IMPRENSA PERIÓDICA – FONTE E OBJETO DE INVESTIGAÇÃO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA A PESQUISA EM HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO

  • Autor
  • Patrícia Rodrigues da Silva
  • Co-autores
  • Elaine Rodrigues , Joyce de Fátima Morais
  • Resumo
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    IMPRENSA PERIÓDICA – FONTE E OBJETO DE INVESTIGAÇÃO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA A PESQUISA EM HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO

     

    SILVA, Patrícia Rodrigues da.

    Doutoranda em Educação pelo PPE/UEM

    Membro do Grupo HEDUCULTES, Universidade Estadual de Maringá (UEM)

    E-mail: patriciarodrigues0905@gmail.com

    RODRIGUES, Elaine.

    Doutora em História da Educação. Professora do PPE/UEM

    Líder do Grupo HEDUCULTES, Universidade Estadual de Maringá (UEM) 

    E-mail: eordirgues@uem.br

    MORAIS, Joyce de Fátima

    Mestranda em Educação pelo PPE/UEM

    Membro do Grupo HEDUCULTES, Universidade Estadual de Maringá (UEM)

    E-mail: morais_g12@hotmail.com

     

     

    Eixo temático: História e Historiografia da Educação

     

    INTRODUÇÃO

    A imprensa periódica, em especial a educacional, tem sido via privilegiada de acesso a informações que dotam de diversidade e riqueza para sistematizar e apreender elementos do campo educativo, [...] a imprensa é, provavelmente, o local que facilita um melhor conhecimento das realidades educativas, uma vez que aqui se manifestam, de um ou de outro modo, o conjunto dos problemas da área (NÓVOA, 1997, p. 31).

    Nesse contexto, o historiador educacional tem diante de si o desafio que se expõe na construção do seu objeto de investigação. É necessário estudá-lo em seu interior, recortá-lo, desconstruí-lo, reorganizá-lo (FOUCAULT, 2005), para assim, criar categorias de análise, analisar novas apreensões e revelar aspectos até então não percebidos.

     

    OBJETIVOS

    Este ensaio tem por objetivos:

    ·         Refletir sobre o uso da imprensa periódica, pedagógica ou não, como fonte e objeto de pesquisa em História da Educação;

    ·         Contribuir para a construção de novos pensamentos que possibilitem o delineamento de um trajeto de pesquisa para o estudo com impressos, e, principalmente para a compreensão acerca da pesquisa em História da Educação tomando como fonte e objeto, a imprensa periódica.

     

    ASPECTOS METODOLÓGICOS

    O ensaio que aqui se apresenta, se caracteriza como uma pesquisa bibliográfica, descritiva e de natureza qualitativa. O texto apresenta reflexões nascentes das notas de leitura, ilações e desenvolvimento de pensamento, que emergiram a partir dos estudos e discussões realizados durante a disciplina de História da Educação e Imprensa Especializada em Educação no Brasil, do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPE), e, dos debates ocorridos durante as reuniões do Grupo de Pesquisa HEDUCULTES – História da Educação Brasileira, Instituições e Cultura Escola, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no ano de 2018. Para alcançar o objetivo proposto, as obras adotadas como aporte para os debates, serviram de esteio para a construção deste texto, em especial a obra de Michael Foucault.

     

    DISCUSSÕES TEÓRICAS ACERCA DA PESQUISA COM IMPRESSOS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO (RESULTADOS DAS REFLEXÕES)

    Sem fonte não é possível escrever história. Os impressos, dos mais diferentes tipos, são fontes históricas que permitem desvelar as representações do passado. Ao estudarmos história por meio da imprensa, o próprio impresso torna-se objeto de investigação (LUCA, 2005).

    A partir de um conjunto metodológico, o pesquisador constrói o seu objeto de pesquisa por meio de um processo de “desconstrução da sua fonte”, adentrando-a, esmiuçando-a. E este é um processo importante de ser compreendido, haja vista que quando elegemos a fonte e a tornamos documento histórico. Nesse contexto, o documento deixa de ser para a história, uma matéria inerte utilizada para reconstituir os que os homens fizeram ou disseram. O documento, então, ganha vida. O documento conversa com o historiador!

     

    [...] o documento não é o feliz instrumento de uma história que seria em si mesma, e de pleno direito, memória [...] em nossos dias, a história é o que transforma os documentos em monumentos e que desdobra, onde se decifravam rastros deixados pelos homens, onde se tentava reconhecer em profundidade o que tinham sido, uma massa de elementos que devem ser isolados, agrupados, tornados pertinentes, inter-relacionados, organizados em conjuntos [...] a história, em nossos dias, se volta para a arqueologia – para a descrição intrínseca do monumento (FOUCAULT, 2005, p. 8. Grifos do autor).

     

    Neste contexto, o historiador passa a “conviver” com a sua fonte, imbricando-se a ela, deixando de “olhar de cima”, para então entrar em seus meandros. O documento é trabalhado assim, em seu interior, de forma intrínseca, o que possibilita ao pesquisador constituir séries, fixar limites aos elementos encontrados, descobrir relações que lhes são específicas, constituir quadros (FOUCAULT, 2005), especificando tempo e cronologias que lhe são próprias e que incorporam o seu objeto de investigação.

    Rompe-se com a longa cadeia de consequências, de continuidades, muito presente na história em sua forma tradicional, e elege-se novos acontecimentos e fatos, que a sua fonte lhe permite sustentar. O historiador “[...] distingue os níveis possíveis de análise, os métodos que lhe são adequados a cada um, e as periodizações que lhes convém” (FOUCAULT, 2005, p. 10). O historiador constrói o seu objeto de pesquisa.

    E esta, é uma operação minuciosa e intensiva. Após delinear o seu sítio arqueológico, o historiador passará a trabalhar, dia após dia, com os vestígios que lhe estão dispostos, em camadas sedimentares diversas, debruçando-se sobre eles, limpando-os cuidadosamente, analisando-os “milimetricamente”, e, ao mesmo tempo, tendo a sua liberdade cerceada pelos princípios metodológicos, que lhe permitirão trazer inteligibilidade ao passado, ao ponto que toma o impresso como suporte aos seus sentidos. Destarte, o historiador organiza o impresso em busca de inculcar modos de pensamento, e, de dentro para fora, o impresso vai dizer quais os caminhos possíveis para a construção do contexto, do objeto.

    Para Luca (2005), essa operação merece ser feita com vagar, com muita atenção, para que o historiador tenha condições de encontrar em seu conjunto documental, vestígios que permitam revelar elementos históricos (rupturas ou permanências) até então, desconhecidos.

    Outrossim, percebemos que os impressos e seus suportes não são neutros, mas sim, pensados e articulados, publicando a voz daqueles que, de certa forma, venceram a disputa do campo em que se inserem, e, institucionalizando o impresso como um lugar de poder, visto que, é nele que são divulgadas as ideias vencedoras de um grupo ou grupos específicos. Como nos aponta Luca (2005, p. 140), os impressos são “[...] empreendimentos que reúnem um conjunto de indivíduos, o que os torna projetos coletivos, por agregarem pessoas em torno de ideias, crenças e valores que se pretende difundir a partir da palavra escrita”. Assim, vemos que o impresso cria e é criador, é instituinte e instituidor. O impresso produz uma identidade.

    Não é o texto pelo texto, é o que há “por trás” do texto. É desvelar a intencionalidade do texto para com o seu público-alvo. E, conforme apontam Galvão e Jinzenji (2011, p. 51) “ao estudar os impressos, precisamos ultrapassar a análise dos conteúdos neles veiculados. Em muitos casos, torna-se mais importante analisar os modos de enunciação desses conteúdos, do que propriamente de que tratam”.

    Assim, vemos que um mesmo material pode dar origem a várias interpretações. Ao tomarmos como fonte de pesquisa um material que não é inédito, podemos nos valer das pesquisas já realizadas para “[...] compreendermos melhor as relações entre a fonte escolhida, outras fontes, o período e o tempo investigados” (LOPES; GALVÃO, 2011, p. 8). Por isso é tão importante descrever a fonte. Por isso é tão importante problematizar a fonte, já que a fonte não fala por si só, ela precisa ser inquerida, ela precisa ser explorada.

    Nesse sentido, Lopes e Galvão (2011, p. 7) ressaltam que “[...] o ponto de partida para se fazer história não são as fontes, mas os problemas e as perguntas que o(a) pesquisador(a) coloca ao passado e, consequentemente, aos vestígios que dele restaram – as fontes”. Outrossim, o entrecruzamento de fontes também é uma possibilidade. O historiador define o seu corpus documental principal, e também faz uso de outras fontes que possam contribuir para a sua análise e na construção do seu objeto de pesquisa.

     

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Considerando os textos, obras e autores estudados, bem como as discussões realizadas na disciplina de História da Educação e Imprensa Especializada em Educação no Brasil e nas reuniões do grupo de pesquisa HEDUCULTES, reiteramos que a imprensa periódica se mostra como campo fértil para a pesquisa em História da Educação. Nesse contexto, o rigor metodológico é fundamental para guiar e garantir a cientificidade às pesquisas que utilizem como fonte e objeto os impressos periódicos. Enfatiza-se ainda, a necessidade de problematizar e descrever a fonte com vagar e detalhadamente, em um processo operacionalizado de “dentro para fora”, o que contribuirá para a construção do objeto de pesquisa.

    Por fim, muitas questões ainda permanecem e carecem de aprofundamento e conhecimento acerca dos estudos com impressos periódicos, mas, o que nos motiva ainda mais para a busca deste conhecimento, é a possiblidade de contribuir para uma nova historiografia da História da Educação, com o rompimento da visão antiquária da história e com a possibilidade de adentrar no processo de construção do objeto de pesquisa. Ainda há muito que estudar, mas vemos a jornada como um caminho permeado por desafios enriquecedores e muito profícuos.

     

    REFERÊNCIAS

     

    FOUCAULT, M. Arqueologia do Saber. 7. ed. Tradução Luiz F. B. Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.

     

    GALVÃO, Ana M. de O.; JINZENJI, Mônica Y. A quem se destinava o Boletim Vida Escolar?. In.: GALVÃO, Ana Maria de Oliveira; LOPES, Eliane Marta Teixeira. Boletim Vida Escolar: uma fonte e múltiplas leituras sobre a Educação no início do século XX. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.

     

    LOPES, Eliane M. T.; GALVÃO, Ana M. de O. Apresentação. In.: GALVÃO, Ana Maria de Oliveira; LOPES, Eliane Marta Teixeira. Boletim Vida Escolar: uma fonte e múltiplas leituras sobre a Educação no início do século XX. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.

     

    LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005.

     

    NÓVOA, A. A imprensa de educação e ensino: concepção e organização do Repertório Português. In.: CATANI, Denice Bárbara; BASTOS, Maria Helena Câmara (Orgs.). Educação em Revista: A imprensa periódica e a história da educação. São Paulo: Escrituras, 1997.

     

     

  • Palavras-chave
  • História e Historiografia da Educação, Imprensa periódica, Operação historiográfica.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • História    e    historiografia    da    Educação        
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