AS DIFICULDADES DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM FRENTE A PANDEMIA DE COVID-19
INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou em março de 2020 a pandemia de COVID-19. Frente a isso, o mundo se deparava com um vírus de alta contaminação que causa sérios problemas como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Soares et al., 2020). Segundo o Ministério da Saúde (MS) (BRASIL, 2020), mais de 4.558.068 casos já foram registrados e 137.272 mortes foram confirmadas até o dia 22 de setembro de 2020.
Segundo Moreira et al. (2020), a pandemia que vivenciamos hoje se iniciou em Wuhan, na China, em dezembro de 2019. O novo coronavírus é um agente etiológico do tipo SARS-COV-2, nomeado de COVID-19. Ele acarreta uma Síndrome Respiratória Aguda Grave com um alto índice de mortalidade que ocorre devido a danos alveolares maciços e Insuficiência Pulmonar Progressiva. Antes do COVID-19 tivemos mais dois vírus com um potencial epidêmico, um que ocorreu em 2002, a SARS-COV (Síndrome Respiratória Aguda), e em 2012, a MERS-COV (Síndrome Respiratória do Oriente Médio).
Até o momento, a OMS relatou no mundo 30,6 milhões de casos de COVID-19 e 950 mil mortes. Na semana do dia 14 a 20 de setembro surgiu por volta de 2 milhões de novos casos, o que mostra um aumento de 6% mediante a semana anterior. Este é o maior número registrado dentro de uma semana desde o início da pandemia. Ainda nesse período, tivemos uma redução de 10% no número de mortes, sendo notificadas 36.764 mortes (WHO, 2020).
De acordo com os dados, o vírus está se mostrando com uma alta capacidade de transmissão, sobrecarregando o sistema de saúde e os profissionais, além de apresentar risco para a equipe de enfermagem (SILVA; RIBEIRO, 2020). Conforme dados publicados em 22 de setembro de 2020 pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN, 2020), mais de 20 mil profissionais de enfermagem já foram infectados e 395 faleceram. Esses dados representam uma letalidade 1,96% dos profissionais.
Frente ao cenário vivenciado, este estudo tem o objetivo de identificar as dificuldades que os profissionais de enfermagem têm enfrentado para prestar uma assistência adequada frente a pandemia de COVID-19.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa, empregando uma perspectiva descritiva de dados já publicados acerca do tema.
A busca bibliográfica foi realizada em bases de dados, como a Biblioteca Virtual em Saúde e SciELO, por estudos publicados na língua portuguesa, utilizando as seguintes palavras-chave: “Assistência de enfermagem”, “COVID-19” e “Pandemia”. Além disso, foram realizadas buscas em sites do Ministério da Saúde e do Conselho Federal de Enfermagem. O recorte temporal foi aplicado ao ano de 2020.
DESENVOLVIMENTO
Devido a pandemia de COVID-19, a equipe de enfermagem encontra-se sobre normas bem rígidas para que cumpram a assistência de uma forma mais segura e eficaz, trabalhando de forma coerente e consciente. Com o alto índice de letalidade do vírus, devido as várias mortes prematuras, impõe ao profissional de saúde a prestação de serviço com uma maior competência (SILVA; RIBEIRO, 2020).
Diante desse cenário, sabe-se que a enfermagem vem enfrentando problemas na prestação de uma assistência de qualidade devido a alguns fatores como o alto fluxo de pessoas, a falta de profissionais capacitados, os riscos do próprio ambiente de trabalho, o medo da autocontaminação e contaminação da família, a pressão emocional e psicológica sofrida e a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI).
Há um alto número de pessoas que procuram por cuidados em hospitais e postos, além da procura para testagem da COVID-19, e o enfermeiro acaba tendo um maior fluxo de pessoas para serem atendidas, dentre estas, pessoas com uma maior demanda em cuidados especiais, de alta complexidade e isso gera um impacto direto na vida desse profissional de saúde. E perante essa situação, a mesma levará a um desgaste emocional e físico muito grande no ambiente de trabalho (SILVA; RIBEIRO, 2020).
Segundo Silva e Ribeiro (2020), os enfermeiros estão enfrentando uma situação que demanda muita responsabilidade na prestação de serviço, porque há uma grande necessidade de profissionais que tenham capacitação para prestar esse cuidado. Porém, muitos não tem capacitação para fornecer um cuidado a pacientes críticos e, com isso, acaba demandando uma maior pressão e sobrecarga aos que não possuem qualificação. Tudo isso influenciará na instabilidade emocional do enfermeiro, podendo ocasionar inclusive a Síndrome de Burnout.
Ao longo de sua formação, o enfermeiro deve ser preparado para atuar em todos os aspectos na assistência, gestão, educação e pesquisa. Além disso, um quinto aspecto de atuação que vem sendo discutido é a política. Faz-se necessário a introdução e a vivência de todas essas variáveis no trabalho do enfermeiro para assim ter um melhor processo de formação (GEREMIA et al., 2020).
Contudo, para além da atenção ao processo de formação profissional, Silva e Ribeiro (2020) destaca as implicações emocionais relacionadas a pandemia. A aproximação do enfermeiro com o paciente gera um medo ao profissional de autocontaminação e medo de ser transmissor da doença, principalmente quando estes voltam para as suas casas e convivem com a sua família, gerando um enorme desgaste e preocupação. Essa preocupação acaba sendo a realidade dos profissionais que estão à frente na assistência, sejam estes considerados casos suspeitos ou confirmados. Então, além de viverem em um momento com alto número de atendimentos, os profissionais de enfermagem trabalham com a incerteza da doença e de sofrerem as suas consequências.
Com base na tabela abaixo (COFEN, 2020), 38.757 profissionais de enfermagem estão de quarentena devido ao COVID-19, sendo 19.478 casos confirmados, 4.342 ainda não confirmados e 14.937 casos suspeitos.
Tabela1 – Profissionais infectados com Covid-19 informado pelo serviço de saúde (COFEN, 2020).
Fonte: Observatório da Enfermagem (COFEN, 2020). Acesso em: 22 Set. 2020
Ainda com base na tabela acima, é possível fazer uma leitura dos casos em que a internação fez-se necessária para estes profissionais. Foram realizadas 251 internações de casos confirmados e 224 internações de casos suspeitos, totalizando 475 profissionais de enfermagem que precisaram ser internados (COFEN, 2020).
Esses dados do COFEN (2020) mostram um alto índice de profissionais de enfermagem que estão sofrendo com essa doença. Até 22 de setembro de 2020, o COFEN publicou a ocorrência de mais de 20 mil casos confirmados e 395 óbitos em decorrência da COVID-19, além de 34 óbitos ainda em investigação.
Desse modo, a equipe de enfermagem tem se colocado em risco para salvar a vida de outras pessoas. Percebe-se que existem vários problemas relacionados a prestação de serviço do enfermeiro e a qualidade de vida no trabalho, e isso não fez com que estes profissionais se escondessem. Desde o início, eles foram trabalhar na linha de frente e, muitas vezes, essa realidade não fica visível no dia a dia. Essa atuação na pandemia ressalta a importância do trabalho da enfermagem, para além desse cenário (SILVA; RIBEIRO, 2020).
Consonante, Soares et al. (2020) também alertam que um fator importante, intimamente relacionado à segurança da assistência de enfermagem, é o uso adequado do Equipamento de Proteção Individual. Com o seu uso, os riscos de contaminação pelo coronavírus podem ser diminuídos, pois funciona como uma barreira física contra as gotículas respiratórias. Porém, um grande problema é a falta de EPI’s devido à grande demanda, altos custos e a qualidade duvidosa dos produtos. Então, os compradores precisam analisar todos esses critérios para saber qual o melhor custo e qualidade na hora da compra, gerando uma demora que resulta na falta desses materiais. A falta, por sua vez, acarreta em uma falha na proteção da equipe, causando uma possível contaminação, como também a paramentação e desparamentação errada do EPI.
Dessa forma, a equipe deve estar orientada, capacitada e disposta a usar os EPI’s. Recomenda-se a estes profissionais o uso de batas cirúrgicas (avental), luvas, máscara cirúrgica e óculos de proteção. As orientações para o uso correto, manutenção e sobreposição dos EPI’s devem ser dadas aos profissionais e o empregador deve estar ciente de seus deveres e obrigatoriedades com relação a oferta e capacitação (SOARES et al., 2020).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos fatos expostos nesse estudo, o profissional que está na linha de frente acaba se tornando mais exposto ao vírus. Além disso, o alto número de atendimentos exigem um profissional bem preparado. Com essa perspectiva, a formação dos profissionais de enfermagem deve ser mais ampla e qualificada para que estejam preparados para assumir todas as funções em um momento de crise, como o vivenciado atualmente.
Com a pandemia, outro aspecto que se torna presente é o desgaste emocional sofrido por eles, que pode ocasionar diversos problemas a curto, médio e longo prazo. Assim, percebe-se como um acompanhamento psicológico nesse momento se faz importante.
A partir desse estudo, é possível identificar outra dificuldade enfrentada, como a falta de EPI’s, motivo de grande preocupação, haja vista que estes impedem a contaminação do profissional e sem eles se torna impossível o trabalho dos enfermeiros de forma segura.
Por fim, conclui-se que o profissional de enfermagem se arrisca diariamente para prestar uma assistência segura e de qualidade aos pacientes, mesmo diante de todas as dificuldades expostas. E mediante a esse fato, é necessário dar mais visibilidade às lutas dessa categoria profissional, na intenção de melhorar suas condições de trabalho na luta diária para uma assistência de saúde melhor para todos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Painel de casos de doença pelo coronavírus 2019 (COVID-19) no Brasil pelo Ministério da Saúde. Brasília: 2020. Disponível em: <https://covid.saude.gov.br/>. Acesso em: 22 de Set. 2020.
COFEN. Conselho Federal de Enfermagem. Observatório da Enfermagem. Profissionais infectados com Covid-19 informado pelo serviço de saúde. Disponível em: <http://observatoriodaenfermagem.cofen.gov.br/>. Acesso em: 23 de Set. 2020.
GEREMIA, D.S.; VENDRUSCOLO, C.; CELUPPI, I.C.; SOUZA, J.B.; SCHOPF, K.; MAESTRI, E. Pandemia COVID-2019: formação e atuação da enfermagem para o Sistema Único de Saúde. Enfermagem em Foco. 2020; 11(1)Esp.: 40-7. Disponível em: <http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/3956>. Acesso em: 23 Set. 2020.
MOREIRA, M.R.C.; XAVIER, S.P.L.; MACHADO, L.D.S.; SILVA, M.R.F.; MACHADO, M.F.A.S. Enfermagem na pandemia da COVID-19: análise de reportagens à luz da Teoria do Reconhecimento. Enfermagem em Foco. 2020; 11(1)Esp.: 116-23. Disponível em: <http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/3581/813>. Acesso em: 24 set. 2020.
SILVA, M.O.; RIBEIRO, A.S. Nurses on the front line of the combat to COVID-19: professional health and user assistance. Research, Society and Development. 2020; 9(8): e172985241. Disponível em: <https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/5241>. Acesso em: 22 Set. 2020.
SOARES, S.S.S.; SOUZA, N.V.D.O.; SILVA, K.G.; CÉSAR, M.P.; SOUTO, J.S.S.; LEITE, J.C.R.A.P. Pandemia de Covid-19 e o uso racional de equipamentos de proteção individual. Revista Enfermagem UERJ. 2020; 28: e50360. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/50360>. Acesso em: 22 Set. 2020.
WHO. World Health Organization. Coronavirus disease (COVID-19). 20 set. 2020. Disponível em: <https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/situation-reports/20200921-weekly-epi-update-6.pdf?sfvrsn=d9cf9496_6>. Acesso em: 24 Set. 2020.
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