INTRODUÇÃO
O trabalho da enfermagem é relacionado a rotinas intensas capazes de causar exaustão mental e emocional do profissional. Com o desenrolar da pandemia da COVID-19 houve uma intensificação ainda maior do desgaste, uma vez que estes profissionais atuam na linha de frente dos cuidados de saúde dos infectados pelo vírus, e também daqueles que precisam de atendimento para outras enfermidades. Cuidar de pessoas que sofrem da covid-19 pode causar efeitos negativos na saúde mental destes profissionais. A nova rotina de trabalho imposta aos profissionais de saúde promove o aumento do estado geral de estresse por duas vias principais, pelo aumento da insalubridade, e pelo estado de medo constante de se infectar.
A necessidade de isolamento daqueles que tiveram contato com pessoas infectadas faz com que os profissionais de saúde, entre estes os enfermeiros, necessitem manter o distanciamento dos próprios familiares, promovendo o aumento do sofrimento por se sentirem isolados e solitários, aumentando o risco de se desenvolver quadros depressivos e ansiogênicos pelo medo de transmitir a doença, sobretudos as pessoas amadas. Ainda há o estigma social imposto aos profissionais de saúde como transmissores do vírus.
A rápida e intensa implementação da nova rotina de trabalho gerou a obrigatoriedade de se adaptar a novas condutas, produzindo em alguns profissionais a angustia pela necessidade iminente de se reinventar. Aliado a isso existe a demanda psicológica de se viver em uma jornada em estado de alerta constante aliado ao desgaste físico promovido pelo uso intensivo de equipamentos de proteção individual.
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo realizou uma revisão de literatura nas bases de dados Google Acadêmico e Scielo, usando a seguinte estrutura de termos descritores e operador boleano: “Saúde mental” AND “enfermeiro” OR enfermagem” AND “COVID”. Realizou-se a leitura dos resumos dos principais resultados que retornaram da busca, selecionando então os estudos que apresentavam maior correspondência com o tema de pesquisa.
DESENVOLVIMENTO
O aumento da jornada de trabalho associado ao aumento do risco iminente, tem alterado o nível de pressão ao qual os profissionais de saúde que atuam na linha de frente vêm enfrentando. As conquistas trabalhistas observadas, principalmente após a segunda revolução industrial, mudaram a forma com que enxergamos o trabalho que exercemos como profissão. Nas últimas décadas deixamos de ver o trabalho como meio exclusivo para aquisição de renda e passamos compreende-lo como forma socializadora e construtora de identidade (RUBACK et al., 2018). Assim deve-se considerar que a ocupação de um cargo pode gerar identificação e promover a expressão da subjetividade do indivíduo, afetando diretamente a capacidade do ser em resgatar ou promover a saúde conforme a organização e o processo laboral, em uma complexa relação entre saúde e trabalho (DAL’BOSCO et al., 2020).
Os enfermeiros representam o maior número de profissionais de saúde inseridos no sistema de saúde, com um trabalho voltado ao cuidado direto do ser humano, estabelecendo uma ligação direta entre profissional/paciente. A análise do trabalho da equipe de enfermagem mostra que a assistência eficiente ao paciente é, per se, geradora de situações envolvendo risco, enfrentamento de medos, desgaste emocional e físico e grande responsabilidade com a vida alheia (DAL’BOSCO et al., 2020). O estado de responsabilidade constante que o profissional é submetido, é causador de desgastes psicológicos e de um estado de elevada tensão, que muitas vezes deflagram quadros ansiedade e depressão (VIEIRA; NOGUEIRA; TERRA, 2017). Tais desordens psicológicas além de impactar drasticamente a qualidade de vida do profissional acaba também por impactar a qualidade da assistência ao paciente.
Um fator agravante tem sido observado com a sobrecarga do sistema de saúde devido a pandemia do COVID-19. Além das fontes habituais de estresse, tem sido observado o aumento de tensão devido ao medo constante de se infectar e da frustação relacionada a incapacidade de reverter o quadro de mortalidade, mesmo com o maior esforço possível do profissional. Tais questões se agravam com a ausência do acompanhamento psicológico aos profissionais da linha de frente, em um cenário no qual a ajuda terapêutica poderia ajudar na reflexão sobre como lidar com certas situações que as vezes fogem controle, como a perda de tantas vidas (HO; CHEE; HO, 2020).
DISCUSSÃO
Alguns profissionais precisam de ajuda para que seu trabalho não pare e continue sendo efetiva ajuda a sociedade. Por ter uma carga tão grande de trabalho, o profissional necessita entender que é preciso reservar um tempo para si, e garantir suas horas de descanso, buscando evitar uma sobrecarga emocional e mental. Dal’Bosco e colaboradores (2020) acreditam que seja imprescindível o preparo do profissional de enfermagem para lidar com cenários atordoadores, como no caso da COVID-19. Ainda segundo os autores pode ser de grande valia a busca por:
“... informações sobre os fatores de risco e de proteção em relação à pandemia e o que ela acarreta em suas rotinas, buscando estratégias de enfrentamento, como apoio psicológico especializado, atendimento por telefone que realiza escuta diferenciada, sigilosa e gratuita, realização de práticas integrativas complementares como Yoga, Reiki, entre outras, e realização de exercícios de relaxamento, a procura por serviços públicos de saúde mental disponíveis, a fim de obterem melhoria em suas condições de trabalho e, consequentemente, em sua saúde física e mental. “
Uma estratégia para cuidar da saúde mental é o ouvir empático. Diante de uma pandemia como a que vivemos, os profissionais da enfermagem fazem parte de um dos grupos mais afetados, expostos ao risco de contágio e a dor emocional que afeta consideravelmente a saúde mental. Uma boa proposta para todos é lembrar que a pandemia do novo Coronavírus não é o primeiro desafio enfrentado no planeta Terra e que não estamos sozinhos, mas fazemos parte de uma estratégia comunitária que pode salvar vidas.
Para HUMEREZ; OHL e SILVA (2020) os principais sentimentos relatados pelos profissionais de enfermagem foi o sofrimento e a sensação de vazio associada a existência. Os autores pontuaram a importância de se ouvir empaticamente os companheiros de trabalho e buscar ser positivista com aqueles mais desgastados e abalados psicologicamente, reforçando a ideia de que todos fazemos parte de uma estratégia comunitária que pode salvar vidas.
Para Barbosa e colaboradores (2020) o fato dos enfermeiros terem seu trabalho pautado no cuidado do outro ocasiona um elevado tempo ao lado dos pacientes, o que gera a necessidade de se entender que a atuação vai além do cuidado técnico, devendo ser levado em consideração não apenas a qualidade técnica do profissional, mas também os aspectos psicológicos e emocionais, principalmente o medo de adoecer e morrer, e ainda, o medo da contaminação dos seus familiares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pandemia que estamos vivenciando trouxe luz a um problema já crônico da rotina de enfermagem: a saúde mental e psicológica dos profissionais de saúde. Este período onde perdas e transformações estão presentes de forma diária, pode ensinar o profissional de enfermagem a se enxergar como ser humano dotado de sensibilidade, e que também precisa de cuidados para poder cuidar do outro com excelência. Também se observa que a equipe multidisciplinar pode ser de grande valia na rotina laboral, com atenção especial ao suporte psicológico que tem muito a oferecer, trazendo conforto e conhecimento para podermos lidar com esse momento.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, D. J. et al. Fatores de estresse nos profissionais de enfermagem no combate à pandemia da COVID-19: Síntese de Evidências. Com. Ciências Saúde, v. 31, n. 1, p. 31–47, 2020.
DAL’BOSCO, E. B. et al. Mental health of nursing in coping with COVID-19 at a regional university hospital. Revista brasileira de enfermagem, v. 73 2, p. e20200434, 2020.
HO, C. S.; CHEE, C. Y.; HO, R. C. Mental Health Strategies to Combat the Psychological Impact of COVID-19 Beyond Paranoia and Panic. Annals of the Academy of Medicine, Singapore, v. 49, n. 1, p. 1–3, 2020.
HUMEREZ, D. C. DE; OHL, R. I. B.; SILVA, M. C. N. DA. Saúde Mental Dos Profissionais De Enfermagem Do Brasil No Contexto Da Pandemia Covid-19: Ação Do Conselho Federal De Enfermagem. Cogitare Enfermagem, v. 25, 2020.
RUBACK, S. P. et al. Estresse e síndrome de burnout em profissionais de enfermagem que atuam na nefrologia: uma revisão integrativa. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, v. 10, n. 3, p. 889, 2018.
VIEIRA, N. F.; NOGUEIRA, D. A.; TERRA, F. DE S. Avaliação do estresse entre os enfermeiros hospitalares. Rev. enferm. UERJ, v. 25, p. [e14053]-[e14053], 2017.
COMISSÃO ORGANIZADORA E CIENTÍFICA
FACULDADE METROPOLITANA SÃO CARLOS
Avenida Governador Roberto Silveira, nº 910
Bom Jesus do Itabapoana-RJ CEP: 28.360-000
Site: www.famescbji.edu.br
Telefone: (22) 3831-5001
O conteúdo de cada trabalho é de responsabilidade exclusiva dos autores.
A reprodução dos textos é autorizada mediante citação da fonte.