A AUTOMEDICAÇÃO E OS RISCOS DE INTOXICAÇÃO ASSOCIADOS AO USO DA CLOROQUINA
AZEVEDO, Stefany Abreu de
Graduanda do curso de Medicina da Faculdade Metropolitana São Carlos - FAMESC
SILVA, Sabrina Pereira da
Graduanda do curso de Medicina da Faculdade Metropolitana São Carlos - FAMESC
MANGIAVACCHI, Bianca Magnelli
Doutora e Mestra em Biociências e Biotecnologia -UENF; Especialista em Gestão em Saúde Pública - UFF;
Professora Famesc
bmagnelli@gmail.com
ISTOE, Carolina Crespo
Doutorando em ciências aplicadas a produtos para a saúde-UFF; Mestre em cognição e linguagem-UENF; professora Famesc
INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa relacionar a automedicação e os possíveis riscos de intoxicação vinculado ao uso de cloroquina em tempos de pandemia, e assim, reafirmar a importância da prescrição médica para o uso de medicamentos em diversos tipos de tratamentos. Nesse mesmo entendimento, o presente texto ratifica a questão da automedicação como problema de saúde pública, podendo ocasionar efeitos colaterais diversos, inclusive podendo levar o indivíduo a óbito.
É notório observar que a automedicação se tornou uma cultura comum atualmente e que, a ausência de prescrição por um profissional médico, a orientação ou acompanhamento durante o tratamento, pode ocasionar grande impacto na vida e na saúde populacional.
A automedicação gera danos graves ao organismo, a longo prazo, podendo provocar efeitos colaterais, quadros de intoxicação e resistência à ação dos fármacos e, ainda, promover a resistência de micro-organismos.
A COVID-19 é uma infecção causada pelo vírus SARS-CoV-2, e desse modo, é imperioso observar que a cloroquina vem sendo utilizada como forma de tratamento estratégico da doença, no entanto, ressalta-se que este medicamento é utilizado para o tratamento de outras doenças como a malária e doenças inflamatórias com Lúpus e Artrite Reumatoide.
Assim, destaca-se que a automedicação vinculada ao uso de cloroquina pode desencadear riscos de intoxicação e até mesmo a efeitos colaterais negativos a saúde do indivíduo paciente. Nesse sentido, esse trabalho tem por objetivo analisar os possíveis riscos de intoxicação referentes a automedicação da cloroquina como forma de tratamento contra o vírus SARS-COV-2 e da doença COVID-19 diante do quadro epidemiológico atual da pandemia.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo se utiliza de uma abordagem qualitativa a partir da metodologia exploratória de literatura, com intuito de trazer possíveis esclarecimentos teóricos acerca da automedicação e os riscos de intoxicação vinculados ao uso de cloroquina no cenário atual. Dessa forma, a construção desse presente texto, se deu por meio de uma análise aprofundada das bibliografias, artigos, publicações em revistas e livros relacionados as áreas da saúde e medicina com dados, referentes ao tema supracitado, entre o período de 2005 a 2020.
DESENVOLVIMENTO
A cultura da automedicação é extremamente comum entre a população, que advêm de costumes antigos da sociedade. Tratamentos baseados na administração de medicamentos alopáticos são a forma de terapia mais utilizada na sociedade moderna, porém estudos mostram a existência de problemas de saúde relacionados ao uso indiscriminados de alguns fármacos (PEREIRA, et al., 2007, p.01).
A automedicação como forma de recuperação da saúde e do bem estar, se tornou um hábito entre a população, e ainda, em situações específicas, de forma sendo utilizada de forma profilática, potencializando assim as chances de desencadear problemas maiores de saúde do indivíduo.
Nesse viés, ressalta-se que a automedicação responsável é reconhecida em casos mais simples, como em quadros de dores de cabeça e cólicas abdominais, quando aplicados especificamente no tratamento dos sintomas, solucionando o problema de forma rápida. No entanto, a utilização de medicamentos por conta própria ou por indicação de pessoas não habilitadas, sem avaliação prévia e acompanhamento de um profissional de saúde pode vir acarretar riscos à saúde humana (ANVISA, 2020, s.p.).
Para Álvares,
A automedicação é a utilização de remédios por conta própria, e assim, o exercício é bastante usual em todos os tipos e classes de indivíduos, a atividade do farmacêutico tem intervenção positivas na adesão ao tratamento e na diminuição de erros quanto á administração dos remédios, já que esse profissional reafirma as orientações quanto ao consumo suscitado pelos prescritores e avalia os aspectos farmacêuticos e farmacológicos que possam representar um dano em potencial para os indivíduos (MARQUES, ÁLVARES, 2014, p.04).
Os tratamentos medicamentosos são essenciais no processo de cura e controle de várias doenças, quando utilizada adequadamente, porém quando usados de maneira incorreta podem prejudicar a saúde do indivíduo, causando desde quadros de intoxicação a problemas mais graves (ANVISA, 2020, s.p.).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A falta de acesso aos meios de saúde, atendimentos e propagandas de medicamentos de venda livre influenciam a procura de alternativa de tratamento como a utilização de medicamentos sem a orientação de um profissional habilitado (MARQUES, ÁLVARES, 2014, p.05). Além disso, o livre acesso ocasionou um esgotamento desse recurso nas farmácias brasileiras, prejudicando os indivíduos que realmente necessitam desse remédio para o tratamento específico.
Para Adricopulo,
Além da simples perda de tempo e dinheiro, tais ações prejudicam as pessoas que realmente precisam dos medicamentos para os tratamentos ativos indicados. O problema foi agravado por declarações desastrosas de alguns governantes, citando estes medicamentos como solução para a pandemia sem, contudo, apresentar dados científicos e comprovação clínica. A falsa esperança levou ao esgotamento dos medicamentos em diversas farmácias (ADRICOPULO, 2020, s.p.).
A cloroquina é um medicamento eficaz no combate da malária, lúpus e de doenças autoimunes, reumatismo e doenças reumáticas (MONTEIRO, et al, 2020).
Na dose habitual do tratamento de doenças agudas, a cloroquina tem poucos efeitos adversos, porém a margem de segurança deste medicamente é muito estreita. Para SUÁREZ et al, 2020.
Uma dose de 30 mg/kg pode ser fatal. A toxicidade aguda pode ocorrer após a ingestão de uma única dose de 1,5-2,0 gramas, ou seja, 2-3 vezes a dose diária de tratamento. O envenenamento agudo é extremamente perigoso e pode levar a morte em poucas horas. Ocorre mais frequentemente quando a cloroquina é administrada muito rapidamente por via parenteral. As manifestações clínicas estão relacionadas com sintomas cardiovasculares (hipotensão, vasodilatação, arritmias cardíacas e parada cardíaca irreversível) ou do sistema nervoso central (confusão, convulsões e coma). Por essa razão, quando utilizada por via endovenosa, a cloroquina deve ser administrada em diluição e lentamente durante pelo menos quatro horas com acompanhamento rigoroso (SUÁREZ et al, 2020).
Apesar da cloroquina e a hidroxicloroquina serem drogas utilizadas no manejo de algumas doenças, elas são perigosas para a visão e devem ser utilizadas apenas quando necessário. A cloroquina e a hidroxicloroquina se unem à melanina e, portanto, se concentram na úvea e no epitélio pigmentar da retina. As alterações retinianas são relacionadas à dose total ingerida, com efeito cumulativo. Na sua ação na retina, a cloroquina parece ser duas ou três vezes mais tóxica do que a hidroxicloroquina (ANTUNES, 2005, p.195).
Para Menenzes et al. (2020, p.02), “a cloroquina tem sido, cada vez menos, utilizada por ser mais susceptível à toxicidade, especialmente seu efeito ototóxico e efeitos colaterais como hiperpigmentação cutânea e retinopatia não são incomuns”.
Nesse mesmo entendimento, para Imoto et al.,
As evidências disponíveis sobre o tratamento com o uso da cloroquina e hidroxicloroquina para pacientes em tratamento para COVID-19 são consenso de especialistas, estudos in vitro e dois estudos clínicos que apresentam sérias limitações metodológicas. Desse modo, embora alguns estudos iniciais sugiram efeitos benéficos com o uso dessas medicações, ainda não há dados suficientes para afirmar que elas devam ser utilizadas de forma rotineira. Não sendo possível a inclusão em um estudo, o uso pode ser considerado em casos selecionados, de acordo com o estado clínico e os efeitos colaterais da medicação, especialmente em infecções graves e pacientes com fatores de risco para evolução grave da doença (IMOTO, et al., 2020, p.12).
A cloroquina tem uma elevada capacidade de se ligar aos tecidos, incluindo placenta e leite materno, e particularmente os dérmicos e oculares que contêm melanina. A distribuição do fármaco é relativamente lenta, porém, tem um enorme volume de distribuição. Por causa da extensa ligação com os tecidos é necessária uma dose de ataque para obter concentrações plasmáticas adequadas. Liga-se moderadamente, às proteínas plasmáticas e sofre apreciável biotransformação através das enzimas CYP hepáticas. O medicamento é eliminado lentamente via renal com uma eliminação total estimada em um a dois meses. (SUÁREZ et al, 2020).
Além disso, frisa-se que o uso da cloroquina, pode desencadear diversos riscos à saúde, como quadros de arritmia cardíaca, sendo proibido o consumo por gestantes e indivíduos com problemas hepáticos. Apesar de promissores, não existem evidências científicas conclusivas que comprovem a eficácia da cloroquina para o tratamento da Covid-19, ou seja, não há recomendação pelas organizações nacionais e internacionais de saúde, para a sua utilização em pacientes infectados pelo novo coronavírus ou como forma de prevenção (ANVISA, 2020, s.p).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a automedicação está se tornando um grave problema mundial, e que o uso inadequado de medicamentos em geral, incluindo a cloroquina, pode gerar impactos negativos como a intoxicação e até mesmo a morte nesses pacientes.
Em meio a várias frentes de pesquisa pelo mundo e ainda assim à ausência de medicamentos seguros e efetivos para combater a COVID-19, a cloroquina pode ser uma alternativa terapêutica, porém, existem contraindicações que devem ser verificadas assim como o alto número de interações medicamentosas, principalmente em pacientes gravemente doentes.
Em virtude dos fatos mencionados, o uso da cloroquina no combate ao COVID – 19 não é a solução para a população que se automedica e nem para os profissionais de saúde que buscam algo eficiente para este tratamento, porem seu uso tem sido feito de forma alarmante, o que pode gerar sérios problemas na saúde mundial. O que fica de alerta ainda é que, qualquer automedicação é perigosa e tra sérios riscos a saúde.
REFERÊNCIAS
ADRICOPULO, Adriano D. Cloroquina e hidroxicloroquina trazem riscos graves à saúde. 2020. Disponível em: < https://www2.ifsc.usp.br/portal-ifsc/cloroquina-e-hidroxicloroquina-trazem-riscos-graves/>. Acesso em: 26 set. 2020
ANTUNES, Daniela de Almeida Lyra et al. Alteração da camada de fibras nervosas da retina em usuários crônicos de cloroquina. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, v. 68, n. 2, p. 195-197, 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-27492005000200008&script=sci_arttext. Acesso em: 06 out. 2020
ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Esclarecimentos sobre hidroxicloroquina e cloroquina. 2020. Disponível em: < http://portal.anvisa.gov.br/noticias/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/covid-19-esclarecimentos-sobre-hidroxicloroquina-e-cloroquina/219201>. Acesso em: 26 set. 2020.
ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Uso racional de medicamentos: um alerta à população. 2020. Disponível em: < http://portal.anvisa.gov.br/noticias/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/uso-racional-de-medicamentos-um-alerta-a-populacao/219201>. Acesso em: 26 set. 2020.
BRASIL, Conselho Nacional de Saúde. CNS alerta: medicamentos ainda em estudos contra Covid-19, sem prescrição, podem causar danos à saúde. 2020. Disponível em: < https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/1085-cns-alerta-medicamentos-ainda-em-estudos-contra-covid-19-sem-prescricao-podem-causar-danos-a-saude>. Acesso em: 26 set. 2020.
IMOTO, Aline Mizusaki. Et al. Cloroquina e Hidroxicloroquina no tratamento da COVID-19: Sumário de Evidências. Comunicação em Ciências da Saúde, [S. l.], v. 31, n. Suppl 1, p. 17-30, 2020. Disponível em: http://www.escs.edu.br/revistaccs/index.php/comunicacaoemcienciasdasaude/article/view/653. Acesso em: 03 out. 2020.
MARQUES, Thais Rodrigues; ÁLVARES, Alice da Cunha Morales. Fatores associados a automedicação. 2014. Disponível em: < https://www.senaaires.com.br/wp-content/uploads/2017/05/FATORES-ASSOCIADOS-%C3%80-AUTOMEDICA%C3%87%C3%83O.pdf >. Acesso em: 26 set. 2020.
MENEZES, Carolline Rodrigues. Et al. Efetividade e toxicidade da cloroquina e da hidroxicloroquina associada (ou não) à azitromicina para tratamento da COVID-19. O que sabemos até o momento? 2020. Disponível em: < https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1095354>. Acesso em: 03 out. 2020.
MONTEIRO, Mychelle Alves et al. Vigilância Sanitária de Produtos e Falsificações no Combate à Covid-19: Cloroquina e Demais Produtos. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 4, p. 8357-8370, 2020. Disponível em https://www.brazilianjournals.com/index.php/BJHR/article/view/13308/11187 Acesso em: 26 set. 2020
PEREIRA, Januaria Ramos et al. Riscos Da Automedicação: Tratando O Problema Com Conhecimento. 2007. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/premio_medica/pdfs/trabalhos/mencoes/januaria_ramos_trabalho_completo.pdf>. Acesso em: 26 set. 2020.
SUÁREZ-MUTIS, Martha Cecilia et al. Orientações sobre o uso da Cloroquina para tratamento de pacientes infectados com SARS-CoV-2. 2020. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/41625. Acesso em: 06 out. 2020
COMISSÃO ORGANIZADORA E CIENTÍFICA
FACULDADE METROPOLITANA SÃO CARLOS
Avenida Governador Roberto Silveira, nº 910
Bom Jesus do Itabapoana-RJ CEP: 28.360-000
Site: www.famescbji.edu.br
Telefone: (22) 3831-5001
O conteúdo de cada trabalho é de responsabilidade exclusiva dos autores.
A reprodução dos textos é autorizada mediante citação da fonte.