Durante os deslocamentos migratórios, muitas espécies de aves param em sítios geograficamente intermediários ao sítio de reprodução e o de repouso reprodutivo para recuperar suas reservas energéticas, realizar a muda de penas e até mesmo para funções sociais. Tais locais são referidos como sítios de parada (stopovers) ou preparo (staging areas), mas a consistência na utilização e definição desses termos varia na literatura. Apesar de sua importância, a maioria dos estudos de migração de aves enfocou durante muito tempo as áreas e aspectos da reprodução e repouso reprodutivo, este último em menor escala, sendo, portanto, escassos os estudos sobre os sítios de preparo. Esses locais são indispensáveis para a sobrevivência de várias espécies migratórias e, no contexto atual, com declínio das populações migratórias em função das mudanças climáticas e outros impactos antrópicos mais diretos, é essencial preservá-los ao longo das rotas migratórias. Dentre os impactos antrópicos às aves migratórias, as mudanças da paisagem, como urbanização, destruição dos hábitats naturais e implantação de empreendimentos como parques eólicos estão entre os que mais apresentam riscos. Nesse cenário de aparente falta de padronização terminológica e de escassez de estudos sobre etapas importantes da migração das aves continentais, temos como objetivos (Capítulo 1) realizar uma revisão sistemática e conceitual dos estudos realizados nas Américas dentro da temática de sítios de parada e de preparo (stopovers e staging areas); (Capítulo 2) refinar as rotas migratórias de migrantes continentais e identificar potenciais sítios de preparo, áreas de invernada e potenciais impactos aos quais estão sujeitos; e (Capítulo 3) identificar e mapear os sítios de preparo das aves migratórias limícolas no Brasil, avaliando o potencial impacto antrópico de parques eólicos e do uso do solo sobre eles. Realizaremos a revisão sistemática a partir da plataforma Web of Science, selecionando palavras-chave em inglês, português, espanhol e francês. Identificaremos os sítios de preparo a partir da modelagem de nicho e de distribuição de espécies, utilizando dados de pesquisas já existentes, quando cedidos pelos autores, e oriundos de ciência cidadã. Esperamos encontrar uma concentração de estudos na região Neotropical, conduzidos, no entanto, por pesquisadores de instituições de outros locais, sobretudo América do Norte e Europa, bem como vieses nas espécies estudadas, com predominância de neárticas e limícolas. Esperamos também refinar as rotas migratórias e inferir os sítios de parada para as espécies migratórias que já apresentam dados de rastreamento individual, contribuindo para a conservação do grupo e o avanço nas pesquisas com dados que já estão disponíveis. Por fim, sugeriremos áreas prioritárias para a conservação das rotas das aves migratórias, portanto locais onde deve-se evitar a implantação de novos empreendimentos ou alterações no uso do solo, além de eventuais mudanças nos protocolos de monitoramento de parques eólicos em operação.
Comissão Organizadora
PPGZOO
Júlia Maria Junkes Serenato
Comissão Científica
Lucas Mantelo Cruz
André da Costa Tavares
Maria Clara Itoh Nascimento
Murilo dos Reis Araújo
Daniel Rivadeneira
Naiane Arantes Silva