INFLUÊNCIA DA DIABETES GESTACIONAL: RISCO PARA GESTANTE E FETO
INTRODUÇÃO
Segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF) níveis de alterações elevadas na glicemia durante a gravidez podem ser sugestivo de Diabetes Mellitus Gestacional (DMG), acredita-se que de 75 a 90% dos casos em que há hiperglicemia durante a gravidez são casos de DMG. Essa classificação de DM é referida a ocorrência da hiperglicemia de mulheres grávidas geralmente durante o segundo e o terceiro trimestres da gestação (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2015).
Na atualidade, a diabetes vem sendo associada à epidemia da obesidade e representando uma emergência mundial de saúde, estando neste contexto inseridas as mulheres em idade fértil e, portanto, ameaçadas acerca do risco de desenvolverem a diabetes tipo 2 e gestacional (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2015) – conhecida dentro da literatura como Diabetes Gestacional (DG) ou Diabetes Mellitus Gestacional (DMG).
Assim, a DMG define-se como um nível de intolerância a carboidratos, que rapidamente se resulta em hiperglicemia; contudo, sua gravidade é variável caso a caso. Inicia-se na gestação e em alguns casos desaparece após o parto, em outros permanecem ou persistem (BLOTTA, 2018).
METODOLOGIA
Para a realização desta pesquisa, foram utilizados trabalhos acadêmicos para confirmar a hipótese de que a DMG é uma patologia que, sendo identificada e tratada de forma correta, possui índices altos de cura e sucesso gestacional, sem grandes consequências para a mãe e para o feto. Verificou-se que algumas medidas como a prática de atividades físicas, insulinoterapia, acompanhamento nutricional e realização de pré-natal, são exemplos de prevenção e tratamento a fim de se evitar as devidas complicações patológicas.
Para realização dessa pesquisa, foram selecionados 9 artigos, datando de 2008 a 2019, através do SciELO e Google Acadêmico, utilizando seguintes termos de buscas: Diabetes Mellitus Gestacional, Diabetes na gestação e aplicando o critério temporal como filtro, dando prioridade na seleção dos mais recentes.
DESENVOLVIMENTO
Mulheres gestantes portadoras de DMG são classificadas como grávidas de risco, pois o agravo representa altos índices de morbidade, além de proporcionar maiores chances para intolerância à glicose, o que pode acarretar mais riscos dessas mulheres desenvolverem DM2 após a gravidez. Os riscos e complicações ainda não são bem esclarecidos, por esse motivo, nos últimos anos, várias pesquisas têm sido realizadas sobre o tema, inclusive abordando os novos critérios de diagnóstico do DMG, que sofreram alteração de 2005 até os dias atuais (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2015; FERRARA, 2007).
Para o recém-nascido (RN) de mães com DMG, percebe-se um aumento da morbidade neonatal e uma prevalência de obesidade, sobrepeso e distúrbios metabólicos na infância, adolescência e na vida adulta jovem. A literatura indica uma maior predominância de macrossomia fetal em decorrência de uma gestação com níveis glicêmicos alterados. É determinada através do peso ao nascer, superior a 4.000g (NOMURA et al., 2012; SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA, 2008). Além do aumento das taxas de partos cesarianos, traumas de canal de parto e distócia de ombro, hiperbilirrubinemia e óbito fetal intra-uterino, o DMG aumenta o risco de prematuridade (WEINERT et al., 2011).
Relata-se nos casos de DMG a ocorrência de anomalias estruturais e funcionais do coração do feto, aumentando o risco de morte fetal e em RN achados freqüentes de cardiomegalia e hipertrofiamento do miocárdio que pode levar à estenose subaórtica transitória e à insuficiência cardíaca congestiva. A proporção de isso acontecer em filhos de mães com DMG é de 20,6 vezes maior do que em filhos de mães não diabética (SIMÕES et al., 2011).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1. Metabolismo
O metabolismo materno se adequa para prover as necessidades nutricionais feto-placentária. No primeiro trimestre, a glicose passa para o feto por difusão facilitada e os aminoácidos são transportados ativamente para a circulação placentária. A diminuição nos níveis de glicose e a perda de substrato para a gliconeogênese (principalmente do aminoácido alanina) são fatores fundamentais para a hipoglicemia materna no início da gestação.
2. Tratamento
Existe uma relação contínua entre os valores glicêmicos na gestação e a taxa de complicações materno-fetais. No entanto, o limiar de glicemia a partir do qual o risco de complicações aumenta de forma significativa não é claro.
Sugere-se que o ponto de corte para glicemia de jejum de 90 mg/dL seria o mais correlacionado à diminuição do risco de macrossomia; contudo, metas de glicemia muito inflexíveis aumentam o risco de hipoglicemia e podem não ser seguras para a maior parte das gestantes. Com o intuito de reduzir o risco de consequências materno-fetais, o tratamento do DMG tem como objetivo índices de glicemia pré-prandiais inferiores a 95 mg/dL, 1 hora após o início da refeição inferior a 140 mg/dL, e 2 horas pós-prandial abaixo de 120 mg/dL.
2.1 Autovigilância glicêmica
A autovigilância glicêmica é de grande importância para se estabelecer a necessidade, ou não, de se iniciar a terapêutica medicamentosa. Essa autovigilância se dá através de 4 medidas da glicemia capilar diária; sendo elas em jejum, e após 1 hora do início das principais refeições, com alterações que poderão ser estabelecidas, caso necessário (ALMEIDA, 2017)
2.2 Terapêuticas não medicamentosa
O tratamento inicial é através de alterações no estilo de vida, mediante dietas e exercício físicos, controlando assim 70 a 85% dos casos (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2015).
O ajuste nutricional através de uma dieta, é imprescindível no tratamento da DMG. Deve ser personalizado com base em fatores como IMC, nível de atividade física e crescimento fetal. Há que se ressaltar, a necessidade de se evitar dietas com menos de 1500 kcal/dia, devido ao risco de cetoacidose (ABI-ABIB et al., 2014).
Os exercícios físicos promovem redução da resistência insulínica, levando à melhora do controle glicêmico, à redução do ganho de peso e à diminuição da adiposidade fetal, além de ampliar a tolerância ao parto. Na ausência de contraindicações, deve-se recomendar a prática de atividade física por pelo menos 30 minutos, na maior parte dos dias da semana, evitando-se exercícios com risco de queda ou trauma abdominal (ABI-ABIB et al., 2014).
2.3 Terapêuticas medicamentosa
A terapêutica farmacológica deverá ser iniciada quando os objetivos glicémicos não forem atingidos num período de 1 a 2 semanas após a instituição das medidas não farmacológicas e em qualquer altura da gravidez. A avaliação do crescimento fetal durante o 3º trimestre pode determinar o início, bem como, o ajuste da terapêutica farmacológica. As opções terapêuticas são: metformina, glibenclamida e insulina (ALMEIDA, 2017).
A metformina atua por meio do aumento da sensibilidade à insulina e da redução da produção hepática e absorção intestinal de glicose, o que a princípio é favorável para a preservação das células pancreáticas. Os seus efeitos são concretizados pela inibição do complexo I da cadeia respiratória mitocondrial, levando a maior produção de ATP e, por conseguinte, de AMP. Que, por sua vez, ativa a proteína-cinase ativada por AMP (AMPK), que está constantemente inativada na obesidade e insulinorresistência.
No tratamento da diabetes gestacional aponta uma efetividade semelhante à da insulina, e o seu uso parece ser com mais adesão pelas mulheres. A idade mais avançada, níveis glicémicos pré-tratamento mais elevados, aparecimento da doença mais cedo na gravidez e a obesidade são fatores relacionados a inabilidade de atingir a normoglicemia somente com metformina, necessitando de uma vigilância mais rigorosa, nestas gestantes, para lhes ser definida a utilização de insulina assim que necessário.
A passagem transplacentar da glibenclamida não está bem definida ainda, não sendo atestado qualquer efeito teratogênico. Vários estudos confirmam efetividade similar à insulina no controle glicémico, contratempos obstétricos e resultados neonatais. Com este fármaco aparenta, contudo, haver um aumento no risco de hipoglicemia neonatal (ALMEIDA, 2017).
O tipo de esquema insulínico e o número de administrações são determinados consoante as necessidades individuais, controle glicémico e estilo de vida. Pode variar entre uma a várias administrações diárias, podendo ser utilizados todos os tipos de insulina, humanas ou análogos (ALMEIDA, 2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
São muitos os fatores que interferem na alteração glicêmica da gestante e isso pode trazer sérias consequências para a saúde da mãe e filho. As alterações na tolerância à glicose estão relacionadas a um aumento do risco de doença cardiovascular, hipertensão arterial, insuficiência renal, problemas visuais e tantos outros agravamentos à saúde da mulher grávida e de seu filho.
É de suma importância o diagnóstico precoce, com a intenção de que a paciente seja controlada, pois essas condutas contribuem na melhoria da saúde e diminuição dos problemas para a mãe e bebê.
REFERÊNCIAS
ABI-ABIB, R. C. et al. Diabetes na gestação. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, [s.l.], v. 13, no 3, p. 40–47, 2014. ISSN: 1676-8280, DOI: 10.12957/rhupe.2014.12136.
ALMEIDA, M. C. et al. Consenso “ Diabetes Gestacional ”: Atualização 2017. Revista Portuguesa de Diabetes [s.l.], v. 12, no 1, p. 24–38, 2017.
AMERICAN DIABETES ASSOCIATION.Standards of Medical Care In Diabetes. Diabetes Care, [s.l.], v. 38, no January, p. S1–S2, 2015. ISSN: 19355548, DOI: 10.2337/dc15-S001.
BLOTTA, F. Diabetes mellitus gestacional: diagnóstico, tratamento e acompanhamento po?s gestação. Portal PebMed, 14 nov 2018. Disponível em: Acesso em: 20 ago. 2019.
FERRARA, A. Increasing prevalence of gestational diabetes mellitus: A public health perspective. Diabetes Care, [s.l.], v. 30, no SUPPL. 2, 2007. ISSN: 01495992, DOI: 10.2337/dc07-s206.
NOMURA, R. M. Y. et al. Influence of maternal nutritional status, weight gain and energy intake on fetal growth in high-risk pregnancies. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetricia, [s.l.], v. 34, no 3, p. 107–112, 2012. ISSN: 0100-7203, DOI: 10.1590/S0100-72032012000300003.
SIMÕES, M. A. et al. Fetal Doppler Ecocardiography Analysis of Pregnant Patients with Gestational Diabetes Mellitus. Revista Brasileira de Ecocardiografia; v. 24, nº 4, p.35-40. 2011..
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA. Diabetes mellitus gestacional. Revista da Associação Médica Brasileira; v. 54, nº 6, p.477-480. 2008.
WEINERT L. S. Diabetes gestacional: um algoritmo de tratamento multidisciplinar. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia; v. 55, nº 7, p.435-445. 2011.
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