A prática de infanticídio é um comportamento observado em animais adultos, cuja ação implica em matar filhotes dependentes e vulneráveis, particularmente perpetrado por machos extra-grupo, durante a mudança na dominância masculina. Desta forma, os machos infanticidas obteriam vantagens reprodutivas, pois as fêmeas que perderam os infantes se tornariam receptivas a eles mais rapidamente. O sistema de acasalamento em bugios (gênero Alouatta) tende à poliginia e poliginandria e, desta maneira, os machos forasteiros ganhariam vantagens ao depor o macho dominante e matar os seus filhotes para copular com as fêmeas. De fato, a ocorrência do infanticídio é conhecida em várias espécies de bugios, e as vezes reportada como muito frequente para algumas populações. Por ser um comportamento raro de ser observado, a ocorrência é muitas vezes atribuída quando há sumiço de filhotes durante instabilidades nos grupos, ou mesmo através das análises de carcaças de filhotes encontradas, pois o modo de ataque é conservado, onde o macho pega o filhote e morde a cabeça do infante de maneira fatal. O objetivo deste trabalho é registrar um possível caso de infanticídio através da análise e descrição de uma carcaça de infante de bugio-ruivo encontrada em um fragmento florestal de cerca de 40 ha na APA Municipal do Iguaçu, em Curitiba, onde residem pelo menos cinco grupos sociais que monitoramos. A carcaça do infante foi enterrada por um morador local e informado para nossa equipe que a desenterrou 15 dias após o ocorrido. O crânio foi primeiramente lavado em peneira, clareado com H2O2 e medido. O crânio apresentou a região frontal das maxilas e caixa nasal incompletas, aparentando danos de mordidas, e dois conjuntos de perfurações, um na região occipital e outra na parietal do crânio, aparentando perfurações de caninos. Comparou-se as distâncias das perfurações na região occipital do crânio do infante com a distância dos dentes caninos de um crânio de um macho adulto de bugio e de um potencial predador, uma irara adulta (Eira barbara), que estão depositados na coleção didática do Laboratório de Cordados do Departamento de Zoologia da UFPR. Os traumas cranianos do infante coincidiram com a distância das arcadas dentarias e dos caninos superiores e inferiores do crânio do macho adulto de bugio, mas não do de irara. Esses indícios sugerem que o infante foi mordido e, talvez, assassinado por um macho adulto de Alouatta, o que pode indicar uma competição sexual exacerbada em um fragmento onde os bugios estão cada vez mais aglomerados devido às pressões de devastação.
Comissão Organizadora
PPGZOO
Júlia Maria Junkes Serenato
Comissão Científica
Lucas Mantelo Cruz
André da Costa Tavares
Maria Clara Itoh Nascimento
Murilo dos Reis Araújo
Daniel Rivadeneira
Naiane Arantes Silva