ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO (AH/SD): IDENTIFICAÇÃO E ENCAMINHAMENTOS NO ÂMBITO ESCOLAR
MANGIAVACCHI, Bianca Magnelli
Coordenadora do Ciclo Básico do Curso de Medicina da Faculdade Metropolitana São Carlos – FAMESC, Bom Jesus do Itabapoana, RJ - Professora Orientadora do Projeto - E-mail:bmagnelli@gmail.com
INTRODUÇÃO
A necessidade de identificação de alunos com Altas Habilidades/ Superdotação (AH/SD) é um assunto de discussões controversas. Muitas perguntas sobre as variáveis diagnósticas relevantes surgem, que são adicionais aos problemas conceituais, no entanto, a literatura, apresenta uma diferenciação essencial entre a pesquisas de “talentos” e diagnósticos de caso único (por exemplo, no contexto do AH/SD). Ambas situações apresentam benefícios e perigos onde as fontes de informação diagnóstica e instrumentos de medição, bem como informações processamento de informações e estratégias de decisão sobre ser dotado ou não, o ajuste entre as necessidades individuais (de aprendizagem) e as condições sociais (instrucionais) da educação superdotada.
Os julgamentos dos professores desempenham um papel importante para o desenvolvimento pessoal e acadêmico de seus alunos. Eles são muitas vezes a principal fonte de informação sobre os alunos no progresso educacional. Como tal, eles são responsáveis por aspectos formais da educação, tais como boletins escolares, e à luz desses aspectos formais, uma avaliação válida do desempenho acadêmico é de grande importância e tem sido estudada extensivamente.
A maioria dos estudos contendo dados quantitativos sobre a validade do julgamento do professor oferecem estimativas da precisão do julgamento com comparação entre uma característica crítica do aluno e seu julgamento pelos professores (MENDONÇA; MENCIA; CAPELLINI, 2015).
Grandes estudiosos ao longo de anos vêm apresentando métodos e instrumentos para a identificação de casos AH/SD. Nesse sentido esse estudo se propõem a investigar as possibilidades relacionadas a avaliação ou “diagnóstico” de alunos com AH/SD a partir dos conceitos e métodos já descrito na literatura mundial que avaliam os sinais e indicadores a partir de aspectos psicológicos e do entendimento educacional, que não são medido com testes de desempenho acadêmico específicos do domínio, mas com capacidade geral.
MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia empregada na construção do presente estudo parte do método dedutivo e do método historiográfico, empregando-se como técnicas de pesquisa: a revisão integrativa da literatura, usando os descritores “HIGH SKILLS AND GIFTEDNESS” AND “SCHOOL” e “ALTAS HABILIDADE E SUPERDOTAÇÃO” AND “ESCOLA” no Google Scholar. Os trabalhos foram selecionados utilizando a análise dos resumos para identificação das respostas relacionadas com o objetivo desse estudo.
DESENVOLVIMENTO
A LDB nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996 estabelece em seu artigo 58 e 59 no Capítulo V que fala da Educação Especial, como as instituições de ensino deverão se comportar diante a AH/SD:
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. [...]
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação matriculadas na educação básica e na educação superior, a fim de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado.
Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com altas habilidades ou superdotação, os critérios e procedimentos para inclusão no cadastro referido no caput deste artigo, as entidades responsáveis pelo cadastramento, os mecanismos de acesso aos dados do cadastro e as políticas de desenvolvimento das potencialidades do alunado de que trata o caput serão definidos em regulamento. (BRASIL, 1996)
Carroll (1993) definiu habilidade cognitiva como “qualquer habilidade que diz respeito a algum tipo de tarefa cognitiva”, enquanto uma tarefa cognitiva é definida como “qualquer tarefa na qual o processamento apropriado da informação mental é fundamental para o desempenho bem-sucedido” (p. 10).
A determinação da superdotação está intimamente relacionada à medição da inteligência. Como tal, a medida da superdotação geralmente envolve um procedimento de dicotomização da resultados do teste de inteligência por um valor de critério para fins de identificação, como a avaliação do QI (MENDONÇA; MENCIA; CAPELLINI, 2015). Nosso conhecimento sobre AH/SD, ambos os termos usados como sinônimos de acordo com a literatura (CHRISTOPH PERLETH; MÖNKS 2000; PÉREZ, 2009), é fornecido por diferentes paradigmas de pesquisa. Abordagens relevantes para identificação de alunos com AH/SD considerando o potencial individual devem ser utilizados para a identificação com fins diagnósticos ou prognósticos, centrando-se na personalidade (motivacional e aprendizagem) e condições socioculturais (PÉREZ, 2009).
Questões de metodologia relativas à identificação incluem vários aspectos, como problemas com a definição de indicadores relevantes, fontes de informação de diagnóstico ou problemas de medição (VIRGOLIM, 2007). Além disso, estratégias de decisão diagnóstica com respeito a fontes de erro, efetividade e economia da seleção de estudantes talentosos para programas dotados, a decisão de usar as chamadas abordagens de diagnóstico estático vs. abordagens de diagnóstico de processo etc. também estão incluídas (VIRGOLIM, 2014).
Enquanto os diagnósticos tradicionais psicométricos, orientados por características ou chamados testes de status, são dispensáveis na identificação de crianças e jovens no processo de abordagens de testes orientados ou dinâmicos, espera-se descobertas importantes sobre o tipo de processos de aprendizagem e pensamento usados por alunos AH/SD (VIRGOLIM, 2014).
No entanto, não se deve ignorar uma limitação deste procedimento de diagnóstico de teste: validação, que ainda não é suficiente na maioria dos casos. É possível pesquisar sem empirismo, embora não na prática de identificação de AH/SD (MACHTS et al. 2016).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As circunstâncias dos julgamentos dos professores podem diferir de várias maneiras. Julgamentos dos professores são um tipo de percepção social dependendo em muitos fatores, incluindo aqueles que não estão relacionados ao objeto da percepção (SÜDKAMP; KAISER; MÖLLER, 2012). Julgamentos dos professores dependem de julgamento características e características do professor (por exemplo, experiência de ensino).
Estudos que se concentram explicitamente na precisão do julgamento dos professores diferenças individuais na habilidade dos professores em julgar o desempenho dos alunos (LORENZ; ARTELT, 2009). Outros autores não encontraram evidências para a associação da precisão do julgamento com o trabalho experiência (IMPARA; PLAKE, 1998) ou com longo contato professor-aluno.
Lorenz e Artelt (2009) acrescentou que mesmo o treinamento avançado de competência diagnóstica não induz maior precisão de julgamento. Infelizmente, apenas alguns estudos fornecem amostras correspondentes descrições, tornando impossível a análise integrativa de dados codificados, respectivamente. O julgamento dos professores sobre a capacidade cognitiva de seus alunos é maior quando objetivo de julgamento é inteligência, do que quando o objetivo do julgamento é criatividade ou superdotação (KLUG, 2013).
Considerando as hipóteses: Como os julgamentos dos professores permitiriam diferenciar alunos com AH/SD? Quais fatores influenciam o julgamento dos professores de seus alunos? Professores são moderadamente precisos nos julgamentos das habilidades cognitivas de seus alunos. No entanto, devemos ser cautelosos no uso dos julgamentos dos professores, a fim de identificar os que não são bem-sucedidos e intelectualmente talentosos (MACHTS et al. 2016).
Por exemplo, em uma classe com alunos considerados de baixo desempenho, os professores podem julgar erroneamente habilidades cognitivas, talvez levando estudantes para serviços educacionais ou ensino além das habilidades dos alunos (VIRGOLIM, 2007).
Os professores parecem ser bons juízes, no entanto, esperando que todo professor tenha a competência de julgar o potencial intelectual subjacente pode ser algo irrealista (KLUG, 2013). Fornecer estimativas objetivas e precisas do desempenho de seus alunos e, ao mesmo tempo, estabelecer um nível de comunicação com seus alunos, incluindo feedback sobre seu trabalho, suas habilidades e sua motivação, permite ambientes produtivos de aprendizagem e facilita autoconceitos positivos e realistas (MACHTS et al. 2016).
Para tal é necessário fornecer educação continuada à professores que capacite estes a cumprir essa tarefa, aceitando os limites ao julgar aspectos como as habilidades cognitivas de seus alunos. Considerando a expectativa do professor sobre a educação no desenvolvimento do caminho dos alunos para a vida adulta efetivar os julgamentos dos professores sobre as habilidades cognitivas de seus alunos se faz primordial (FISCHBACH et al., 2013). Assim, os professores precisam estar cientes de que eles possuem um conceito de capacidade geral dos alunos e serão capazes de distingui-la do desempenho específico da tarefa para implementar ambientes de aprendizagem orientados para o crescimento dos mesmos (MUELLER; DWECK, 1998).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O campo da educação inclusiva, especificamente a superdotação, tem quase 150 anos, datando da publicação de Galton (1869) de Gênio hereditário. Desde então, a natureza da sociedade mudou e a educação não é mais domínio de grupos demográficos selecionados. No entanto, a escolaridade obrigatória para todos não removeu as barreiras associadas ao status socioeconômico que se manifestam de várias maneiras, incluindo a divisão tecnológica e a qualidade das escolas que os indivíduos frequentam.
Há uma série de problemas interligados com a identificação de alunos com AH/SD, por exemplo, questões relativas à conceitualização de construções do conceito propriamente dito, problemas metodológicos de identificação como questões de medição e processuais, paradigmas de validação do diagnóstico, e problemas de avaliação dos casos.
Por fim, a necessidade de um esforço interdisciplinar cooperativo orientado para o problema deve ser enfatizada. A partir disso, podemos esperar que um progresso decisivo seja feito, e que forneçam instrumentos de diagnóstico diferencial para as várias formas de superdotação e talento. Isso deve incluir tantas abordagens psicológicas métricas (baseadas em habilidades/características) e cognitivas (de tal diagnóstico), possibilitando assim aconselhamento específicas para os superdotados como base para a prevenção e intervenção desejável com o desenvolvimento e teste de medidas apropriadas e de educação continuada para os profissionais.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. LDB - Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm >.
CARROLL, John B. et al. Human cognitive abilities: A survey of factor-analytic studies. Cambridge University Press, 1993.
CHRISTOPH PERLETH, Tanja Schatz; MÖNKS, Franz J. Early identification of high ability. International handbook of giftedness and talent, p. 297, 2000.
FISCHBACH, Antoine et al. Do teacher judgments of student intelligence predict life outcomes? Learning and Individual Differences, v. 27, p. 109-119, 2013.
GALTON, Francis. Hereditary genius: An inquiry into its laws and consequences. Macmillan, 1869.
IMPARA, James C.; PLAKE, Barbara S. Teachers' ability to estimate item difficulty: A test of the assumptions in the Angoff standard setting method. Journal of Educational Measurement, v. 35, n. 1, p. 69-81, 1998.
LORENZ, C., ARTELT, C. Domain specificity and stability of diagnostic competence among primary school teachers in the school subjects of German and mathematics. German Journal of Educational Psychology, 23, 211-222, 2009.
MACHTS, Nils et al. Accuracy of teachers' judgments of students' cognitive abilities: A meta-analysis. Educational Research Review, v. 19, p. 85-103, 2016.
KLUG, Julia et al. Diagnostic competence of teachers: A process model that accounts for diagnosing learning behavior tested by means of a case scenario. Teaching and Teacher education, v. 30, p. 38-46, 2013.
MENDONÇA, Lurian Dionizio; MENCIA, Gislaine Ferreira Menino; CAPELLINI, Vera Lúcia Messias Fialho. Programas de enriquecimento escolar para alunos com Altas Habilidades/Superdotação: análise de publicações brasileiras. Revista Educação Especial, v. 28, n. 53, p. 721-734, 2015.
MÖNKS, F. J.; HELLER, Kurt A. Identification, and programming of the gifted and talented. The International Encyclopedia of Education, Vol. 5. 2725-2732, 1994
MUELLER, Claudia M.; DWECK, Carol S. Praise for intelligence can undermine children's motivation and performance. Journal of personality and social psychology, v. 75, n. 1, p. 33, 1998.
PÉREZ, Susana Graciela Pérez Barrera. A identificação das altas habilidades sob uma perspectiva multidimensional. Revista Educação Especial, v. 22, n. 35, 2009.
SÜDKAMP, Anna; KAISER, Johanna; MÖLLER, Jens. Accuracy of teachers' judgments of students' academic achievement: A meta-analysis. Journal of educational psychology, v. 104, n. 3, p. 743, 2012.
VIRGOLIM, Angela M. Rodrigues. Altas habilidades/superdotação: encorajando potenciais. Ministério da Educação, 2007.
VIRGOLIM, Angela Mágda Rodrigues. A contribuição dos instrumentos de investigação de Joseph Renzulli para a identificação de estudantes com Altas Habilidades/Superdotação. Revista Educação Especial, v. 27, n. 50, p. 581-610, 2014.
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