INTRODUÇÃO
As vacinas estão entre as maiores conquistas de saúde pública mundial. Elas salvaram e continuam salvando milhões de vidas em todo o mundo. As crianças recebem a maior parte das vacinas durante o primeiro ano de vida, em um momento em que são mais vulneráveis ??às consequências devastadoras das infecções bacterianas e virais.
A vacinação determinou um declínio dramático na morbidade e mortalidade por doenças infecciosas no último século. No entanto, a hesitação vacinal surgiu como um grande problema de saúde pública, levando a surtos de infecções transmissíveis, como o sarampo. As razões para a recusa da vacina são complexas e diferem de acordo com o contexto geográfico e cultural.
O presente trabalho tem por objetivo analisar a taxa de cobertura vacinal dos imunobiológicos aplicados no primeiro ano de vida, a partir da análise de dados presentes no Sistema de Informação de Agravos e Notificação, no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações e no DATASUS, pontuando o perfil epidemiológico e vacinal dessas doenças no município de Bom Jesus do Itabapoana-RJ.
METODOLOGIA
A metodologia empregada na construção do presente estudo parte do método dedutivo e do método historiográfico, empregando-se como técnicas de pesquisa: a revisão de literatura sob o formato sistemático, com análise dos dados presentes no SINAN, SI-PNI e DATASUS, avaliando a cobertura vacinal em 2020 das doenças imunopreveníveis aplicadas durante o primeiro ano de vida e a prevalência das infecções relacionadas nessa faixa etárias da população.
DESENVOLVIMENTO
Primeiramente, deve-se enfatizar que a ação em saúde mais eficiente é a vacinação infantil. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) iniciou-se em 1973 com o intuito de alcançar o controle e/ou erradicação de doenças como a poliomielite, sarampo, difteria, tétano, coqueluche e tuberculose, com o método a imunização sistemática, tendo como meta atingir 100% de cobertura vacinal para o primeiro ano de vida. (MIRANDA et al, 1995). Nas últimas quatro décadas, o Brasil fez um grande progresso na melhoria dos níveis de cobertura vacinal, no entanto, estimativas do SI-PNI mostraram que a cobertura das principais vacinas vem decaindo nos últimos cinco anos.
Vale-salientar que, lamentavelmente, dados apresentados pelo SI-PNI mostram que inúmeras crianças não são vacinadas no Brasil. Esse dado pode estar relacionado com inúmeros fatores que englobam desde ausência de acesso aos serviços de saúde, e resistência devido às crenças, superstições, mitos e credos religiosos, a falta de informação relacionada a imunização e o calendário de vacinas.
No Brasil, a cobertura vacinal é estimada através de registros das unidades de saúde, com possibilidade de possíveis erros de registros de dados, transcrição, estimativa de população-alvo, além de outros fatores. Dessa forma, a incidência de epidemias na vigência de estimativas de coberturas altas comprova a imprecisão de tais dados (QUEIROZ et al, 2013). Portanto o reconhecimento e entendimento da cobertura vacinal e os porquês relacionados com os atraso ou ausência de imunizações é de suma importância para o controle pelos gestores de saúde e dos programas de vacinação para que se reconheça e identifiquem os possíveis problemas e as devidas propostas para sua solução, considerando que as crianças que não são vacinadas podem impactar diretamente em outros indicadores de saúde bastante relevantes, com a taxa de mortalidade infantil. (SILVA et al, 1994).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) apresentam que é possível que, a cada ano, morram, no mundo, 2,5 milhões de crianças com menos cinco anos de idade devido a doenças que são imunopreveníveis. Sabe-se que a imunoprevenção apresenta sucesso, mas ainda há inúmeros desafios. (YOKOKURA et al, 2013)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
É importante destacar que a saúde da criança é uma prioridade a nível de saúde pública e medidas programáticas para interferir de forma positiva no estado de saúde dessa faixa etária se fazem importantes. Para uma determinada vacina, a cobertura vacinal é o número de doses de vacina administradas a pessoas em um grupo-alvo especificado dividido pela população-alvo estimada. As doses administradas durante as visitas de vacinação de rotina são contadas, mas as doses administradas durante as atividades de imunização suplementar (campanhas em massa) geralmente não são. A cobertura vacinal com base em pesquisa é calculada como a proporção de pessoas em um grupo de idade alvo que receberam uma dose da vacina.
Segundo a Pactuação Interfederativa 2017-2021, estabelecida pela Resolução CIT nº 8, de 24 de novembro de 2016, definidos pelo Caderno de Indicadores de 2017-2021, no que tange o parâmetro referente a proporção de vacinas selecionadas do Calendário Nacional de Vacinação para crianças menores de dois anos de idade[1] com cobertura vacinal preconizada, podemos verificar que o município de Bom Jesus do Itabapoana não atingiu a meta estabelecida para as vacinas indicadas, tendo ainda um cenário de imunização bastante preocupante diante da atual situação vivida no mundo (figura 1).
Figura 2: Gráfico representativo dos dados referentes ao Indicador 4 - Proporção de vacinas selecionadas com cobertura vacinal preconizada - por município. Fonte de dados: SI-PNI, 2020. Situação da base em 28/09/2020, sujeita a alterações. (Imagem produzida pelos autores)
Bom Jesus do Itabapoana é um município localizado no Noroeste Fluminense e apresenta uma população estimada de 35.411 habitantes, segundo os dados do IBGE (2010). A taxa de mortalidade infantil média na cidade é de 8.57 para 1.000 nascidos vivos (IBGE, 2010).
Até julho de 2020, tivemos um total de 351 nascidos vivos no município. Com os dados coletados no SI-PNI obtivemos a taxa de cobertura vacinal para o primeiro ano de vida nos últimos cinco anos no município de Bom Jesus do Itabapoana conforme apresentado na figura 2.
Figura 2: Taxa de Cobertura Vacinal[2] entre os anos de 2015 a 2020 (dados de setembro) no município de Bom Jesus do Itabapoana dos imunobiológicos aplicados no primeiro ano de vida. Fonte de dados: SI-PNI, 2020 (Imagem produzida pelos autores)
Percebe-se uma queda considerável na taxa de cobertura vacinal para todas as vacinas apresentadas nesse estudo. Apenas a vacina BCG apresentou uma série histórica com meta acima de 90%, que é a meta estabelecida pelo Programa Nacional de Imunização, seguida da vacina da Hepatite B, mesmo esta apresentando uma taxa de cobertura de 74,5% em 2017. As demais vacinas avaliadas nesse estudo, nenhuma atingiu a taxa de cobertura preconizada pelo PNI, nos últimos 3 anos (figura 2).
Em geral, nossos resultados são consistentes com as estimativas já apresentadas pelo Ministério da Saúde. As vacinas selecionadas estão voltadas para o controle de doenças de significativa importância, sendo fundamental a manutenção de elevadas e homogêneas coberturas vacinais como estratégia para manter e ou avançar em relação à situação atual.
Nesse contexto, a imunização nos primeiros anos de vida é essencial para diminuição da mortalidade neonatal, nesse período em que o neonato ainda não tem barreiras imunológicas formadas e uma vez que o aumento desse índice significa uma regressão no sistema de saúde. Posto isso, Lopes et al (2013) demonstrou em estudo à situação vacinal segundo a ocorrência de doenças entre crianças diagnosticadas até os 6 (seis) meses de idade, o cruzamento destas variáveis mostrou que das crianças com vacinas atrasadas, 69,0% (20) apresentaram alguma doença.
Sabe-se que a imunoprevenção apresenta sucesso, mas ainda há inúmeros desafios. Os estudos de análise científicas baseado em dados, como apresentados nesse estudo, auxiliam os serviços de saúde na implementação de estratégias de intervenção e ação que possam resgatar os não vacinados, os mais vulneráveis, reforçando a necessidade da vigilância epidemiológica e dos fatores de risco relacionados com a baixa cobertura vacinal conforme apresentada.
CONSIDERAÇÃO FINAIS
Embora pais e pacientes tenham uma série de preocupações sobre a segurança da vacina, as razões pelas quais as pessoas optam por não vacinar ainda não estão totalmente claras, porém a falta de confiança na segurança da vacina, motivada por preocupações sobre eventos adversos são os principais fatores relacionados com a baixa cobertura vacinal em alguns municípios brasileiros.
Os profissionais de saúde, especialmente, os da atenção primária, continuam sendo os principais atores nesses processo, devendo realizar o acompanhamento sistemático dos grupos vacinais importantes, crianças e idosos principalmente, influenciando nas decisões sobre vacinas e ações organizadas pela rede de saúde local para que assim possa ser cumprida as metas preconizadas para a efetividade do controle dessas doenças.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
IBGE. Bom Jesus do Itabapoana, 2010. Página inicial. Disponível em: < https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/bom-jesus-do-itabapoana/panorama>. Acesso em: 05 de out de 2020.
LOPES, Edilene Gianelli et al. Situação vacinal de recém-nascidos de risco e dificuldades vivenciadas pelas mães. Rev. bras. enferm., Brasília, v. 66, n. 3, p. 338-344, June 2013
MIRANDA, Alcides S. de et al. Avaliação da cobertura vacinal do esquema básico para o primeiro ano de vida. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 29, n. 3, p. 208-214,1995.
QUEIROZ, Lorena Lauren Chaves et al. Cobertura vacinal do esquema básico para o primeiro ano de vida nas capitais do Nordeste brasileiro. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 29, n. 2, p. 294-302, 2013.
SILVA, Antônio Augusto Moura da et al. Cobertura vacinal e fatores de risco associados à não-vacinação em localidade urbana do Nordeste brasileiro, 1994. Revista de Saúde Pública, v. 33, p. 147-156, 1999.
SISTEMA DE INFORMAÇÃO DO PNI. Página inicial. Disponível em: < http://pni.datasus.gov.br/>. Acesso em: 05 de out de 2020.
YOKOKURA, Ana Valéria Carvalho Pires et al. Cobertura vacinal e fatores associados ao esquema vacinal básico incompleto aos 12 meses de idade, São Luís, Maranhão, Brasil, 2006. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 29, n. 3, p. 522-534, 2013.
[1] Nota: esta população não corresponde às estimativas populacionais existentes, sendo fornecida pelo Ministério da Saúde a partir do número de nascimentos registrados no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – SINASC. Este número é considerado tanto como a população alvo de menores de 1 ano como a população alvo de 1 ano
[2] Notas: Dados sujeitos a revisão - relatório em fase de ajuste - caso identifique alguma inconsistência, favor enviar um "print" da tela para o e-mail: gtainfo@saude.gov.br. Data de atualização dos dados:05/10/2020
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