Negacionismo e acesso à informação no governo Bolsonaro

  • Autor
  • Juliano da Silva Borges
  • Resumo
  • O governo Bolsonaro implementou reorientações nas instituições públicas do Brasil alinhadas com forças ultraconservadoras internacionais, como o de Donald Trump nos Estados Unidos. Esses governos compartilham o negacionismo como um fundamento ideológico, que sustenta seus métodos de comunicação política e de tratamento da informação (Haggard, Kaufman, 2021; Michener, 2023). Este trabalho busca identificar os nexos entre as ações governamentais de Bolsonaro no campo da informação e sua política de comunicação, utilizando o conceito de negacionismo como elo articulador entre esses campos.

    O negacionismo é definido aqui como uma prática que envolve a negação deliberada de realidades concretas e consensos científicos. Grupos políticos utilizam o negacionismo para criar dúvidas e disseminar desinformação de forma estratégica, visando substituir a verdade factual por visões que atendem aos seus interesses econômicos, políticos e ideológicos (Ratton, 2022). A disseminação de desinformação é facilitada pelas plataformas digitais, que amplificam esses conteúdos através de algoritmos que maximizam a visibilidade de conteúdos extremos (Brisola, Bezerra, 2018), gerando medo e dúvida na sociedade (Oreskes, Conway, 2020).

    As infraestruturas digitais desempenham um papel crucial neste processo (Gonzaléz de Gómez, 2012), permitindo a disseminação de discursos de ódio, teorias da conspiração e divisionismos, contribuindo para a desconfiança nas instituições e ameaçando a ciência e a democracia (Kropf, 2022). A pesquisa foca nos efeitos da relação entre o negacionismo e as políticas de comunicação do governo Bolsonaro, observando como a produção e a disponibilização de dados públicos foram alteradas para dificultar o acesso à informação e minar a transparência pública.

    Durante o governo Bolsonaro, houve uma série de medidas que reduziram a quantidade e a qualidade dos dados abertos, contrariando princípios de políticas públicas baseadas em evidências (Parkhust, 2017). Exemplos dessas medidas incluem a interposição de barreiras ao acesso à informação pública, distorções e omissões na publicização de dados, e cortes orçamentários significativos em instituições como o IBGE e o DataSUS. Tais ações evidenciam uma estratégia de comunicação política que se confunde com a comunicação pessoal do ex-presidente nas redes sociais,

    No nível legislativo, decretos e medidas provisórias visaram enfraquecer a política de gestão de documentos e arquivos, particularmente o Arquivo Nacional. No nível político-administrativo, ações promoveram alterações nos critérios de arquivamento de documentos, ampliação de documentos classificados e imposição de sigilos, além de restrições à produção de informações, com significativos cortes orçamentários.

    A pesquisa está estruturada em três etapas: levantamento bibliográfico e entrevistas sobre políticas de arquivo e acesso à informação; compilação e análise das medidas legislativas e administrativas de 2019 a 2022; análise dos discursos e mensagens nas plataformas digitais de Jair Bolsonaro e órgãos governamentais.

    O objetivo é compreender como a redução de dados abertos durante o governo Bolsonaro foi instrumentalizada para minimizar danos reputacionais e ocultar responsabilidades civis e penais, particularmente nas áreas de economia, saúde e meio ambiente. A pesquisa busca validar as hipóteses sobre a interdependência entre a política informacional de minar a transparência e a estratégia negacionista do governo, oferecendo uma análise das interações entre os campos da informação e comunicação na administração Bolsonaro.

  • Palavras-chave
  • Negacionismo; desinformação; Bolsonaro
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • GT7 - Estudos Críticos em Ciência da Informação
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