PRESENTEÍSMO NOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM PLENA PANDEMIA DO NOVO CORONAVIRUS SARS-COV-2
INTRODUÇÃO
Devido aos avanços tecnológicos e desenvolvimentos socioculturais, houveram consequências positivas na globalização, com benefícios em todo o mundo moderno. Porém, ocasionou mudanças no comportamento biopsicossocial das pessoas, interferindo na qualidade de vida dos indivíduos que almejam um melhor reconhecimento em suas profissões, com jornadas mais intensas de trabalho e baixo piso salarial, interferindo assim na qualidade dos serviços prestados para a população e o adoecimento desses profissionais, sendo ainda mais crítico nesse momento de grande tensão que o mundo passa por um intenso desafio na saúde pública devido ao surgimento do novo coronavírus SARS-CoV-2 (UMANN et al., 2012; OLIVEIRA et al., 2018; PEREIRA et al., 2020).
Infelizmente, na enfermagem os motivos mais comuns para o adoecimento entre esses profissionais acontece por sobrecargas físicas e emocionais, alto grau de responsabilidade, tempo de repouso insuficiente, tensão na rotina com as altas demandas no cuidado e, como se não bastasse, estresse ocasionado por chefias imediatas despreparadas para o cargo. Em tempos normais, isso já é uma grande barreira a ser solucionada e hoje, com a pandemia sofrida pela população do novo coronavírus SARS CoV-2, tem se tornado um problema com uma magnitude ainda maior (OLIVEIRA; COSTA; FERNANDES; GOUVEIA; ROCHA, 2018).
Esse cenário no trabalho da enfermagem, segundo Oliveira et al. (2018) é muito comum e frequente. Com isso, os profissionais estão sempre com agentes estressores, favorecendo a ocorrência de problemas de saúde e doenças subjacentes. Com a pandemia, foi notória o desgaste emocional, não só da enfermagem, mas também de todos os profissionais de saúde, devido ao sentimento de medo, desamparo, altas pressões dos familiares, população e instituições.
Com todos esses fatores, o desenvolvimento e a produtividade da organização dos serviços estão em declínio, se tornando cada vez mais comum. Por isso, esses profissionais necessitam de cuidados, já que a saúde é um pré-requisito para desenvolver a arte do cuidar. Essa preocupação precisa ser vista pela equipe, pelos próprios profissionais e pela gestão responsável (OLIVEIRA et al., 2018; FERRAZ et al., 2016).
Como consequência disso, se tem o presenteísmo que não é notado facilmente e que nada mais é do que a presença fisicamente do servidor no trabalho, porém mentalmente ele não está, e assim não produz com plenitude suas atividades, com capacidade, perdendo a qualidade e efetividade dos serviços prestados às instituições, onde quem sofre é o paciente que carece desses cuidados (OLIVEIRA et al., 2018; FERRAZ et al., 2016).
Com isso, o objetivo desse estudo é discutir o presenteísmo nos profissionais de saúde diante da pandemia do COVID-19 no intuito de identificar as sobrecargas emocionais vivenciadas pelos profissionais e as barreiras organizacionais que podem ocasionar esse presenteísmo.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão de literatura, de abordagem qualitativa, empregando uma perspectiva descritiva a partir de dados já publicados acerca do tema. Esse levantamento ocorreu a partir de buscas em bases de dados como a Biblioteca Virtual em Saúde, SciELO e Google Scholar por artigos publicados na língua portuguesa, disponíveis na íntegra para leitura, gratuitamente.
DESENVOLVIMENTO
Presenteísmo: conceitos e fatores desencadeantes
A partir da década de 1980, começaram a ter modificações no conceito do presenteísmo, deixando assim de ser considerado o oposto do absenteísmo. O presenteísmo não é de fácil percepção como o absenteísmo, sendo este último conceituado como a falta do empregado ao seu local de trabalho, sendo perceptível em cem por cento dos casos. No presenteísmo, o empregador comparece ao setor, porém apenas fisicamente, deixando de produzir e desempenhar suas atividades de maneira plena e efetiva, interferindo no capital de grandes e médias empresas devido a queda de produtividade. No cenário da saúde, o presenteísmo interfere diretamente no declínio dos atendimentos prestados a população (PEREIRA; TORRES; PEREIRA; ANTUNES; COSTA, 2020).
Nesse sentido, o presenteísmo pode ser ocasionado por diversos fatores como jornadas de trabalho intensas, desorganização institucional com locais inapropriados para o descanso, chefias desqualificadas e despreparadas para o cargo, falta de acompanhamento psicológico para esses profissionais que trabalham com frequente tensão emocional, enfrentando situações de violência física, verbal e psicológica (PASCHOALIN, 2012).
O presenteísmo, portanto, é muito comum também na área de saúde, não só em grandes empresas. E em plena pandemia, isso se tornou um problema ainda mais frequente, de enorme magnitude e consequências avassaladoras, interferindo nos cuidados da população que necessita de tratamento, sendo estes pacientes suspeitos de infecção pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 ou não (LIZOTE; TESTON; MARTENDAL; TOBIAS; ASSI, 2020).
O medo constante de contaminação dos profissionais de saúde devido a falhas, como o uso inadequado ou carência de Equipamentos de Proteção Individual, déficit de profissionais ou profissionais inexperientes, prestadores abalados emocionalmente devido a uma gestão deficitária, podem estar também contribuindo com o doenças psíquicas causando o presenteísmo (CLEMENTE, 2020; ESTENDER; SILVA; NEVES; ESTENDER, 2013).
Sobrecarga emocional na pandemia de SARS-CoV-2
A pandemia pelo novo coronavírus é, sem dúvida, um dos maiores desafios sanitários deste século. Desde que a epidemia foi descoberta pela China, ela se espalhou rapidamente pelo mundo todo com diferentes impactos (PEREIRA; TORRES; PEREIRA; ANTUNES; COSTA, 2020).
Escassez severa de recursos para o tratamento, o prognóstico incerto pela detecção da doença para proteger os prestadores de serviços na saúde pública é uma grande causa de estressores, que estão contribuindo para o sofrimento mental, com aumento de risco de doenças psiquiátricas entre os profissionais de saúde. Com a pandemia no mundo, todos tiveram de mudar seus hábitos, como a adoção do isolamento social, fechamento de escolas, trabalho, cuidados intensivos com a higienização para medidas de segurança e de não contaminação, causando um enorme impacto na economia e na vida dos trabalhadores. Na saúde pública, o caos logo se tornou presente, devido ao medo, riscos, falta de Equipamentos de Proteção Individual, falta de medicamentos e a busca pela cura ou um tratamento eficaz da doença (PFEFFERBAUM; NORTH, 2020).
Em decorrência disso, Pfefferbaum e North (2020) apontam também o aumento das pressões das instituições aos seus gestores e, por conseguinte, depositadas aos profissionais de saúde que estão na linha de frente no enfrentamento pelo COVID-19. Com tantas pressões, os profissionais de saúde estão adoecendo, havendo um aumento no consumo de bebidas alcóolicas, quadros de síndrome do pânico e depressão.
Gestão de pessoas: ferramenta para uma boa liderança
Com o mundo moderno, a competição em organizações é o segredo para o sucesso e saber lidar com as pessoas é um diferencial. O bom líder pode ser crucial na qualificação e desenvolvimento dos colaboradores, porém quando seu papel é realizado sem eficiência pode causar grandes transtornos organizacionais e emocionais, podendo levar a equipe ao fracasso. O bom líder deve ser capaz de despertar motivações, talentos, causar sinergia entre as empresas e prestadores, entre líderes e liderados, fazendo com que o resultado se torne positivo, com crescimento individual e da equipe. Todos sabem que um chefe pode adoecer seus funcionários e, com isso, a produtividade e o alcance de metas ficam prejudicados (ESTENDER; SILVA; NEVES; ESTENDER, 2013).
Portanto, segundo Estender e seus colaboradores (2013), o bom líder precisa ter uma visão ampla e futura, buscar sempre novos aprendizados, ter flexibilidade de ensinar, motivar seus colaboradores, promover reuniões e encontros motivacionais, cursos de capacitação profissional, incentivando no comprometimento e responsabilidade para o crescimento da empresa tanto economicamente como também na qualidade dos serviços prestados para a população.
Pie et al. (2020) afirmam, inclusive, que é preciso que o gestor esteja atento na identificação precoce do presenteísmo, principalmente neste tempo de pandemia da COVID-19, pois o bom gerenciamento dessas condições pode contribuir positivamente na redução ou até mesmo evitando afastamentos e/ou incapacidades para o trabalho. Outro ponto crucial da atuação precoce do gestor de recursos humanos é identificar possíveis problemas estruturais da institução que podem ser responsáveis pelo adoecimento dos trabalhadores e, a partir desse diagnóstico, lançar mão de estratégias auxiliares na implementação de políticas organizacionais favoráveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mesmo que os profissionais de saúde tentem se alinhar e seguir com o seu trabalho, o presenteísmo acaba passando por muito tempo despercebido tanto pelos profissionais quanto por seus gestores, ficando ainda mais difícil o prognóstico, que contribui para um tratamento tardio desses profissionais.
Além de interferir na qualidade de vida do trabalhador, o presenteísmo pode resultar em um cuidado ineficaz aos pacientes, realizado de modo deficitário, podendo resultar em erros nas condutas terapêuticas.
Concluímos, portanto, que para uma melhor qualidade de vida para os prestadores de serviço das áreas da saúde, é fundamental um acompanhamento psicológico, treinamentos, capacitações em serviço, incentivo, estrutura e jornadas de trabalho adequadas, tempo e local para descanso, entre outras iniciativas por parte da instituição e de seus gestores, visando o cuidado de cada um e dos pacientes.
REFERÊNCIAS
CLEMENTE, G.T. Riscos de danos aos profissionais da saúde na pandemia: deveres do estado na atualidade. Revista IBERC. 2020; 3(2): 125-42. Disponivel em: <https://revistaiberc.emnuvens.com.br/iberc/article/view/125/90>. Acesso em: 01 Out. 2020.
ESTENDER, A.C.; SILVA, H.J.B.G.; NEVES, F.C.; ESTENDER, M.A.M. O papel do líder no desenvolvimento e na gestão de pessoas. In: XVI Congresso Metodista de Iniciação e Produção Científica - XV Seminário de Extensão - X Seminário PIBIC/UMESP. São Paulo, 2013. Disponível em: <https://www.metodista.br/congressos-cientificos/index.php/CM2013/fgrh/paper/view/4586>. Acesso em: 26 Set. 2020.
FERRAZ, F.; HECKSHER, S.; CARVALHO, E. Presenteísmo: as perdas diárias e silenciosas. In: XII Congresso Nacional de Excelência em Gestão e III INOVARSE – XII CNEG & III INOVARSE - Inovação & Responsabilidade Social. Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: <https://www.inovarse.org/sites/default/files/T16_188.pdf>. Acesso em: 26 Set. 2020.
LIZOTE, S.A.; TESTON, S.F.; MARTENDAL, B.C.; TOBIAS, J.C.; ASSI, S.R. Bem-estar subjetivo e home office em tempos de pandemia. In: XX USP International Conference in Accounting 2020. São Paulo, 2020. Disponível em: <https://congressousp.fipecafi.org/anais/Anais2020/ArtigosDownload/2795.pdf>. Acesso em: 01 Out. 2020.
OLIVEIRA, A.L.C.B.; COSTA, G.R.; FERNANDES, M.A.; GOUVEIA, M.T.O.; ROCHA, S.S. Presenteísmo, fatores de risco e repercussões na saúde do trabalhador de enfermagem. av.enferm. [online]. 2018; 36(1): 79-87. Disponível em: <http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0121-45002018000100079>. Acesso em: 27 Set. 2020.
PASCHOALIN, H.C. Presente no trabalho, mesmo doente: o presenteísmo na enfermagem. 2012. 169f. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012. Disponível em: <http://objdig.ufrj.br/51/teses/EEAN_D_HeloisaCamposPaschoalin.pdf>. Acesso em: 01 Out. 2020.
PEREIRA, M.D.; TORRES, E.C.; PEREIRA, M.D.; ANTUNES, P.F.S.; COSTA, C.F.T. Sofrimento emocional dos enfermeiros no contexto hospitalar frente à pandemia de COVID-19. Research, Society and Development. 2020; 9(8): e67985121. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/342592079_Sofrimento_emocional_dos_Enfermeiros_no_contexto_hospitalar_frente_a_pandemia_de_COVID-19>. Acesso em: 25 Set. 2020.
PFEFFERBAUM, B.; NORTH, C.S. Saúde mental e a pandemia de Covid-19. N Engl J Med. 2020; 383: 510-2. Disponível em: <https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMp2008017>. Acesso em: 25 Set. 2020.
PIE, A.C.S.; FERNANDES, R.C.P.; CARVALHO, F.M.; PORTO, L.A. Fatores associados ao presenteísmo em trabalhadores da indústria. Rev Bras Saude Ocup. 2020; 45: e13. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rbso/v45/2317-6369-rbso-45-e13.pdf>. Acesso em: 02 Out. 2020.
UMANN, J.; GUIDO, L.A.; GRAZZIANO, E.S. Presenteísmo em enfermeiros hospitalares. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012; 20(1): [08 telas]. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rlae/v20n1/pt_21.pdf>. Acesso em: 28 Set. 2020.
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