DOENÇA DE CHAGAS NO SÉCULO XXI: O NOVO ESCOPO DA DOENÇA

  • Autor
  • Matheus Azevedo Couto
  • Co-autores
  • Nícolas Fernandes Vantil da Costa , Livia Mattos Martins , Mauricio do Carmo Lorete
  • Resumo
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    Doença de Chagas no século XXI: O novo escopo da doença

     

    INTRODUÇÃO

     

    A Doença de Chagas (DC) é uma zoonose caracterizada pela participação do protozoário flagelado da família Trypanosomatidae, Trypanosoma cruzi. Este, por sua vez, é considerado pela comunidade cientifica de parasita obrigatório devido sua interação ecológica estar vitalmente ao parasitismo. A versatilidade parasitaria do T. cruzi foi muito importante para a sobrevivência deste espécime na natureza possibilitando sua evolução, assim, dentre os seus hospedeiros destacam-se os vertebrados como os animais silvestres, domésticos e o próprio ser humano e os invertebrados como os insetos (FIOCRUZ, 2017).

    Primeiramente, os hospedeiros invertebrados e os vetores desta doença são os insetos da família Reduviidae, Triatoma infestans popularmente conhecidos com “Barbeiro”. Neles, o T. cruzi sobrevive dentro da cavidade intestinal absorvendo os nutrientes da alimentação dos “Barbeiro” em seguida são eliminados nas fezes e dependendo do seu destino é capaz de infectar outros seres.

    Em segunda analise estão os hospedeiros vertebrados, tendo como principal grupo atual os seres humanos, porém, nos primórdios da enfermidade, o ser humano não era visto como um hospedeiro muito presente, visto que era mais comum a presença de T. cruzi em animais silvestres. Neste interim, como consequência da invasão humana aos habitats dos “Barbeiros” com aumento das atividades econômicas, queimadas, desmatamentos, agroindústrias e os processos de interiorização, estes seres tiveram que se adaptar às “novas” condições como por exemplo as casas de pau a pique. Desta forma, estes insetos permaneceram mais próximos dos humanos incluindo-os em sua cadeia alimentar intensificando o contanto dos humanos com o Tryponosoma cruzi.

    Com o avanço das ciências juntamente com o Governo Federal, o Brasil desenvolveu técnicas capazes de controlar o crescimento da população do Triatoma diminuindo os novos casos da Doença de Chagas impedindo uma possível epidemia. No entanto, a partir do inicio do século XXI, mudanças drásticas ocorreram no quadro de infecções, pois, uma vez controlado o vetor imaginou-se que haveria cada vez menos infectados, mas ocorreu o contrário. Deste modo, para esclarecimento geral da emergência desta “nova” forma de transmissão, torna-se necessário analisar todos os meios de infecção apontando suas alterações nos quadros epidemiológicos dos últimos anos (FIOCRUZ, 2007).

     

     

    MATERIAL E MÉTODOS

     

    A pesquisa adotada neste trabalho, elaborado nos moldes ensaísticos, é de natureza básica, com características exploratória, tendo como procedimento aplicado a pesquisa bibliográfica de artigos científicos, retirados de revistas cientificas eletrônicas, assim como Scielo e PubMED, e sites de saúde, como por exemplo Ministério da Saúde para a elaboração da revisão bibliográfica, além dos dados estatísticos retirados do Data SUS, FUNASA e SVS.

     

     

    DESENVOLVIMENTO

     

    A contaminação de alimentos pela Doença de Chagas, atualmente o maior meio de proliferação da doença, acaba que torna a infecção oral o novo escopo de estudos dos cientistas na luta contra a enfermidade. As pesquisas, feitas em animais, no entanto, não retratam bem os mesmos efeitos que tem quanto as cobaias, camundongos e os seres humanos. Uma vez inoculada a doença nos espécimes de teste, chegou-se à conclusão que a infecção por via oral é muito pior, tornando a doença ainda mais grave.

    Em 2006, o Brasil recebeu o certificado de interrupção da transmissão da doença de Chagas pelo Triatoma infestans conferida pela Organização Pan-Americana da Saúde (DIAS, 2007). Tal reconhecimento deu-se em virtude das grandes ações sanitárias iniciadas por Emmanuel Dias associado às equipes de cientistas e sanitárias na década de 40 que perdurou durante gerações futuras combatendo o T. infestans refletindo na redução radical deste espécime (gráfico 1) (DIAS, 2007). Contudo, mesmo com este movimento apresentando desmesurada proporção, a infecção do Trypanosoma cruzi por transmissão vetorial ainda gera impactos significantes atualmente, uma vez que o objetivo, por isso, a perpetuidade destes movimentos é indispensável para a conquista do objetivo no contexto da saúde pública.

     

    Gráfico 1 – Numero total de exemplares de triatomineos capturados, de Triatoma infestans e participação desta espécie no total de capturas, na rotina do programa de controle da doença de Chagas nos anos de 1983*-2007**

    *ano inicial do levantamento entomológicos de base, **ultimo ano com dados consolidados.

    Fonte: Ministério da Saúde (SUCAM/FUNASA/SVS)

     

    A Doença de Chagas Transfusional (DCT), atualmente é menos comum que a vetorial, todavia, na década de 70 a taxa de incidência deste meio de contagio chegava a 20%, em outros termos de 100.000 pessoas nos grandes centros 20.000 contraiam DCT anualmente (DIAS, 2006). Foi identificado na década de 90, no Brasil, por Souza “uma grande massa de transfusões feitas indevidamente braço a braço e através de compartilhamento de componentes impróprios” e isso era comum devido a carência de técnicas de sorológicas para identificação de T. cruzi (SOUZA et al, 1994). Então, DIAS (2016) avaliou os riscos da doença de Chagas transfusional a partir dos seguintes fatores: a presença do parasita no sangue ou componente transfundido; qualidade na triagem clínico-epidemiológica; nível de cobertura da triagem sorológica dos doadores; e por fim o estado imunológico do receptor. Os inúmeros hemocentros brasileiros entraram no estagio de desenvolvimento avançado juntamente à vigilância sanitária possibilitando a redução do percentual de candidatos potencialmente infectados (CPI) com T. cruzi tal que taxa de CPI diminuiu de 10% a 0.2% no início do século XXI (DIAS, 2016).

    E, finalmente, a via oral que está ligada ao consumo de alimentos contaminado sendo relacionada à falta de saneamento básico e fiscalização de alimentos e não diretamente ao contato com o vetor (FIOCRUZ, 2017). O estudo da transmissão oral do mal de Chagas é divergente dentre os diversos sociedades animais visto que para animais silvestres o contato oral com os dejetos do “barbeiro” é o mecanismo primário de contagio, já para os seres humanos ocorre de forma imprevista por meio de alimentos contaminados com o T. cruzi (DIAS, 2011). No ultimo caso, alguns mecanismos foram identificados dentre as possíveis causas dos casos confirmados: a ingestão de fezes ou urina de triatomíneos no consumo de açaí, ingestão de alimentos contaminados, ingestão de leite materno de mães contaminadas.

    Apesar das descobertas envolvendo a transmissão do T. cruzi no trato gastrointestinal durante os meados do século XX, o acréscimo dos números de casos e a preocupação com a saúde pública relativo à via oral é uma realidade atual contextualizada no século XXI. A epidemiologia destes casos é em sua maioria surtos relatados na região amazônica relacionados ao consumo de açaí, fruto típico da desta região (gráfico 2), outrossim há eventos poucos investigados nas regiões extra-amazônicas voltados à cana de açúcar (gráfico 3) (DIAS, 2016; FERREIRA, 2014). A incidência inconclusiva mediante do consumo de açaí alarmou os órgãos de saúde devido ao contagio silencioso e desenfreado em virtude da popularidade deste fruto na região amazônica. Por conseguinte, diante deste quadro vale averiguar o derradeiro motivo para a elevação de casos, analisando suas consequências, tanto a longo prazo, tanto imediato.

     

    Gráfico 2 - Distribuição do número de casos de DCA na Região Amazonica Brasileira, segundo forma de transmissão oral e ano de início de sintomas. Brasil, 2007 a 2018.

    Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan

     

    Gráfico 3 - Gráfico 2 - Distribuição do número de casos de DCA nas Região Extra-Amazônicas, pela transmissão oral e ano de início de sintomas. Brasil, 2007 a 2018.

    Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan

     

    Foi investigado um acréscimo na demanda de açaí no mercado nacional nos últimos anos promovendo certo interesse nas áreas de pesquisa e investimento deste produto (MATIAS DOS SANTOS et al, 2008). Isso provém dos grandes benefícios dados pelo fruto como o seu alto valor energético e nutritivo como proteína, fibras e minerais, além da sua capacidade antioxidante, em vista disso, as importações da fruta têm se mostrado cada vez mais lucrativas, o que impulsionou a produção em massa de polpas, sucos e até sorvetes de açaí. Porém, um impasse é discutido pelos órgãos públicos de saúde a respeito do impacto deste produto na saúde pública.

    A Doença de Chagas transmitida pela via oral está mais centralizada na região norte e nordeste do Brasil, locais oriundos dos maiores importadores e exportadores de açaí do país, devido à pratico do consumo e comercio dessa mercadoria ser feito ausente de qualquer tratamento térmico (). Ademais, a carga cultural da região norte é alvo de ecoturistas em que um dos principais alimentos consumidos é o próprio açaí, nesse sentido, a exposição de emigrantes a riscos de DCA acarretará em possíveis surtos em locais não endêmicos gerando questões internacionais de saúde.

    A partir dos experimentos de Barbosa-Labello, outro fator inquietante é a ineficácia do congelamento do T. cruzi como forma de controle transmissional uma vez que o parasita é capaz de se adaptar à temperatura de 4ºC viabilizando a presença agente parasitários em produtos importados.

    No dia 7 de janeiro de 2000, o ministério da agricultura e do abastecimento ratificou a aprovação da regulamentação de padrões de qualidade e identidade para polpas de fruta.  Só que a constância dos altos números de casos tem preocupado a população quanto à eficácia dos sistemas de vigilância sanitária aliada ao descuido dos produtores agrícolas.

     

     

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

     

    A Doença de Chagas não é uma patologia facilmente transmissível como a Influenza que está ligada diretamente ao contato humano-humano, então se levanta a seguinte hipótese: a razão do grande acréscimo nos casos de doença de chagas nos últimos anos, então o estudo, a princípio, da propagação do T. cruzi se faz relevante na análise desta hipótese.

     

    REFERÊNCIAS

     

    BRASIL, Ministerio da Saúde.

    DIAS, J.C.P. et al. II Consenso Brasileiro em Doença de Chagas, 2015. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 25, n. esp, p. 7-86, jun.  2016.   Disponível em <http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742016000500007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 23 set.  2020.  Epub 30-Jun-2016. http://dx.doi.org/10.5123/s1679-49742016000500002.

    DIAS, J.C.P; AMATO NETO, V. Prevenção referente às modalidades alternativas de transmissão do trypanosoma cruzi no Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 44, supl. 2, p. 68-72, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-86822011000800011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 23 set.  2020.  http://dx.doi.org/10.1590/S0037-86822011000800011.

    DIAS, João Carlos Pinto. Globalização, iniqüidade e doença de Chagas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, supl. 1, p. S13-S22, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2007001300003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 23 set.  2020.  http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2007001300003.

    FERREIRA, R.T.B.; Branquinho, M.R.; LEITE, P.C. (2014). Transmissão oral da doença de Chagas pelo consumo de açaí: um desafio para a Vigilância Sanitária. Vigilância Sanitária em Debate. 2. 10.3395/vd. v2i4.358.

    FIOCRUZ, Faculdade Oswaldo Cruz. Transmissão da Doença de Chagas. 2017. Disponível em: http://chagas.fiocruz.br/transmissao/. Acesso em: 21 set. 2020

    LABELLO BARBOSA, R. Transmissão oral do Trypanosoma cruzi pela polpa de açaí em camundongos. 2009. 12 p. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Biologia, Campinas, SP. Disponível em: <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/317820>. Acesso em: 16 ago. 2018.

    MATIAS DOS SANTOS, G. et al. Correlação entre atividade antioxidante e compostos bioativos de polpas comerciais de açaí (Euterpe oleracea Mart). ALAN, Caracas, v. 58, n. 2, p. 187-192, jun.  2008.   Disponível em <http://ve.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-06222008000200011&lng=es&nrm=iso>. Acesso em: 21 set. 2020.

    Souza, et al. Hemoterapia e doença de Chagas transfusional no Brasil. Boletin de la Oficina Sanitaria Panamericana 116:406-418, 1994.

Essa publicação reúne as produções científicas de discentes, docentes e pesquisadores dos cursos de graduação da Faculdade Metropolitana São Carlos – FAMESC, unidade de Bom Jesus do Itabapoana-RJ, participantes da V Expociência Universitária do Noroeste Fluminense, com a temática: Os impactos da pandemia nas relações sociais, jurídicas e de saúde, realizada entre 21 e 23 de outubro de 2020.

Em sua 5º edição, o evento se destina, fundamentalmente, o propósito de se criar, na Instituição, um lugar de intercâmbio científico e cultural entre os pares, privilegiando-se uma discussão sobre as teorias interdisciplinares que ganham expressão no debate acadêmico contemporâneo.

Nessa edição os trabalhos apresentados envolvem àreas das Ciências Humanas e Sociais, Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Exatas e Estudos Interdisciplinares. Tal fator resultou na apresentação de 204 (duzentos e quatro) trabalhos de pesquisa apresentados a seguir. Acreditamos que a discussão ampliada, que inclua os diversos atores envolvidos nas diversas áreas, e, entendendo que existe uma abordagem interdisciplinar, esperamos contribuir para o fomento do saber acadêmico científico, viabilizando um espaço à divulgação de resultados de pesquisas relevantes para a formação do licenciando, bacharel, e do pesquisador da área e de áreas afins.

Por outro lado, queremos destacar que foi imprescindível a atuação coletiva na organização deste evento, que contou com a participação do corpo diretivo, das coordenações de curso, docentes e discentes. Sem o interesse de todos, a dedicação e a responsabilidade principalmente dos funcionários técnicos administrativos envolvidos, não seriam atingidas a forma e a qualidade necessárias ao sucesso da atividade. 

A Expociência representa um espaço significativo e verdadeiro de troca de experiências e de oportunidade de conhecer a produção científica de forma interdisciplinar e coletiva.

Boa leitura a todos!

 

 

Profª. Mª. Neuza Maria da Siqueira Nunes

Coordenadora da Extensão Universitária da Faculdade Metropolitana São Carlos

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