A SÍNDROME DE BURNOUT NOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA PANDEMIA DA COVID-19
INTRODUÇÃO
A Síndrome Respiratória Aguda Grave causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), que é um dos sete subtipos de coronavírus que causam doenças nos seres humanos, surgiu na China em dezembro de 2019. Cursou com inúmeras internações por pneumonia, inicialmente sem um agente etiológico isolado, que evoluía com complicações respiratórias graves. Foi considerado pandêmico desde março de 2020 pela Organização Mundial de Saúde e é apontado por especialistas como uma das maiores pandemias de todos os tempos (BRASIL, 2020).
O grande número de casos tem levado a um aumento crescente de pessoas que procuram as unidades de saúde a fim de receber tratamento e cuidado, demandando maior envolvimento dos profissionais de saúde com a pandemia (BRASIL, 2020).
O enfrentamento de situações críticas como as geradas pela COVID-19 pode levar profissionais de enfermagem ao confronto com seus recursos psicológicos, o que pode ser capaz de gerar um maior nível de estresse ocupacional, que é um fator relevante no surgimento de doenças físicas e mentais, comprometendo o bom desempenho do trabalhador em suas funções profissionais, chegando a comprometer relações pessoais e familiares. Essas condições de estresse ocupacional instalado em um quadro clínico mental extremo e crônico pode levar a Síndrome de Burnout (BARRETO, 2020).
Na Síndrome de Burnout, o trabalhador sente-se extremamente desgastado, tendo a percepção que não tem mais nada a oferecer aos demais. A maior incidência dessa condição está sobre os profissionais que mantêm contato direto e contínuo com outros seres humanos (BARRETO, 2020).
Diante do exposto acerca das implicações da Síndrome de Burnout, compreende-se que a pandemia da COVID-19 pode afetar a saúde mental dos profissionais de enfermagem diretamente ligados ao cuidado a esta doença permeada de incertezas, desde a sua forma de transmissão, tempo de incubação do vírus, transmissibilidade, letalidade, tratamento eficaz, formas de diagnóstico seguro até o uso correto, adequado e racional de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) por parte destes profissionais. Portanto, este estudo tem como objetivo apresentar os principais efeitos e as implicações da Síndrome de Burnout nos profissionais de enfermagem, bem como possíveis estratégias de enfrentamento da doença, inclusive no contexto da pandemia da COVID-19.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica na área da saúde que visa identificar fatores relacionados à saúde mental dos profissionais de enfermagem diante da pandemia de COVID-19, como os efeitos da Síndrome de Burnout. Foram realizadas buscas em bases de dados como Biblioteca Virtual em Saúde, SciELO, Google Scholar por artigos já publicados acerca do tema, na língua portuguesa, disponíveis na íntegra para leitura, gratuitamente, a fim de reunir e sintetizar o que a literatura já vem discutindo sobre o assunto.
DESENVOLVIMENTO
A Enfermagem é uma profissão vulnerável ao surgimento da Síndrome de Burnout, devido a fatores intrínsecos à atividade profissional e ao contato constante com fatores estressantes no ambiente laboral. As jornadas de trabalho nessa área geralmente são longas e extremamente desgastantes, com extensas horas de exposição aos fatores estressantes, tornando um fator preponderante ao surgimento dessa enfermidade (BARRETO, 2020).
É importante salientar que a palavra estresse não pode ser confundida com Burnout no que se refere aos conceitos e diferenças, pois estresse ocorre a partir de reações do organismo às agressões de origens diversas, capazes de perturbar o equilíbrio interno do ser humano. Em contrapartida, de acordo com Jodas e Haddad (2009):
Burnout é a resposta do estresse laboral crônico que envolve atitudes e alterações comportamentais negativas relacionadas ao contexto de trabalho com desconsideração do lado humano. No caso de trabalhadores de enfermagem, atinge os pacientes, organização e o próprio trabalho, isto acontece quando os métodos de enfrentamento contra os fatores estressantes falham ou são insuficientes (JODAS; HADDAD, 2009, p. 37).
Portanto, o Burnout surge progressivamente, de forma lenta e gradual, geralmente em decorrência de sobrecargas no trabalho, por esforço físico em excesso na intenção de alcançar resultados, gerando, em contrapartida, redução da produtividade e do interesse, desajuste emocional, ansiedade, sofrimento, etc (LOPES E PÊGO; PÊGO, 2015).
Nesse sentido, a pandemia da COVID-19, além de diversas outras consequências, tem contribuído para um aumento da Síndrome de Burnout em profissionais de saúde. Segundo um estudo realizado pela PEBMED (2020), a prevalência do Burnout é de 83% nos médicos que estão na linha de frente e 71% naqueles que não estão atuando no combate ao novo coronavírus.
Segundo essa pesquisa (PEBMED, 2020), trabalhar no combate à COVID-19 foi o fator que mais contribuiu para o esgotamento do profissional, mas outros fatores também foram relevantes, como:
Estar na linha de frente; Maior demanda do que recursos; Relacionamento ruim com a liderança imediata; Piores condições de trabalho (principalmente em hospitais públicos); Menor resiliência do profissional; Menor segurança psicológica no ambiente de trabalho; Sexo feminino; Alta carga horária; Profissionais mais jovens; Maior medo de contaminação de familiares (BARRETO, 2020, p. 3).
Assim, a sobrecarga de trabalho, a falta de controle, a recompensa insuficiente e conflitos de valores, são determinantes no surgimento da Síndrome de Burnout. Ao todo, a prevalência da síndrome, foi de 79% entre médicos, 74% entre enfermeiros e 64% entre técnicos de enfermagem (PEBMED, 2020).
Síndrome de Burnout: implicações e enfrentamento
A síndrome de Burnout envolve nervosismo, sofrimentos psicológicos e problemas físicos, como dor de barriga, cansaço excessivo e tonturas. O estresse e a falta de vontade de sair da cama ou de casa, quando constantes, podem indicar o início da doença (FARIAS et al., 2011). Além disso, outros sintomas podem aparecer, como:
[...] dor de cabeça frequente; alterações no apetite; insônia; falta de concentração; sentimentos de fracasso e insegurança; alterações repentinas de humor; isolamento; pressão alta; dores musculares; problemas gastrointestinais; alteração nos batimentos cardíacos (JODAS; HADDAD, 2009, p. 97).
De acordo com pesquisas realizadas pela PEBMED (2020), os profissionais conhecerem seus limites e respeitá-los, estando atentos às suas necessidades, é uma das formas de evitar a Síndrome de Burnout.
Outro fator importante é a intervenção organizacional, pois é dever do empregador, previsto no Art. 170 da Constituição da República Federativa do Brasil, zelar para que haja um ambiente de trabalho sadio e respeitar o trabalhador na condição de pessoa humana (BRASIL, 1988).
Além disso, o ambiente de trabalho também é afetado por absenteísmo, alta rotatividade de emprego, baixa produtividade e condutas violentas. Na tentativa de aliviar o estresse, o profissional acaba adotando uma postura agressiva com a equipe e pacientes (GALINDO et al., 2012).
Portanto, a qualidade da assistência também é afetada, haja vista que o trabalhador fica impaciente e não tem tempo de repor suas energias. Com isso, a Síndrome de Burnout gera riscos não só para o profissional de enfermagem, mas também para o cliente que necessita de seus cuidados (RAMOS et al., 2014).
Estratégias para a prevenção da Síndrome de Burnout
As estratégias para a redução do estresse podem ser focadas tanto no indivíduo como na instituição, ou em ambos (MORENO et al., 2011). As estratégias individuais envolvem o apoio familiar, de amigos e religioso e estão relacionadas à experiência de vida, cultura e peculiaridades de cada individuo (LIMA et al. 2013). Sobre esse assunto, Moreno et al. (2011) apontam que:
As estratégias individuais são bem particulares, o profissional pode optar pela prática de atividade física regular e relaxamento, dieta balanceada, bom padrão de sono, separar um tempo para o lazer, adquirir hobbies e sistema de apoio, como por exemplo, expor seus problemas para uma pessoa de confiança. Essas estratégias podem evitar a síndrome porque o profissional, de acordo com a sua necessidade e perfil, vai buscar meios de estar em equilíbrio físico e mental (MORENO et al., 2011, p. 79).
No âmbito laboral, a instituição pode fornecer melhores condições de trabalho, tempo adequado para descanso, sistema de apoio ao trabalhador, condições físicas agradáveis e plano de carreira. Quando a instituição se preocupa apenas com o aspecto econômico, não se importando com as condições de trabalho de seus funcionários, há uma queda na produtividade e qualidade da assistência. Portanto, as instituições podem e devem investir na qualidade de vida no trabalho de seus funcionários, vendo que esse investimento irá refletir também no modo em como a instituição é vista pelos seus clientes (MORENO et al., 2011).
Lima et al. (2013) destacam também a importância da educação permanente para melhorar a capacitação, tomada de decisão e diminuir os riscos, visto que o apoio profissional também é considerado um fator de enfrentamento para o estresse.
Dentre as estratégias educativas e terapêuticas, as reuniões de equipe podem favorecer uma discussão do problema. Palestras que informem aos profissionais os riscos das atividades exercidas e, também, a identificação precoce das manifestações da síndrome e uma atuação mais efetiva do serviço de saúde do trabalhador podem ser estratégias eficazes. Tais ações servem para otimizar as relações interpessoais, possibilitar a troca de experiências e a redução dos anseios entre os profissionais (MORENO et al., 2011).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a pandemia, o foco está na doença em si e não nos transtornos mentais que dela possam advir. Entretanto, a COVID-19 trouxe a necessidade de se pensar sobre as questões de saúde mental, uma vez que se observou a crescente sobrecarga dos profissionais de saúde.
A Síndrome de Burnout afeta muitos profissionais de saúde, e diante do cenário da pandemia de COVID-19 e toda a sobrecarga imposta a estes profissionais, é preciso uma melhor abordagem dessa temática pelos empregadores.
É de suma importância considerar as questões psicológicas, reconhecendo e acolhendo os receios e medos dos profissionais de enfermagem, explorando essa problemática, o que também possibilita a construção de novos estudos, ampliando os conhecimentos e viabilizando novas estratégias de enfrentamento da Síndrome de Burnout.
Em suma, os profissionais de saúde devem ter acesso a informações sobre os sinais e sintomas dessa síndrome, visando facilitar o reconhecimento mais precoce dos agentes estressores no ambiente de trabalho, possibilitando a esse profissional maior qualidade de vida no ambiente laboral.
REFERÊNCIAS
BARRETO, C. Estresse e isolamento: o ‘novo normal’ de ser profissional de saúde durante a Covid-19. Disponível em: <https://pebmed.com.br/estresse-e-isolamento-o-novo-normal-de-ser-profissional-de-saude-durante-a-covid-19/>. Acesso em: 22 Set. 2020.
BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Recomendação nº 020, de 07 de abril de 2020. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-cns/1103-recomendac-a-o-no-020-de-07-de-abril-de-2020>. Acesso em: 22 Set. 2020.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília (DF): Senado Federal, 1988. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf>. Acesso em 22 Set. 2020.
FARIAS, S.M.C.; TEIXEIRA, O.L.C.; MOREIRA, W.; OLIVEIRA, M.A.F.; PEREIRA, M.O. Caracterização dos sintomas físicos de estresse na equipe de pronto atendimento. Rev. Esc. Enferm. USP. 2011; 44(2): 274-9. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n3/v45n3a25.pdf>. Acesso em: 29 Set. 2020.
GALINDO, R.H.; FELICIANO, K.V.O.; LIMA, R.A.S.; SOUZA, A.I. Síndrome de Burnout entre enfermeiros de um hospital geral da cidade do Recife. Rev. Esc. Enferm. USP. 2012; 2(46): 420-7. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n2/a21v46n2.pdf> Acesso em: 23 Set. 2020.
JODAS, D.A.; HADDAD, M.C.L. Síndrome de Burnout em trabalhadores de enfermagem de um pronto socorro de hospital universitário. Acta Paul Enferm. 2009; 22(2): 192-7. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/ape/v22n2/a12v22n2.pdf>. Acesso em: 21 Set. 2020.
LIMA, M.B.; SILVA, L.M.S.; ALMEIDA, F.C.M.; TORRES, R.A.M.; DOURADO, H.H.M. Agentes estressores em trabalhadores de enfermagem com dupla ou mais jornada de trabalho. R. pesq.: cuid. fundam. online. 2013; 5(1): 3259-66. Disponível em: <https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=505750897010>. Acesso em: 30 Set. 2020.
LOPES E PÊGO, F.P.; PÊGO, D.R. Síndrome de Burnout. Rev Bras Med Trab. 2016; 14(2): 171-6. Disponível em: <https://cdn.publisher.gn1.link/rbmt.org.br/pdf/v14n2a15.pdf>. Acesso em: 30 Set. 2020.
MORENO, F.N.; GIL, G.P.; HADDAD, M.C.L.; VANNUCHI, M.T.O. Estratégias e intervenções no enfrentamento da Síndrome de Burnout. Rev. enferm. UERJ. 2011; 19(1):140-5. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/317461811_Estrategias_e_intervencoes_no_enfrentamento_da_sindrome_de_burnout>. Acesso em: 30 Set. 2020.
PEBMED. Prevalência de Burnout é maior em médicos que atuam na linha de frente da COVID-19. 2020. Disponível em: <https://pebmed.com.br/prevalencia-de-burnout-e-maior-em-medicos-que-atuam-na-linha-de-frente-da-covid-19/>. Acesso em: 30 Set. 2020.
RAMOS, E.L.; SOUZA, N.V.D.O.; GONÇALVES, F.G.A.; PIRES, A.S.; SANTOS, D.M. Qualidade de vida no trabalho: repercussões para a saúde do trabalhador de enfermagem em terapia intensiva. R. pesq.: cuid. fundam. online. 2014; 44(2): 274-9. Disponível em: <http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/viewFile/2833/pdf_1245>. Acesso em: 30 Set. 2020.
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