Introdução: A Organização Mundial de Saúde (OMS) define tentativa de suicídio como um ato de consequências não fatais no qual o indivíduo inicia deliberadamente um comportamento que lhe causará danos. O uso de medicamentos foi apontado como um dos principais meios de intoxicação para o suicídio no Brasil, correspondendo a um total de 17,7%, dos óbitos levando em consideração que quase 80% dessas mortes concentram-se nas cidades de baixa e média rendas. De acordo com o Ministério da Saúde/Secretaria de Vigilância em Saúde, no período de 2013 - 2022, a taxa de mortalidade por suicídio na faixa etária de 10-14 anos, foi de 25.339; para o grupo de 15-19 anos, foi de 80.527 e essa taxa foi ainda maior para a faixa de 20-39 anos: 191. 466. Logo, é importante destacar que as intoxicações medicamentosas exógenas, com o propósito de tentativa de suicídio, ocupam um lugar importante nas ocorrências emergenciais, correspondendo a 70% dos casos, ocorridos no período analisado, sendo relatadas 319.608 tentativas, com destaque para o uso abusivo de fármacos psicotrópicos, antidepressivos e, principalmente, os ansiolíticos. Além disso, a notificação de violência autoprovocada, que compreende autoagressão e tentativa de suicídio precisam de notificação compulsória, pois a mesma contribui para a comunicação e difusão de dados entre os órgãos responsáveis pelos sistemas de informação, justificando a necessidade de ações de informação e mobilidade social em todos os níveis, principalmente entre os profissionais da saúde. Objetivos: Descrever a prevalência de tentativa de suicídio por medicamentos na população brasileira nos últimos 10 anos a fim de melhorar a abordagem emergencial. Metodologia: Estudo ecológico descritivo realizado mediante coleta de dados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), vinculado ao Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) em dezembro de 2023. Foram inclusas as notificações, por meio das fichas de investigação dos casos de “Intoxicações Exógenas”, para tentativa de suicídio por medicamento no período de 2013 a 2022. Variáveis utilizadas: faixa etária, gênero, raça, evolução e região brasileira. Foram excluídos da análise informações anteriores a 2013, assim como os registros com características ignorada, em branco ou outros. Resultados: Durante esses 10 anos analisados, houve um total de 410.039 notificações para tentativa de suicídio com diversos agentes tóxicos, sendo 83,4% por medicamentos, isto é, 342.025 casos. Destas tentativas, 2.430 delas atingiram o propósito predominando no sexo feminino (1.631 óbitos), na faixa etária entre 20 e 39 anos (975 óbitos) e na raça branca (1.365 óbitos). O ano com a maior notificação foi em 2022 (58.553 casos), entretanto é visível uma projeção dos casos a partir de 2013 até 2019, com queda em 2020 e elevação, novamente, nos anos posteriores. A representação de notificações por ano: 2013 (15.643 casos); 2014 (17.705 casos); 2015 (17.963 casos); 2016 (19.144 casos); 2017 (29.778 casos); 2018 (40.210 casos); 2019 (56.214 casos); 2020 (41.210 casos); 2021 (45.605 casos); 2022 (58.553 casos). A maior taxa por região ao longo do período estudado ocorreu no Sudeste (173.499 casos), seguido pela região Sul (93.328 casos), Nordeste (43.831 casos), Centro-Oeste (23.894 casos) e, por último a região Norte (7.473 casos). A condição é prevalente nos adultos, com 232.877 notificações, principalmente entre 20 e 39 anos, correspondendo à aproximadamente, 50% dos casos (168.345 notificações). A apresentação por raça mais predominante é a branca com 191.216 tentativas de suicídio, seguida pela parda (128.976 casos), preta (18.537 casos), amarela (2.565 casos) e indígena (731 casos). Em relação ao sexo, o feminino (266.012) apresenta mais notificações. Apesar da tentativa de suicídio ser expressiva, 95% dos pacientes recuperam-se da intoxicação medicamentosa e ficam sem sequelas. Os outros 5% ou evoluem para óbito pela própria intoxicação ou por outras causas associadas em consequência da intoxicação; outros pacientes são salvos, mas permanecem com sequelas e, muitos têm desfechos desfavoráveis em virtude da perda de seguimento clínico psiquiátrico. Considerações Finais: Diante da análise da prevalência de tentativas de suicídio por medicamentos, na população brasileira, nos últimos 10 anos, torna-se evidente o significativo impacto causado, uma vez que tal condição revela uma preocupante tendência de aumento, atingindo seu pico em 2022. A predominância dessas tentativas, especialmente entre adultos de 20 a 39 anos e do sexo feminino, destaca a necessidade urgente de estratégias preventivas direcionadas a esses grupos, considerando ainda as variações regionais, com destaque para o Sudeste. Apesar do desafio, a eficácia das intervenções emergenciais, que resultam em recuperação sem sequelas, em 95% dos casos, sugere a importância contínua dessas abordagens. Entretanto, é necessário atuar também na prevenção das tentativas por meio de uma saúde assistencialista mais eficaz. Contudo, é crucial reconhecer as limitações dos dados do SINAN, incluindo as subnotificações e falhas nos registros, que podem distorcer a compreensão completa desses episódios. Por isso, o aprimoramento dos sistemas de notificações e os estudos aprofundados são fundamentais para melhor compreender e abordar a complexidade desse desafio da saúde pública.
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