POTENCIALIZAÇÃO DE IDEAÇÃO SUICIDA EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL DEVIDO À PANDEMIA DE COVID-19

  • Autor
  • Maria de Lourdes Ferreira Medeiros de Matos
  • Co-autores
  • Alcemar Antônio Lopes de Matos , Antonio Neres Norberg , Lucas Ramos Crizostomo , Julia Batista Oliveira
  • Resumo
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    POTENCIALIZAÇÃO DE IDEAÇÃO SUICIDA EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL DEVIDO À PANDEMIA DE COVID-19

     

     

    MATOS, Maria de Lourdes Ferreira Medeiros

    Professora da Faculdade Metropolitana São Carlos - FAMESC

    mlourdes.psi2@gmail.com

     

    MATOS, Alcemar  Antônio Lopes de

    Professor da Faculdade Metropolitana São Carlos - FAMESC

    alcimatos@hotmail.com

     

    NORBERG, Antonio Neres

    Professor da Faculdade Metropolitana São Carlos - FAMESC

    paulonorberg@gmail.com

     

    CRIZOSTOMO, Lucas Ramos

    Acadêmico do Curso de Medicina da Faculdade Metropolitana São Carlos - FAMESC

    lucascrizostomo1@hotmail.com

     

    OLIVEIRA, Julia Batista

    Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade Metropolitana São Carlos - FAMESC

    juboliveira.jb@gmail.com

     

     

    INTRODUÇÃO

     

    Um novo coronavírus (SARS-CoV-2), que causa a doença respiratória COVID-19, surgiu em Wuhan, China, em dezembro de 2019. À medida que o vírus se espalhou, a comunidade de saúde pública se concentrou, e com razão, nos sistemas hospitalares sobrecarregados e no número crescente de mortes. No entanto, a COVID-19 também representa uma séria ameaça à saúde mental (AFONSO, 2020). 

    As principais teorias do suicídio enfatizam o papel fundamental que as conexões sociais desempenham na sua prevenção. Indivíduos que vivenciam a ideação suicida podem não ter conexões com outras pessoas e, muitas vezes, se desconectarem das suas relações sociais e familiares. Os pensamentos e comportamentos suicidas estão associados ao isolamento social e à solidão. Portanto, do ponto de vista da prevenção, é preocupante o distanciamento social (DURKHEIM, 2004; BOTEGA, 2015; JOINER, 2017). 

    O distanciamento social é uma das principais medidas implementadas para retardar a propagação do vírus e, embora seja necessária, esta prática pode ter efeitos secundários prejudiciais sobre a solidão, transtornos e doenças mentais pré-existentes, que são fatores de risco conhecidos para o suicídio. Além disso, o próprio vírus tem o potencial de exacerbar outros fatores de risco, por meio de um sentimento de ansiedade, luto e níveis aumentados de estresse.

    Nesse contexto, estudos que tratem da questão do suicídio são de essencial importância, não somente aos profissionais da saúde, mas a toda a população, para que possam conhecer e, consequentemente, tenham capacidade de detectar possíveis sinais, auxiliando essas pessoas, cujo sofrimento lhes faz não querer continuar vivendo.

    Assim, o objetivo deste estudo é analisar a potencialização de ideação suicida devido ao isolamento social ocasionado pela pandemia da COVID-19.

     

     

    MATERIAL E MÉTODOS

     

    Este estudo foi desenvolvido através de uma revisão da literatura nacional e internacional sobre o tema, com material indexado em revistas cientificas e livros.

     

     

    DESENVOLVIMENTO

               

    Os índices de suicídio têm aumentado no Brasil nas últimas décadas. Os últimos dados disponíveis mostram uma taxa de 7% a cada 100 mil habitantes, sendo considerada a segunda maior causa de morte entre a população na faixa etária de 15 a 29 anos (BRASIL, 2017). É como se, a cada ano, ocorressem 36 rompimentos da barragem de Brumadinho. É nesse contexto que a doença do coronavírus 2019 (COVID-19) atingiu o país. 

    No que diz respeito aos modelos de doenças, há ações históricas e inéditas de saúde pública para conter a disseminação do vírus. De acordo com Lima et al. (2020), intervenções de distanciamento social foram implementadas, a fim de reduzir fundamentalmente o contato humano. Embora se espere que essas etapas reduzam a taxa de novas infecções, o potencial para resultados adversos no risco de suicídio é alto, sendo necessário que ações sejam tomadas para mitigar potenciais consequências não intencionais nos esforços de prevenção ao suicídio, que também representam uma prioridade nacional de saúde pública.

    Algumas teorias sociológicas e psicológicas postulam um papel relevante das variáveis sociais no suicídio. Em primeiro lugar, Émile Durkheim (2004) especulou que o suicídio é inversamente correlacionado com a integração social, considerada como fator de proteção. De acordo com a teoria interpessoal mais recente do suicídio, de Joiner (2017), a falta de sentimento de pertença é um dos principais fatores de risco associados. Particularmente, o construto de pertencimento frustrado, que inclui solidão, viver sozinho, menos amigos, família disfuncional e conflito familiar, são um dos conceitos centrais de sua teoria.

    Junto com a sobrecarga percebida (ou seja, a percepção de representar uma carga para os outros) e o isolamento social são situações que constituem os estados mentais mais proximais que precedem a ideação suicida, enquanto outros fatores, como maus-tratos na infância e transtornos psiquiátricos, são relativamente mais distais na cadeia causal dos fatores de risco (BOTEGA, 2015).

    Segundo Afonso (2020), as exposições repetidas a eventos dolorosos e provocativos, que diminuem o medo da morte e aumentam a tolerância da dor física, segundo Ornell et al. (2020) contribuem para desencadear tentativas de suicídio. Assim, o apoio social pode atuar como o principal fator de proteção direta na presença de adversidades. Isso sugere que os fatores de risco são mais prováveis de estarem associados a resultados ruins entre indivíduos sem suporte social, familiar e religioso.

    Fatores sociais (por exemplo, ser solteiro, divorciado ou viúvo, isolamento social, solidão, alienação, perda de conexão e falta/perda de apoio social) têm sido repetidamente relatados como fatores de risco para o desejo de morte, pensamentos suicidas e comportamentos prejudiciais entre jovens, adultos, idosos e pacientes psiquiátricos. Para Kawohl e Nordt (2020), no caso da pandemia da Covid-19, há temor, por parte da comunidade científica, de que a combinação de eventos públicos cancelados, negócios fechados por longo período de tempo e o possível desemprego levem a uma desaceleração econômica, que geralmente estão associadas a taxas mais altas de suicídio, em comparação com períodos de relativa prosperidade. 

    Torales et al. (2020) afirmam que houve um aumento significativo nas mortes por suicídio entre pessoas com 65 anos ou mais durante o surto da síndrome respiratória aguda grave (SARS), em 2003, sendo considerado que fatores como medo de contrair  doença, medo de ser um fardo para a família, ansiedade geral, isolamento social e sofrimento psíquico foram os maiores causadores desses eventos. Nesta pandemia, estudos têm indicado a associação de suicídios à angústia, ansiedade, medo de contágio, depressão e insônia na população em geral, com destaque especial para os profissionais de saúde, especialmente afetados.

    Existem diversos fatores que podem contribuir para ideações suicidas neste período de pandemia, que envolvem questões de ordem econômica, social, religiosa e de saúde. Desde o seu início, as empresas têm enfrentado adversidades e demissões e as escolas estão fechadas por tempo indeterminado, obrigando alguns pais e responsáveis ??a se ausentarem do trabalho. Tal conjuntura, que acarreta um estresse econômico contínuo, pode ocasionar taxas mais altas de suicídio, tanto na atualidade quanto no futuro (AFONSO, 2020).

    Outro fator importante se refere à falta de apoio religioso, devido ao fechamento das igrejas e centros comunitários, isolando ainda mais os indivíduos, tornando menos efetivo o fortalecimento espiritual, tão importante em momentos de crise, dor e luto. A pandemia também está dificultando o acesso de algumas pessoas a tratamento de saúde física e mental, devido à superlotação dos serviços de emergência e o medo de frequentar consultórios médicos e ser contaminado. Com isso, quadros depressivos e de saúde podem se exacerbar, levando à busca de um fim ao sofrimento (LIMA et al., 2020).

    Também é possível que a cobertura de notícias sobre a pandemia, que ocupa boa parte da mídia, possa estar agindo como um estressor adicional, especialmente para indivíduos com problemas de saúde mental preexistentes. Os efeitos da ansiedade nacional sobre a depressão e uso de substâncias por parte dos indivíduos devem ser cuidadosamente observados.

    Além do medo de ser rotulado de “covarde” ou “alguém que só quer chamar a atenção”, uma pessoa suicida agora também deve enfrentar a possibilidade de que algumas pessoas considerem seu tormento frívolo, em meio a uma grave crise global. Nesse contexto, é preciso compreender que os indivíduos que optam por acabar com a própria vida o fazem por diversos motivos, como predisposição neurobiológica, diagnósticos psicológicos e psiquiátricos, experiências adversas, trauma, negligência, estresse agudo, entre outros. 

    No entanto, todos eles, agora, têm um medo comum: uma nova doença que se espalha muito rapidamente e sobre a qual ainda se sabe muito pouco. Viver com a incerteza e enfrentar uma situação sobre a qual não há controle exacerba em muitos casos o sofrimento que leva a pensar no suicídio. 

     

     

    RESULTADOS E DISCUSSÃO

     

    Isolamento social, ansiedade, medo de contágio, incerteza, estresse crônico e dificuldades econômicas podem levar ao desenvolvimento ou exacerbação de transtornos relacionados ao estresse e suicídio em populações vulneráveis, incluindo indivíduos com transtornos psiquiátricos pré-existentes, pessoas de baixa resiliência, indivíduos que residem em áreas de alta prevalência de COVID-19, pessoas que perderam familiares e/ou amigos, indivíduos com transtornos psiquiátricos preexistentes, que incluem não apenas pacientes que são tratados por profissionais de saúde mental, mas também um grande número de pessoas com doenças psiquiátricas que não recebem tratamento (AFONSO, 2020; KAWOHL; NORDT, 2020).

     A pandemia da Covid-19 tem sido um evento perturbador, que mudou radicalmente o estilo de vida. Isolamento social, problemas econômicos, medo de contágio, perda do emprego e de entes queridos devido à doença, bem como o estresse pós-traumático, podem afetar, no presente e futuramente, as taxas de suicídio (ORNELL et al., 2020; TORALES et al., 2020).

    Apesar do nome, o isolamento social requer distanciamento físico entre as pessoas, e não a distância social e afetiva. Nesse contexto, esforços devem ser feitos para que os indivíduos se conectem e mantenham relacionamentos significativos, seja por telefone ou vídeo, especialmente aqueles que apresentam fatores de risco substanciais de suicídio. Assim, da mesma forma que medidas de precauções da COVID-19 se desenvolvem em ambientes de saúde, é essencial considerar também o manejo dos indivíduos com crises de saúde mental. 

     

     

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

     

    A incerteza está exacerbando os problemas emocionais de milhões de pessoas em todo o mundo. Agora, mais do que nunca, é preciso aprender a conversar sobre o que se pensa e sente. Os estudos sobre o suicídio têm mostrado que esse tipo de morte está em ascensão, que ocorre em pessoas cada vez mais jovens e que atravessa todos os círculos socioeconômicos. 

    Temos consciência dessa realidade, mas ainda não abordamos o assunto de maneira profunda. Assim, neste momento crítico de pandemia, falar sobre suicídio, sem estigmatização desses indivíduos, é uma necessidade urgente, pois é um período muito delicado, onde torna-se essencial uma rede de apoio da família, meio social e religioso, novos propósitos e formas de distração nesse contexto de isolamento, a fim de buscar alívio à angústia constante de contrair um vírus que pode ser letal.

    Teremos que esperar que o tempo passe para saber o verdadeiro impacto desta crise de saúde em nossa sociedade. Enquanto isso, é necessário cuidar do que se pode fazer até que a pandemia acabe ou surja uma vacina para combatê-la. Quando se pensa nas dificuldades que o isolamento social representa para aqueles que sofrem ideação suicida no dia a dia, deve-se pensar também no que é possível fazer por essas pessoas. Ao oferecer-lhes uma companhia respeitosa, uma escuta qualificada em espaço seguro para expressar seus sentimentos, assim confirma-se  que eles têm um lugar valioso conosco, entendendo que nossa empatia pode amortecer a dor da alma.

     

    REFERÊNCIAS

     

    AFONSO, P. O impacto da pandemia da COVID-19 na saúde mental. Acta Med Port, v. 33, n. 5, p. 356-357, 2020.

     

    BOTEGA, N. J. Crise suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed, 2015.

     

    BRASIL. Perfil epidemiológico das tentativas e óbitos por suicídio no Brasil e a rede de atenção à saúde. Boletim Epidemiológico. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.

     

    DURKHEIM, E. O suicídio. São Paulo, Martins Fontes, 2004.

     

    JOINER, T. E. Investigating insomnia as a cross-sectional and longitudinal predictor of loneliness: Findings from six samples. Psychiatry Research, v. 253, n. 4, p. 116-128, 2017.

     

    KAWOHL, W.; NORDT, C. COVID-19, unemployment, and suicide. The Lancet Psychiatry, v. 7, n. 5, p. 389-90, 2020.

     

    LIMA, C. K. T. et al. The emotional impact of coronavirus 2019-Ncov (new coronavirus disease). Psychiatry Research, v. 28, n. 1, p. 1-12, maio 2020.

     

    ORNELL, F. Et al. O impacto da pandemia COVID-19 na saúde mental dos profissionais de saúde.. Cad Saúde Pública, v. 36, n. 4, p. 52-63, 2020.

     

    TORALES, J. Et al. The outbreak of COVID-19 coronavirus and its impact on global mental health. Int J Soc Psychiatry, v. 31, n. 1, p. 322-337, 2020.

     

     

  • Palavras-chave
  • Ideação suicida, isolamento social e pandemia
  • Modalidade
  • Vídeos
  • Área Temática
  • Ciências da Saúde
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Essa publicação reúne as produções científicas de discentes, docentes e pesquisadores dos cursos de graduação da Faculdade Metropolitana São Carlos – FAMESC, unidade de Bom Jesus do Itabapoana-RJ, participantes da V Expociência Universitária do Noroeste Fluminense, com a temática: Os impactos da pandemia nas relações sociais, jurídicas e de saúde, realizada entre 21 e 23 de outubro de 2020.

Em sua 5º edição, o evento se destina, fundamentalmente, o propósito de se criar, na Instituição, um lugar de intercâmbio científico e cultural entre os pares, privilegiando-se uma discussão sobre as teorias interdisciplinares que ganham expressão no debate acadêmico contemporâneo.

Nessa edição os trabalhos apresentados envolvem àreas das Ciências Humanas e Sociais, Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Exatas e Estudos Interdisciplinares. Tal fator resultou na apresentação de 204 (duzentos e quatro) trabalhos de pesquisa apresentados a seguir. Acreditamos que a discussão ampliada, que inclua os diversos atores envolvidos nas diversas áreas, e, entendendo que existe uma abordagem interdisciplinar, esperamos contribuir para o fomento do saber acadêmico científico, viabilizando um espaço à divulgação de resultados de pesquisas relevantes para a formação do licenciando, bacharel, e do pesquisador da área e de áreas afins.

Por outro lado, queremos destacar que foi imprescindível a atuação coletiva na organização deste evento, que contou com a participação do corpo diretivo, das coordenações de curso, docentes e discentes. Sem o interesse de todos, a dedicação e a responsabilidade principalmente dos funcionários técnicos administrativos envolvidos, não seriam atingidas a forma e a qualidade necessárias ao sucesso da atividade. 

A Expociência representa um espaço significativo e verdadeiro de troca de experiências e de oportunidade de conhecer a produção científica de forma interdisciplinar e coletiva.

Boa leitura a todos!

 

 

Profª. Mª. Neuza Maria da Siqueira Nunes

Coordenadora da Extensão Universitária da Faculdade Metropolitana São Carlos

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