A EFICÁCIA DA DIETA CETOGÊNICA NO CONTROLE DA EPILEPSIA REFRATÁRIA
ALVES, Izabela de Melo
Graduanda do Curso de Medicina da Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) - Unidade de Bom Jesus do Itabapoana
izabela_meloo@hotmail.com
BAES, Danielle Bernardete
Graduanda do Curso de Medicina da Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) - Unidade de Bom Jesus do Itabapoana
danibaes@gmail.com
GONÇALVES, Ana Luiza Nascimento
Graduanda do Curso de Medicina da Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) - Unidade de Bom Jesus do Itabapoana
anagnluiza@gmail.com
ISTOE, Carolina Crespo
Professora Orientadora: Mestre em Cognição e Linguagem/UENF; Doutoranda em Ciências Aplicadas à Produtos para a Saúde/UFF; Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) - Unidade de Bom Jesus do Itabapoana
carolcistoe@yahoo.com.br
MARTINS, Lívia Mattos
Professora Orientadora: Doutora em Biociências e Biotecnologia/UENF; Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) - Unidade de Bom Jesus do Itabapoana
liviammartins@gmail.com
INTRODUÇÃO
A dieta cetogênica (DC) expressa-se em uma alternativa terapêutica para epilepsia farmacorresistente. Esta, é compreendida por crises recorrentes que não correspondem ao tratamento tradicional, com fármacos e cirurgia (ESCOBAR; ARDILA; FONSECA, 2020).
Esse regime alimentar, baseia-se na redução dos carboidratos e aumento da quantidade de gordura ingerida. As proteínas ainda, são reguladas conforme o estado nutricional do paciente. Com isso, a dieta funciona alterando a forma como o metabolismo consegue energia (SANTOS et al., 2019).
Como uma possibilidade à adoção do jejum, a DC pode ser utilizada por crianças, adolescentes e adultos, sendo uma alternativa de relevância positiva aos casos de epilepsia refratária. Apesar de ser uma terapia de difícil adesão, devido as inúmeras restrições impostas ao paciente em sua dieta, o apoio e suporte familiar é um diferencial para esses casos (MOREIRA, 2020).
Como outras terapias médicas, a dieta cetogênica também deve possuir o acompanhamento integral e multiprofissional. Com o intuito de disponibilizar atendimento adequado e personalizado para suprir as necessidades do paciente. Além disso, essa restrição alimentar não está isenta de efeitos colaterais. Dessa forma, é imprescindível assistência profissional para controlar as consequências de tais mudanças alimentares (REBOLLO et al., 2020).
Desse modo, este trabalho possui o objetivo de avaliar a eficácia da dieta cetogênica no tratamento da epilepsia refratária, através da união dos conhecimentos disponíveis até o momento.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão de literatura, na qual foram realizadas as seguintes etapas para a sua construção: escolha do tema, seleção de artigos, avalição dos materiais coletados, análise e exposição dos resultados obtidos.
Recorreu-se a base de dados SciELO, PubMed e Google Acadêmico, utilizando os termos a seguir: “Epilepsia”, “Dieta cetogênica, “Epilepsia refratária” e “Epilepsia intratável”, feito isso foram selecionadas as publicações a partir de 2010. Ademais, os artigos foram escolhidos segundo os respectivos critérios de inclusão: escritos na língua portuguesa, inglesa ou espanhola, títulos e textos integrais de acordo com os objetivos desta pesquisa. Com base nas buscas realizadas, houve uma seleção de 10 artigos para elaboração deste resumo.
Os dados obtidos foram avaliados de modo qualitativo, devido a pretensão de esclarecer a eficácia dessa terapia. Além disso, os resultados do estudo foram ordenados em um documento utilizando o programa Microsoft Word Office.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apesar do progresso no tratamento da epilepsia, com a inserção no mercado de novos medicamentos antiepilépticos. Ainda existe, uma parcela de pacientes que não responde positivamente ou não são aptos a realizar cirurgia. Assim, encontram-se em uma situação de crise epiléptica recorrente, com opções limitadas de tratamento, o que acarreta na busca por terapias alternativas, que geralmente apresentam eficácia no controle dessas crises (ARAYA-QUINTANILLA et al., 2016).
A crise epiléptica é a manifestação excessiva de atividade neuronal, podendo ocorrer em períodos diferentes e havendo uma decorrência de sinais e/ou sintomas clínicos. Esses sinais ou sintomas incluem episódios anormais inesperados e momentâneos, como a ausência da consciência, contrações musculares/movimentos involuntários e falta de atenção, podendo ser facilmente perceptível. Pacientes que apresentam crises persistentes podem ter consequências, como as lesões cerebrais definitivas, caso não sejam controladas (SANTOS; MACHADO; OLIVEIRA, 2014).
É estimado que cerca de 50 milhões de indivíduos são diagnosticados com essa patologia. O tratamento da epilepsia em sua maioria é realizado por meio da terapia farmacológica antiepiléptica (DAE). Sensivelmente, 70% das pessoas respondem com êxito ao tratamento medicamentoso. Apesar disso, há um percentual ainda de 30% que não responde ao tratamento. Consequentemente, desenvolvem a epilepsia refratária. Com a opção de recorrer a terapia cirúrgica, existem pacientes que não optam por esse método por incerteza ou medo do tratamento, sendo então fundamental a utilização de terapias alternativas, como por exemplo a dieta cetogênica (MOREIRA, 2020).
Em 1921, foi desenvolvida por Wilder, a dieta cetogênica. Como uma opção de tratamento para casos de epilepsias refratárias, especialmente em crianças. Ao decorrer dos anos caiu em desuso com as descobertas de novos medicamentos antiepiléticos. No entanto, não alcançaram a efetividade desejada de proporcionar o controle das crises epilépticas de repetição. Além disso, há os casos em que o paciente não pode recorrer a cirurgia. Portanto, na década de 90, a DC ressurge como uma opção de tratamento (VASCONCELOS, 2014).
A dieta cetogênica é um tratamento não farmacológico para epilepsia refratária. E pode ser caracterizada pelo seu alto teor de gordura, escassez de carboidratos e quantidades adequadas de proteína. Com isso, as células oxidam ácidos graxos no lugar da glicose, formando os corpos cetônicos para fornecer energia ao sistema nervoso (PEREIRA et al., 2010).
Antes de estabelecer o tratamento é essencial o conhecimento das características da crise e realizar uma avaliação laboratorial e nutricional para que tenha um tratamento com eficácia. Propõe-se a realização do início da dieta em centros especializados, atentando-se aos cuidados exclusivos com o paciente, visto que, essa restrição alimentar pode ocasionar efeitos colaterais (VASCONCELOS, 2014).
Os mecanismos envolvidos na capacidade da DC em controlar a epilepsia refratária, são variados. Sendo a epilepsia uma mudança na atividade elétrica apresentada pelos neurônios, todos os mecanismos utilizados pela dieta refletem na alteração de polaridade da membrana. Assim, alterações no metabolismo energético propiciam mudanças estruturais que atuam na neuroproteção e consequente redução das crises epilépticas (SANTOS et al., 2019).
A dieta cetogênica utiliza o metabolismo de lipídeos para formar os corpos cetônicos e dessa maneira ser posteriormente utilizado como energia para os tecidos muscular, cardíaco e cerebral. Com efeitos ainda para serem esclarecidos, a DC parece possuir diversos modos de atuação, todos relacionados com a redução da excitação neuronal (SANZANA-CUCHE e ATENAS, 2020).
O mecanismo mais conhecido como o pilar da eficácia da DC, é o uso dos corpos cetônicos, na formação do principal inibidor do Sistema Nervoso Central, o ácido gama aminobutírico (GABA) e regulação positiva do glutamato, aminoácido essencial na excitação desse sistema. Contribuindo dessa maneira, para redução da atividade excitatória neuronal (MOREIRA, 2020).
As crises epiléticas envolvem alterações na atividade elétrica dos neurônios, associadas ao aumento da excitabilidade e dos potenciais de ação que, por sua vez, são induzidos pela despolarização da membrana celular numa sinapse. Os neurotransmissores regulam essa polaridade por bombas, indicando um segundo modo de ação da dieta, a competição com o íon cloro pela ligação alostérica no transportador de glutamato. Desta forma, há redução na liberação deste neurotransmissor e, por conseguinte, o controle da epilepsia (MOREIRA, 2020).
Além dos modos de atuação da dieta já citados, existem outros como, o aumento na síntese de Trifosfato de Adenosina que possui um efeito regulador nos canais de potássio dependentes de voltagem. Tal como, atua na redução das espécies reativas de oxigênio (EROS) e na atividade da proteína rapamicina, que estão em alta em estados epilépticos. Por fim, aumenta a manifestação do fator neurotrófico cerebral, com consequente controle antiepiléptico (SAMPAIO; TAKAKURA; MANREZA, 2017).
As propriedades terapêuticas da dieta, portanto, devem-se ao fato de seus efeitos serem responsáveis por desencadear mecanismos de neuroproteção, como a redução da atividade excitatória dos neurônios que influenciam na polaridade da membrana neuronal. Sendo assim, possui ação anticonvulsivante e está diretamente relacionada ao controle das crises epilépticas, geralmente apresentadas como de repetição (SANTOS et al., 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir deste estudo conclui-se, portanto, que a dieta cetogênica é um tratamento não farmacológico positivo em casos de epilepsia, sendo uma opção terapêutica de grande eficiência e seguridade, com o objetivo de controlar ou reduzir os episódios de crises epiléticas por meio de uma alimentação rica em lipídios e com acompanhamento ativo de um nutricionista durante todo o processo.
REFERÊNCIAS
ARAYA-QUINTANILLA, Felipe et al. Efectividad de la dieta cetogénica en niños con epilepsia refractaria: revisión sistemática. Rev Neurologia, v. 62, n. 10, p. 439-48, 2016. Disponível em: <researchgate.net/publication/301947307_Effectiveness_of_a_ketogenic_diet_in_children_with_refractory_epilepsy_A_systematic_review>. Acesso em: 13 set. de 2020.
MOREIRA, Fátima Raquel Gomes da Cunha. Dieta Cetogénica na Epilepsia Refratária. 2020. Repositório Aberto da Universidade do Porto. Disponível em: <repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/126956>. Acesso em: 11 set. de 2020.
DOS SANTOS, Douglas Kovacs et al. Utilização da dieta cetogênica como estratégia para o manejo de pacientes com epilepsia refratária: uma revisão da literatura. International Journal of Health Management Review, v. 5, n. 1, 2019. Disponível em: <ijhmreview.org/ijhmreview/article/view/150>. Acesso em: 11 set. de 2020.
ESCOBAR, Sara Valentina Acuña; ARDILA, Carolina; FONSECA, Sayda Milena Pico. Tratamiento nutricional con dieta cetogénica en niños con epilepsia refractaria–revisión narrativa. Revista de Nutrición Clínica y Metabolismo. Disponível em: <revistanutricionclinicametabolismo.org/public/site/Pico_Ardila_Acuna_Articulo.pdf>. Acesso em: 12 set. de 2020.
PEREIRA, Érica Silva et al. Dieta cetogênica: como o uso de uma dieta pode interferir em mecanismos neuropatológicos. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, v. 9, n. 1, p. 78-82, 2010. Disponível em: <portalseer.ufba.br/index.php/cmbio/article/view/4737/3510>. Acesso em: 19 set. de 2020.
REBOLLO G., María J. et al. Dieta Cetogénica en el paciente con epilepsia refractaria. Revista Chilena de Pediatría, [S.l.], v. 91, n. 5, ago. 2020. ISSN 0370-4106. Disponible en: <revistachilenadepediatria.cl/index.php/rchped/article/view/1563>. Acesso em: 19 set. de 2020.
SAMPAIO, Letícia Pereira de Brito; TAKAKURA, Cristina; MANREZA, Maria Luiza Giraldes de. O uso da dieta cetogênica a base de fórmula em crianças com epilepsia refratária. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 75, n. 4, p. 234-237, 2017. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-282X2017000400234&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 18 set. de 2020.
SANTOS, Marcelo Volpon; MACHADO, Hélio Rubens; DE OLIVEIRA, Ricardo Santos. Tratamento cirúrgico da epilepsia na infância. Revista Brasileira de Neurologia e Psiquiatria, v. 18, n. 2, 2014. Disponível em: <revneuropsiq.com.br/rbnp/article/view/83/45>. Acesso em: 14 set. de 2020.
SANZANA-CUCHE, Rodolfo; ATENAS, Tomás Labbé. Dieta cetogénica: mecanismos en el control de la epilepsia refractaria. ARS MEDICA Revista de Ciencias Médicas, v. 45, n. 1, p. 51-56, 2020. Disponível em: <arsmedica.cl/index.php/MED/article/view/1607>. Acesso em: 12 set. de 2020.
VASCONCELOS, Carla. Dieta Cetogénica-Abordagem Nutricional. Revista Nutrícias, n. 22, p. 16-19, 2014. Disponível em: <www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-72302014000300004>. Acesso em: 13 set. de 2020.
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