A avaliação educacional tanto pode referir-se à avaliação de aprendizagens, à avaliação de escolas, à avaliação de currículos e programas, à avaliação de projetos, à avaliação de sistemas educativos, à avaliação de profissionais (gestores, professores e educadores), ou, ainda, à avaliação de políticas públicas. Trata-se de uma expressão polissêmica e, dessa forma, faz-se necessário levar em consideração os contextos da sua utilização e da sua tradução.
O presente trabalho trata de uma pesquisa em andamento que busca identificar as compreensões de professores e equipes de gestão escolar de seis escolas da rede municipal de ensino da cidade de Ponta Grossa – PR a respeito das políticas de avaliação em larga escala e da autoavaliação institucional. O estudo também tem como propósito identificar as necessidades de formação dos professores e das equipes de gestão escolar da rede municipal, no que diz respeito às políticas de avaliação em larga escala e à autoavaliação institucional para a organização do trabalho pedagógico.
A pesquisa está sendo desenvolvida em três etapas, e as considerações aqui apresentadas referem-se à segunda etapa, que foi realizada nas escolas, juntamente aos professores e equipes de gestão escolar, com o objetivo de realizar um diagnóstico em relação às concepções iniciais, expectativas e necessidades destes profissionais no que diz respeito ao tema avaliação educacional. A primeira etapa foi realizada com o objetivo de estabelecer uma conversa inicial e problematizar o tema avaliação em larga escala e autoavaliação institucional para a organização do trabalho pedagógico. A terceira etapa compreende reunião junto aos professores e equipe de gestão escolar com o objetivo de apresentar os dados coletados no diagnóstico realizado por meio de grupos de discussão e, a partir dos dados, estabelecer coletivamente a proposta de formação continuada considerando o tema avaliação em larga escala e autoavaliação institucional para a organização do trabalho pedagógico.
Assim, neste trabalho apresentamos uma análise referente às concepções de professores e equipes de gestão escolar sobre a avaliação no contexto educacional.
Aspectos metodológicos
Tendo em vista a natureza e os objetivos da investigação, optou-se pela abordagem qualitativa de pesquisa e pelo grupo de discussão como procedimento metodológico que, de acordo com Gutiérrez (2001), está direcionado para a produção e registro do discurso grupal a partir do diálogo e pela busca de significados compartilhados pelo grupo.
O critério para escolha das escolas foi o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), considerando três escolas com resultados maiores, e três com resultados menores, bem como as escolas de tempo integral da rede municipal de Ponta Grossa, referentes aos Anos Iniciais (1° ao 5° ano). Estas escolas organizam em um dia da semana, especificamente nas sextas-feiras, um período para a formação continuada e hora atividade dos professores no coletivo escolar, o que tem possibilitado o desenvolvimento da pesquisa com todos os professores e equipes de gestão das escolas elencadas.
Até o presente momento foram realizados doze encontros, dois em cada escola selecionada. Em média cada encontro contou com dez professores, mais a coordenação pedagógica e a direção. O objetivo do primeiro encontro foi de estabelecer uma conversa inicial e problematizar o tema avaliação em larga escala e autoavaliação institucional para a organização do trabalho pedagógico. No segundo momento, realizamos uma discussão com perguntas direcionadas a respeito das concepções sobre a avaliação educacional e as articulações com os três domínios: avaliação da aprendizagem, avaliação em larga escala e autoavaliação institucional. Ao estruturarmos as reflexões para este segundo encontro, compreendemos que as concepções dos professores e equipes de gestão a respeito da avaliação educacional se tornam essenciais para analisarmos como as escolas compreendem o papel da avaliação educacional para a organização de suas práticas pedagógicas no contexto escolar.
Resultados
Os dados coletados nesse momento da pesquisa possibilitaram refletir a respeito de três aspectos direcionados à compreensão sobre a avaliação no contexto educacional: a) a avaliação como ferramenta a ser utilizada para o direcionamento do processo ensino-aprendizagem; b) avaliação para classificar alunos e escolas; c) a avaliação como parâmetro para imprimir melhorias.
Com relação ao primeiro aspecto, da avaliação como ferramenta para o direcionamento do processo de ensino-aprendizagem, os professores, coordenadores pedagógicos e diretores participantes da pesquisa apontaram que compreendem a avaliação como essencial ao cotidiano da prática pedagógica da escola, bem como a necessidade de articulação dos resultados das avaliações externas com a avaliação da aprendizagem. Nesse contexto, vale apontar que alguns dos grandes desafios – pontuados por Fernandes (2009) – a serem enfrentados pelos sistemas de educação que fazem uso das avaliações externas, se referem ao equilíbrio entre as avaliações internas e externas, à redução das suas desvantagens, bem como à garantia de sua validade e confiabilidade.
Os professores e equipes de gestão também apontaram que compreendem a avaliação como forma imprescindível para identificar o que o aluno aprendeu, o que precisa ser melhorado no processo de ensino e aprendizagem e se os objetivos foram ou não atingidos.
No que pertence à compreensão da avaliação como classificação de alunos e escolas, alguns professores e equipes de gestão apontaram a avaliação em larga escala como exemplo, ao inferirem que o que se busca por meio dessa avaliação é atingir um índice que preza pelo resultado. Ao mesmo tempo, também destacaram que as avaliações em nível nacional são importantes para diagnosticar o nível em que as escolas se encontram e o que se torna necessário para progredirem.
Nessa direção, torna-se importante considerarmos que a partir dos sistemas de avaliação inseridos no contexto brasileiro, entende-se que, por um lado, houve um avanço no sentido da busca pela qualidade na/da educação (uma vez que o discurso das políticas enfatiza a busca pela qualidade e por mudanças), bem como a realização de um diagnóstico da educação. Entretanto, a intencionalidade presente nas políticas e a ênfase, muitas vezes, no controle e no resultado para a responsabilização das instituições escolares, têm gerado debates a respeito da relação entre a qualidade do ensino e as avaliações em larga escala com foco na escola.
Ao discorrer a respeito da relação entre qualidade da educação e avaliação, Amaro (2013) infere que a primeira envolve diversas variáveis que precisam estar articuladas no desenvolvimento e no acompanhamento do trabalho pedagógico organizado no contexto escolar. “Este não deve ser entendido como controle por parte do Estado ou políticas de responsabilização, mas como uma ação coletiva, como parceria entre escolas e sistemas” (AMARO, 2013, p. 51). Assim, inferimos que esse é o grande desafio das políticas de avaliação: a articulação positiva, democrática e pedagógica entre sistema e escola. O primeiro necessita oportunizar possibilidades para que esta utilize os resultados, seja na intervenção dos processos de ensino e aprendizagem, seja na organização do trabalho pedagógico escolar com qualidade.
Observou-se que há, do ponto de vista dos professores e equipes de gestão das escolas investigadas, um distanciamento entre as avaliações externas e as urgências do processo avaliativo e de ensino no contexto das escolas. Ou seja, as avaliações externas parecem não interferir diretamente no processo de ensino-aprendizagem realizado, justamente pelos efeitos negativos que as avaliações em larga escala parecem apresentar nesse contexto.
Conclusões
A partir dos dados coletados nos encontros realizados nas escolas até o presente momento, foi possível perceber que os professores e as equipes de gestão percebem a avaliação educacional como um aspecto que pode tanto orientar o processo de ensino e aprendizagem, proporcionar melhorias na escola, como também pode direcionar ações de controle de resultados nos diversos contextos. A avaliação em larga escala foi apontada como um instrumento importante para a monitoração das políticas públicas e que os seus resultados devem ser encaminhados às escolas para contribuir com o trabalho pedagógico.
No entanto, muitos desses profissionais não vislumbram a possibilidade de que esses resultados sejam encaminhados às escolas para que, dentro de um processo de avaliação institucional, elas possam utilizá-los para encontrar formas de melhorias. E que essa mediação dará subsídios para a avaliação de sala de aula, isto é, da aprendizagem, conduzida pelo professor.
Dessa forma, há que se investir na formação dos professores e gestores escolares no que diz respeito ao entendimento dos resultados dessas avaliações, tanto nas políticas públicas, como nos projetos pedagógicos das escolas.
Referências
AMARO, I. Avaliação externa da escola: repercussões, tensões e possibilidades. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, v. 24, n. 54, p. 32-55, jan./abr. 2013.
FERNANDES, D. Avaliar para aprender: fundamentos, práticas e políticas. São Paulo: Editora UNESP, 2009.
GUTIÉRREZ, J. Elementos no-técnicos para la condución de um grupo de discusión. In: Empiria: Revista de Metodología de Ciencias Sociales, Madrid, n. 4, p. 121–144, 2001.
Comissão Organizadora
Érico Ribas Machado
Comissão Científica