Mudanças climáticas passadas sempre impulsionaram a diversificação e a extinção de diferentes táxons.
Embora as causas e consequências dessas mudanças no ambiente terrestre sejam amplamente estudadas,
o ambiente marinho ainda carece de pesquisas, apesar de sua vasta biodiversidade, especialmente em áreas
costeiras. No Brasil, sabe-se que as oscilações no nível do mar, causadas por mudanças climáticas, moldaram
as taxas de endemismo da fauna coralínea brasileira, restringindo sua distribuição a pequenos arquipélagos
conhecidos como refúgios. Com a subsequente elevação do nível do mar, as espécies coralíneas voltaram a
habitar a costa. Essas constantes retrações e expansões do nível do mar resultaram em uma alta taxa de
endemismo na fauna coralínea e geraram uma miríade de possíveis hipóteses de colonização. Neste estudo,
utilizamos como modelo o gênero de coral simbiótico Favia para testar essas hipóteses. Inicialmente,
simulamos espécies virtuais para identificar padrões associados a diferentes classes de métodos preditivos
e avaliar se esses métodos tendem a superestimar ou subestimar a distribuição de uma espécie.
Utilizamos atributos abióticos de publicações existentes e as funções generateSpFromFun e
generateSpFromPCA do pacote virtualspecies no R para gerar distribuições de espécies simuladas.
Em seguida, convertemos a adequabilidade ambiental dessas espécies em dados de presença-ausência
utilizando a função convertToPA. Ao aplicar os parâmetros ambientais de Sofaer et al. (2019) e
Meyer & Pebesma (2021) com diferentes taxas de prevalência, observamos que os algoritmos Gower,
Maxent e Mahalanobis tendem a superestimar a ocorrência das espécies simuladas fora das regiões de
adequabilidade. Quando a prevalência é alta, Gower e Mahalanobis produzem mapas preditivos menos
enviesados. Por outro lado, o BioClim tende a subestimar as espécies, enquanto métodos estatísticos como
GAM, GLM e MARS geram mapas preditivos mais precisos quando os limites geográficos das espécies são
bem conhecidos. No entanto, quando a distribuição das espécies é pouco conhecida, esses métodos tendem a
subestimar sua ocorrência. Com esse conhecimento prévio sobre o funcionamento dos métodos, mapearemos
possíveis refúgios no Atlântico Sul durante o último máximo glacial. Isso será feito utilizando 145 registros
fósseis e 230 registros contemporâneos obtidos de literatura primária, cinza e repositórios online, enquanto as
camadas bioclimáticas passadas e atuais serão obtidas no repositório MARSPEC. Inicialmente, usaremos os
métodos GAM, GLM, MARS, Maxent e Gower para as previsões. Com os refúgios mapeados, delimitaremos
cenários bio/filogeográficos para a recolonização da costa brasileira usando a Aproximação Bayesiana Computacional
(ABC), implementada no programa DIYABC, com dados genéticos de SNPs já coletados, genes mitocondriais e
nucleares. Além de testar rigorosamente a principal hipótese biogeográfica que explica a colonização de corais
na costa brasileira, este projeto produzirá um comparativo inédito de desempenho entre métodos de modelagem
aplicados a ambientes marinhos, atraindo a atenção de uma audiência além dos estudiosos dos corais pétreos.
Comissão Organizadora
PPGZOO
Júlia Maria Junkes Serenato
Comissão Científica
Lucas Mantelo Cruz
André da Costa Tavares
Maria Clara Itoh Nascimento
Murilo dos Reis Araújo
Daniel Rivadeneira
Naiane Arantes Silva