ANÁLISE DO USO DE GLICOCORTICOIDES COMO TRATAMENTO NA HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA (HAC)
LOPES, Layane Aiala de Sousa
Graduanda do Curso de Medicina da Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) – Unidade Bom Jesus do Itabapoana
E-mail: layaneaialalopes@gmail.com
SANTOS,Luanny de Souza
Graduanda do Curso de Medicina da Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) – Unidade Bom Jesus do Itabapoana
Luannysantos19@gmail.com
SILVA, Thaís Cristina Sodré
Graduanda do Curso de Medicina da Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) – Unidade Bom Jesus do Itabapoana
Sodrethaix@outlook.com
ISTOE, Carolina Crespo
Professora Adjunta da Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC)- Unidade Bom Jesus do Itabapoana
Carolcistoe@yahoo.com.br
ANDRADE, Cláudia Caixeta Franco
Professora Adjunta da Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) – Unidade Bom Jesus do Itabapoana
Claudiacfa@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO
A hiperplasia adrenal congênita (HAC) é uma doença provocada por uma deficiência enzimática na via de síntese do cortisol, além da aldosterona e dos androgênicos, provenientes do colesterol. (KOPACEK,2015). Estudos apontam que em cerca de 90% dos casos a patologia é advinda da falta da enzima 21-hidroxilase (21-OH), devido a mutações do gene CYP21A2. Essa enzima, está presente na síntese de glicocorticoides e mineralocorticoides, convertendo a progesterona em desoxicorticosterona e a 17-hidroxiprogesterona (17OHP) em 11-desoxicortisol, o qual é convertido em cortisol pela enzima 11-hidroxilase (11-OH) (DA SILVA, 2017).
O acúmulo de metabólitos precursores, sobretudo da 17-hidroxiprogesterona (17-OHP), ocasionado pela deficiência da 21-OH, induz uma excessiva produção hipofisária de ACTH. De forma que a glândula adrenal passa a produzir grande quantidade de hormônios virilizantes. (KOPACEK,2015)
A hiperplasia adrenal congênita manifesta-se em dois padrões: o clássico e o não clássico. O primeiro é mais grave, pois é caracterizado por uma virilização pré-natal da genitália feminina e ambiguidade genital e uma virilização pós-natal nos dois sexos (AZEVEDO et al., 2014). Além disso, pode existir intensificação do processo de crescimento e maturação dos ossos, o que causa a perda de altura final. Nessa forma de HAC, pode existir a perda de sal, sendo a que ocorre a perda chamada de forma perdedora de sal (PS) e a outra de forma virilizante simples (VS). Já, a forma não clássica tem, geralmente, manifestação tardia, causando o excesso de hormônios andrógenos no término da infância, durante a adolescência ou até mesmo no início da idade adulta. Esse tipo de patologia pode apresentar uma expressão bem oscilante, visto que pode aparecer assintomática ou com diversos indícios de excesso de andrógenos. (AZEVEDO et al., 2014)
Atualmente, existem exames neonatais para identificar os padrões clássicos da HAC. Iñiguez e Zubicaray (2017) destacam que através de tal triagem torna-se possível evitar a desidratação severa, choque e morte, principalmente em neonatos com o padrão clássico perdedor de sal. Ademais, evitar a designação errônea de sexos em bebês, como também detectar as formas clássicas virilizantes simples de modo a impedir a hiperandrogenização.
A terapia da (HAC) consiste na reposição apropriada de cortisol, com o intuito de evitar a ocorrência de crise adrenal, bem como suspender a produção excessiva de andrógenos. Todavia, a grande questão dessa reposição é que para alcançar esse objetivo faz-se necessário o uso de doses de cortisol acima dos níveis fisiológicos. Nesse sentido, é preciso ter muito cuidado, devido a tenuidade da linha entre a dose adequada e os efeitos iatrogênicos (ZURITA-CRUZ et al., 2018).
Frente ao exposto, o seguinte trabalho busca analisar a real eficiência e magnitude do uso de glicocorticoides como tratamento para a Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC), através de uma revisão bibliográfica, a fim de fornecer ferramentas para maiores reflexões acerca desse grave problema de saúde pública.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão de literatura, a qual é caracterizada como exploratória, qualitativo e retrospectivo. Tal estudo foi realizado através de uma revisão narrativa de literatura, pois objetiva examinar o potencial dos glicocorticoides do tratamento da HAC. Para a sua elaboração foram empregadas as seguintes etapas: escolha do tema, coleta de artigos, análise dos materiais coletados, análise e exposição dos resultados.
A busca dos artigos foi realizada nas seguintes bases de dados: PUBMED e Portal Regional da BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), utilizando os seguintes descritores, de acordo com a classificação dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Hiperplasia adrenal congênita” e “glicocorticoides”.
Para a análise dos artigos, aplicaram-se os respectivos critérios de inclusão: artigos disponibilizados na íntegra, estudos publicados nos últimos 5 anos e escritos nos idiomas português, inglês e espanhol, totalizando 170 artigos. No entanto, foram selecionados 15 artigos, os quais foram utilizados neste estudo.
Os dados obtidos foram analisados de modo qualitativo, devido o intuito de averiguar a eficiência da terapêutica analisada. Além disso, os resultados obtidos foram analisados e organizados em uma tabela formatada com o programa Microsoft Excel Office 2019.
DESENVOLVIMENTO
Com base em análises clínicas e científicas, pode-se afirmar que o tratamento para a Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC) deve ser avaliado de forma específica em cada paciente. Tal atitude é importante, pois a reposição de glicocorticoides é necessária, mas pode gerar diversas alterações metabólicas. Como exemplo dessas mudanças, temos a elevação da glicemia plasmática, alteração na distribuição corporal de gordura e diminuição da massa muscular e óssea (OLIVEIRA et al., 2013). No entanto, segundo autor supracitado, a maneira que os glicocorticoides influenciam na concentração sérica de lipídios ainda é incerta, bem como não há consenso na literatura de alterações lipídicas promovidas pelo uso crônico de corticosteroides.
O estudo realizado por Leite (2008) ao analisar artigos sistematicamente, expõe resultados insatisfatórios de longa duração com glicocorticoides (GC). Neles, o não alcance da estatura familiar padrão pela criança e problemas com infertilidade e irregularidade menstrual, foram apontados como os principais aspectos negativos do uso inadvertido de doses excessivas de GC. Ademais, o autor caracteriza esses erros na administração da dosagem dos glicocorticoides, como consequência da ausência da sua não apresentação oral no Brasil. Esses fármacos precisam de manipulação correta para serem usados, pois podem acarretar frequentes sub ou superdosagens, indicando administração inadequada dessa patologia, além dos efeitos colaterais frequentes e graves.
Ademais, observa-se que o tratamento para a HAC deve ser contínuo, por ser uma doença crônica por Leite (2008). Por conseguinte, a busca por terapias psicossociais e de desenvolvimento integral deve ser paralela ao uso do medicamento, adaptando-se ao cotidiano de cada paciente e dos seus responsáveis. Por isso, também é proposta a possibilidade de administração em uma dose diária, com a utilização dos GC com meia-vida intermediária Leite (2008).
De acordo com a pesquisa de Telles-Silveira (2009), um dos principais percalços que acompanham o tratamento da HAC, especialmente na atenção pública de saúde, é a adversidade durante o diálogo entre os sujeitos envolvidos na trama patológica: pais, criança (paciente) e profissional da saúde. Uma vez que, para autor, as os temores mais frequentes dos pais referem-se à indefinição sexual ao nascimento. Na perspectiva do paciente, a preocupação maior relaciona-se ao sentimento de solidão e ao tratamento. Enquanto os médicos, inconformam-se com a ausência da participação ativa dos pais e pacientes. Conforme tal aspecto, a manipulação técnica do tratamento é submetida à fatores interpessoais, psicossociais e até mesmo ao modelo de funcionamento dos ambulatórios das clínicas-escolas, de unidades de saúde ou outros tipos de atendimentos de saúde. Esses, são capazes de interferir negativamente na compreensão do quadro clínico de cada paciente em específico, bem como do seu método terapêutico necessário.
Atualmente, existem cinco novas formas terapêuticas, que associadas a intervenção convencional, têm mostrado resultados promissores (JÚNIOR et al., 2010). O primeiro fator que pode ser alterado é a puberdade precoce verdadeira, podendo ser eficazmente suprimida com o uso do LHRHa. Este fármaco, pode retardar a maturação esquelética em um nível maior do que diminui a velocidade de crescimento, sugestionando que uma estatura final maior poderia ser alcançada. Além disso, outra terapia eficiente para a condição da estatura das pessoas que utilizam GC é o uso combinado ao hormônio de crescimento, em conjunto aos análogos do LHRH, tendo na idade do diagnóstico e a continuidade correta do tratamento fatores também relacionáveis. Seguindo ainda o método de tratamentos combinados, a busca pela fertilidade pode obter resultados significativos, com apresentação de catamênios regulares, alguns pacientes apresentam até gestações espontâneas em um período relativamente curto (por volta de 2 anos) através da utilização associada de GC e da adrenalectomia bilateral (FARIAS JUNIOR,2010) .
Diante dessa exposição, o controle constante da HAC por meio dos glicocorticosteroides parece seguro, sendo sua associação negativa a níveis discretos no perfil lipídico. Esse, pode ser manejado com terapias associativas, tanto suprimindo desajustes orgânicos quanto psicossociais (OLIVEIRA, et. al. 2013). Por isso, muitos estudos apontam os GC como tratamento de escolha na incidência de HAC, porém necessitando de uma administração adequada do fármaco, bem como o uso regulamente observado e analisado pelo profissional e pelos responsáveis. Soma-se, as terapias complementares necessariamente associativas para supressão possível de fatores negativos e o acompanhamento integral do paciente, principalmente nos setores públicos de saúde. Assim, o tratamento da Hiperplasia Adrenal Congênita objetiva evitar a desidratação por perda de sal e controlar o hiperandrogenismo, porém sem interferir no crescimento, através da reposição adequada de GC. (FARIA JUNIOR, et. al. 2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta revisão apontou a efetividade dos glicocorticoides na terapêutica da Hiperplasia Adrenal Congênita, dado os relatos de progresso dos pacientes que utilizaram essa medicação. Contudo, faz-se necessário incentivar a adoção das terapias complementares, como também de novas pesquisas, com o intuito de prover máxima segurança e eficácia do tratamento, haja vista a importância da especificidade das doses medicamentosas para reduzir os possíveis efeitos iatrogênicos.
REFERÊNCIAS
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DA SILVA, Carolina Freitas Fernandes. Hiperplasia Congênita de Supra-renal por Deficiência de 21-hidroxilase – Forma Perdedora de Sal: Relato de Caso. São Paulo: HSPM, 2017. Disponível em: http://docs.bvsalud.org/biblioref/2019/08/1009588/carolina-freitas-fernandes-da-silva.pdf. Acesso em: 2 set. 2020.
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JUNIOR, José Antônio Diniz Faria et al. Novas perspectivas no tratamento da hiperplasia adrenal congênita. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, v. 9, n. 3, p. 257-262, 2010. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/22776/1/14_v.9_3.pdf. Acesso em: 14 set. 2020.
KOPACEK, Cristiane. Triagem neonatal da hiperplasia adrenal congênita no SUS. Boletim Científico de Pediatria. 2015;04(3):59-64. Disponível em: https://www.sprs.com.br/sprs2013/bancoimg/160529234053bcped_v4_n3_a3.pdf. Acesso em: 2 set. 2020.
LEITE, Flavia M. et al. Estudo comparativo do uso de prednisolona versus acetato de hidrocortisona no tratamento da hiperplasia adrenal congênita por deficiência da 21-hidroxilase forma clássica. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, v. 52, n. 1, p. 101-108, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/abem/v52n1/a14v52n1.pdf. Acesso em: 14 set. 2020.
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ZURITA-CRUZ, Jessie Nallely et al. Asociación de leptina con factores cardiometabólicos en escolares y adolescentes con hiperplasia suprarrenal congénita. Gaceta médica de México, [S. l.], v. 154, n. 1, p. 202-208, 1 jan. 2018. Disponível em: https: //dx.doi.org/10.24875/GMM.18002952. Acesso em: 2 set. 2020.
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