O uso das tecnologias no cotidiano é algo que desperta polemicas e discussões. Quando elas são levadas para sala-de-aula então, as discussões tornam-se mais polarizadas ainda. Considerando que as tecnologias são meios pelo qual conhecemos e modificamos a sociedade (LIMA FILHO; QUELUZ, 2005), elas são inseridas, de maneira involuntária, no processo de ensino-aprendizagem. Assim sendo, faz-se necessário que, não só integrem este processo como métodos ou instrumentos, mas que também se tornem objetos de conhecimento. O objetivo desse estudo foi em abordar como as mídias e tecnologias podem ser relacionadas a conteúdos. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica com o tema em tela.
O desenvolvimento das tecnologias influenciou diversos aspectos de nossa interação com a natureza, com os outros e com nós mesmos. Elas atuam como instrumentos de conhecimento da realidade, já que através delas temos acesso a informações e dados. Estas mesmas tecnologias são utilizadas para a construção e/ou modificação da realidade, posto que com elas podemos manipular matérias, energias e também dados e informações (LIMA FILHO; QUELUZ, 2005). As tecnologias envolvem desenvolvimento técnico e, portanto, permeiam toda a história humana. Ponte (2000, p. 64) afirma que
Todas as épocas têm as suas técnicas próprias que se afirmam como produto e também como fator de mudança social. Assim, os utensílios de pedra, o domínio do fogo e a linguagem constituem as tecnologias fundamentais que, para muitos autores, estão indissociavelmente ligadas ao desenvolvimento da espécie humana há muitos milhares de anos.
Portanto, as tecnologias se tornaram fundamentais para a sobrevivência humana, tendo sido indispensáveis para a sua evolução. Ponte (2000) ainda afirma que esta relação com as tecnologias se tornou ainda mais intrínseca ao ser humano com o desenvolvimento da internet. Isto é, o contato e uso das tecnologias intensificou nestas três últimas décadas, com a popularização das TIC’s, ou Tecnologias de Informação e Comunicação.
A partir de 1980, com o desenvolvimento do computador e informática e com o surgimento da internet, novas formas de tratamento de informação proliferaram-se nas esferas diversas da sociedade. Estas tecnologias de informação, chamadas primariamente de TI, interferiram na maneira como se realizava operações bancárias, estudos acadêmicos, administração pública e até mesmo comunicações interpessoais. Neste aspecto, com a associação da informática, ou seja, tecnologia de informação, às telecomunicações, passou-se a denominar tais instrumentos tecnológicos de Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs. As TICs apresentam como ferramentas importantes no campo dos negócios, indústria, comércio, política, entretenimento, administração pública e, por consequência, no campo educacional.
Segundo Coelho (1986) estas tecnologias atuam no processamento e armazenamento e pesquisa de informação realizados; no controle e automatização de máquinas, ferramentas e processos, incluindo, em particular, a robótica; e na comunicação, transmissão e circulação da informação. Elas apresentam-se como facilitadores de acesso a informação, podendo ser utilizadas no processo educacional tanto nas etapas de planejamento por parte do educador, quanto no processo de estudo do educando. Assim, evidenciam seu potencial de recursos paradidáticos, isto é, que podem ser utilizados no processo de ensino-aprendizagem sem terem sido concebido com este fim (MENEZES & SANTOS, 2001).
O uso das TICs pode auxiliar no processo didático, pelo seu aspecto lúdico e interativo, podendo tornar a aprendizagem de maneira mais acessível, inclusiva e efetiva. Entretanto, é preciso que o professor selecione de maneira consciente os instrumentos e conteúdos, ou seja, que promova uma utilização de despertar a criticidade do aluno. Demo (2008, p. 1) afirma que
Toda proposta que investe na introdução das TICs na escola só pode dar certo passando pelas mãos dos professores. O que transforma tecnologia em aprendizagem, não é a máquina, o programa eletrônico, o software, mas o professor, em especial em sua condição socrática.
Logo, não é a simples apropriação destas tecnologias que garantirá a eficácia da aprendizagem, mas a capacidade do professor de, ao invés de apenas reproduzir os conhecimentos, fomentar a produção de conhecimentos novos, bem como a criticidade diante dos dados e informações encontrados. Neste sentido, insere-se um tema transdisciplinar na educação: o letramento digital.
O Letramento Digital envolve a capacidade de participação na sociedade e na cultura digital, através, obviamente, dos diversos dispositivos digitais (computador, tablet, smartphone, celular, etc). Buzato (2006, p. 16) define Letramento Digital (LD) como
conjuntos de letramentos (práticas sociais) que se apoiam, entrelaçam e apropriam mútua e continuamente por meio de dispositivos digitais para finalidades específicas, tanto em contextos socioculturais geograficamente e temporalmente limitados, quanto naqueles construídos pela interação mediada eletronicamente.
Apesar de termos contato com as TICs no cotidiano e considerarmo-nos como capazes de utilizar estes meios de maneira eficaz, isto não garante que somos letrados digitalmente. Como alerta Smith (2000), cada vez se torna mais difícil e complexo determinar quem é letrado no meio digital. Ser letrado digital não se resume a saber ligar/desligar, enviar e receber mensagens, navegar na web, etc. Ou seja, nãos e resume aos conhecimentos funcionais e técnicos das ferramentas, mas saber utilizar de forma crítica, ética e consciente.
O Letramento Digital inclui ainda, a capacidade para localizar, filtrar e avaliar criticamente informações disponibilizadas eletronicamente. É a capacidade de manusear naturalmente com agilidade as regras da comunicação em ambiente digital. Portanto, é através do Letramento Digital que o indivíduo se torna preparado para atuar como cidadão pleno também no meio digital e eletrônico.
O Marco Civil da Internet, de 23 de abril de 2014, promulgado na Lei 12.965/2014 estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. No texto deste, aponta-se a responsabilidade do Poder Público de promover a educação para o uso consciente, seguro e responsável da internet, considerando-a como ferramenta para exercício da cidadania, para promoção a cultura e para o desenvolvimento tecnológico (BRASIL, 2014).
Em termos práticos, no âmbito escolar, cabe ao professor o papel de “orientador” destas práticas. Conforme MORAN (2000, p. 29):
A aquisição da informação, dos dados, dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer, hoje, dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor – o papel principal – é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los.
Outrossim, ao professor não cabe apresentar meios de acesso a informação, considerando que os alunos já o possuam, mas sim, promover o consumo critico destas informações, conteúdo que perpassa todas as áreas e componentes curriculares. Assim sendo, faz-se necessário que, não só integrem este processo como métodos ou instrumentos, mas que também se tornem objetos de conhecimento. Desta maneira, as mídias e tecnologias podem ser relacionadas a conteúdos atitudinais, em relação ao comportamento nas mídias sociais e modo de interação com a tecnologia
As mídias e Tecnologias de Informação e Comunicação são ferramentas que podem ser usadas de maneira proveitosa no processo educacional. Tal qual qualquer outro recurso paradidático, elas não possuem, em si, um fim intrinsecamente educacional. Desta forma, a eficácia de seu uso dependerá do direcionamento e condução do educador. Ao considerarmos o direito ao acesso digital, o letramento digital torna-se obrigatório para a plena formação do educando.
Comissão Organizadora
Érico Ribas Machado
Comissão Científica