Os foraminíferos bentônicos são microorganismos unicelulares amplamente distribuídos em ambientes marinhos, desde áreas rasas até a zona hadal. Eles são valiosos para estudos paleoambientais devido aos seus ciclos reprodutivos curtos e à capacidade de responder rapidamente a mudanças nas condições ambientais. A preservação eficiente de suas conchas nos sedimentos marinhos permite que esses organismos ofereçam insights significativos sobre as dinâmicas ambientais atuais e passadas. Além disso, os foraminíferos são amplamente utilizados em várias áreas de pesquisa, como bioestratigrafia, paleoecologia, paleoclimatologia, exploração de petróleo e biomonitoramento. A taxonomia dos foraminíferos bentônicos é complexa e desafiadora. Desde a primeira classificação formal estabelecida por d'Orbigny em 1826, mais de 5.000 gêneros e aproximadamente 50.000 espécies (incluindo 40.000 fósseis e 10.000 recentes) foram descritos. Apesar do extenso trabalho taxonômico, a classificação desses organismos enfrenta dificuldades devido a sinonímias, inconsistências nos nomes de gêneros e espécies, e à ausência de imagens de alta qualidade para comparação entre publicações. Essas questões são agravadas pelo acesso limitado a coleções de referência, dificultando uma revisão taxonômica abrangente e precisa. A estabilidade taxonômica, essencial para o avanço científico, tem sido comprometida pela falta de consenso na comunidade científica e pela desvalorização da disciplina da taxonomia. Além disso, a área enfrenta desafios de financiamento e atrai cada vez menos novos pesquisadores, sendo que atualmente não há taxonomistas de foraminíferos no Brasil. Nos últimos anos, técnicas modernas de análise genética e molecular têm complementado a taxonomia morfológica tradicional, oferecendo uma compreensão mais aprofundada da filogenia e evolução dos foraminíferos. Ainda assim, a classificação baseada em características morfológicas continua sendo crucial, especialmente para a identificação de formas fósseis, pois permite a comparação detalhada entre diferentes espécies e a identificação de táxons com posições taxonômicas duvidosas. A integração da taxonomia morfológica com a molecular é essencial para avançar na compreensão da diversidade e evolução desses organismos. A necessidade de revisar a taxonomia dos foraminíferos se torna ainda mais urgente devido ao crescente impacto das atividades humanas nos ecossistemas marinhos. Com a expansão da exploração de recursos e a perda de biodiversidade, é fundamental entender a distribuição biogeográfica e a história evolutiva dos foraminíferos para desenvolver estratégias de conservação eficazes. Ao propor uma revisão taxonômica abrangente dos foraminíferos bentônicos na costa brasileira, pretende-se esclarecer a identidade de espécies mal definidas, descrever novas espécies, atualizar registros fósseis e expandir o conhecimento sobre a distribuição geográfica desses organismos. Já foram identificados um novo gênero e espécie em processo de descrição para publicação futura. Além disso, táxons selecionados serão revisados detalhadamente na literatura, e amostras para DNA barcoding estão sendo separadas para complementar os resultados. Esse trabalho é essencial para aprimorar o conhecimento sobre a biodiversidade marinha regional e pode ter implicações significativas para a paleontologia e ecologia desses organismos.
Comissão Organizadora
PPGZOO
Júlia Maria Junkes Serenato
Comissão Científica
Lucas Mantelo Cruz
André da Costa Tavares
Maria Clara Itoh Nascimento
Murilo dos Reis Araújo
Daniel Rivadeneira
Naiane Arantes Silva