Intolerância à Lactose e sua Relação com a Deficiência de Micronutrientes
PAES, Ian Silva
Acadêmico em Medicina na Faculdade Metropolitana São Carlos
2º Período – Turma IV
ianpaes@hotmail.com
VIANNA, Isabela Reim
Acadêmica em Medicina na Faculdade Metropolitana São Carlos
2º Período – Turma IV
isabelareim@hotmail.com
MEIRELLES, Paula Borges
Acadêmica em Medicina na Faculdade Metropolitana São Carlos
2º Período – Turma IV
pbmeirelles24@hotmail.com
MARTINS, Lívia Mattos
Professora na Faculdade Metropolitana São Carlos
liviammartins@gmail.com
ANDRADE, Claudia Caixeta Franco
Professora na Faculdade Metropolitana São Carlos
claudiacfa@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO
Sendo de suma importância na dieta alimentar dos seres vivos, o leite é uma secreção de alto valor nutricional oriunda das células secretoras das glândulas mamárias de todos os mamíferos fêmeas, sendo composto por proteínas (caseína e albumina), carboidrato (dissacarídeo lactose), sais minerais (fósforo, cálcio, zinco, potássio e magnésio), vitaminas (A, B1, B2, B6 e B12), gorduras e água. Além disso, possui seu destaque na indústria alimentícia em virtude se ser matéria prima para a composição de alguns alimentos, sejam eles iogurtes, cremes, queijos, bebidas e até mesmo manteiga.
A Intolerância à Lactose é um déficit na hidrólise do dissacarídeo lactose em dois outros monossacarídeos (galactose e glicose), ou seja, é uma disfunção alimentar associada à insuficiência parcial ou total que o indivíduo possui na digestão da lactose (Morais et al., 2017). Sendo assim, essa intolerância está diretamente associada a atividade enzimática da lactase (enzima ?-galactosidase), localizada na borda do intestino delgado (Batista et al., 2016). Sob esse viés, quando a lactase chega ao cólon dos indivíduos portadores desse distúrbio, ela é fermentada e, consequentemente, começa a formar gases (metano, hidrogênio e dióxido de carbono) pela microbiota intestinal e a produzir ácidos graxos de cadeia curta, o que muita das vezes gera desconforto, problemas gastrointestinais e alguns sintomas: flatulência, dores abdominais, náuseas, diarreia e cólica (Mathíus et al., 2016).
Em primeiro plano, a Intolerância à Lactose possui três tipos: congênita, primária e secundária. A Intolerância Congênita à Lactose é genética e possui baixa incidência por ser um distúrbio recessivo, ou seja, para que um indivíduo nasça com essa tipologia de intolerância, ambos genitores necessitam ser portadores desse déficit alimentar. De outra parte, na Intolerância Primária à Lactose o indivíduo nasce com concentrações normais da enzima lactase, contudo, com o passar dos anos, há um declínio dessa concentração, fazendo com que pessoas adultas manifestem dificuldades da digestão de laticínios. Já na Intolerância Secundária à Lactose, o indivíduo manifesta essa tipologia por fatores gastrointestinais que danificam a mucosa do intestino delgado e o predispõe a intolerância à alimentos lácteos (Barbosa et al., 2019).
Hodiernamente existem diversas maneiras para se diagnosticar a Intolerância à Lactose (Santos-Sérgio, 2017), sendo três delas as mais utilizadas: o teste clínico - consiste na retirada de todos os alimentos com presença da lactose na dieta alimentar do indivíduo e a sintomatologia acaba em dias e em alguns casos, em semanas -; teste de hidrogênio expirado – exigindo um preparo anterior a realização do exame (ingestão de uma dieta restrita a lactose), esse diagnóstico consiste na formação de H+ pela fermentação da lactose que não foi absorvida na dieta do indivíduo – e o teste da curva glicêmica – nesse tipo de diagnóstico o indivíduo faz ingestão de 1g a 1,5g de lactose por quilograma e é realizado uma análise da curva glicêmica dessa pessoa.
Portanto, para o tratamento da Intolerância à Lactose é recomendado que o indivíduo portador desse distúrbio não faça uma dieta com exclusão total desse dissacarídeo, mas sim uma exclusão parcial, em virtude do prejuízo nutricional de alguns sais minerais e vitaminas e grande parte das pessoas intolerantes à lactose poderem consumir uma dose diária de 12g, com ausência de sintomas adversos (Santos-Sérgio, 2017). Contudo, caso uma redução no consumo da lactose não for eficiente, o indivíduo pode fazer essa reposição enzimática com a lactase exógena através de fármacos, como o Perlatte, Lactosil, Lactolise ou Precol (Barbosa et al., 2019).
Ademais, esse estudo é de suma relevância em virtude de esclarecer o que a deficiência do cálcio pode ocasionar, além de quebrar alguns estigmas, como a dieta com exclusão total da lactose. Dessarte, o presente resumo abordará a Intolerância à Lactose com o objetivo de compreender seu conceito, como ocorre, seus tipos, fisiopatologia, tratamentos e sua relação com a deficiência dos micronutrientes, especialmente o cálcio.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente resumo expandido trata-se de uma pesquisa bibliográfica realizada a partir de artigos selecionados nos seguintes bancos de dados: Google Acadêmico, Scielo, PubMed e Sociedade Brasileira de Pediatria. Para seleção dos artigos os critérios utilizados foram publicações datadas entre 2010 e 2019 escritas em português e inglês. Foram utilizados os seguintes descritores: Intolerância à Lactose, Enzima Lactase e Deficiência de Micronutrientes.
DESENVOLVIMENTO
Referente a Intolerância à Lactose, a diferenciação entre os termos “Intolerância Alimentar” e “Alergia” torna-se essencial. Quando há intolerância, o corpo não fabrica ou exibe pouca quantidade de enzimas que são capacitadas de absorver certas sustâncias contidas em alguns alimentos (na lactose, a enzima que não está presente é a lactase). Por outro lado, a alergia (reação não toxica imunomediada) gera uma reação diferente do que é esperado, ocasionando a saída de anticorpos, histaminas e agentes defensivos, sendo a eliminação completa de alérgenos essencial em situações perigosas (Silva et al., 2016).
A Intolerância à Lactose é separada em congênita, primária e secundária/adquirida. A primeira acontece quando o conteúdo de lactase é muito superficial ou inexistente, sendo assim um caso raro e fatal em recém-nascidos sem diagnóstico prévio. Todavia, na deficiência primaria, a lactase é exclusivamente parcial ou totalmente deficiente, caracterizada pela má absorção de lactose, conhecida também como hipolactasia (redução do resultado da lactase no corpo). Já a intolerância secundaria a lactase ocorre devido a lesões da mucosa intestinal ou pelo uso de drogas para certas doenças, como câncer e gastroenterite (Barbosa et al., 2019).
A produção de lactase em bebês normais é muito alta após o nascimento (Silva et al., 2016), especialmente porque seu alimento principal é o leite materno, sendo sua principal fonte de lactose. Na passagem do tempo, o aglomerado dessa enzima vai diminuir naturalmente, devido a juventude e a idade adulta vai diminuir a oferta de leite, afetando a ingestão de laticínios ao longo da vida.
A diminuição dessa enzima impede a digestão da lactose, a qual será fermentada pelas bactérias presentes no intestino grosso e irá causar algumas manifestações gastrointestinais como a diarreia e produção de gases, náuseas, vômitos, dor abdominal, formação de hidrogênio, dióxido de carbono e metano devido ao excesso de lactose no estômago e intestinos (Silva et al., 2016). A seriedade desses sintomas dependerá do tipo de comida e lactose consumida e do nível de tolerância, varia muito, dependendo da pessoa.
Apesar de umas pessoas que tem intolerância possuir uma taxa mais elevada de aceitação e possam consumir até 12g de lactose por dia para evitar efeitos contrários no organismo, na maior parte dos casos, é recomendado excluir temporariamente todos os alimentos que possui lactose, principalmente leite e derivados. Contudo, a retirada dos laticínios significará grande deficiência de micronutrientes, pois São fontes importantes de riboflavina, fosforo, cálcio, zinco, potássio e magnésio, sendo o cálcio a maior fonte (Silva et al., 2016).
O cálcio é absorvido por todo o intestino, ainda que devido ao seu comprimento total, a maior parte dessa absorção ocorra no jejuno. As células intestinais (enterócitos) quebram a ligação glicosídica do componente da lactose para produzir dois monossacarídeos (galactose e glicose), o qual são liberados no sangue; esse processo de destruição é chamado de chave-fechadura. Quando o consumo de cálcio excede 500mg, a difusão passiva apresenta uma levada atividade na absorção de cálcio. Por sua parte, considera-se o mecanismo de absorção ideal de alto cálcio, nesses casos, o transporte ativo saturado, pois é usado somente em baixas ou médias doses de minerais (Silva et al., 2016). Conforme à diminuição de laticínios na dieta, os processos passivos relacionados à tolerância à lactose são prejudicados, devido a proteína e a lactose do leite serem compostos dietéticos que promovem essa difusão por aumentar a solubilidade e a pressão osmótica do cálcio no íleo.
A biodisponibilidade do cálcio é também impactada por um lado negativo pela ingestão de antinutrientes (como os fitatos, oxalatos e taninos) e pelo sódio excessivo. As primeiras substâncias são aptas para tornar o cálcio insolúvel em pH neutro, sendo impossível absorver o cálcio passivamente, embora isso só ocorra em indivíduos com dieta insuficiente. Além disso, também se refere a fatores prejudiciais, quando ocorre a ingestão excessiva de sódio, que vai interferir na biodisponibilidade, levando ao crescimento da excreção renal de cálcio e, por conseguinte, à diminuição do cálcio no corpo (Silva et al., 2016).
Existem alguns aceleradores que promovem a absorção de cálcio no corpo, amenizando a hipocalcemia, como a vitamina D (Silva et al., 2016). Ela é sintetizada na pele pela luz solar ou consumo de alimentos em um grau menor. Quando o alimento está presente no lúmen intestinal, ele estimula a produção de proteínas ligadoras de cálcio e promove seu influxo para a mucosa intestinal.
Os primeiros indícios de ausência de potássio no corpo são cãibras frequentes e fraqueza muscular grave, como a impossibilidade de se levantar. O potássio executa um papel significativo no trabalho muscular, porque este atua como energia para mover os músculos.
Uma vez que o zinco executa um papel em muitas funções do corpo humano, a falta de zinco pode levar a consequências como fragilidade do sistema imunológico, dificuldade em saborear alimentos salgados, incapacidade de cicatrizar feridas, problemas de pele (psoríase), alto nível de açúcar no sangue e pele seca.
Embora o fósforo seja abundante e facilmente absorvido, problemas como abuso de álcool, diarreia, vômitos, pancreatite e uso prolongado de medicamentos de ácido gástrico com tratamento demorado, ocasionam a deficiência de fósforo. A redução de minerais no corpo pode causar dores ósseas, osteomalácia, pseudofratura, hipoparatireoidismo, resistência à insulina, hipocalciúria, taquicardia e dificuldade de raciocínio e memória (Silva et al., 2016).
A carência de riboflavina acontece ao mesmo tempo que outras deficiências de vitamina B. Seus sintomas e sinais incluem anemia normocítica normocrômica, lesões nos lábios e na mucosa oral dor de garganta, glossite, conjuntivite, dermatite seborreica e seu diagnóstico geralmente é clínico (Silva et al., 2016). O tratamento inclui a administração de VO ou riboflavina IM, se necessário.
Devido a essas deficiências dos micronutrientes, é de suma importância a ingestão da enzima lactase exógena, presente em alguns fármacos, como o Perlatte. Por este apresentar uma alta dosagem da enzima lactase, ele age na hidrólise do açúcar oriundo dos alimentos lácteos e permite a digestão do dissacarídeo lactose com redução ou até mesmo ausência de efeitos adversos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ficou evidente a relação intrínseca de interdependência entre indivíduos intolerantes à alimentos lácteos e a deficiência de micronutrientes, especialmente os sais minerais. Dessa forma, pode-se perceber a importância de uma dieta com exclusão parcial da lactose e em alguns casos a admissão da lactase exógena presente em alguns fármacos. Ademais, percebe-se a necessidade de maiores estudos com o fito de proporcionar maior qualidade de vida aos indivíduos intolerantes à lactose, para que estes futuramente possam não ter restrição alimentar e que a admissão de drogas como o Perlatte, Lactosil e Lacday, não proporcione efeitos adversos.
REFERÊNCIAS
BATISTA, R. A. B.; ASSUNÇÃO, D. C. B.; PENAFORTE, F. R. DE O. e JAPUR, C. C. Lactose em alimentos industrializados: avaliação da disponibilidade da informação de quantidade. São Paulo. 2016
MATHIÚS, L. A.; MONTANHOLI, C. H. DOS S.; DE OLIVEIRA, L. C. N.; BERNARDES, D. N. D’A.; PIRES, A. e HERNANDEZ, F. M. DE O. Aspectos atuais da Intolerância à Lactose. Araçatuba, São Paulo. 2016
MORAIS, W. V.; MALAGUTTI, F. T.; GLANA, E. H. e BELTRAME, N. Estudo sobre Intolerância à Lactose entre homens e mulheres de 20 a 60 anos. São Paulo. 2013
DOS SANTOS, S. R. A. Avaliação da eficácia terapêutica da administração da lactose em pacientes com intolerância à lactose através de teste respiratório. Aracaju, Sergipe. 2017
MATTAR, R. e MAZO, D. F. DE C. Intolerância à lactose: mudança de paradigmas com a biologia molecular. São Paulo. 2010
SILVA, L. C. F.; SOUZA, L. M. S.; COSTA, Q. DA S. e BRANDÃO, I. M. Aspectos nutricionais da intolerância à lactose e as implicações na disponibilidade de cálcio. Paripiringa, Bahia. 2019
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Intolerância à Lactose. Disponível em: <https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/noticias/nid/intolerancia-a-lactose/>. Acesso em: 10 set. 2020.
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