A APRENDIZAGEM COLABORATIVA NO ENSINO E APRENDIZADO DO CONHECIMENTO MUSICAL
Andréia Pires Chinaglia de Oliveira (PPE – UEM)
Ercília Maria Angeli Teixeira de Paula (PPE – UEM)
Eixo para apresentação: 6
A presente pesquisa de doutorado do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM), tem como objetivo investigar como a aprendizagem colaborativa contribui, tanto na formação e prática docente dos licenciandos em música, como na apropriação da aprendizagem musical das crianças dentro de um curso de extensão universitária.
As aulas de artes em geral, especialmente o ensino musical, tem muitas dificuldades em se enquadrar no contexto de escola e sala de aula que temos hoje, na qual os alunos estão habituados com aulas expositivas, sentados em fileiras e o professor, na sua grande maioria, conduz o conhecimento. Por isso, a área de educação musical busca metodologias diferenciadas nas práticas coletivas e vivências musicais.
Com isso, vários questionamentos surgem em meio as minhas reflexões no processo de construção do problema e objetivo da pesquisa para o uso dessa metodologia em sala de aula: qual a percepção dos licenciandos no uso da aprendizagem colaborativa? Como aplicarão a aprendizagem colaborativa nas aulas com as crianças no curso de extensão? Como o conhecimento circulará e será transmitido no interior do grupo? Como as crianças percebem seu aprendizado musical com essa metodologia? Essas questões iniciais nortearam a construção do objetivo principal que é investigar como a aprendizagem colaborativa contribui, tanto na formação e prática docente dos acadêmicos, como na apropriação da aprendizagem musical das crianças.
Os objetivos específicos são discutir formação inicial e a extensão acadêmica como espaço de formação; identificar as pesquisas nas áreas de educação e educação musical que tratam da aprendizagem colaborativa no contexto de sala de aula presencial; conhecer os conceitos, objetivos e aplicação da aprendizagem colaborativa; discutir como a aprendizagem colaborativa pode ser utilizada em aulas presenciais com a presença de professores e sem uso de tecnologias; verificar como a aprendizagem colaborativa acontece durante as aulas do curso de extensão; analisar como os acadêmicos percebem essa experiência de prática docente para sua formação; identificar a percepção das crianças sobre seu processo de aprendizagem musical colaborativa.
A revisão de literatura, bem como a fundamentação teórica, estão em fase de construção. Para a revisão de literatura serão abordados estudos sobre as seguintes temáticas: 1) Formação inicial de professores na educação (NÓVOA, 1992; 2017; GARCIA, 1999; SACRISTÁN, 2002; TARDIF, 2002) e na educação musical (GROSSI, 2003; BELLOCHIO, 2013); 2) Educação musical em diversos contextos educacionais de ensino destacando a extensão universitária como espaço de formação e aprendizado musical. (GARCIA, BOHN E ARAUJO, 2013; PILLAT ET ALL, 2016); 3) Aprendizagem colaborativa (DAMIANI, 2008; MARSH, 2008; 2013; TORRES, IRALA, 2014; OLIVEIRA, 2015, BEZERRA, 2017; KLEIN, VOSGERAU, 2018).
De acordo com objetivo da pesquisa, entende-se que a aprendizagem colaborativa será tanto a fundamentação teórica como a metodológica da mesma. Para isso estamos na realização de um levantamento aprofundado das produções acadêmicas sobre essa temática a partir de pesquisa no bancos de dados de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e nos artigos publicados no SciELO. Os critérios de seleção para o mapeamento foram: publicações entre 2008 a 2018; que tratam da aprendizagem colaborativa sem a mediação de tecnologias e ambientes virtuais; que estão no âmbito da educação e da educação musical nos diversos níveis de ensino.
O campo da pesquisa é o Curso de Extensão “Brincando e Cantando” que pertence ao Projeto de extensão Música, Escola e Comunidade da UEM. Esse curso está em sua 6º edição e em 2019 será montado um teatro musical com crianças. Para isso teremos acadêmicos das áreas de música e teatro trabalhando de forma interdisciplinar, tendo a música como foco. Dessa forma, os sujeitos da pesquisa são os 12 ministrantes das aulas e as 40 crianças participantes. Nesse sentido, a pesquisa terá uma abordagem qualitativa e focará a perspectiva dos acadêmicos em formação com relação a suas práticas docentes no curso e a perspectiva das crianças sobre sua aprendizagem musical participantes desse curso.
Assim, para compreender diferentes perspectivas das ações pedagógicas dos acadêmicos, seus discursos e ações, bem como a percepção das crianças no seu processo de aprendizagem, optou-se pelo uso de múltiplas fontes para a coleta de dados: 1) observação participante com registro em vídeo (FREIRE, 2010; GRAY, 2012) em dois momentos: o primeiro durante a realização do laboratório de formação colaborativa com os acadêmicos ministrantes do curso e num segundo momento durante as aulas do curso de extensão com a participação dos acadêmicos ministrantes e das crianças; 2) Rodas de conversas (WARSCHAUER, 2017) com os acadêmicos ministrantes junto com as crianças participantes; 3) Entrevista de grupo focal com os acadêmicos ministrantes e as crianças participantes em momentos distintos (GONDIN, 2003; BORBOUR, 2009); 4) produção de cartas pedagógicas (MORAES e PAIVA, 2018; PAULA, 2018) pelos acadêmicos e pelas crianças. Os procedimentos para a coleta dos dados serão divididos em 4 etapas de realização no período de maio a novembro de 2019. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de ética da UEM e já está em fase inicial da coleta de dados com as observações participantes.
A aprendizagem colaborativa, dentro dos diversos espaços educativos, pode ser uma alternativa viável e inovadora para a área de educação musical que busca por metodologias diferenciadas ao repensar formas de aprender música, em direção a alternativas mais compatíveis com a própria natureza colaborativa das artes. Por isso, esta pesquisa pretende contribuir na construção de campo de estudo teórico acerca de modos de ensinar, aprender e fazer música nos diversos ambientes educativos.
Referências
BARBOUR, Rosaline. Grupos Focais, Porto Alegre: Artmed, 2009. (Coleção pesquisa qualitativa).
BELLOCHIO, Cláudia R. A formação de professores, a escola e a educação básica: ações e movimentos. In: Intermeio: Revista de Pós-graduação em Educação, Campo Grande MS, V. 19, n. 37, 2013.
BEZERRA, Igor de Tarso Maracajá. Aprendendo a ensinar coletivamente: A Aprendizagem Colaborativa na Musicalização Infantil na UFPB. In: XI Conferência Regional Latino Americana de Educação Musical da ISME, Natal, 2017.
DAMIANI, Magda, Floriano. Entendendo o trabalho colaborativo em Educação e entendendo seus benefícios. Educar, Curitiba, n. 31, p. 213-230, 2008.
FREIRE, Vanda Bellard. Música, pesquisa e subjetividade: aspectos gerais. In: FREIRE, Vanda Bellard, Horizontes da pesquisa em música, Rio de Janeiro: 7Letras, 2010.
GARCIA, Berenice R. Zabbot; BOHN, Letícia R. Diefenthaeler; ARAÚJO, Maria Inês Siqueira. Universidade e extensão universitária: uma relação dialógica entre formação profissional e compromisso social. In: SÍVERES, Luiz. A Extensão universitária como um princípio de aprendizagem. Liber Livro, Brasilia, 2013.
GARCÍA, C. M. Formação de professores: para uma mudança educativa. Porto, Porto Editora, 1999
GONDIN, Sonia M. G. grupos focais como técnica de investigação qualitativa: desafios metodológicos. Revista Paidéia, Cadernos de Psicologia e educação, v.12, n.24, p. 149-161, 2002.
GRAY, David E. Pesquisa no mundo real. Métodos de Pesquisa, Porto Alegre, Penso, 2011.
KLEIN, Edna Lampert; VOSGERAU, Dilmeire Santa Ramos. Possibilidades e desafios da prática da aprendizagem colaborativa no ensino superior. Educação, Santa Maria, vol. 43, n. 4, p. 667-698, 2018.
MARSH, Kathryn. Exploring children’s musical play. In: BURNARD Pamela; MURPHY, Regina. Teaching music creatively. 2013
MORAES, Ana C; PAIVA, Darlan L. Cartas pedagógicas: reflexões de docente da educação básica e ensino superior. Fortaleza, EdUECE, 2018.
NÓVOA, A. Os professores e a sua formação. Lisboa: D. Quixote, 1992.
NÓVOA, Antonio. Firmar a posição como professor, afirmar a profissão docente. In: Cadernos de Pesquisa, vol.47, n. 166, 2017
OLIVEIRA, Andréia Pires Chinaglia de. “A gente ensina, aprende e inventa, tudo de uma vez”: as aprendizagens colaborativas nas brincadeiras cantadas e jogos musicais numa oficina de música com crianças. 255f. Dissertação (Mestrado em Música – Educação Musical), Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Artes, Programa de Pós-Graduação em Música, Florianópolis, 2015.
PAULA, Ercília M. A Teixeira. (org). Cartas pedagógicas: estratégias didáticas revisitadas para novos tempos. Curitiba, CRV, 2018
PILLATT, Fabio; ZUCHI, Claudir; NEHRING, Cátia; PANSERA, Maria Cristina. Compreendendo a extensão e a sua indissociabilidade com o ensino e a pesquisa no âmbito da educação superior: uma análise qualitativa com o ATLAS.Ti. In: REBES – Revista brasileira de Ensino Superior, Vol. 2, 2016.
SACRISTÁN, J. Gimeno, Poderes Instáveis em educação. Porto Alegre: Artmed editora, 1999.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Rio de Janeiro, Petrópolis: Ed. Vozes, 2002.
TORRES, P. L., IRALA, Esrom Adriano Freitas. Aprendizagem Colaborativa: Teoria e Prática. In: TORRES, Patricia Lupion. (Org.). Metodologias para a Produção do Conhecimento: da concepção à prática. 1ª ed. Curitiba: SENARPR, vol. 1, 2014.
VIOLA, Daniele. O ensino não-formal na educação musical e a sua contribuição na manutenção do quadro discente universitário no Rio de Janeiro. In: Anais do IV SIMPOM- Simpósio Brasileiro de Pós-graduandos em Música, Rio de Janeiro, 2016.
WARSCHAUER, Cecília. A roda e o Registro: uma parceria entre professores, alunos e conhecimento. 5. Edição revisada e ampliada, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2017.
Comissão Organizadora
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Comissão Científica