PROFISSIONALIDADE DOCENTE: REPRESENTAÇÕES DE PROFESSORAS DOS ANOS INICIAS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Camila Macenhan - UEPG (camila.macenhan@hotmail.com)
GEPTRADO (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho Docente)
Eixo 3: Formação de professores
Resumo: A presente pesquisa está em andamento e traz dados referentes à tese que tem como objeto as representações (LEFEBVRE, 1983) de professores sobre a profissionalidade docente. A investigação busca analisar os componentes mencionados pelos professores para o desenvolvimento da sua profissionalidade, por meio da realização das narrativas da formação. As discussões são apresentadas a partir dos estudos de Contreras (2012), Cunha (2015), Giroux (1997) e Popkewitz (1997). Como objetivos do estudo estão: a) Identificar, por meio de interpretações analíticas, as representações de professores da rede municipal de ensino de Ponta Grossa a respeito do desenvolvimento da profissionalidade; e b) Discutir os elementos que os professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental consideram como fundantes para a profissionalidade na docência. Como resultados, colocam-se as relações que as professoras trazem sobre o conhecimento específico da docência, a autonomia em seu trabalho e o reconhecimento profissional na profissão docente.
Palavras-chave: Profissão docente. Profissionalidade. Profissionalização.
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
A partir das demandas que originam das transformações sociais, é possível trazer os reflexos que a docência sofreu e, portanto, como o papel dos professores também foi modificado ao longo dos anos. Com isto, faz-se imprescindível a discussão sobre o desenvolvimento da profissionalidade dos professores, sendo o objeto desta pesquisa. Ressaltamos que o estudo se refere aos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, da rede pública de ensino pertencente ao município de Ponta Grossa/PR. As especificidades dos níveis de ensino e das etapas da Educação Básica são respeitadas e por isto optamos por realizar o recorte sobre o campo de atuação dos sujeitos participantes, porém não deixamos de considerar a necessidade de princípios universais referentes à docência.
Sobre a ideia de professor, Cunha (2015, p. 16) ressalta: “Ser professor significa ser e estar com o humano, significa ser e tornar mais humano o que é humano”. Nesta relação, o autor citado sustenta uma ideia universal envolta na docência, a partir da convicção de que ser professor é igual em qualquer parte do mundo.
Considerando as características do campo educacional, a temática sobre a profissionalidade foi elencada a partir das análises sobre as condições materiais de atuação dos professores e a forma como se constituem enquanto profissionais. Portanto, discutimos sobre trabalho e docência, também sobre autonomia na carreira, com a consequente constituição da profissionalidade docente.
Assim sendo, apresentamos como problemática da investigação: Quais as representações dos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental sobre o desenvolvimento da sua profissionalidade? As questões norteadoras do estudo compreendem os seguintes aspectos: Como os professores apresentam suas representações sobre o conhecimento próprio da docência? Por meio da representação dos professores, o que constitui o conceito de autonomia na perspectiva do desenvolvimento profissional docente? Como o reconhecimento social é revelado nas representações dos professores e ele interfere na constituição da profissionalidade da categoria?
Enquanto argumento deste estudo sobre a profissionalidade, apontamos: Os professores mencionam a formação inicial, a formação continuada e as experiências no exercício docente como elementos integrantes do processo de profissionalização. A hipótese envolve o fato de que as relações entre os integrantes da categoria e o reconhecimento pela sociedade em relação aos seus saberes específicos sejam elementos primordiais, mas são mencionados de modo secundário pelos professores ao comentarem sobre o processo de desenvolvimento da profissionalidade. Porém, mesmo sendo elementos centrais para as discussões sobre a profissionalização, os professores nem sempre possuem condições que viabilizem a realização das partilhas entre os integrantes da carreira e, diante do processo de transformação que a própria sociedade apresenta, o processo de individualização é cada vez mais crescente, conforme os dados das narrativas da presente pesquisa revelam. Com isto, os profissionais deixam de realizar a interação até mesmo no grupo a que pertencem, sendo que cada integrante desenvolve sua função de forma dissociada ou, se a fazem, esquecem-se de que para serem reconhecidos, não é possível que esta categoria de profissionais se feche em si mesma. Portanto, em tal viés está o destaque sobre a importância da relação entre a categoria profissional e a sociedade de modo mais amplo, a qual é capaz de reconhecer o saber específico do profissional.
O conceito de representações de Henri Lefebvre compõe o quadro teórico que norteia a pesquisa, sendo que, a partir das considerações de Contreras (2012), analisamos as três dimensões da profissionalidade docente (obrigação moral, compromisso com a comunidade e competência profissional). Com os estudos de Fernández Enguita (1991) discutimos os cinco pontos que caracterizam uma profissão (competência, vocação, licença, independência e autorregulação).
Para descrever o conceito de representações, trazemos a definição de Lefebvre (1983) referente à cotidianidade do mundo moderno, a qual se apresenta como palco das representações. O cotidiano demonstra a necessidade de criação de novas representações e, de forma dialética, as representações fazem com que o cotidiano também se programe.
2. ASPECTOS METODOLÓGICOS EMPREGADOS
Os sujeitos desta investigação são oito (8) professoras dos anos iniciais do Ensino Fundamental que trabalham em três escolas da rede municipal de ensino de Ponta Grossa/PR. O presente estudo desenvolve-se a partir da abordagem qualitativa e, como metodologia de pesquisa, utiliza narrativas da formação das professoras e grupo de discussão sobre a forma como a própria categoria identifica as condições de seu trabalho e de qual modo os professores percebem a autonomia no exercício da docência. Os dados são analisados, com o processo de decomposição do todo em suas partes constituintes, a partir da Análise Textual Discursiva (ATD), proposta por Moraes e Galliazi (2006, 2007).
3. RESULTADOS E CONCLUSÕES
A Análise Textual Discursiva, segundo as considerações de Moraes (2003), constitui-se como um processo análogo a uma tempestade de luz. O processo analítico, com base na Análise Textual Discursiva, é alicerçado em três elementos: unitarização, categorização e comunicação. Com base na compreensão cíclica, permeada pela desconstrução, comunicação e emergência, apresentamos as principais características de cada um dos quatro focos que compõem a ATD, com base em narrativas sobre a profissionalidade docente.
Com as caracterizações já realizadas sobre cada foco, exemplificamos como eles foram tomados na proposição da análise de, no caso, oito (8) narrativas da formação docente, com o objeto de análise do estudo sendo: representações de professoras sobre o desenvolvimento da profissionalidade docente.
· Primeira etapa: desmontagem dos textos, com fragmentação e destaque de excertos das narrativas de professoras, para o processo de busca das unidades de análise. Nesta etapa, surgiram as seguintes três unidades.
ü Ingresso na docência, significado daquilo que realizo e processo formativo.
ü Como me tornei a professora que sou hoje: reflexões que realizo e percepção sobre a autonomia na carreira.
ü Docência: quem sou eu após ingressar na carreira, união e valorização que percebo em relação à categoria docente.
· Segunda etapa: identificação das relações que as unidades de análise ou unidades constituintes de cada narrativa, com agrupamento dos excertos de cada uma das narrativas e consequente encontro dos significantes.
· Terceira etapa: realização do agrupamento dos significantes comuns das oito narrativas, com base nas relações que demonstram entre si; logo, há a combinação e a classificação dos significantes. Nesta etapa, surgiram as seguintes categorias: início na carreira (conhecimento específico do profissional), ações realizadas durante o exercício profissional (autonomia na carreira), visão sobre a docência (reconhecimento social).
· Quarta etapa: processo de análise dos excertos agrupados, os quais deram origem às categorias, gerando uma nova compreensão sobre o desenvolvimento da profissionalidade docente, ou seja, o novo emergente.
4. REFERÊNCIAS
CONTRERAS, José. A autonomia de professores. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
CUNHA, António Camilo. Ser professor: bases de uma sistematização teórica. Chapecó: Argos, 2015.
FERNÁNDEZ ENGUITA, Mariano. A ambiguidade da docência: entre o profissionalismo e a proletarização. Teoria e Educação, Porto Alegre, n. 4, 1991.
GIROUX, Henry. A. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
LEFEBVRE, Henri. La presencia y la ausencia: contribución a la teoría de las representaciones. México: Fondo de Cultura Económica, 1983.
POPKEWITZ, Thomas. S. Reforma educacional: uma política sociológica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
MORAES, Roque. Uma tempestade de luz: a compreensão possibilitada pela análise textual discursiva. Ciência&Educação, v. 9, n. 2, p. 191-211, 2003.
MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do Carmo. Análise textual discursiva: processo reconstrutivo de múltiplas faces. Ciência&Educação, v. 12, n. 1, p. 117-128, 2006.
MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do Carmo. Análise textual discursiva. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007.
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