A REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E SUAS RELAÇÕES COM A CONSTITUIÇÃO DO CAMPO ACADÊMICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

  • Autor
  • Rosana de Castro Casagrande
  • Co-autores
  • Evelline Cristhine Fontana
  • Resumo
  •  

    A REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E SUAS RELAÇÕES COM A CONSTITUIÇÃO DO CAMPO ACADÊMICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

     

     

    Rosana de Castro Casagrande[1]

    Evelline Cristhine Fontana[2]

     

     

     

     

    Resumo

     

    Este estudo tem como objetivo analisar as relações da Revista Brasileira de Educação Especial – RBEE com a constituição do campo da Educação Especial. Para tal, utilizou-se do tipo de pesquisa documental e bibliográfica, de cunho quali-quantitativo, tendo como instrumento a análise relacional. Como fundamentação teórica baseou-se nas concepções de Pierre Bourdieu (1974; 1975; 1989; 2003; 2004; 2004a; 2017), especialmente no conceito de campo. O conceito de institucionalização foi baseado nos autores Gómez Campo; Tente Fanfani (1989) e Suasnábar e Palamidessi (2007). Para fundamentar as discussões dos dados foram utilizados autores da Educação Especial (FERREIRA, 1991; DIAS, 2003; BUENO, 2004; NUNES, FERREIRA, MENDES, 2004, 2005; JESUS e BAPTISTA, 2006; MANZINI et al, 2006; MARQUES et al. 2008; MANZINI, 2013; PLETSCH et al. 2018; BUENO e SOUZA, 2018; BUZETTI, BARBOSA e COSTA, 2018; HAYASHI e GONÇALVES, 2018). Como resultado destaca-se: a) No período de 1992 a 2018 a Revista Brasileira de Educação Especial publicou 660 textos, por meio de 1340 pesquisadores, dos quais 39 destacaram-se como principais autores da revista. b) Do total de publicações, 37% caracterizaram-se por autores e 63% como co-autores; c) A região de maior concentração dos principais autores da RBEE foi a região Sudeste, seguida da região Sul;  d) Do total de pesquisadores, 816 publicaram 1 texto, enquanto 1 autor publicou 16 textos; e) Os temas Paralisia Cerebral, Família, Surdez, Comunicação Suplementar e Alternativa, Autismo, Deficiência física e Síndrome de down destacaram-se como temas mais pesquisados pelos principais autores; f) A Universidade Federal de São Carlos destacou-se como sendo a Instituição de origem dos principais autores, seguida da Universidade Estadual Paulista. Por meio da análise da relação da Revista Brasileira de Educação Especial com a constituição do campo acadêmico da Educação Especial no Brasil, pudemos chegar a resultados importantes que expressam a importância da revista para o campo acadêmico da Educação Especial, pois caracteriza-se, junto a outras revistas existentes que tratam da temática, uma estrutura científica institucionalizada que contribui para a autonomia e constituição do campo acadêmico da Educação Especial no Brasil

     

     

    Palavras-chave: Campo acadêmico. Educação Especial. Revista Brasileira de Educação Especial.

     

     

     

     

    Introdução

     

                Esta pesquisa integra um estudo mais amplo e teve como objetivo analisar a relação da Revista Brasileira de Educação Especial com a Constituição do Campo da Educação Especial no Brasil.

                Como referencial teórico utilizamos as concepções do autor Pierre Bourdieu no tocante ao conceito de campo e os encaminhamentos baseados na análise relacional como referência metodológica.

                O conceito de institucionalização foi tratado a luz dos autores da área, com destaque para Gómez Campo; Tente Fanfani (1989) e Suasnábar e Palamidessi (2007). Também foram utilizados autores da Educação Especial (FERREIRA, 1991; DIAS, 2003; BUENO, 2004; NUNES, FERREIRA, MENDES, 2004, 2005; JESUS e BAPTISTA, 2006; MANZINI et al, 2006; MARQUES et al. 2008; MANZINI, 2013; PLETSCH et al. 2018; BUENO e SOUZA, 2018; BUZETTI, BARBOSA e COSTA, 2018; HAYASHI e GONÇALVES, 2018).

                Foram levantados e apresentados os dados referentes a análise dos indicadores da Revista Brasileira de Educação Especial – RBEE quanto a: título, temas, autoria e co-autoria, Instituição, número de publicações, freqüência de publicações, região do país e área de formação do autor/co-autor.

                Neste trabalho serão apresentados os objetivos, os aspectos metodológicos, os resultados e as considerações finais.

                Pretendemos demonstrar com este estudo a importante relação entre a Revista Brasileira de Educação Especial e a constituição do campo acadêmico da Educação Especial no Brasil.

                                                                                                                

    Objetivos

     

                Este estudo teve como objetivo analisar a relação da Revista Brasileira de Educação Especial com a constituição do campo acadêmico da Educação Especial no Brasil. Os objetivos específicos da pesquisa foram: a) analisar o conceito de institucionalização do campo; b) analisar o papel dos periódicos na constituição do campo acadêmico da educação especial e c) relacionar as produções com o conceito de capital de Pierre Bourdieu.

     

    Aspectos Metodológicos

     

                Esta pesquisa, de cunho qualitativo, faz parte de um estudo mais amplo e caracterizou-se como bibliográfica onde utilizou-se das concepções do autor Pierre Bourdieu para a sua fundamentação teórica, bem como para análise relacional na composição de seus argumentos e considerações.

                Foi realizada análise das publicações da Revista Brasileira de Educação Especial no período de 1992 a 2018, por meio do acesso aos sites da Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial que aloca os arquivos das produções científicas da revista até o ano de 2005 e da Scielo, que aloca os arquivos a partir do ano de 2005.

                Foram levantadas, organizadas e analisadas os seguintes indicadores: título, temas, autoria e co-autoria, Instituição, número de publicações, freqüência de publicações, região do país e área de formação do autor/co-autor.

                No total foram levantadas 660 publicações, totalizando 1340 autores, dos quais foram selecionados, por critério de número de publicações, 39 autores com número de publicações no periódico ? 4. (Vide Tabela no Apêndice). Foram verificadas o número de produções por autoria e co-autoria, totalizando neste trabalho 227 produções.

     

     

    Resultados

                A análise de revistas especializadas constitui-se em uma importante ferramenta de investigação e pesquisa para a compreensão da constituição do campo acadêmico em Educação Especial no Brasil.

                A análise da constituição do campo acadêmico de algumas áreas do conhecimento vem utilizando-se como referencial o autor Pierre Bourdieu, e suas concepções de campo, bem como o conceito de campo acadêmico de Hey (2008a; 2008b).

                 Para Bourdieu (2003), entende-se como campo “o espaço relativamente autônomo, esse microcosmo dotado de suas leis próprias” (p.20). Esses campos apresentam-se [...] “como espaços estruturados de posições (ou de postos) cujas propriedades dependem da sua posição nesses espaços e que podem ser analisadas independentemente das características dos seus ocupantes (em parte determinadas por elas) ”. (BOURDIEU, 2003, p.119). Para análise do campo acadêmico da Educação Especial, é de suma importância considerar que o mesmo constitui-se de um campo autônomo, sendo esta característica sustentada pelas estruturas que o compõe, sendo as revistas especializadas um dos aspectos que caracterizam e legitimam sua autonomia.

                Um campo pode ser definido como uma rede ou como uma “configuração de relações objetivas entre posições”, sendo estas definidas objetivamente em sua existência e pelas determinações que elas impõem aos seus ocupantes, agentes ou instituições [...] (BONNEVITZ, 2003, p.60). A educação especial como campo, estabelece relações entre os agentes que o compõe, sendo as produções científicas em revistas especializadas um espaço de autoridade científica.

                O conceito de campo em Bourdieu, demanda uma ampla compreensão das características que o constitui. Cada campo possui suas próprias regras do jogo e seus desafios, possuindo um espaço estruturado onde as posições são ocupadas por diferentes agentes do campo, onde esses agentes desenvolvem suas estratégias, podendo ser estratégias de conservação e de subversão. As estratégias de conservação, as dos dominantes, e as de subversão, a dos dominados (de modo mais evidente dos que são recém-chegados ao campo). Podemos buscar verificar e analisar se há algum apontamento em direção a estratégias de conservação e subversão nos espaços de produção científica, onde os agentes consolidados cientificamente, detêm o capital científico que pode servir como de conservação. Os recém-chegados ao espaço estruturado do campo, neste caso, a revista, devem buscar ultrapassar a condição de dominados e obter capital e autoridade científica para manter suas condições no campo. Não foi objeto de investigação deste estudo as estratégias de conservação e de subversão, mas é importante considerar que dentre 1340 pesquisadores, 816 (61%) produziram 1 publicação, e 1 pesquisador produziu 16 publicações no período analisado de 1992 a 2018. Esses dados revelam que a Revista Brasileira de Educação Especial oferece amplo espaço para pesquisadores, mas viabiliza espaço aos pesquisadores consolidados, ou seja, que possuem maior produção na área, o que também fortalece o campo, mas também abre espaço para as lutas características deste campo.

                O campo, portanto, é um espaço de luta onde os agentes concorrem e competem pela ocupação das posições, cujo objetivo é a apropriação do capital do campo ou a redefinição deste capital específico. O capital é distribuído no campo entre dominantes e dominados, mas de forma desigual, o que determina a estrutura do campo por meio da relação de forças históricas em oposição e confronto no campo. Embora existam lutas entre os agentes no campo, existe a manutenção de uma “cumplicidade objetiva” que vai além das lutas que os mantem em oposição. Cada campo possui um habitus (sistema de disposições incorporadas) que é próprio e característico de cada campo, onde, somente os agentes que o tiver incorporado, estarão em condições de disputar e acreditar na importância do jogo. Por fim, o campo tem autonomia relativa, isto é, as lutas que ocorrem têm uma lógica específica, mesmo estando inseridos no espaço social e recebendo as influencias das lutas econômicas, sociais, políticas, etc. (LAHIRE, 2017).

                O campo acadêmico é “ entendido como o lócus em que ocorrem práticas institucionalizadas de produção do conhecimento, o que envolve, sobretudo, a ideia de universidade” (p.221). Deste modo, podemos inferir, considerando as colocações de Hey (2008a, 2008b) e Grenfell (2008) quando relacionam e aproximam o campo acadêmico do campo universitário, que os mesmos possuem características que os colocam em um ponto comum. Importante destacar aqui o estudo de Bueno e Souza (2018, p.39) que destacam a distribuição da autoria das produções analisadas por campo de produção, onde “quase todos os autores (90,1%) estão inseridos no campo acadêmico”.

                Assinalamos algumas das características específicas do campo acadêmico: a) os agentes são responsáveis pela produção de conhecimento acadêmico; b) o conhecimento acadêmico é produzido e legitimado na e pela Universidade e agências financiadoras (Capes, CNPq, Fapesp, Finep), tidos como aparato institucional referente ao campo; c) espaço onde se instala uma batalha pela classificação do que será pertencente ou não a este campo; d) não é isento de condicionantes e determinações de ordem social; e) no campo estão em jogo os discursos acadêmicos e o capital simbólico (representado pela concepção de sujeito construído, ou seja, o nome  do pesquisador, que ao se constituir, determina sua posição na estrutura e na distribuição de capital cultural no campo); f) os agentes que possuem capital simbólico terão mais chances de acumula-lo e também de utilizar os proveitos simbólicos; g) o reconhecimento pelos pares é o que caracteriza o campo acadêmico. (HEY, 2008a;2008b).

                Os periódicos fazem parte de um conjunto de instâncias que atuam como agentes do campo, exercendo controle sobre o capital específico, neste caso a produção e divulgação do conhecimento científico. (GÓMEZ CAMPO; TENTE FANFANI, 1989; SUASNÁBAR; PALAMIDESSI, 2007).  As revistas fazem parte da estrutura dos campos acadêmicos e à medida que crescem e se expandem, alcançam um elevado grau de autonomia.

                Um campo constrói sua autonomia e legitimidade por meio de processos de institucionalização (STREMEL, 2017). Mas o que é institucionalização? Na concepção de Suasnábar e Palamidessi (2007), institucionalização de define como “[...] processos pelos quais certas práticas se recortam como específicas, se regularizam, sancionam e constroem sua autonomia e legitimidade”, sendo [...] o grau de diferenciação e de especialização de saberes, de agentes, de instituições, de funções ou de divisões institucionais que expressa os momentos do campo pode ser analisado como “processos de institucionalização” (SUASNÁBAR; PALAMIDESSI, 2007, p.41).

             Corroboramos com Stremel (2017, p.39) quando destaca em sua pesquisa sobre a constituição do campo da política educacional, que “[...] a análise dos espaços institucionais é fundamental para compreender a constituição de um campo acadêmico”.

                Estudos avaliativos da produção científica em Educação Especial vêm expandindo-se no Brasil (FERREIRA, 1991; BUENO, 2004; NUNES, FERREIRA, MENDES, 2004, 2005; JESUS e BAPTISTA, 2006; MANZINI et al, 2006) são exemplos de pesquisadores da produção científica em Educação Especial.

                Este trabalho buscou, por meio dos dados coletados e da análise relacional, demonstrar a importância da Revista Brasileira de Educação Especial – RBEE para a constituição do campo acadêmico da Educação Especial no Brasil.

                A Revista Brasileira de Educação Especial – RBEE surgiu no ano de 1992 e no dia 13 de Agosto de 1993 foi fundada a Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial – ABPEE na cidade do Rio de Janeiro, por ocasião do III Seminário de Educação Especial. (PLETSCH et al. 2018).

                Foram analisados um total de 660 publicações (relatos de pesquisa, artigo e ensaio), excetuando-se as resenhas. Concluímos que no período de 1992 a 2018, foram publicadas produções científicas de 1340 pesquisadores, entre pós-doutores, doutores, mestres, graduandos, graduados e profissionais de Centros de saúde, Hospitais, associações, Institutos e Secretarias de Saúde, enfatizando a interface entre a saúde e a educação nas produções sobre Educação Especial. Importante destacar que, dos 1340 pesquisadores, 816 publicaram 1 produção, 101 publicaram 2 produções, 32 publicaram 3 produções. Concentramos a análise nos principais autores que publicaram na Revista Brasileira de Educação Especial, tendo como critério, os autores que produziram 4 produções ou mais.

                Foi feito levantamento da recorrência de autoria/co-autoria na produção científica da revista, onde verificamos e analisamos as produções dos autores/co-autores   4, totalizando 39 autores/co-autores que produziram um total de 227 pesquisas. Destas, 37% (n=84) foram autores e 63% (n= 143) co-autores.

                Corroborando com o estudo realizado por Bueno e Souza (2018), verificamos nesta pesquisa que as regiões onde se concentram o número mais expressivo de produções sobre Educação Especial e conseqüentemente o maior número de pesquisadores é a região Sudeste com 76,92% dos pesquisadores, seguida das regiões Sul com 15,48%, Nordeste com 5,13% e Norte com 2,56%. Em Ensaio publicado por Manzini, Corrêa e Silva (2009) os autores destacaram que os Estados de origem dos autores que mais publicaram na Revista Brasileira de Educação Especial foram São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro, havendo correlação entre autores e membros da Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial.

                Relacionadas às regiões que concentram a produção científica, estão as Instituições[3] de origem dos pesquisadores, totalizando 14 Instituições, sendo Públicas (84,61%) e Privadas (15,38%). A Universidade que concentrou maior número de pesquisadores foi a Universidade Federal de São Carlos, reafirmando o resultado de pesquisa das autoras Buzetti, Barbosa e Costa (2018) ao analisar as tendências temáticas de artigos publicados na Revista de Educação Especial de 2010 a 2013. A Universidade Estadual Paulista aparece em seguida com 17,94% e a Universidade Estadual de Londrina com 7,6% e Universidade Estadual de Campinas também com 7,6%.

                Os temas tratados pelos pesquisadores de maior ocorrência na Revista Brasileira de Educação Especial – RBEE foram analisados, destacando-se: a) Paralisia cerebral (7,48); b) Família (6.6%); c) Surdez (6.16); Comunicação suplementar e alternativa (5,28%); Autismo, Deficiência física e Síndrome de down (3,96%). Em relação às temáticas tratadas na Revista Brasileira de Educação Especial – RBEE, destacam-se os trabalhod de Buzetti, Barbosa e Costa (2018) que destacam: a) Inclusão escolar; b) Educação Especial; c) Transtorno global do desenvolvimento; d) Surdez e e) Deficiência intelectual. Bueno e Souza (2018) ao analisarem as produções de uma amostra de artigos da revista, concluiu que os temas mais tratados foram: a) Prática pedagógica; b) Formação dos professores; c) Identidade da Educação Especial; d) Política e e) Pesquisa em Educação Especial. Hayashi e Gonçalves (2018) em seu estudo bibliométrico dos balanços da Produção Científica da Revista Brasileira de Educação Especial, de 1999 a 2017, destacam os seguintes temas: a) Produção científica na Educação Especial; b) Transtorno de Espectro Autista; c) Cegueira, Cegos e Deficiência visual; d) Classe hospitalar/Classes hospitalares e e) Surdez. Sugerimos que diferenças encontradas entre os temas referidos pelos autores citados e o presente levantamento se explicam por, no primeiro, terem sido realizados com base no total da amostra das produções e neste estudo, sobre o total de produções dos autores/co-autores com mais de 4 produções, sendo uma amostra temática mais restrita.

                Em relação à área de formação dos autores, Psicologia foi a que mais se destacou com 41% do total, seguido de Fonoaudiologia com 15,38%, Fisioterapia e Licenciatura em Educação Física com10,25%, Terapia ocupacional 7,69%, Ciências Sociais e Pedagogia 5,12%, Ciências Econômicas e Letras com 2,56%.  Bueno e Souza(2018) destaca em seu estudo a Psicologia (21,3%) e as áreas de saúde (6,8%): terapia ocupacional, fonoaudiologia, fisioterapia, enfermagem, medicina e atividade física como sendo as áreas que aparecem com maior destaque como sendo as de vínculo profissional dos pesquisadores.

                A Revista Brasileira de Educação Especial – RBEE tem sido fonte de pesquisa onde os pesquisadores destacam sua importância. Para Dias (2003, p. 4), a revista

    [...] tem cumprido a sua função de possibilitar a interação entre pesquisadores e profissionais que atuam com as pessoas com necessidades especiais e que buscam construir um sistema escolar para todos. Na análise realizada por Manzini (2003) foi possível notar que a Revista Brasileira de Educação Especial tem divulgado estudos sobre temas importantes para a área, inclusive semelhantes aos tratados nas dissertações e teses em Educação Especial. Mostra também que os artigos da revista têm produzido impacto sobre a produção em Educação Especial brasileira.

     

                Pletsch (2018, p.3) afirma que a RBEE tem sido um importante espaço para publicar artigos com resultados de pesquisa, ensaios e resenhas de livros. Por muito tempo, a RBEE foi o único periódico da area no Brasil (PLETSCH et al. 2018, p.3).

                Bueno e Souza (2018, p.48) finalizam seu estudo acerca da RBEE, ressaltando que

    a divulgação pela RBEE de artigos sobre a Educação Especial, como expressão da pratica social da produção de conhecimentos oriundos de pesquisa, envolve disputas teórico-práticas que, como toda e qualquer pratica social, embora possa abarcar subjetivismos e vaidades pessoais e de grupos, e, antes de mais nada, a busca incessante e continua que os pesquisadores da area efetuam da “autoridade cientifica”, que constitui o móvel essencial de nossas atuações no campo acadêmico. E isso, com certeza, não e pouco...

     

                Consideramos a Revista Brasileira de Educação Especial um espaço de disseminação e contribuição ao campo acadêmico, por meio da expressão da pesquisa e produção de conhecimento na área, expresso pelo significativo número de pesquisadores e publicações desde o surgimento da revista no ano de 1992 até os dias atuais, compondo, com os demais periódicos de Educação Especial existentes, uma estrutura que caracteriza o aspecto autônomo e dinâmico do campo acadêmico da Educação Especial.

            

     

    Considerações Finais

     

                A presente pesquisa apresentou como resultados os itens que destacamos: a) No período de 1992 a 2018 a Revista Brasileira de Educação Especial publicou 660 textos, por meio de 1340 pesquisadores, dos quais 39 destacaram-se como principais autores da revista. b) Do total de publicações, 37% caracterizaram-se por autores e 63% como co-autores; c) A região de maior concentração dos principais autores da RBEE foi a região Sudeste, seguida da região Sul;  d) Do total de pesquisadores, 816 publicaram 1 texto, enquanto 1 autor publicou 16 textos; e) Os temas Paralisia Cerebral, Família, Surdez, Comunicação Suplementar e Alternativa, Autismo, Deficiência física e Síndrome de down destacaram-se como temas mais pesquisados pelos principais autores; f) A Universidade Federal de São Carlos destacou-se como sendo a Instituição de origem dos principais autores, seguida da Universidade Estadual Paulista. Consideramos a Revista Brasileira de Educação Especial um espaço de disseminação e contribuição ao

                Por meio da análise da relação da Revista Brasileira de Educação Especial com a constituição do campo acadêmico da Educação Especial no Brasil, pudemos chegar a resultados importantes que expressam a importância da revista para o campo acadêmico da Educação Especial, pois caracteriza-se, junto a outras revistas existentes que tratam da temática, uma estrutura científica institucionalizada que contribui para a autonomia e constituição do campo acadêmico da Educação Especial no Brasil.

     

    Referências

    BONNEWITZ, P. Primeiras lições sobre a sociologia de P. Bourdieu. Petrópolis: Vozes, 2003.

    BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.

    BOURDIEU, P. La spécificité du champ scientifique et les conditions sociales du progrès de la raizon. Sociologie et sociétés, n.1. p.91-118, maio 1975.

    BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.

    BOURDIEU, P. Campo de poder, campo intelectual: itinerário de um concepto. Tucumán, Capital Federal: Montressor, 2002.

    BOURDIEU, P. Questões da sociologia. Lisboa: Fim de século, 2003.

    BOURDIEU, P. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004a.

    BOURDIEU, P. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004b.

    BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2004c. Coleção Estudos, 20.

    BOURDIEU, P. O campo econômico. Política & Sociedade. Florianópolis, v. 4, n. 6, p. 15-57, abr. 2005.

    BOURDIEU, P.; CHAMBOREDON, J.C; PASSERON, J.C. Ofício de sociólogo: metodologia da pesquisa na sociologia. Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

    BOURDIEU, P. O campo político. Revista Brasileira de Ciência Política. Brasília, n.5, p.193-216, jan./jul. 2011a.

    BOURDIEU, P. Homo academicus. 2. ed. Florianópolis: UFSC, 2017.

    BUENO, J. G. S. O aluno como foco de investigações sobre a escola: tendências das

    dissertações e teses defendidas nos programas de pós-graduação em educação - 1981/

    1998. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO, 12, 2004. Curitiba. Anais... Curitiba: ENDIPE, 2004. 1 CD-ROM.

    BUENO, J. G. S.; SOUZA, S. B. A Constituição do Campo da Educação Especial Expressa na Revista Brasileira de Educação Especial-RBEE (1992-2017). Revista Brasileira de educação especial, v. 24, n. spe, p. 33-50, 2018.

    DIAS, T. R. et al. Porque uma revista de educação especial: o início. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 9, p. 1-15, 2003.

    BUZETTI, M. C.; BARBOSA, R. S.; COSTA, M. P.  R. Análise das tendências temáticas de artigos publicados na Revista de Educação Especial: 2010–2013. Revista Educação Especial, v. 31, n. 61, p. 463-478, 2018

    GÓMEZ CAMPO, V.M.; TENTI FANFANI, E. Universidad y profesiones: crisis y alternativas. Buenos Aires: Miño y Dávila Editores, 1989.

    GRENFELL, M. Pierre Bourdieu: conceitos fundamentais. Petrópolis: Vozes, 2018. Tradução de Fábio Ribeiro.

    HAYASHI, M. C. P. I.; GONÇALVES, T. G. G. L. Estudo Bibliométrico dos Balanços da Produção Científica em Educacão Especial na Revista Brasileira de Educação Especial (1999-2017). Revista Brasileira de Educação Especial, v. 24, n. spe, p. 135-152, 2018.

    HEY, A. P. Fronteira viva: o campo acadêmico e o campo político no Brasil. Políticas públicas e educação: debates contemporâneos. Maringá: EDUEM, v. 1, p. 217-230, 2008a.

    HEY, A.P. Esboço de uma sociologia do campo acadêmico: a educação superior no Brasil. São Carlos: EduFSCar, 2008b.

    JESUS, D. M.; BAPTISTA, C. R. B. Educação Especial, pesquisa e inclusão escolar: brevepanorama de algumas trajetórias, trilhas e metas no contexto brasileiro. In: ___; VICTOR, S. L. Pesquisa e Educação Especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2006. p. 13-38.

    LAHIRE, B. Campo. In: CATANI, A.M. et al. Vocabulário Bourdieu. Belo Horizonte: Autêntica, 2017. p.64-65.

    MARQUES, L. P. et al. Analisando as pesquisas em educação especial no Brasil. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v. 14, n. 2, p. 251-272, 2008.

    MANZINI, E. J. et al. Análise de dissertações e teses em Educação Especial produzidas no Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESP, Marília (1993-2004). Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 2, p. 341-359, 2006.

    NUNES, L. R. O. P.; FERREIRA, J.R.; MENDES, E.G. A produção discente da Pós-graduação em Educação e Psicologia sobre o indivíduo com necessidades educacionais especiais. In: MENDES, E. G.; ALMEIDA, M.A.; WILLIAMS, L. C. A. (Orgs.) Temas em Educação Especial: avanços recentes. São Carlos: EDUFSCar, 2004. p.131-142.

    PLETSCH, M. D. et al. Revista Brasileira de Educação Especial: 25 anos de história1. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 24, n. SPE, p. 1-8, 2018.

    SUASNÁBAR, C.; PALAMIDESSI, M. Notas para uma história del campo de producción de conocimientos sobre educación em la Argentina. In: PALAMIDESSI, M.; SUASNÁBAR, C. GALARZA, D. (comps). Educación, conocimineto y política: Argentina, 1983-2003. Buenos Aires: Manantial, 2007. P.39-63.


    [1] Doutoranda em Educação e Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste. E-mail: rosanaccasagrande@hotmail.com

    [2]  Doutoranda em Educação pelo PPGE – Universidade Estadual de Ponta Grossa e docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste. E-mail: evellinefontana@hotmail.com

    [3] A pesquisa apontou para as demais Instituições e número de ocorrências por pesquisador: Pontifícia Universidade Católica (1); Universidade Estadual do Centro-Oeste (1); Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2); Universidade Federal do Espírito Santo (1); Universidade Federal do Pará (1); Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1); Universidade Metodista de Piracicaba (2); Universidade São Judas Tadeu (1); Universidade de São Paulo (1); Universidade Tuiutí do Paraná (2).

     

  • Palavras-chave
  • Campo acadêmico. Educação Especial. Revista Brasileira de Educação Especial.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Educação    Especial    
Voltar Download
  • História    e    historiografia    da    Educação        
  • Política    Educacional    e    Gestão    
  • Formação    de    professores 
  • Educação    Especial    
  • Ensino de Ciências e Matemática
  • Educação e Arte
  • Educação, cultura e diversidade
  • Educação e Tecnologia
  • Aprendizagem, desenvolvimento humano e práticas escolares
  • Tópicos Especiais em Educação

Comissão Organizadora

Érico Ribas Machado

Comissão Científica