amigos, formaram um grupo que ficou conhecido como “A Matilha”. O grupo ministrava aulas preparatórias para exames de validação dos cursos secundários. Essas teriam sido suas primeiras experiências como professor. Trabalhou no ensino secundário e depois nos cursos superiores, em renomadas instituições como a Faculdade Católica de Filosofia Santa Úrsula e a Politécnica do Rio de Janeiro. (BACKHEUSER, 1994; SANTOS, 1989).
Aos 16 anos de idade começou a escrever artigos para jornais, o primeiro redigido para o jornal O Nacional. Nunca mais interrompeu sua trajetória de escrita. Foi redator-chefe do jornal O Brasileiro, colaborador efetivo do Correio da Manhã (1930), Jornal do Brasil (1923-1937), O Estado (1926-1927), Revista Didática da Escola Politécnica (1911-1925), Revista de Ensino de São Paulo (1923), revista A Escola Nova (1929-1930), entre outros. Fundou o Boletim dos Professores Católicos (1932-1933) e a Revista Brasileira de Educação (1934-1936). (SANTOS, 1989; BARREIRA, 2000).
Backheuser trabalhou como engenheiro civil na prefeitura do Rio de Janeiro e contribuiu com a Comissão de Habitação Popular em 1905, quando apresentou um estudo sobre a questão habitacional da cidade. Também foi deputado estadual do Rio de Janeiro em duas legislaturas (1910 e 1915), pelo Partido Republicano Conservador, fundado por Pinheiro Machado. (SANTOS, 1989).
Em 1928, aos 49 anos de idade, converteu-se ao catolicismo, e partir daí começou a contribuir com a intelectualidade católica. Foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Educação ao lado do seu amigo Heitor Lira, em 1924. Depois foi figura de liderança na Confederação Católica Brasileira, em 1933, as quais foram relevantes instituições na História da Educação brasileira. (SANTOS, 1989).
Um ano antes da sua conversão ao catolicismo, após ter se aposentado, passou a colaborar com Fernando de Azevedo, que era Diretor de Instrução Pública do Rio de Janeiro, na reforma do ensino primário. Passou a estudar sobre os movimentos da Escola Nova, chegou a visitar centros estrangeiros, especialmente na Alemanha, para conhecer de perto as práticas e as teorias. (BACKHEUSER, 1934; SANTOS, 1989). Como foi um grande estudioso do tema, após sua conversão escreveu Técnica da Pedagogia Moderna (1934), no qual apresenta uma sistematização da Escola Nova.
Após sua conversão passou a escrever sobre a Escola Nova a partir de uma proposta católica para a educação. Fez várias palestras e formação para professores a fim de explanar suas experiências sobre a pedagogia moderna. Como um renovador da Pedagogia Católica no Brasil, Backheuser se destacou como agente no campo educacional brasileiro. Ao ler suas obras, tidas como fontes para esta pesquisa, buscou-se identificar o conceito de professor para o autor.
O significado da palavra professor, em linhas gerais, é apontado pelo autor como aquele que professa conhecimentos oralmente diante de outras pessoas, que expõe doutrinas, que é mestre de uma ciência ou arte liberal. Backheuser pondera que o uso da palavra professor passou a ser usado no Brasil para se referir àqueles que ensinam em qualquer modalidade de ensino, enquanto que em outros países está reservada para profissionais que trabalham no ensino superior, como nos Estados Unidos, o que também demarca se tratar de expressão de uso internacional. (BACKHEUSER, 1946).
Os conceitos de mestre e educador que também eram usados no Brasil, eram tratados como sinônimos de professor, entretanto, educador é o conceito mais relevante para o autor, pois segundo ele, vai além de ensinar e instruir. E como intelectual católico, destacou a figura do professor como educador porque considerava que este seria o responsável pela formação do indivíduo, o qual deveria ser educado pela família, pela Igreja Católica e pelo Estado. O autor afirma que, por mais que faça uso das palavras mestre e professor, elas devem ser sempre compreendidas como educador. (BACKHEUSER, 1933; 1934; 1941; 1946).
Embora um dos seus livros tenha o título de O Professor, o autor deixou claro que: “Será, pois, no largo e belo conceito de educador que focalizaremos neste livro o professor”. (BACKHEUSER, 1946, p. 18). Portanto, verifica-se que faz uso da palavra professor tendo por base o conceito de educador, porque a palavra o professor já era de uso consensual e comum no Brasil.
Backheuser afirma que professor é aquele que além de ensinar, recebeu a missão de educar: “Professor e educador passam assim a ser qualificados de um encargo unitário: ensinar e educar”. (BACKHEUSER, 1946, p. 18). Educar inclui ensinar e instruir, são conceitos interligados: “Instruir é educar cientificamente”. (BACKHEUSER, 1934, p. 158). Instruir, segundo o autor, seria mostrar os caminhos possíveis para o conhecimento. Educar e ensinar seriam uma coisa só, pois ocorrem simultaneamente. Educar seria a melhor expressão no sentido que indica um aperfeiçoamento pessoal, que está dentro da proposta de educação integral do autor.
Destacou a importância de ensinar para a vida e não apenas pela ciência. Menciona uma proposta de educação integral, que envolvia o conceito de Pessoa para os católicos, que significa a composição formada por corpo e alma, portanto, a educação integral deveria ocorrer de forma a contemplar o corpo, a alma e o intelecto. Nesse sentido, a educação dada pelo professor na escola, na condição de educador, deveria acontecer de forma complementar e também compatível com a educação ministrada pela família e também pela Igreja Católica, de modo a contribuir com a formação integral que objetivava formar pessoas completas e de bem para viver em sociedade, ou seja, solidárias e empenhadas no amor ao próximo, nas palavras do autor. Enfatizou a questão da religião como parte da educação integral, porque defende que a educação religiosa é de grande importância para a formação do ser humano. Educar seria pensar no futuro da nação, não com o pensamento de formar pessoas perfeitas, mas para formar as melhores pessoas possíveis. (BACKHEUSER, 1933; 1934; 1941; 1946).
Após apresentar um pouco da trajetória de vida de Everardo Backheuser e apontar algumas de suas contribuições no campo educacional, notamos que, como renovador da Pedagogia Católica, teria colaborado para a formação de professores da época, por meio de cursos, palestras e de suas produções escritas, dentre as quais as que foram usadas como fontes desta pesquisa. Backheuser após ter estudado o movimento da Escola Nova, trouxe novidades para a educação brasileira, assim, como intelectual católico, interpretou e apresentou teorias e práticas sob as lentes da cosmovisão católica.
Entendemos que o conceito de professor para o intelectual católico Everardo Backheuser representa o conceito de educador, como aquele responsável pela educação do ser humano na perspectiva integral, conforme concebida pelos católicos, ou seja, contemplando não apenas a formação intelectual, mas também a educação do corpo e do espírito. Isso porque educar em sua concepção envolveria ensinar e instruir, entretanto, estaria para além disso, pois os ensinamentos precisariam estar alinhados à educação familiar e aos princípios formativos defendidos pela Igreja.
Fontes:
BACKHEUSER, E. A Aritmética na Escola Nova. Rio de Janeiro: Livraria Católica, 1933.
______. Técnica da pedagogia moderna: teoria e prática da Escola Nova. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1934.
______. Ensaio de Biotipologia Educacional. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1941.
______. O professor: ensinar é um prazer. Rio de Janeiro: Agir, 1946.
Referências:
BACKHEUSER, E. Minha terra e minha vida: Niterói há um século. Rio de Janeiro: Niterói Livros, 1994.
BARREIRA, L. C. Everardo Adolpho Backheuser. In: FÁVERO, M. L. A.; BRITTO, J. M. (Org.). Dicionário de educadores no Brasil: da colônia aos dias atuais. 2. ed. aum. Rio de Janeiro: UFRJ; MEC-Inep-Comped, 2002. p. 332-338.
SANTOS, S. M. G. A cultura opulenta de Everardo Backheuser: conceitos e leis básicas da Geopolítica. Rio de Janeiro: Carioca de Engenharia S. A., 1989.
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