POSSIBILIDADE DE TRANSMISSÃO VERTICAL DO NOVO VÍRUS SARS-COV-2: UMA BREVE REVISÃO

  • Autor
  • Luanny de Souza Santos
  • Co-autores
  • Layane de Sousa Lopes Aiala , Livia Mattos Martins
  • Resumo
  •  

    POSSIBILIDADE DE TRANSMISSÃO VERTICAL DO NOVO VÍRUS SARS-COV-2: UMA BREVE REVISÃO

     

    INTRODUÇÃO

     

    Em dezembro de 2019, a cidade chinesa de Wuhan notificou diversos casos de síndrome respiratória grave provocada por um vírus altamente infecioso e até então desconhecido. O número de contaminados cresceu exponencialmente e rompeu com as barreias do território chinês em 2020, o que levou a WHO (Health World Organization) a decretar um estado de pandemia em março do mesmo ano. Tal vírus, foi nomeado SARS-CoV-2 (Coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2) pelo Internacional Committee on Taxonomy of Viruses, e a WHO denominou a doença infecciosa como Coronavírus Diease-2019 (COVID 19) (WHO, 2020).

    O vírus SARS-CoV-2 pertence à família Coronaviridae e infecta as células de revestimento do trato respiratório através da sua interação com o receptor de ECA2 (enzima conversora de angiotensina 2) (BAHADUR et al., 2020). Esse é transmitido principalmente através do contato com secreções das vias aéreas das pessoas contaminadas e, gera manifestações clínicas que vão desde mialgias e febre até insuficiência respiratória grave e pneumonia (SOARES E GAUDARD, 2020). Devido a sua alta infectividade há preocupações quanto ao risco de transmissão vertical, visto que essa pode comprometer a saúde materna e fetal (CARROSO et al., 2020).

    A gestação é definida pelo Ministério da Saúde como o desenvolvimento do embrião no interior do útero materno, a partir da fecundação. Sabe-se que mudanças imunológicas ocorrem para que o feto, apesar de possuir antígenos originados do genótipo paterno, não seja rejeitado pelo organismo da mãe (FUIZA E MORAIS, 2017). Devido a isso, tais alterações tornam as gestantes vulneráreis as doenças infectocontagiosas, as quais podem ser transmitidas ao embrião por via placentária, no parto ou através da amamentação, caracterizando a transmissão vertical (DA COSTA et al., 2020).

    Dessa forma, este trabalho objetiva explicar a possibilidade da transmissão materno-fetal da COVID-19, por meio da reunião dos conhecimentos disponíveis até o vigente momento, apontando as prováveis vias de disseminação, bem como as principais evidências favoráveis e contrárias a esse acontecimento.

     

     

    MATERIAIS E MÉTODOS

     

                O presente estudo é de caráter explicativo, pois pretende esclarecer os questionamentos acerca da capacidade de transmissão vertical do vírus SARS-CoV-2. Trata-se de uma revisão de literatura, em que foram utilizadas as seguintes etapas para a sua elaboração: escolha do tema, coleta de dados segundo critérios de inclusão e de exclusão, avaliação dos artigos coletados, análise e tabelamento dos resultados.

    Foi realizada uma busca de artigos nas bases de dados: Portal Regional da BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e Google Scholar. Para tal seleção, utilizou-se como critérios de inclusão: artigos disponíveis gratuitamente em texto completo, títulos que indicam associação com o tema e escritos nos idiomas português e inglês. Foram excluídos os seguintes estudos encontrados: pesquisas inconclusivas ou sem relação com o tema, monografias, dissertações, teses, editoriais, cartas ao leitor e diretrizes governamentais.

    Os descritores de busca aplicados foram “COVID-19”, “transmissão vertical” e “gestação”, acrescentando os filtros “texto completo”, “transmissão vertical de doença contagiosa” e “Coronavírus”, totalizando 415 artigos, contudo, 28 foram eleitos, visto que os demais não contemplaram os critérios de inclusão. No entanto, após a leitura inicial dos materiais coletados, somente 15 artigos permaneceram no estudo, tendo em consideração os respectivos parâmetros: a qualidade do artigo e a relevância das informações apresentadas.

    Os dados alcançados foram analisados de modo qualitativo, em razão do intuito de entender a hipótese de ocorrência dessa transmissão. Além disto, os resultados obtidos foram ordenados em uma tabela formulada com o programa Microsoft Excel Office 2019.

     

     

    DESENVOLVIMENTO

     

    O SARS-CoV-2 possui alta infectividade e afeta predominantemente o sistema respiratório dos indivíduos afetados. As gestantes constituem parte do grupo de risco da COVID-19, devido tanto as adaptações imunossupressoras do organismo dessas mulheres, quanto aos possíveis malefícios à viabilidade fetal (SOARES E GAUDARD, 2020). As principais manifestações clínicas relatadas nessas pacientes são: febres, dores de garganta, tosses, falta de ar, mialgia e linfopenia. Já, as complicações fetais mais relatadas são: cardiopatias, danos renais, alterações hepáticas, hipoxemia materno-fetal e o risco à prematuridade (DA COSTA et al., 2020). Os estudos acerca da relação entre gravidez e COVID-19 são limitados, em consequência da escassa participação das gestantes, haja vista o risco de propagação (MULLINS et al., 2020).

    As gestantes consideradas positivas para a COVID-19 nos artigos examinados por este trabalho foram diagnosticadas através do RT-PCR (Reverse Transcriptase Polymerase Chain Reaction), considerado padrão-ouro, esse detecta o RNA viral por meio da reação em cadeia da polimerase. Previamente ao exame, realiza-se a coleta de esfregaços nasofaríngeos, vaginais, anorretais e placentário. Diversas pesquisas confirmam a presença do vírus nesses sítios. Tais achados, revelam as possíveis vias de transmissão vertical, sendo elas: intrauterina e fecal-oral, o que sugere múltiplas formas possíveis de propagação do SARS-CoV-2, semelhante aos outros  betacoronavírus SARS-CoV e MERS-CoV (SISMAN et al., 2020).

    Os receptores de ECA-2, local de interação viral, estão presentes nos tecidos placentários (BAHADUR et al., 2020). Os pacientes com COVID-19 produzem IgG aproximadamente partir da segunda semana após o início dos sintomas e, essas proteínas são capazes de ultrapassar a barreira placentária (LAMOUROUX et al., 2020). Alguns exames histopatológicos da placenta indicaram a contaminação por SARS-CoV-2 e a imuno-histoquímica e a microscopia eletrônica exibiram partículas virais (SISMAN et al., 2020). Em sua pesquisa, Marzollo et al. (2020) descrevem uma provável infecção transplacentária em um neonato, de mãe positiva, com aspiração traqueal e swab nasofaríngeo positivos para COVID-19, coletados 36 horas pós-parto. Entretanto, a placenta possui mecanismos de defesa que reduzem significativamente a viabilidade dessa transmissão, como um concentrado de células imunológicas, Receptores de Reconhecimento Padrão (RRP), síntese de citocinas, presença dos mediadores inflamatórios e dos peptídeos antimicrobianos, portanto, tal fisiologia torna rara a ocorrência desse contágio (KREIS et al., 2020).

    Carroso et al. (2020) confirmam em seu estudo a presença do vírus no trato digestivo com base na examinação do swab anorretal, mesmo em pacientes com ausência dos sintomas gastrointestinais. Durante o parto vaginal o neonato entra em contato com a microbiota vaginal e anal, o que favorece a sua contaminação por meio da aspiração do SARS-CoV-2 presente nessas secreções (CARROSO et al., 2020). Logo, analisa-se uma possibilidade de transmissão vertical via oro-fecal, em razão da exposição às fezes maternas no parto vaginal, tendo o RT-PCR fecal materno positivo (LAMOUROUX et al., 2020). Ademais, a baixa incidência de material viral encontrado nas secreções vaginais afasta a possibilidade de contaminação através desse fluído (GRIMMINCK et al., 2020) (CARROSO et al., 2020).

    O leite materno constitui uma provável via de contágio materno-fetal, dado que possui células imunológicas e anticorpos maternos em sua composição (BRUXEL E SICA, 2019). A revisão literária de Lamouroux et al. (2020) apresenta um relato de caso em que o leite de 10 puérperas com COVID-19 foi averiguado e todos testaram negativos, o que afasta o aleitamento como possível via de disseminação da COVID-19. Todavia, observa-se em outro trabalho a existência de leite materno positivo para SARS-CoV-2 (KRISTMAN et al., 2020). As informações inconclusivas e os benefícios da amamentação defendem a sua manutenção, porém, a chance de contaminação por intermédio das secreções respiratórias no decorrer do aleitamento não deve ser ignorada e, por isso recomenda-se a higiene prévia das mamas e o uso de máscara pela mãe durante o processo (LYRA et al., 2020).

     

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

     

    O estudo demonstrou que o entendimento acerca da transmissão vertical do SARS-CoV-2 encontra-se em progresso, dada a divergência entre as pesquisas publicadas. No entanto, a viabilidade desta via de transmissão não pode ser anulada e, por isso as gestantes infectadas precisam ser acompanhadas rigorosamente. Além do mais, é necessário impulsionar a presença dessas pacientes nas pesquisas, a fim de obter resultados concludentes.

    REFERÊNCIAS

     

    BAHADUR, Gulam et al. Adverse outcomes in SAR-CoV-2 (COVID-19) and SARS virus related pregnancies with probable vertical transmission. JBRA assisted reproduction, v. 24, n. 3, p. 351, 2020. Disponível em: < encurtador.com.br/hjNP3 >. Acesso em: 7 set. 2020.

    BRUXEL, Roberto; SICA, Caroline D’Azevedo. Análise de proteína e micronutrientes em amostra de leite humano. RBONE-Revista Brasileira De Obesidade, Nutrição E Emagrecimento, v. 13, n. 78, p. 194-201, 2019. Disponivel em: <www.rbone.com.br/index.php/rbone/article/view/909>. Acesso em: 9 set. 2020.

    CAROSSO, Andrea et al. How to reduce the potential risk of vertical transmission of SARS-CoV-2 during vaginal delivery? European Journal of Obstetrics and Gynecology and Reproductive Biology, 2020. Disponível em: <encurtador.com.br/tzDGJ >. Acesso em: 7 set. 2020.

    DA COSTA, Rafael Everton Assunção Ribeiro et al. Principais Complicações Relacionadas à COVID-19 na Gravidez. Research, Society and Development, v. 9, n. 8, p. e490985880-e490985880, 2020. Disponível em: <rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/5880>. Acesso em: 9 set. 2020.

    LYRA, Ana Carolina Ferreira Brito et al. Transmissão vertical e SARS-COV-2: o que sabemos até agora? Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 4, p. 9128-9141, 2020. Disponível em: <www.brazilianjournals.com/index.php/BJHR/article/view/13757>. Acesso em: 9 set. 2020.

    FIUZA, Carla; MORAIS, Paloma Benigno. Aspectos Imunológicos essenciais na Gestação Regular. Journal of Applied Pharmaceutical Sciences–JAPHAC, v. 4, n. 3, p. 42-51, 2017. Disponível em: <encurtador.com.br/juJT1>. Acesso em: 10 set. 2020.

    GRIMMINCK, Koen et al. No evidence of vertical transmission of SARS-CoV-2 after induction of labour in an immune-suppressed SARS-CoV-2-positive patient. BMJ Case Reports CP, v. 13, n. 6, p. e235581, 2020. Disponível em: <dx.doi.org/10.1136/bcr-2020-235581>. Acesso em: 9 set. 2020.

    KIRTSMAN, Maksim et al. Probable congenital SARS-CoV-2 infection in a neonate born to a woman with active SARS-CoV-2 infection. CMAJ, 2020. Disponível em: <dx.doi.org/10.1503/cmaj.200821>. Acesso em: 7 set. 2020.

    KREIS, Nina-Naomi et al. A Message from the Human Placenta: Structural and Immunomodulatory Defense against SARS-CoV-2. Cells, v. 9, n. 8, p. 1777, 2020. Disponível em: <www.mdpi.com/2073-4409/9/8/1777>. Acesso em: 7 set. 2020.

    LAMOUROUX, Audrey et al. Evidence for and against vertical transmission for severe acute respiratory syndrome coronavirus 2. American Journal of Obstetrics & Gynecology, [S. l.], p. 91-94, 4 jul. 2020. Disponível em: <www.ajog.org/article/S0002-9378(20)30524-X/fulltext>. Acesso em: 7 set. 2020.

    MARZOLLO, Roberto et al. Possible coronavirus disease 2019 pandemic and pregnancy: vertical transmission is not excluded. The Pediatric infectious disease journal, v. 39, n. 9, p. e261-e262, 2020. Disponível em: <dx.doi.org/10.1097/INF.0000000000002816>. Acesso em: 9 set. 2020.

    MULLINS, E. et al. Coronavirus in pregnancy and delivery: rapid review. Ultrasound in Obstetrics & Gynecology, v. 55, n. 5, p. 586-592, 2020. Disponível em: <encurtador.com.br/eltBS>. Acesso em: 10 set. 2020.

    SISMAN, Julide et al. Intrauterine transmission of SARS-COV-2 infection in a preterm infant. The Pediatric infectious disease journal, v. 39, n. 9, p. e265-e267, 2020. Disponível em: <dx.doi.org/10.1097/INF.0000000000002815>. Acesso em: 7 set. 2020.

    SOARES, Roger Costa; GAUDARD, Ana Marcia Lunes Salles. Transmissão vertical do SARS-CoV-2: uma revisão sistemática/Vertical transmission of SARS-CoV-2: a systematic review. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 3, p. 4236-4240, 2020. Disponível em: < encurtador.com.br/klotN >. Acesso em 7 set. 2020.

    WORLD HEALTH ORGANIZATION. Coronavirus disease 2019 (COVID-19) Situation Report – 94, 23 abr. 2020. Disponível em: < encurtador.com.br/fhjoC >. Acesso em: 16 set. 2020.

     

  • Palavras-chave
  • COVID-19; gestação
  • Modalidade
  • Vídeos
  • Área Temática
  • Ciências da Saúde
Voltar Download

Essa publicação reúne as produções científicas de discentes, docentes e pesquisadores dos cursos de graduação da Faculdade Metropolitana São Carlos – FAMESC, unidade de Bom Jesus do Itabapoana-RJ, participantes da V Expociência Universitária do Noroeste Fluminense, com a temática: Os impactos da pandemia nas relações sociais, jurídicas e de saúde, realizada entre 21 e 23 de outubro de 2020.

Em sua 5º edição, o evento se destina, fundamentalmente, o propósito de se criar, na Instituição, um lugar de intercâmbio científico e cultural entre os pares, privilegiando-se uma discussão sobre as teorias interdisciplinares que ganham expressão no debate acadêmico contemporâneo.

Nessa edição os trabalhos apresentados envolvem àreas das Ciências Humanas e Sociais, Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Exatas e Estudos Interdisciplinares. Tal fator resultou na apresentação de 204 (duzentos e quatro) trabalhos de pesquisa apresentados a seguir. Acreditamos que a discussão ampliada, que inclua os diversos atores envolvidos nas diversas áreas, e, entendendo que existe uma abordagem interdisciplinar, esperamos contribuir para o fomento do saber acadêmico científico, viabilizando um espaço à divulgação de resultados de pesquisas relevantes para a formação do licenciando, bacharel, e do pesquisador da área e de áreas afins.

Por outro lado, queremos destacar que foi imprescindível a atuação coletiva na organização deste evento, que contou com a participação do corpo diretivo, das coordenações de curso, docentes e discentes. Sem o interesse de todos, a dedicação e a responsabilidade principalmente dos funcionários técnicos administrativos envolvidos, não seriam atingidas a forma e a qualidade necessárias ao sucesso da atividade. 

A Expociência representa um espaço significativo e verdadeiro de troca de experiências e de oportunidade de conhecer a produção científica de forma interdisciplinar e coletiva.

Boa leitura a todos!

 

 

Profª. Mª. Neuza Maria da Siqueira Nunes

Coordenadora da Extensão Universitária da Faculdade Metropolitana São Carlos

COMISSÃO ORGANIZADORA E CIENTÍFICA 

Direção Geral
Dr. Carlos Oliveira Abreu

Direção Acadêmica
Dra. Fernanda Castro Manhães

Direção Administrativa
Sr. Carlos Luciano Bieli Henriques

Assessoria Acadêmica
Me. Edyala de Oliveira Brandão Veiga

Coordenação de Extensão Universitária
Ma. Neuza Maria de Siqueira Nunes

Coordenação de Monitoria, Pesquisa e TCC
Dr. Tauã Lima Verdan Rangel

Coordenação do Curso de Administração
Me. Sérgio Elias Istoé

Coordenação do Curso de Direito
Ma. Geovana Santana da Silva

Coordenação do Curso de Enfermagem
Me. Roberta Silva Nascimento

Coordenação do Curso Medicina
Dr. Antônio Neres Norberg
Dra. Bianca M. Mangiavacchi (Ciclo Básico)
Dra. Lígia C. Matos Faial (Ciclo Clínico)

Coordenação do Curso de Gestão em Recurso Humanos
Me. Fernando Xavier de Almeida

Coordenação do Curso de Gestão Hospitalar
Me. Sérgio Elias Istoé

Secretaria Acadêmica
Espa. Danila Ferreira Cardoso

Setor Financeiro
Sra. Bruna de Souza Vieira

Núcleo de Apoio Psicopedagógico
Ma. Vânia Márcia Silva do Carmo Brito

Setor de Recursos Humanos
Espa. Edimara Bizerra da Silva

 

ORGANIZAÇÃO E EDITORAÇÃO
Dra Bianca Magnelli Mangiavacchi
Ma. Neuza Maria de Siqueira Nunes
Srta. Amanda Passalini de Almeida

FACULDADE METROPOLITANA SÃO CARLOS

Avenida Governador Roberto Silveira, nº 910

Bom Jesus do Itabapoana-RJ CEP: 28.360-000

Site: www.famescbji.edu.br

Telefone: (22) 3831-5001

 

 

O conteúdo de cada trabalho é de responsabilidade exclusiva dos autores.

A reprodução dos textos é autorizada mediante citação da fonte.