O estudo das respostas a eventos estressores sobre mamíferos marinhos, é essencial para o desenvolvimento de estratégias de conservação. Os efeitos cumulativos do estresse podem causar impactos em nível populacional, e nesse contexto, avaliar os limites de tolerância das espécies é relevante diante da crescente degradação ambiental. Um amplo espectro de análises pouco invasivas vem sendo desenvolvidas em áreas como a Fisiologia da Conservação, possibilitando o estudo de espécies ameaçadas e de difícil acesso. O peixe-boi marinho (Trichechus manatus) é um exemplo de mamífero ameaçado de extinção. No Brasil, a reabilitação animal é a principal estratégia de conservação de sirênios, ao possibilitar a reintrodução de indivíduos na natureza. Este processo envolve duas etapas: a reabilitação, em que os animais são mantidos em piscinas com frequente interação humana, e a aclimatação, em ambiente natural e com mínima presença humana. Para o monitoramento clínico dos animais, são realizadas observações comportamentais, manejos periódicos e coleta de amostras biológicas, procedimentos que, embora necessários, podem causar estresse e impactar a saúde e sobrevivência dos animais pós soltura. Este estudo objetiva avaliar o estresse fisiológico de peixes-boi marinhos submetidos a manejos em diferentes etapas de reabilitação, assim como explorar o uso de diferentes matrizes biológicas e respostas comportamentais para o estudo do estresse. Como hipóteses centrais, temos que os animais na etapa de aclimatação apresentem menores níveis de estresse do que na reabilitação e que amostras menos invasivas sejam eficazes para obtenção dos dados. Para isso, foram realizadas observações comportamentais e coletas de amostras de sangue, saliva, pelos, urina e fezes de 17 peixes-boi marinhos, machos e fêmeas, de diferentes faixas etárias, em reabilitação do Projeto Cetáceos da Costa Branca da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (PCCB-UERN). Até o momento, foram medidos os níveis de osmolalidade, lactato e corticosterona, e pretende-se avaliar o comportamento dos animais durante o manejo e dosar cortisol, ureia, glicose e íons inorgânicos. O lactato foi determinado por meio de kits comerciais (Labtest) e por lactímetro (Accutrend Plus Roche®), a osmolalidade por micro-osmômetro de pressão de vapor (Wescor® 5520 VAPRO) no Laboratório de Fisiologia Comparativa da Osmorregulação (LFCO – UFPR) e a corticosterona por método de enzima imunoensaio (ELISA – Enzyme Linked ImmunoSorbent Assay) no Laboratório de Fisiologia Endócrina e Reprodutiva Animal (LABFERA – UFPR). Os resultados preliminares indicam diferenças entre os dois métodos de medição de lactato e entre animais nas fases de reabilitação e aclimatação. A osmolalidade não apresentou variações, destacando a capacidade dos mamíferos de manter o equilíbrio homeostático. A dosagem de corticosterona permitiu a criação de uma curva preliminar das variações hormonais antes e após o manejo. Conclui-se que o uso de amostras biológicas pouco invasivas pode ser eficaz para a avaliação do estresse fisiológico de peixes-boi marinhos em reabilitação. Ainda, tais dados podem ser utilizados para o monitoramento da qualidade de vida dos animais ao longo das etapas de reabilitação, permitir o aperfeiçoamento de protocolos de tratamento e gerar informações a respeito da espécie que é pouco estudada.
Comissão Organizadora
PPGZOO
Júlia Maria Junkes Serenato
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Lucas Mantelo Cruz
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