A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NA FORMAÇÃO DO PEDAGOGO: AVALIAÇÃO NA PERSPECTIVA DOS PROFESSORES FORMADORES
JESUS, Daniella do Nascimento (UEPG)
Eixo 2: Política Educacional e Gestão
Grupo de Pesquisa: Grupo de Estudos e Pesquisas sobre
Política Educacional e Avaliação - GEPPEA
A avaliação curricular é um dos domínios de estudo do campo da avaliação educacional. Ela compreende os procedimentos de avaliação sobre o currículo de um curso/programa em sua totalidade, ou de um ou mais componentes curriculares que o integram, considerando as diferentes etapas de seu desenvolvimento: formulação, implementação, efeitos e impactos na formação de seus alunos.
O objetivo central deste trabalho é apresentar parte dos resultados de uma pesquisa, desenvolvida em nível de Mestrado, realizada no curso de Licenciatura em Pedagogia de uma universidade pública paranaense, com foco no componente curricular Filosofia da Educação.
Nesta comunicação são apresentados e discutidos os resultados parciais da avaliação realizada pelos docentes que lecionam/lecionaram a disciplina no curso, coletados por meio das entrevistas semiestruturadas. Os dados coletados foram analisados com a utilização da Metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), de Lefèvre, Lefèvre (2005).
As relações entre currículo e avaliação foram fundamentadas em Sacristán (2013), ao considerar que:
Quanto à avaliação do currículo, não parece que existam muitas discrepâncias em considerá-la como uma das ferramentas com a qual abordar seu aperfeiçoamento, já que é com base no conhecimento e na valorização de seus processos e resultados que serão decididas as atuações e os planos de intervenção sobre este (SACRISTÁN, 2013, p. 523).
O autor propõe seis níveis de objetivação curricular que constituem um currículo. São eles: a) currículo prescrito: diretrizes em forma de lei; b) currículo apresentado aos professores: projeto pedagógico da instituição ou curso; c) modelado: programa da disciplina, preparado pelo docente; d) em ação: aulas, ações, discussões, trabalhos e outros; e) realizado: efeitos do currículo junto aos professores e alunos, no meio em que estão inseridos; f) avaliado: avaliações do currículo (Sacristán, 2008).
Metodologia
A pesquisa foi realizada em abordagem qualitativa, na modalidade de estudo de caso avaliativo. Os sujeitos participantes do estudo foram quatro docentes que ministraram as disciplinas de Filosofia da Educação no curso de Pedagogia (2005- 2016 e 110 acadêmicos matriculados em 2016 e 2017. Os procedimentos de coleta de dados foram análise documental, observação participante, entrevistas e questionários.
Resultados
Embora a pesquisa realizada tenha envolvido docentes e discentes, neste trabalho optou-se apenas pela apresentação e discussão de parte dos resultados referentes aos depoimentos dos docentes. As entrevistas realizadas com os docentes foram transcritas, tabuladas e categorizadas a partir dos elementos ‘expressões-chave’ e ‘ideias centrais’ contidos nos depoimentos, conforme a metodologia do DSC. Da análise dos dados obtidos emergiram quatro categorias de análise: a) a disciplina Filosofia da Educação na Licenciatura em Pedagogia; b) o conhecimento de Filosofia no curso de Pedagogia; c) a postura teórico-metodológica dos docentes; d) os desafios da docência em Filosofia da Educação.
Neste texto estão os resultados da análise da categoria ‘A disciplina Filosofia da Educação na Licenciatura em Pedagogia’. Os depoimentos dos docentes revelaram que a Filosofia da Educação é considerada uma disciplina fundamental na formação do pedagogo docente, que requer sensibilidade dos professores para a interdisciplinaridade e é uma oportunidade para reflexão e problematização da realidade socioeducacional.
Por outro lado, apontaram que existem limites no trabalho docente com a disciplina, ligados principalmente à desvalorização da mesma no âmbito do curso. Em trechos do DSC apresentados a seguir, os docentes entrevistados reconhecem como fundamental a presença da disciplina na formação de professores.
DSC 01 – Em relação à relevância da disciplina para o curso, na formação dos pedagogos, eu considero que ela é imprescindível. No caso da Filosofia da Educação, ela comporta uma das disciplinas fundamentais da formação docente e da formação do pedagogo, também. Nós podemos incluir, entre essas disciplinas fundamentais (Justamente por que fundamentais? Porque nos dá a ideia de fundamentação.), a Sociologia, a Psicologia, mesmo parte da disciplina de Políticas Educacionais (quando trata de fundamentação do Estado). A gente tem defendido a importância da sólida formação teórica.
O reconhecimento da relevância da componente curricular Filosofia da Educação no curso se dá juntamente com outras disciplinas de fundamentação teórica. O vocábulo ‘fundamentação’ foi entendido como base para a formação teórica do futuro pedagogo docente, preparado nos currículos prescrito, apresentado aos professores e modelado. Consideram, também, a Filosofia da Educação como uma possibilidade de problematização da realidade.
No mesmo contexto, identificaram limites para trabalhar com o componente curricular em questão e com as disciplinas em si. A situação foi justificada pelos diferentes sentidos dados à Filosofia da Educação, conforme revela o DSC 02:
DSC 02 – Penso que, para limitar a importância de alguma coisa, é preciso considerar, primeiro, o fator histórico na presença da Filosofia. A Filosofia, ela tem toda uma dimensão história de ligação com a Educação. Falar da importância histórica da Filosofia dentro dos cursos de formação. Então, não seria apenas eu que estaria falando, é uma comunidade que pensa e, nesse sentido, me parece que a Filosofia foi bastante fecunda em algumas épocas. Hoje, já nem tanto. Hoje percebemos que há um esvaziamento da disciplina de Filosofia da Educação, no geral, nas universidades, e penso que isso afeta as licenciaturas de modo muito específico.
Os sentidos dados à Filosofia da Educação no curso de Licenciatura em Pedagogia ocorrem em todos os níveis de objetivação curricular, ou seja, das prescrições às avaliações. Para Sacristán (2008), mesmo os conteúdos curriculares considerados integrantes de uma educação de qualidade variam conforme as tradições metodológicas. Os limites identificados pelos sujeitos participantes podem ser relacionados com o exposto por Sacristán (2008), sobre a atribuição de significados que cada professor faz quando da modelagem curricular.
As escolhas são relacionadas ao valor do conhecimento filosófico educacional em si, mas influenciadas pela subjetividade e outros elementos, tais como sistema sócio-político-educacional, demandas institucionais, exigências pedagógicas, condições de trabalho, contexto cultural e outros.
Quanto à possibilidade de um trabalho interdisciplinar no curso com outros componentes curriculares de Fundamentos da Educação, os depoimentos contidos no DSC 03 apontam que:
DSC 03 – (...) a disciplina de Filosofia da Educação, a gente entende como uma entre outras que busca dar o olhar da Filosofia sobre o fenômeno educativo. E é nesse sentido que ela precisa ter uma sensibilidade para a interdisciplinaridade em relação às outras disciplinas (no caso, essas que eu estou citando), como também precisa estabelecer uma interdisciplinaridade do ponto de vista interno com a própria pedagogia.
As argumentações dos docentes permitem inferir, por um lado, que a interdisciplinaridade pode caminhar junto à problematização/reflexão da realidade, desenvolvida nas aulas para a formação dos acadêmicos; e por outro que para além da interdisciplinaridade, há a possibilidade de pensar a formação do pedagogo docente na qual os componentes curriculares dialoguem entre si, porque:
DSC 04 – Filosofia está misturada com tudo. Acho que mais que interdisciplinaridade, é o sonho de tantos educadores de pensar transversalmente mais do que interdisciplinarmente. Já trabalhei, inclusive, com mais de um professor em sala de aula, em alguns momentos, e a gente percebe que isso pode ser interessante, mas não é que, per si, ele acrescenta se os conteúdos de uma outra área forem simplesmente justapostos; eles têm que comungar, tem que estabelecer links, vínculos – e estamos longe disso, muito longe. Nossas práticas me parecem, ainda, muito pequenas.
O DSC 04 sugere a clareza dos sujeitos de que os processos de ensino e aprendizagem têm a ganhar quando a construção de conhecimento não se dá por disciplinas estanques, pois eles compreendem cada uma das disciplinas como parte do currículo na formação do pedagogo. No entanto, pensar transversalmente é um processo que não necessariamente está em vias de realização, devido aos fatores institucionais e pessoais que interferem no trabalho docente.
Considerações finais
A avaliação curricular realizada possibilita apontar alguns achados da pesquisa:
- Na formação do pedagogo docente, a Filosofia da Educação é um dos componentes curriculares que sustenta a problematização da realidade educativa, contribuindo para a formação crítica dos estudantes.
- Há desvalorização do componente curricular no curso, ora por docentes, ora por discentes, e no próprio contexto universitário.
- Embora haja o reconhecimento da importância do diálogo com outros componentes curriculares pelos professores formadores, eles declararam que no currículo em ação isso não vem ocorrendo concretamente, sequer entre as disciplinas de Fundamentos da Educação.
Por fim, considera-se que os resultados da avaliação curricular podem contribuir para reflexões tanto sobre a Filosofia da Educação como para o currículo do curso de Licenciatura em Pedagogia.
Referências
LEFÈVRE, Fernando; LEFÈVRE, Ana Maria Cavalcanti. O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa. 2.ed. Caxias do Sul: Educs, 2005.
SACRISTÁN, Gimeno J. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 2008.
SACRISTÁN, Gimeno J. (org.). Saberes e incertezas sobre o currículo. Porto Alegre: Penso, 2013.
Comissão Organizadora
Érico Ribas Machado
Comissão Científica