OFICINA PEDAGÓGICA PARA FORMAÇÃO CONTINUADA: UMA PROPOSTA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
Renato Marcondes, PPGECEM – UEPG, renatomarcondes.renato@gmail.com
Carla Daeski de Andrade, PPGECEM – UEPG, carladaeski@gmail.com
Leila Inês Follmann Freire, PPGECEM – UEPG, leilaiffreire@gmail.com
Eixo 3 - Formação de Professores
Resumo: Observando-se a carência formativa dos professores da Educação Infantil sob os aspectos da Alfabetização Científica, evidenciados através da análise de um questionário via “Google Formulários” para investigação do perfil de formação inicial e continuada de professores da rede pública e privada de ensino, atuantes em creches, pré-escola e séries iniciais do ensino fundamental, da cidade de Ponta Grossa – PR; e em acordo com a Base Nacional Comum Curricular, este trabalho pretende apresentar uma proposta educacional para formação continuada no formato de uma Oficina Pedagógica intitulada “O Pensar Investigativo na Educação Infantil”. No texto são apresentadas as perspectivas formativas e os entendimentos sobre a Alfabetização Científica dos professores participantes da pesquisa de levantamento que levaram à proposição da oficina.
Palavras-chave: Base Nacional Comum Curricular; Oficina Pedagógica; Formação Continuada.
Introdução
As pesquisas de Brando, Andrade e Marques (2007), apontam que a formação inicial dos professores da Educação Infantil (EI) não possibilita que alguns conhecimentos necessários para a prática educativa sejam abordados com profundidade, como é o caso dos conceitos científicos, pois a socialização, o desenvolvimento pedagógico e social dos alunos, bem como a alfabetização (na perspectiva da apropriação do sistema alfabético de escrita) e matemática são priorizados.
Inicialmente foi realizada uma pesquisa, através da plataforma “Google Formulários”, com cinquenta professores da rede pública e privada de ensino, atuantes em creches, pré-escola e séries iniciais do ensino fundamental, da cidade de Ponta Grossa – PR, que evidencia resultados semelhantes aos supracitados por Brando, Andrade e Marques (2007). Quando questionados quanto à sua formação inicial e o Ensino de Ciências (EC), observa-se que apenas 40% dos sujeitos responderam a questão, sendo que 70% das respostas afirmaram não ter nenhuma formação relacionada ao EC, 20% tiveram alguma formação na graduação e 10% através de outras modalidades, sendo que tal problemática pode ser evidenciada na seguinte passagem “Já ouvi falar muito sobre letramento nas formações e até mesmo na pós, mas não letramento científico, porém entendo que a uma diferença entre a criança letrada e a alfabetizada”.
Portanto, a temática do ensino de ciências na EI é um assunto que vem ganhando espaço para discussões, destacando-se as muitas lacunas a serem enfrentadas (CALDEIRA, BASTOS, 2002, p. 209 apud BRANDO, ANDRADE, MARQUES, 2007).
Alfabetização Científica
Sendo uma destas lacunas o trabalho do EC sob a perspectiva da Alfabetização Científica (AC), que tem por objetivo possibilitar ao aluno situações em que possa dar significados e/ou ressignificar a sua compreensão de mundo, por meio de suas interpretações e descobertas dos fenômenos presentes à sua volta (SASSERON; CARVALHO, 2011).
Quando os professores que responderam o formulário foram questionados sobre a AC, observou-se que 66% não possuíam conhecimento sobre o termo, ocorrendo descrições como “alfabetizar é ensinar a ler. Em contra partida, 94% dos entrevistados acreditam ser possível desenvolver atividades na perspectiva da AC na EI, mesmo sem uma clara compreensão do assunto.
Neste sentido, as atividades de formação continuada podem contribuir para que os professores possam conhecer, desenvolver e/ou se atualizar em relação aos conhecimentos científicos, como é evidenciado por Pimenta (1996) quando descreve que a formação continuada dos professores deve ser pensada dentro do contexto escolar, para que realmente atinja a sua finalidade de aperfeiçoar a formação docente.
Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
A BNCC apresenta 10 competências gerais, que visam o processo de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos e a formação humana integral para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. E com relação ao EC destacamos a segunda competência, por considerá-la importante para a perspectiva de trabalho que desenvolvemos:
Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.(BRASIL,2017, p. 9).
Desta elencamos o elemento da investigação para desenvolver esta pesquisa, por perceber sua relação com a AC. Evidenciamos que os profissionais atuantes na EI apresentam uma carência quanto à formação no viés da AC, e consequentemente no que se refere à segunda competência apresentada na BNCC.
Portanto, objetiva-se propor uma atividade de formação continuada, no formato de Oficina Pedagógica (PAVIANI, FONTANA, 2009), para professores que atuam na EI, tendo em vista a segunda competência da BNCC, sob uma perspectiva da AC.
A proposta: Oficina Pedagógica “O Pensar Investigativo na Educação Infantil”
O contexto de formação inicial e continuada dos professores entrevistados demonstrou que 84% são formados em Pedagogia, 6% em outra graduação e 10% não possuem formação superior. Apenas 72% possuem curso de pós-graduação, sendo deste percentual 94,3% na modalidade Latu-Sensu Especialização e 5,7% Scrito-Sensu Mestrado/Doutorado. Portanto, desenvolvemos a oficina pedagógica como uma ação para resolução do problema observado na formação inicial e continuada dos professores que atuam na EI, em função também da competência elencada na BNCC.
A oficina pedagógica tem por título “O pensar investigativo na Educação Infantil”, com os objetivos de fomentar o conhecimento teórico sobre o pensamento investigativo e a AC voltado para a EI; e, apresentar aos participantes, atividades práticas que proporcionem o pensamento investigativo aos alunos da educação básica. Em um primeiro momento teórico serão realizadas discussões pertinentes a construção da infância (KISHIMOTO, 2011) e aspectos cognitivos da aprendizagem da criança (PIAGET, 2002), a AC (SASSERON, CARVALHO, 2011) e competências do pensamento investigativo. O momento prático da oficina pedagógica será constituído de oito atividades desenvolvidas com os participantes, pensadas para aplicação na faixa etária de ensino em que atuam os docentes, levando-se em consideração a idade, manuseio de materiais, compreensão dos fatos evidenciados, possibilidade de condução de questionamentos investigativos pelos professores e segurança. A concepção que estrutura as atividades pode ser descrita como:
Muitos educadores questionam-se sobre os conteúdos que devem ser abordados na educação infantil, desconhecendo que a importância educativa das ciências, não reside tanto nos conteúdos que a criança aprende, mas antes nas competências de pensamento e ação que desenvolve. (HARLEN, 1988, apud FIALHO, 2007).
Pensando-se na competência de pensamento investigativo, que está intrinsecamente ligada à segunda competência descrita na BNCC e a AC, pode-se fomentar uma possível triangulação capaz de suprir as demandas ao processo de ensino dentro da EI. Apresentamos abaixo as propostas das atividades práticas destinadas a oficina pedagógica, que serão desenvolvidas com professores em formação continuada, com o intuito de que os mesmos compreendam o processo de como utilizá-las com seus respectivos alunos.
Dentre as atividades propostas, destacamos: Fruta que muda de cor; Desenho Mágico; Separando as Cores; Explosão das Cores; Flores Coloridas; Slime; Bolha Gigante; Diário de um Cientista.
Considerações
Com base nas respostas obtidas nos questionários ressaltamos a necessidade de propostas de formação continuada sob o viés da AC na EI, contemplando assim, também as especificidades da BNCC. A oficina proposta abarca as duas necessidades em uma única ação, especialmente no que tange ao pensamento investigativo, elemento importante para o desenvolvimento das crianças na faixa etária da educação infantil.
Referências
BRANDO, F. R.; ANDRADE, M. B. S.; MARQUES, D. M. Formação de professores de educação infantil para o ensino de ciências. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 6., 2007, Florianópolis. Anais [...]. Florianópolis: UFSC. Disponível em: http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/vienpec/CR2/p612.pdf.Acesso em: 17 abr. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 19 abr. 2019.
FIALHO, I. A ciência experimental no jardim de infância. 2007. Disponível em: https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/5093/1/Texto%20CIANEI.pdf.Acesso em: 17 abr. 2019.
KISHIMOTO, T. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez. 2011.
PAVIANI, N. M. S.; FONTANA, N. M. Oficinas Pedagógicas: Relato de uma experiência. Conjectura, v. 14, n. 2, p. 77-88, mai./ago. 2009. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/view/16. Acesso em: 17 abr. 2019.
PIAGET, J. Epistemologia Genética. Tradução de Álvaro Cabral. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 123 p.
PIMENTA, S. G. Formação de professores – Saberes da docência e identidade do professor. Revista Faculdade de Educação, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 72-89, jul./dez. 1996. Disponível em: http://www.periodicos.usp.br/rfe/article/view/33579/36317. Acesso em: 17 abr. 2019.
SASSERON, L. H.; CARVALHO, A. M. P. Alfabetização Científica: Uma revisão bibliográfica. Investigação em Ensino de Ciências, v. 16, n. 1, p. 59-77, 2011. Disponível em: https://www.if.ufrgs.br/cref/ojs/index.php/ienci/article/view/246. Acesso em: 10 abr. 2019.
Comissão Organizadora
Érico Ribas Machado
Comissão Científica