INTRODUÇÃO
A transmissão de microrganismos nos ambientes nosocomiais e ambulatoriais continua constituindo um desafio para a saúde pública mundial. Vários gêneros bacterianos e fúngicos são responsáveis por infecções nosocomiais. O ambiente hospitalar e as superfícies inanimadas que cercam o paciente apresentam íntima relação com infecções hospitalares e podem constituir focos de contato e de transmissão de elementos microbianos. Os focos infecciosos são representados por indivíduos doentes ou colonizados, ou ainda pelo próprio ambiente insalubre (ANVISA, 2004; MAHL & ROSSI, 2017, COELHO et al., 2017). Os microrganismos patogênicos contidos nestes locais podem sobreviver por longos períodos no ambiente à espera de uma oportunidade para infectar um hospedeiro susceptível (FERREIRA et al, 2013).
Os colchões e macas dos hospitais são objetos inanimados que entram em contato com o corpo dos pacientes e podem conter sujidades inorgânicas ou orgânicas, além de microrganismos causadores de infecções, fator que determina a possível contaminação por agentes patogênicos oriundos de pessoas que utilizam ou manipulam estes equipamentos. Tais fatos fortalecem a convicção de que estes colchões podem albergar microrganismos patogênicos, inclusive aqueles resistentes aos antimicrobianos (FERREIRA et al., 2011).
O presente estudo teve como objetivo isolar e identificar os elementos bacterianos contaminantes da superfície das macas de exames e procedimentos no ambulatório da Clínica-Escola de Fisioterapia do Centro Universitário UNIABEU, Rio de Janeiro, Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram analisadas amostras coletadas na superfície de 60 macas do ambulatório de especialidades da Clínica-Escola de Fisioterapia do Centro Universitário UNIABEU. As coletas foram realizadas com o uso de suabes estéreis umedecidos em solução fisiológica, que foram friccionados em movimentos de ziguezague por toda a superfície de cada unidade das macas usadas na rotina dos procedimentos fisioterapêuticos do Clínica-Escola. O material coletado após a rotina e antes da desinfecção foi em seguida semeado em tubos contendo o meio de cultura de Brewer, e incubados em estufa bacteriológica (±37oC) por 24 horas. O crescimento obtido foi repicado para placas de Petri contendo os meios de cultura: ágar-sangue, Teague, ágar-cetrimide e ágar-sal-manitol. As placas foram incubados a 37oC por 24 horas e o crescimento obtido foi identificado por caracteres morfotintoriais, face ao método de Gram, provas biológicas e bioquímicas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados demonstraram que as macas da Clínica-Escola de Fisioterapia do UNIABEU Centro Universitário estavam contaminadas com diferentes espécies microbianas. A totalidade das macas examinadas estavam contaminadas por bactérias (100%). Foram isoladas as seguintes bactérias: Staphylococcus coagulase-negativa 41 (68,33%), Staphylococcus aureus 8 (13,33%), Enterococcus spp. 17 (28,33%), Streptococcus ?-haemoliticus 10 (16,67%), Enterobacter spp. 6 (10%), Pseudomonas aeruginosa 3 (5%), Escherichia coli 2 (3,33%), Klebsiella spp. 2 (3,33%), Bacilos Gram-negativos não fermentadores 8 (13,33%) e Bacillus spp. 12 (20%) (Tabela 1).
Tabela 1 – Total de amostras isoladas por espécies bacterianas da superfície de 60 macas de atendimento da Clínica-Escola de Fisioterapia do UNIABEU Centro Universitário.
Ainda que a importância da pesquisa das contaminações microbianas em superfícies fixas na epidemiologia das infecções hospitalares e ambulatoriais seja notória, poucas publicações foram encontradas sobre a importância do monitoramento microbiológico e higienização das macas em ambiente hospitalar. Segundo os pesquisadores Honorato (2009) e Coura (2013), convivemos diariamente em contato com uma grande quantidade de gêneros e espécies de microrganismos, a maioria deles inofensivos e que não agridem indivíduos saudáveis, mas que em pacientes imunocomprometidos podem se tornar agressivos. No ambiente hospitalar encontram-se pacientes imunocomprometidos, tornando este ambiente um local de risco quanto aos níveis de contaminação microbiana. Pacientes com doenças de base como câncer, desnutrição, infecções ou condições debilitantes ou procedimentos que incluem cirurgias, intubação, transplantados, tratamento prolongado com certos medicamentos são mais vulneráveis às infecções por microrganismos oportunistas. A correta manutenção da higiene em ambulatórios de assistência à saúde e em ambientes hospitalares é o principal procedimento para o controle dos níveis de contaminantes microbianos. O procedimento ideal seria que no ato da limpeza do ambiente fosse completamente esterilizado. Entretanto, em condições reais, este ato é inviável, especialmente devido à utilização intensa e contínua dos ambientes hospitalares. Sendo assim, deve-se buscar por uma maior efetividade nos processos de limpeza, a fim de aumentar a segurança do ambiente quanto à possibilidade de transmissão de agentes patogênicos para o paciente (HONORATO, 2019; COURA, 2013). Nossos resultados demonstram que, assim como prognosticam estes autores, deve-se buscar por procedimentos de desinfecção mais efetivos, uma vez que foram demonstrados potenciais patógenos contaminando as superfícies das macas.
Carrasco e Lozano (2017) comentaram que espécies do gênero Staphylococcus patogênicos ou não são representantes bacterianos colonizadores da pele e mucosas íntegras de seres humanos. Durante os procedimentos ambulatoriais, o paciente executa seus processos fisiológicos de vomitar, tossir, espirrar, falar, coçar-se. Com estes e outros procedimentos, haverá a liberação de bactérias que se dispersam e podem contaminar qualquer ambiente do complexo hospitalar. Consideramos que, além dos processos citados pelos autores, o contato direto dos pacientes e profissionais de saúde com as superfícies das macas é uma das principais formas de contaminação deste mobiliário hospitalar, tanto por espécies do gênero Staphylococcus como por demais gêneros bacterianos que colonizem a pele dos usuários deste equipamento.
Os pesquisadores e Oliveira et al. (2013) comentaram que bactérias de importância epidemiológica têm sido isoladas em vários locais do ambiente hospitalar. Os autores destacaram que embora seja difícil quantificar o potencial risco de infecção por patógenos no ambiente hospitalar, é evidente que estes locais constituem reservatórios de bactérias com diversos graus de resistência a medicamentos. A contaminação de superfícies hospitalares constitui um risco para a transmissão de patógenos aos pacientes internados e profissionais de saúde que interajam neste ambiente.
Silva et al. (2016) realizaram uma pesquisa em material oriundo de 11 colchões para verificar a possibilidade de contaminação por bactérias do gênero Staphylococcus, que foram encontradas em todos os colchões examinados. Concluíram que a presença de qualquer espécie de bactérias patogênicas em superfícies hospitalares representa um risco para a saúde. Concordamos com as afirmações de Silva et al. (2016), destacando que o mobiliário hospitalar que serve para uma maior rotatividade de pacientes, como macas, deva receber atenção especial quanto à sua desinfecção frequente.
Uma pesquisa sobre a contaminação de superfícies em unidades de terapia intensiva de dois hospitais públicos no Brasil foi conduzida- pelo grupo de pesquisadores Costa et al. (2019). Os autores relataram que os colchões das macas foram o segundo lugar com maior carga microbiana (1-0 x 105 por cm2), inferior apenas à parte interna das mamadeiras destinada a recém-nascidos. Encontraram espécies dos seguintes gêneros bacterianos: Staphylococcus, Streptococcus, Corynebacterium, Acinetobacter, Pseudomonas e Paracoccus, entre outros. Embora utilizando métodos diferentes, muitos dos gêneros encontrados em nossa pesquisa foram coincidentes com a pesquisa de Costa et al. (2019).
Com a finalidade de garantir a segurança da saúde dos pacientes dependentes dos serviços de saúde, a Agência Nacional de Segurança Sanitária do Brasil – ANVISA (2004) elaborou um manual de instruções necessárias para serem executadas pelas instituições responsáveis pela preservação da saúde. Esse manual orienta quanto à desinfecção e esterilização em estabelecimentos de saúde e determina que a limpeza das superfícies deve consistir na remoção de sujidades depositadas utilizando-se de meios mecânicos, químicos ou físicos e a desinfecção. A eliminação térmica ou química destrói a maioria dos microrganismos patogênicos, mas não necessariamente todas as formas de vida microbiana. Concordamos com as indicações da ANVISA, porém bactérias oportunistas são mais resistentes a vários processos de desinfecção e constituem um risco a pacientes com déficit de imunidade, conforme assinalaram Honorato (2009) e Coura (2013), que recomendaram que a higienização do setor de assistência à saúde do paciente deva remover sujidades e resíduos usando agentes germicidas com fricção para a remoção total de contaminantes. Com essa prática, dificulta-se a dispersão dos agentes microbianos que se encontravam aderidos nas superfícies das macas, colchões e mobiliários. Portanto, se houver falhas no processo de desinfecção das superfícies, apenas espalham as sujidades de um lugar para outro e os microrganismos contaminantes permanecem nas superfícies, com a persistência da fonte de contaminação. Concordamos com as recomendações destes autores e sugerimos que essas informações sejam passadas para os profissionais de saúde na retificação dos seus hábitos com a finalidade de minimizar os níveis de infecção hospitalar ou ambulatorial, tanto pelo contato direto com os pacientes como pela manipulação de objetos inanimados que sejam potenciais fontes de infecção nos setores de assistência aos pacientes. Creamer e Humpheys (2007) propõem ainda rotinas ainda mais restritas, recomendando que o leito hospitalar recém-desocupado após ser submetido a higienização deve ser protegido com uma capa para evitar a recontaminação e deve ser identificado com um aviso indicando que esse leito foi descontaminado e a data do ocorrido. Esses autores comentaram ainda que não se pode deixar de considerar o que ocorre nos hospitais que, em consequência da alta rotatividade e deficiência de leitos, quando desocupados são imediatamente ocupados por outros pacientes e, devido à urgência, nem sempre ocorre a limpeza, fato este de grande relevância na transmissão de agentes patogênicos no ambiente hospitalar.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela análise dos resultados, concluiu-se que as superfícies das macas estavam contaminadas com bactérias patogênicas e oportunistas, sendo que as patogênicas são possíveis fontes de contaminação. Foi constatado que 100% das macas da Clínica-Escola de Fisioterapia do UNIABEU Centro Universitário estavam contaminadas por elementos bacterianos. Essa colonização em macas de procedimentos indica a ausência ou deficiência de desinfecção das superfícies. Recomenda-se uma higienização eficiente nos intervalos de atendimento aos usuários.
REFERÊNCIAS
CARRASCO, I. R. Z.; LOZANO, J. C. Cultivos ambientales y de superficie: una estratégia de detección oportuna de infecciones nosocomiales. Revista LatinoAmericana de Infectología y Pediatría, v. 4, p. 147-150, 2017
COELHO, A. S.; MADEIRA-OLIVEIRA, J. T.; PERESTRELO, M. F.; COELHO-JÚNIOR, E. S.; BARRADAS, N. A. Fungal elements isolated from stretchers of the Clinic of the UNIABEU University Center Physiotherapy School. International Journal of Science and Research Publications, v. 7, n. 9, p. 227-229, 2017.
COSTA, D. M.; JOHANI, K.; MELO, D. S.; LOPES, L. K. O.; LOPES-LIMA, L. K. O.; TIPPLE, A. F. V. Biofilm contamination of high-touched surfaces in intensive care units: epidemiology and potential impacts. Letters of Applied Microbiology, v. 68, p. 269-276, 2019.
COURA, J. R. Dinâmica das Doenças Infecciosas e Parasitárias. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
CREAMER, E.; HUMPHREY, S. The contribution of beds to healthcare-associated infection: the importance of adequate decontamination. Journal of Hospital Infectology, v. 69, p. 8-23,. 2008.
FERREIRA, A. M.; ANDRADE, D.; ALMEIDA, M. T. G.; CUNHA, K. C.; RIGOTTI, M. A. Egg crater mattresses: a deposit of methicillin resistant Staphylococcus aureus. Enfermagem USP, v. 45, n.1, p. 161-166, 2011.
FERREIRA, A. M.; BARCELOS, L. S.; RIGOTTI, M. A.; ANDRADE, D.; ALMEIDA, M. G. Superfícies do ambiente hospitalar: um possível reservatório de microrganismos subestimados?. Revista de Enfermagem UFPE, v. 7, p. 4171-4182, 2013.
HONORATO, G. M. Verificação de fungos anemófilos na UTI do Hospital Santa Lucinda (Sorocaba/SP) antes de depois da sua limpeza. Revista Eletrônica de Biologia, v. 2, n. 3, p. 19-31, 2009.
MAHL, S.; ROSSI, E. M. Susceptibilidade antimicrobiana de bactérias isoladas de colchões hospitalares. Revista Brasileira de Análises Clínicas, v. 49, n. 4, p. 371-375, 2017.
OLIVEIRA, A. C.; VIANA, R. E. H.; DAMASCENO, Q. S. Contaminação de colchões hospitalares por microrganismos de relevância epidemiológica: uma revisão integrativa. Revista de Enfermagem UFPE, v. 7, n. 1, p. 236-245, 2013.
SILVA, E. P.; CARREIRO, M. A.; GOMES, R. C. Metodologia para a identificação de Staphylococcus spp na superfície de colchão da maca no pronto-socorro. Revista Pró-Universus, v. 7, n. 3, p. 15-19, 2016.
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